Volume 1
Capítulo 6: A Vida Escolar da Classe C
CHEGOU O DOMINGO. Hoje, havia combinado com yoshida e shiraishi para estreitar laços com meus novos colegas de classe. Além disso, Shiraishi disse que traria uma amiga, embora não tenha mencionado quem seria. Como o horário combinado era 10h30, me preparei e saí do meu quarto quinze minutos antes. O ponto de encontro era, de maneira simples, em frente ao dormitório. Ao descer para o saguão e sair, encontrei Yoshida já esperando, visivelmente inquieto.
— Ei… Olá. Você chegou cedo, Ayanokoji.
— Você também, Yoshida.
— Bom, é que sou um cavalheiro. Não faria algo tão rude como deixar uma garota esperando.
— Pelo jeito que diz, parece que está aqui faz um bom tempo.
— Claro que não! Só desde as 9h30.
Definitivamente era cedo. Ele estava esperando há uma hora? Seu entusiasmo pela pessoa de quem gosta parece ser bem grande. No entanto, esperar tanto tempo antes do encontro não significa necessariamente que a afinidade vá aumentar. E se vangloriar disso pode acabar transmitindo uma impressão muito intensa.
Antes, eu não teria sido capaz de interpretar isso tão facilmente. Mas, graças à minha relação com Karuizawa, comecei a entender melhor esse tipo de coisa. Embora no amor não existam respostas certas, a dificuldade está em saber como lidar com cada pessoa de acordo com suas características.
— Você gosta da Shiraishi? — Eu também tinha essa impressão, e tenho certeza de que Shiraishi já percebeu o interesse dele, mas, só para confirmar, decidi perguntar.
— O-O quê!? Claro que eu não gosto dela! O que você está dizendo do nada!?
Entendi. Em outras palavras, ele gosta dela. No amor, acontecem coisas que normalmente não fazem sentido. Esse é um exemplo claro.
— Só perguntei para confirmar.
— N-Não me diga que… você está interessado na Shiraishi!? Foi por isso que terminou com a Karuizawa e trocou de classe!?
Apesar de negar, seu rosto não transmitia nenhuma tranquilidade. Na verdade, ele parecia hostil, embora não parecesse perceber isso. Sua mente já havia criado uma interpretação exagerada por conta própria.
— Não sinto esse tipo de emoção.
— Não precisa mentir, sabia? Não é da minha conta. Até poderia te ajudar a se aproximar da Shiraishi, se quiser.
Era uma demonstração forçada de falsa confiança, mas que claramente não transmitia segurança alguma. Ele estava cavando a própria cova. Mas já não fazia sentido continuar com esse assunto.
— Agradeço, mas prefiro que me fale sobre a classe. Tenho algumas perguntas.
— Que convencido. Mas, bem, é verdade que você acabou de se transferir e precisa conhecer a turma. Eu posso te ensinar… Na verdade, por que não pergunta para o Hashimoto? Ele te valoriza bastante e te contaria um monte de coisas.
— Há coisas que não posso perguntar ao Hashimoto.
— O que quer dizer?
— Refiro-me à percepção e aos sentimentos atuais da turma em relação ao Hashimoto.
Mesmo alguém tão bem informado como Hashimoto não poderia analisar e relatar objetivamente esses aspectos.
— Sobre o Hashimoto, é? Bom, é verdade que há mais opiniões negativas do que positivas sobre ele. Mas o cara sabe se movimentar bem.
Enquanto falávamos sobre isso, Yoshida olhou para o saguão.
Ao mesmo tempo, uma voz alegre e animada ecoou.
— Bom dia~! Yossy, Ayanokoji-kun!
Quem apareceu no ponto de encontro não foi Shiraishi, mas, por algum motivo, Nishikawa Ryōko. No início, pensei que ela apenas estivesse se aproximando para nos cumprimentar como nova colega de classe, mas ela parou bem na nossa frente.
— Prazer estar com vocês hoje~.
— Tsk, Nishikawa, é…?
— Não faça essa cara, não é para tanto~.
