Volume 1
Capítulo 11: Nome
Depois de uma longa caminhada, Zethnniyr e Kintarou chegaram no apartamento de Mio. Enquanto subiam as escadas, eles conseguiam ouvir barulhos que pareciam de móveis sendo deslocados, o que provocou uma expressão curiosa de ambos. Kintarou tocou a campainha e esperou alguma reação do outro lado da porta, mas nada além do barulho anterior.
Depois de alguns minutos, a maçaneta da porta se mexeu, a porta se abrindo na frente dos dois. Mio se revela, mas esta com uma aparência desengonçada e nenhum pouco feminina. Além disso, era visível o cansaço da garota.
— Ah, vocês chegaram! Eu tava arrumando algumas coisas aqui. — Tirando o suor da testa com a mão, voltou a falar: — O lobinho não ficou quieto, e até algumas coisas quebraram… mas tá tudo bem!
— Pela sua aparência, parece o contrário. Bom, você já fica desarrumada dentro de casa com frequência, então não é surpresa.
— Pra que eu vou ficar arrumada dentro de casa?! Desculpa se não sou uma comandante do exército do Rei dos Demônios! — bufou assim que ouviu o comentário, mas logo se recompôs. — Venham ver as coisas que comprei!
A garota fez um pequeno gesto com as mãos, indicando aos dois para entrarem em seu apartamento. Os dois rapazes se olharam por um tempo, mas logo aceitaram o convite e adentraram, com Mio fechando e trancando a porta em seguida.
Assim que entraram, se depararam com uma sala totalmente bagunçada. A sala ficou uma bagunça em pouco tempo, Zethnniyr apenas olhou para a situação com pouca surpresa — já se acostumou com a bagunça da sala —, enquanto Kintarou observava tudo com certa frustração.
O filhote de lobo de Amarek estava sentado pacificamente no sofá, com uma expressão de poucos amigos. No sofá, havia alguns brinquedos para cachorro já com aparência desgastadas.
— Parece que ele é um filhote bem… bagunceiro, pra dizer o mínimo.
— Os lobos de Amarek nunca foram fáceis de lidar, eles são bem selvagens e independentes, semelhantes aos lobos comuns. Os filhotes têm muita energia para gastar, e parte dessa energia é gasta para poderem se tornarem o mais forte possível o quanto antes.
— Eu não imaginava que seria assim… — Olhou para os inúmeros brinquedos espalhados no chão com uma expressão surpresa. — Bom, ele já destruiu boa parte das coisas que eu comprei.
— Eu disse que cuidar de uma criatura dessas seria trabalhoso, mas você não me escuta. E agora o seu dinheiro foi jogado no…
— Eu não me importo nenhum pouco! Ele ainda é muito fofinho e é só um filhote, não consigo brigar com ele!
Interrompendo o sermão de Taniguchi, Mio agarrou o pequeno corpo do lobo e esfregou as bochechas contra ele, sentindo bem a maciez dos pelos.
— Mas falando sério, precisamos arrumar essa bagunça.
— Ele tem razão. A base do Rei dos Demônios não pode ficar uma bagunça, ainda mais quando essa bagunça não é minha!
— Você se esqueceu que essa é a minha casa? Não a trate como uma base militar… — Mio deixou o pequeno lobo de lado, colocando-o no sofá novamente. — É melhor darmos uma limpada mesmo, está começando a me incomodar também.
Depois de se espreguiçar, Kawano foi até a lavanderia e pegou os materiais de limpeza necessários para arrumar o cômodo. Cada um ficou com uma tarefa: Zethnniyr jogou as embalagens dos brinquedos e outros tipos de lixo fora, Kintarou varreu a sala e limpou o piso com um pano e Mio separou os brinquedos usáveis, jogando fora os que não serviam mais. O clima ficou silencioso, mas agradável.
O final da tarde e o início da noite se seguiram assim, com três jovens limpando a sala enquanto o causador do caos cochilava pacificamente.
Não demorou muito para o apartamento de Mio estar completamente arrumado. No final das contas, eles decidiram não só arrumar a sala como todos os outros cômodos também, com exceção do quarto de Kawano, que sempre estava arrumado. Afinal, lá era onde tem suas coisas mais preciosas: seu vicio otaku.