— Você veio com a Shiraishi?
— Claro! Achou que seria um encontro só com a Asuka?
— Não tive essa impressão.
Embora estivesse esperando fortalecer nossas amizades, não era no sentido que Nishikawa parecia imaginar.
— Sério? Tem certeza? Mas você aceitou sair em um dia livre tão rápido… Com certeza esperava algo, não? Especialmente você, Yossy!
— Nã-não! O que você está dizendo!?
No caso de Yoshida, sua reação parecia encaixar bem nessa ideia.
— Ei, Yossy. Como sua colega de classe, vou te dar um conselho importante.
— O que foi?
— Asuka não é uma boa ideia. Ah, isso também vale para você, Ayanokoji-kun.
Ao dizer isso e se aproximar, Nishikawa abaixou um pouco o tom de voz enquanto olhava ao redor.
— A experiência da Asuka é algo fora do comum, sabia?
… Hm? O que ela quer dizer com isso?
— Hã? Experiência em quê...? — Pelo visto, Yoshida também percebeu, mas teve uma espécie de revelação.
— Você sabe do que estou falando~! Asuka, a que derrubou 100! Com certeza já ouviu esse apelido, não?
— Então esse boato era verdade...?
— Claro que sim. Não é algo que se espalharia como mentira.
Não entendo muito bem, mas é claro que Yoshida recebeu um grande impacto. No meu caso, não compreendo o significado desse apelido.
— Não se referiam a ter 100 amigos?
— Hã? O que é isso de 100 amigos?
— Não é nada.
Suponho que não tenha nada a ver... Ainda não tiro da cabeça o ritmo que Morishita cantarolava daquela vez.
— Derrubar 100 significa que ela teve esse tipo de relação com 100 caras. Ela é bonita e tem aquele ar sexy, não acha?
Esse tipo de relação... Embora tenha falado de forma ambígua, acho que ela se refere a relações íntimas.
— Não sei, mas entendi o que quer dizer.
Pelo visto, minha vizinha sabe muito mais sobre o amor do que eu.
— E você, Yossy, acha que conseguiria conquistar a Asuka~?
— Já disse que não me interesso!
— Então vamos deixar assim. Aproveite essa oportunidade para desistir. Ou bem... talvez, se se ajoelhar e implorar, consiga ter uma doce noite de sonhos.
— Sério?
— Ehh~? Não disse há pouco que não se interessava? — Parece que Nishikawa gosta de provocar as pessoas. Comparando-a com alguém, diria que se parece com Amasawa.
— Então, se a Asuka se relacionasse com 200 pessoas, passaria a ser chamada de "a dos 200"?
Como a curiosidade me venceu, fiz a pergunta. Nishikawa arregalou os olhos, surpresa.
— Ayanokoji-kun, você é mais divertido do que parece.
— É mesmo? Só perguntei porque fiquei curioso.
— Provavelmente, a resposta é não.
— Faz sentido. Não soa tão bem.
— Não é por isso... É que 100 já é o suficiente. O que importa é o "prestígio".
O "prestígio", sério? Parece que, no amor, esse tipo de vantagem também conta.
— Uff... Estou exausto desde de manhã. Vou me sentar e esperar.
Talvez por ter gastado toda a sua energia matinal, Yoshida foi até um banco com cara de derrotado. Nishikawa o observava, se divertindo, e então voltou a atenção para mim.
— Quase todos os garotos que descobrem isso sobre a Asuka reagem de duas formas: ou ficam deprimidos e se afastam, ou mostram descaradamente que querem ser o número 101. O que você acha que o Yossy vai fazer? Ayanokoji-kun, você não parece ser nem um nem outro, mas o que pensa de verdade?
— Passei a respeitá-la. Ter relações com 100 pessoas na nossa idade... sinceramente, é impressionante.
— Ehh? Você fala sério...? Não, parece que está falando sério.
— Especialistas em qualquer área não merecem respeito? Me desculpe por trazer à tona minha última aula, mas, para comparar, é como o basquete de Sudou, a natação de Onodera ou a costura de Inogashira.
— Bom... Quanto à costura, não sei, mas isso é um pouco diferente de ser "normalmente bom". Ayanokoji-kun... Você se transferir voluntariamente para uma turma mais baixa e tudo mais... Não há dúvidas, você é bem estranho.
Eu tentei elogiar sinceramente o recorde das cem conquistas de Shiraishi, mas, por alguma razão, parece que causei um leve desconforto. Nishikawa, que vinha sorrindo desde que chegou, agora exibia um sorriso um pouco forçado.
— Hm. Espera um momento — disse ela, franzindo os lábios, como se estivesse um pouco preocupada, enquanto pensava em algo.
— Ei. Se você realmente insiste, que tal eu te contar algo interessante que só você vai saber, Ayanokoji-kun? — Nishikawa se aproximou suavemente, sorrindo com um ar um tanto travesso. — Quer saber por que Asuka tem esse apelido de "a das cem conquistas"? E por que queria sair com você? Na verdade, há uma grande razão por trás disso.
— Uma grande razão?
A maneira como ela falou despertou meu interesse, embora sua habilidade em comunicar também tenha influenciado. Isso me fez voltar mentalmente ao dia da cerimônia de abertura.
Meu assento foi decidido por iniciativa de Morishita, e embora tenha sido coincidência Shiraishi Asuka estar sentada ao meu lado, se Morishita tivesse interferido de alguma forma nisso entre nós dois, a história poderia mudar...
— Pode me emprestar seu ouvido? É algo que eu não quero que Yoshi escute especialmente.
— Tudo bem.
Como Nishikawa era um pouco mais baixa, inclinei-me um pouco para que ela pudesse sussurrar no meu ouvido.
— É porque Asuka achou que não se importaria de fazer de Ayanokoji-kun a sua conquista número 101. Claro, sem sentimentos românticos. Só como uma espécie de jogo. E aí? Se sente lisonjeado?
Aparentemente, era um segredo contado por Nishikawa, mas eu duvidava bastante da veracidade.
— Com que intenção?
— Que intenção? Só quer ter uma relação com um garoto e passar o tempo, nada mais.
— Sinto muito, mas se isso for verdade, então eu recuso a oferta.
— P-Por quê?
— Se eu tivesse esse tipo de relação com Shiraishi, existe a possibilidade de que Nishikawa ou a própria Shiraishi contassem. E se isso acontecesse, não demoraria para chegar aos ouvidos de Yoshida. Isso só se tornaria uma desvantagem para mim na minha luta dentro da Classe C.
Respondi isso e me afastei um pouco de Nishikawa. Ela estreitou os olhos, como se estivesse um pouco irritada com minha recusa.
— Parece que vou ter que mudar um pouco minha percepção sobre você, Ayanokoji-kun.
Até agora, ela mantinha a atitude de quem se diverte zombando dos novatos, mas suas palavras começavam a demonstrar um leve descontentamento... talvez até uma pitada de hostilidade.
— Bom dia.
— Bom dia, Asuka!
A aparição de Shiraishi pelo saguão, bem na hora, dissipou qualquer tensão no ambiente, e Nishikawa voltou a ser como antes. Yoshida, que estava abatido sentado em um banco, também se aproximou rapidamente.
Quando Nishikawa ficou ao lado de Shiraishi, ela se apresentou novamente.
— Mais uma vez, conto com você hoje, Ayanokoji-kun. E já que estamos nisso, você também, Yoshi.
— Então eu sou só um extra, é isso?
Parece que entender a dinâmica interna desta classe será mais complicado do que eu imaginava.
*
Guiados por Nishikawa, seguimos para o karaokê do Keyaki Mall. Na sala privada, com um sofá em formato de L, nos sentamos nesta ordem, a partir do fundo: Shiraishi, Nishikawa, eu e, por último, Yoshida.
— Certo, vamos cantar logo! — Sem nem olhar o cardápio de comida, Nishikawa entregou o microfone para Yoshida.