Os três jovens estavam relaxando depois da arrumação, conversando sobre diversos assuntos. Mio havia se lembrado de algo muito importante que havia visto quando os dois homens estavam fora, então ela decidiu puxar esse assunto a toa:
— E-Ei, vocês dois viram que cinco monstros foram mortos de maneira desconhecida? Eu vi isso no jornal enquanto tirava os brinquedos.
— Hm? Nós vimos isso quando estávamos voltando para cá. Realmente foi algo estranho...
— Como eu disse para ele, eu não sei quem pode ter sido. — Zeth responde a pergunta que ecoava na mente de Mio, antes mesmo que ela pudesse fazer menção de perguntar. — Monstros normalmente brigam por território ou simplesmente porque são rivais, então eu não duvido que tenha sido isso.
— Ah, então é assim que as coisas funcionam…? — Mio murmurou, processando a informação do demônio com uma expressão pensativa. Inconscientemente, seus pensamentos saíram da boca pra fora: — E se tiver alguém como você?
— Hein…?
Os dois homens se entreolharam e voltaram os seus olhares para a garota de maria-chiquinha, sendo visível a surpresa e curiosidade de ambos. Como Mio estava de cabeça baixa, ela não havia percebido, mas logo que o silêncio se instaurou no ambiente por tempo demais, Kawano levantou a cabeça rapidamente e se deparou com os dois amigos esperando continuidade.
Claro, ela ficou nervosa pelos dois estarem a encarando tão fixamente, as bochechas levemente avermelhadas revelavam sua timidez, Mio só queria esconder o rosto em algum lugar naquele momento.
— E-Eu só tava pensando que seria muito estranho se só o Zeth tivesse vindo para o nosso m-mundo! — gaguejou, ela tentou se acalmar puxando a bainha do moletom. — Não sei como foi essa tal de “Quebra Dimensional”, mas talvez outras pessoas tenham vindo!
— Isso até que faz algum sentido, mas pensar nisso é assustador. Significa que existem outras pessoas tão fortes quanto o Zeth.
— Os monstros já são muito assustadores por si só... — disse Mio com uma expressão nervosa, a mão trêmula inconscientemente foi em direção ao ombro onde o goblin havia perfurado. Ela fitou o rosto de Zethnniyr, buscando algum tipo de conforto, algo que dissesse que o pensamento dela poderia estar errado. — O que você acha, Zeth?
— Não é impossível. — A resposta do demônio havia sido curta e grossa, sem espaço para rodeios ou eufemismos. Isso arrancou expressões difíceis nos rostos dos dois amigos. — Eu confesso que nunca tinha pensado nisso, mas pode ter uma possibilidade de que alguém que não seja um monstro matou aquelas criaturas.
— Não pode ser…
Mio deixou escapar, a frustração e preocupação estampado em seu rosto. Não muito diferente dela, Kintarou também continuou com uma expressão difícil, analisando todas as informações adquiridas. Muito diferente deles, Zethnniyr não parecia nenhum pouco abalado, na realidade, um sorriso presunçoso surgiu em seus lábios.
— Por que estão com essas expressões? Não deveriam estar preocupados. — Ainda com um sorriso no rosto, ele cruzou os braços a fim de parecer confiante. — Estão diante do Rei dos Demônios, eu sou mais que o suficiente para lidar com quem vier.
— Sim, mas e se tiver alguém ainda mais forte que você…?
— Não existe. — Zeth interrompeu Mio, sem mais nem menos. A garota fitou o rosto do maou e viu que o sorriso presunçoso sumiu, dando lugar a uma expressão um tanto assustadora. — Apenas os deuses, e com certeza não foram afetados pela quebra.
— Quanta confiança…
— Como eu fiz o contrato com Mio, não demorará muito até os meus poderes voltarem por completo. Principalmente se eu continuar matando os monstros.
— Se você diz…
— Mio, preste atenção.
Zeth se aproximou de onde Kawano estava sentada, o que a fez encará-lo mais uma vez. A expressão preocupada e quase chorosa de Mio fez com que o maou se abaixasse, segurando os ombros da garota a fim de transmitir algum conforto.
— Eu estou aqui, não vou deixar nada acontecer com a minha serva, nem com as pessoas importantes para você. — Ele alternou o olhar entre Mio e Kintarou. Logo seus lábios se abriram em um sorriso gentil, mas confiante. — Então apenas confie no seu demônio.