— Eu primeiro? Não deveria ser o novato, o Ayanokoji?
— Isso seria abuso de poder, não acha? Primeiro, você deveria dar o exemplo, Yoshi.
— Mas... eu não gosto muito de cantar...
Yoshida não parecia entusiasmado com a ideia, então Nishikawa se aproximou e sussurrou algo no ouvido dele. Logo depois, Yoshida deu um forte tapa nas próprias bochechas, como se estivesse se animando.
— Fazer o quê! Aqui vai minha música!
Posso imaginar o que ela disse, mas ao menos parece que conseguiu motivá-lo. Quando a música que Yoshida escolheu começou a tocar, Nishikawa me pediu para trocar de lugar.
Sem dizer nada, troquei de posição, e Shiraishi se aproximou de mim, reduzindo a distância entre nós. Nossos ombros quase se tocavam, separados por apenas um centímetro.
— Queria ter uma conversa tranquila com você algum dia, Ayanokoji-kun.
— Estamos sentados um ao lado do outro na sala de aula. Você poderia ter feito isso a qualquer momento.
— Na escola, é difícil encontrar um momento tranquilo.
A voz apaixonada de Yoshida, embora não muito afinada, ressoava com força na sala. Nishikawa também se encarregava de animar o ambiente.
— Não tenho certeza se esse ambiente pode ser considerado tranquilo...
Entre garotos e garotas, geralmente há uma distância mínima, uma espécie de barreira pessoal. Mas Shiraishi não parecia ter nenhuma intenção de mantê-la. Sua proximidade era quase como se estivéssemos colados um no outro.
Será que essa era uma das técnicas de sedução da famosa "cem conquistas"?
— Ryōko é minha melhor amiga.
— Dá para perceber que vocês se dão bem. Nos intervalos e na hora do almoço, vocês sempre estão juntas.
A primeira música terminou, e a sala voltou ao silêncio.
— Ei, vocês dois, não estão falando perto demais?
— Foi uma música maravilhosa, Yoshida-kun. Queremos um bis!
— Hã? De-de verdade? Se você diz... mas vocês estão muito...
— Sim, sim, Yoshi! Vai logo para a segunda!
Sem dar opção, Nishikawa impediu que Yoshida soltasse o microfone.
— Já que estamos na mesma classe, deveríamos trocar contatos.
— Você tem razão, é algo necessário.
Ambos pegamos nossos celulares e deixamos tudo pronto para chamadas e mensagens.
— Pode me contatar quando quiser.
Shiraishi mostrava gentileza, afeto e consideração tanto em suas palavras quanto em sua proximidade. Mas eu me perguntava se ela realmente falava sério.
— O que está pensando?
— Me surpreende que seja tão próxima. A maioria, como Shimazaki e os outros, ainda mantém certa distância.
— Estamos sentados juntos, e além disso, aquela coincidência de manhã... eu interpreto isso como destino.
— Não acho que seja para tanto...
— Talvez você não ache, mas eu vejo assim.
Shiraishi disse isso enquanto, sem que Yoshida percebesse, tocava minha mão.
— Seus dedos são longos e suas unhas bonitas. Uma mão bem atraente.
— Me desculpe, mas solte minha mão. Se Yoshida ver, pode interpretar mal nossa relação.
Ao ouvir isso, Shiraishi pareceu um pouco surpresa, mas lentamente soltou minha mão.
— Você é realmente interessante, Ayanokoji-kun.
Talvez eu devesse separar esse assunto do comentário de Nishikawa sobre relações com o sexo oposto. À primeira vista, poderia parecer algo desse tipo, mas o olhar de Shiraishi não refletia isso.
Na verdade, parecia o olhar de alguém que observa um experimento curioso, como se eu fosse um rato de laboratório dentro de uma pequena caixa.
Pelo menos, foi o que senti.
*
Depois de me transferir de classe, as relações interpessoais começaram a mudar pouco a pouco. Mas há coisas que não mudam na vida escolar. Uma delas são as aulas. Durante as lições, os alunos geralmente ficam em silêncio e concentrados, alternando entre olhar para as telas e seus tablets.
Os professores que ministram as aulas variam, mas a atmosfera é semelhante, não importa a que classe você pertença. Como as provas especiais estavam se aproximando, todos pareciam levar os estudos ainda mais a sério.
Não valia a pena explicar o conteúdo das aulas, já que se trata de algo que estudei anos atrás. Encarava tudo com certa calma e constância.
Se tivesse que apontar uma diferença em relação à classe da Horikita, seria a ausência de desperdício e a eficiência no estudo. Claro, a capacidade de aprendizado varia entre os indivíduos. Alguns aprendem rápido, enquanto outros, como Ike e Hondō, tendem a ficar para trás e fazer muitas perguntas. Por isso, na classe deles, as aulas eram frequentemente interrompidas.
Por outro lado, na classe C, a maioria dos alunos tem uma alta motivação para aprender, entendem bem como estudar e tudo progride sem dificuldades. A base para o aprendizado está bem consolidada, criando um ciclo positivo que eleva o nível acadêmico geral.
Hoje era uma dessas aulas: uma sessão de autoestudo que convidava ao relaxamento. Sem professores vigiando de perto, algumas conversas podiam ser ouvidas, mas, mesmo assim, os alunos continuavam focados em suas tarefas com seriedade.
A classe da Horikita também cresceu bastante nesses dois anos, mas, pelo menos no aspecto acadêmico, ainda não conseguiu alcançar nem superar a classe C...
— Hm?
Uma leve sensação estranha.
Seria apenas minha imaginação? Logo depois, senti novamente aquela leve incômoda sensação. Não... isso definitivamente é uma sensação estranha, não é? O que é isso? Não era minha imaginação?
Enquanto escrevia com a caneta no tablet, parei a mão. Um incômodo leve, mas repetitivo na cabeça, dificultava minha concentração. Era algo muito sutil, quase imperceptível.
Da primeira vez, achei que fosse uma brisa leve, uma travessura do vento. Mas não, estava se repetindo claramente e em diferentes pontos do meu cabelo. Para investigar a causa, virei-me lentamente para trás. Então, Morishita me lançou um olhar severo enquanto sussurrava.
— O que foi?
— Não... nada...
— Virar-se durante a aula, mesmo no tempo de estudo individual, é algo que só alunos travessos fazem. Por favor, olhe para frente e concentre-se na sua tarefa.
Não tinha como argumentar. Ela estava completamente certa. Felizmente, ao me virar para trás, a sensação incômoda desapareceu, como se nunca tivesse existido. Talvez fosse melhor ignorá-la.
Voltei a olhar para frente e retomei o trabalho no tablet. Mas, pouco tempo depois, aquele incômodo no cabelo voltou. Se há uma causa, só pode ser uma: Morishita, que está sentada bem atrás de mim.
Desta vez, virei-me um pouco mais rápido. E, naquele exato momento, vi Morishita fazendo uma expressão de "ops" enquanto escondia algo na mão esquerda. Infelizmente, não consegui ver o que era.
— Me encarar de tão perto... que pervertido, não acha?
— Não é isso. Você está fazendo algo com a parte de trás da minha cabeça?
Não tive escolha a não ser perguntar diretamente.
— Eu? De jeito nenhum. Estou concentrada nos meus estudos — respondeu, tocando a tela do tablet duas vezes com a caneta, como se quisesse provar sua inocência. Mas seus movimentos eram claramente suspeitos.
Mesmo sendo hora de autoestudo, ainda estávamos em aula. Não podia ficar me virando para trás o tempo todo. Ainda assim, era óbvio que algo estava acontecendo. Morishita tentava esconder, mas os olhares dos outros alunos a denunciavam. Alguns me olhavam com uma mistura de pena e compaixão nos olhos.
— Ei, Shiraishi.
— Fufu, o que foi? — Minha colega ao lado não conseguiu conter o riso e cobriu a boca, divertida.
— A Morishita está fazendo algo?
— Quem sabe? Eu não saberia dizer.