— Confiar em um demônio não é algo normal nesse mundo, seu bobão — disse Mio, uma pequena risada saindo de sua boca em seguida. As mãos quentes e as palavras de Zeth fizeram com que a expressão dela relaxasse, quase como um efeito terapêutico. — Se você diz, eu vou confiar em você, Zeth.
— Não há muito o que possamos fazer além disso mesmo…
— Apenas deixem o resto comigo!
Zethnniyr deu o sorriso mais confiante que Mio havia visto desde o dia em que se conheceram, e por algum motivo, isso foi mais que o suficiente para acalmar o seu coração nervoso. Ela também não conseguiu não deixar de sorrir em resposta. Logo o clima intenso de antes foi substituído pelas pequenas risadas de Mio.
Sem que percebessem, o pequeno lobo — que estava dormindo na cama para cachorros — se aproximou dos três jovens, espreguiçando enquanto caminhava. Ele parou na frente de Kawano e, com a cabeça levemente inclinada, lançou um olhar confuso para ela. Não demorou nem um minuto para que Mio percebesse a presença dele.
— Ah, você acordou, seu lobinho dorminhoco! — Mio se levantou do sofá e se agachou. — Acabei esquecendo do mais importante que é o seu nome…
— É mesmo, ele precisa de um nome. Você deve ter pensado em alguma coisa enquanto estávamos fazendo os documentos, não é?
— Sim, estive pensando bastante sobre isso. Queria que fosse um nome legal e que fosse fácil de lembrar.
Suas mãos acariciaram suavemente o pequeno corpo do lobo. Seu toque era reconfortante e a pequena criatura não podia deixar de fechar os olhos para aproveitar mais o carinho. Mio não conseguiu se segurar e um sorriso se abriu ao ver a reação dele.
— Sabe, eu nunca tive um bichinho antes, sempre quis um, mas meus pais nunca puderam me dar — disse a garota, com uma expressão doce no rosto. — Sempre gostei muito de animais, heh.
— Me lembro de ter que te segurar toda vez que você via um cachorro ou gato de rua quando voltávamos da escola. Era muito chato sempre ter que explicar para a sua mãe…
— Eu não posso evitar se eles são fofos! — Em resposta a reclamação de Kintarou, Mio bufou e fez um beicinho, inflando suas bochechas. — Era ruim estar arranhada ou com alguma mordida? Era, mas valia a pena fazer um carinho.
— Eu tenho medo das suas tendências, sabe…
— Não seja chato, Kintarou.
A garota de maria-chiquinha riu ao se lembrar da infância e adolescência, onde sempre torcia para achar algum animal perdido na rua apenas para tirar fotos e acariciar. Nem sempre os encontros eram agradáveis — muitas vezes ela voltava para casa com alguns machucados —, mas para Kawano, valia a pena dar um pouco de carinho para os animais solitários.
Percebendo que estava sorrindo mais do que o normal, Mio balançou a cabeça para os lados e olhou fixamente para o lobinho e, depois de alguns segundos de silêncio, ela voltou a falar:
— Agora você tem uma nova família, um novo lar e uma nova vida. Eu não sei se vou ser uma boa dona, mas… eu prometo que vou dar tudo de mim para te fazer feliz! — exclamou Mio com um sorriso, querendo transparecer confiança. — E agora o seu nome será Sei! Espero que possamos ser amigos!
— Sei? Que nome interessante… Por que você pensou nele, Mio? — perguntou Zethnniyr, com a sobrancelha levantada.
— Eu só pensei nisso porque ele é azul e tem um símbolo de uma estrela na cabeça. Parece até uma constelação, não? — Coçou levemente a bochecha, um pouco envergonhada. — É meio bobo, mas eu gostei.
— É realmente um nome meio bobo e previsível, mas é a sua cara.
— Eu também gostei do nome! É fácil de lembrar e acho digno para ser o protetor da minha base.
— Lá vem você tratando a minha casa como se fosse um castelo…
Logo as risadas dos três adultos preencheram o lugar, deixando o clima mais leve e descontraído. O pequeno lobo olhou para tudo aquilo com uma expressão indiferente, mas em seu peito, um misto de sentimentos o preenchiam gradativamente, muitas que ele nunca havia sentido antes.
A criatura logo se aproximou mais das mãos de Kawano, chamando a atenção dela no mesmo instante. Os dois se olharam fixamente, o que logo arrancou uma expressão confusa de Mio, mas algo a dizia para não tirar as mãos do corpo dele.