Uma mentira tão descarada que quase me confundiu, mas percebi que teria que lidar com isso por conta própria.
Fingi me render e voltei a olhar para frente. Então, continuei a tarefa no tablet. Obviamente, Morishita sabia que eu não estava realmente concentrado nos estudos. Ela com certeza percebia que eu estava esperando o momento certo para pegá-la em flagrante.
Mas isso era bom.
Se ela percebesse que eu estava atento, talvez decidisse parar com o que quer que estivesse fazendo. Em outras palavras, eu estava dizendo: "Vou deixar essa passar, então não continue com isso."
Achei que assim conseguiria me concentrar... mas essa esperança se desfez em questão de segundos. O incômodo na parte de trás da minha cabeça voltou.
Ela percebeu minha intenção? Tentei me virar rapidamente, mas estando de costas, havia um limite para minha velocidade de reação. Era difícil ver o que ela segurava na mão antes que conseguisse esconder. Mas... o que diabos ela estava fazendo? De repente, no canto da minha visão, vi os dedos de Shiraishi se moverem em direção ao chão.
Ah... então era isso. Logo depois, com o dedo indicador da mão esquerda, ela tocou levemente sua mesa, como se estivesse marcando um ritmo.

Ton, ton.
Cada vez que seu dedo tocava suavemente a superfície, eu sentia aquela mesma sensação incômoda. Ou seja, se eu conseguisse antecipar esse momento, poderia me mover antes que acontecesse.
O dedo se ergueu... e então desceu. No mesmo instante, virei-me. Morishita se assustou, mas desta vez não a deixaria escapar. Com minha mão esquerda, não a direita que estava escrevendo, agarrei sua mão fechada e a forcei a abrir.
De dentro caiu um objeto que há tempos não se usava nas aulas: uma borracha.
— O que é isso?
— Ora, quem sabe?
— E esses restos no chão?
— Não sei — Fingia não saber de nada, mas era inútil.
— Acho que já está na hora de admitir, não acha?
Morishita estava esfregando a borracha contra a mesa e jogando os restos na minha cabeça.
— Obrigado, Shiraishi. Graças a você me dar o sinal no momento certo, consegui pegá-la em flagrante.
— Tch, então era isso… Muito bem jogado, Asuka Shiraishi.
— Sinto muito. Não podia ficar de braços cruzados enquanto Kiyotaka estava em apuros…
— Ei… isso não se qualifica como bullying?
— Bullying? Que comentário ridículo. Permita-me perguntar algo: se um gatinho incomoda um leão, isso é considerado bullying? Tente imaginar.
— Bem… não, acho que não.
— Viu? O bullying é uma ação desprezível que o forte impõe sobre o fraco. E você, Kiyotaka Ayanokoji, que tenta se tornar o líder da classe e ainda por cima está em excelente forma física… diante de mim, uma donzela delicada e frágil. De qualquer ângulo que olhe, é evidente quem é o forte e quem é a fraca. Resumindo, se fosse para comparar, o que estou fazendo é mais parecido com o que Joana d’Arc fazia.
— E por que exatamente você está mencionando a Donzela de Orléans?
— Porque sou uma cavaleira que luta contra o mal… talvez?
Eu, o mal, e Morishita, a justiça? Essa ideia é completamente inaceitável, pelo menos nesta situação.
— É adorável… — Shiraishi, que observava nossa troca com os olhos semicerrados, murmurou suavemente.
Certamente, se falarmos apenas de aparência, Morishita é bastante atraente fisicamente. Mas considerar esse comportamento adorável… só pode ser coisa de alguém que nunca foi vítima direta de suas ações.
— Acho que finalmente entendi. Então essa é a razão pela qual Sugio me cedeu o lugar sem hesitar.
— Sim. Parece que todos que sentavam na frente de Morishita passavam pelo mesmo.
— Enquanto o mal existir neste mundo, é meu dever continuar lutando.
Eu não fazia ideia do que isso significava exatamente, mas Shiraishi não parava de sorrir divertida o tempo todo.
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