Subitamente, uma aura envolveu o corpo do pequeno lobo, surpreendendo a todos. Mio era quem mais estava surpresa, já que de alguma forma podia sentir a aura dele, como se a aura do lobinho estivesse sendo transportada para o corpo de Kawano. Apesar da surpresa inicial, em nenhum momento ela pensou em tirar as mãos dele, confiando plenamente nele.
Logo, a aura se dissipou, não deixando nada para trás. A garota e o lobo se olharam mais uma vez, Mio abria e fechava a boca, porém nenhuma palavra foi dita, apenas o silêncio tomou o lugar.
“Obrigada, Mio. Vou fazer o possível para honrar o nome que me deu, minha mestra”, uma voz estranha foi ouvida por Kawano em seu subconsciente, fazendo-a estremecer com a sensação estranha.
— O que foi isso? Mestra…?
— Mio, você está bem? Não sente nada estranho? — Kintarou tocou o ombro da amiga, captando a atenção dela e a obrigando a mudar de foco.
— Eu estou bem, mas… — Ela encarou o lobo por alguns segundos, mas voltou o seu olhar para Zethnniyr. — Você sabe de alguma coisa, Zeth?
— Um contrato. — O demônio começou, sem rodeios. Ele cruzou os braços e fitou o pequeno lobo, agora chamado de Sei. Sua expressão estava séria, bem diferente de minutos atrás. — No caso, ele é mais como um “familiar” para você, já que deu um nome e disse que iria protegê-lo.
— Um familiar? O que é isso?
— É bem simples, Kintarou. São criaturas que possuem alguma espécie de vínculo com seu mestre, sendo este vínculo mágico ou, até mesmo, familiar. — Zethnniyr limpou a garganta antes de dar continuidade: — Mio, você disse que ele seria a sua nova família, não é? Provavelmente ele entendeu algo bem além do que uma “família” comum, pelo menos nos padrões desse mundo.
— Então isso quer dizer que o Sei…
— Sim, ele aceitou se tornar parte da sua família como um familiar e formou um contrato com você. — Zeth se agachou e ficou de frente para Mio e Sei, os fitando com uma expressão divertida no rosto enquanto os dois o olharam confusos. — Agora vocês são mestre e familiar. Eu tinha minhas dúvidas de que ele iria ficar com a gente, mas parece que ele gostou bastante do nome que você o deu, Mio.
— Eu nunca pensei que seria mestre de alguma coisa…
Mio pegou Sei em suas mãos, levantando-o até os rostos dos dois estarem nivelados. Ela o encarou por algum tempo, tentando descobrir alguma emoção escondida, mas tudo o que recebeu foi uma expressão indiferente que ele normalmente fazia. A garota de maria-chiquinha deu um suspiro, ainda tentando absorver tudo o que acabara de acontecer.
— Eu fico feliz que você tenha aceitado ficar comigo, que tenha gostado do nome que te dei… — disse, sua voz em um tom tímido. — M-Mas saiba que não quero que me trate como uma rainha ou algo assim, me trate como Mio, como sua melhor amiga!
— Ele não vai te responder, você sabe?
— Eh? Mas eu o ouvi falar na minha mente… — Mio fez uma expressão confusa. A voz de antes com certeza era de Sei, ela não tinha dúvidas disso. No entanto, Sei apenas a olhou indiferente.
— Agora que tudo foi resolvido, eu quero comer, estou morrendo de fome!
— É mesmo, eu esqueci que viemos pra cá correndo porque você estava com fome. — Kintarou suspirou, lembrando das reclamações anteriores do demônio. — Aliás, você não vai explicar mais nada?!
— Deixamos isso pra outro dia, a minha saciedade é mais importante. — Levou as mãos até a barriga e a esfregou, sentindo seu estômago roncar em resposta. — Mio, use aquele objeto mágico para pedir comida imediatamente!
— Você tá falando do celular? Tenho que te explicar mais sobre isso. — Mio riu com a reação do maou, mas logo fez o que ele havia pedido. — Vamos comemorar a chegada do mais novo membro da casa com pizza! É por conta do Kintarou!
— O que? Por que eu tenho que pagar?!
— Esqueceu que eu gastei meu dinheiro com brinquedos hoje? Prometo te pagar depois!
O jovem de óculos apenas suspirou como resposta, enquanto tirava do bolso sua carteira e contava as notas que haviam ali. Não era a primeira e nem a última vez que Mio fazia isso, mas ele pelo menos podia contar que ela pagaria como sempre. Claro, Kintarou planejava usar essa situação mais tarde para pedir algum favor, como sempre também.
Com tudo resolvido, a noite passa bem rápido para os três amigos e para o novo habitante, com eles comendo e assistindo alguns filmes. Havia sido um dia com muitas informações novas para os jovens, então nada melhor do que um descanso para aliviar os ares.
Em um certo beco escuro das ruas de Tokyo, o cheiro de corpos mortos impregnava o local. No chão, havia rastros de sangue, já secos, e partes de corpos que pareciam vir de uma criatura animalesca. Nas paredes destruídas, manchas de sangue indicavam que uma intensa batalha aconteceu ali. Aqueles eram os restos da batalha de lobos tolos contra um demônio.
Sorrateiramente, duas criaturas, metade cobras e metade mulheres, chamadas lâmias, se esgueiravam pelo beco mal iluminado, sendo estas atraídas pelo cheiro de carne podre. A barriga de ambas roncavam de maneira que era possível ouvir, estavam sem comer por algum tempo. Não demorou muito para ambas se aproximarem dos corpos dos lobos de Amarek e devorá-los com tamanha ferocidade.
A fome era tamanha que as duas se esqueceram do mundo ao seu redor, focando apenas em saciar suas barrigas com o máximo de carne possível. Foi um grande erro.
O som de uma lâmina arranhando o chão foi ouvido pelas lâmias, mas elas reagiram ao barulho tarde demais. Quando perceberam, sangue que não era dos lobos escorria por seus corpos. Logo um grito de dor foi proclamado.
— Que falta de educação a minha. — Uma voz reverberou no beco, em um tom divertido e despreocupado. — Eu não deveria ter apunhalado pelas costas, mas vocês não me deram opção. Seria mais divertido uma luta justa.
— O-O… que… Quem é…?
— Opa, ainda estão vivas?
Em um movimento rápido, o jovem misterioso balançou novamente sua espada contra as lâmias, sendo um ataque tão rápido que não poderia ser visto a olho nu. O corte dessa vez havia sido profundo o suficiente para fazer as duas criaturas caírem no chão. Enquanto as lâmias se contorciam e gemiam de dor, o jovem adulto limpou a espada cheia de sangue com um pano velho que estava jogado em uma das caçambas de lixo. Ele odiava deixar sua espada suja.
— Agora vocês morrem de vez. Apesar de não ter sido uma luta justa, ao menos serviu para recuperar um pouco da minha mana. Sorte a minha de ter trazido a minha espada. — Ele suspirou, jogando o pano velho em um canto qualquer, observando os monstros perderem a consciência gradativamente. — Elas não vieram aqui à toa, hein?
Observando o local, o homem analisou os restos dos corpos mortos dos lobos de Amarek e passou a mão na rachadura da parede e no chão. Como ele imaginava, antes das lâmias, houve uma batalha ali.
— Um humano deste mundo não conseguiria lutar contra os lobos, eles estão tendo dificuldade até em deter monstros de rank E. — Guardando a espada na bainha, ele olhou para toda a situação e deu um sorriso brilhante, mesmo diante de uma cena horrenda. — Isso quer dizer que não sou o único aqui!
Depois de se certificar que as criaturas morreram, o homem de capa suja e esfarrapada saiu do beco em passos apressados, sua presença não significou nada, pois já era madrugada e havia pouquíssimas pessoas na rua.
O homem corria sob o luar, junto das luzes brilhantes de estabelecimentos, iluminando seu rosto aliviado e determinado. “Eu preciso encontrar essa pessoa!”, pensou o jovem com um sorriso determinado no rosto. Ele finalmente encontrou uma nova motivação além de matar monstros, e isso o encheu de esperança. E talvez, existisse uma outra motivação oculta.
Ele parou seus passos para admirar o luar, ainda com uma expressão determinada. Seus olhos se mantiveram fixos no satélite, enquanto um misto de emoções percorriam seu corpo. Ele não deixou de ansiar que seu encontro com alguém de sua terra natal estivesse próximo e também uma nova aventura em descobrir aquele mundo.
Ilustração de Sei, o lobo de Amarek, feita por Hythan: