Volume 1
INTERLÚDIO I
ANGUSTIADO E ATORMENTADO ATÉ não poder mais, cansei da ideia de que analisar demais minhas ansiedades me faria algum bem. Virei a cabeça para o céu como quem deseja romper com esse espiral pessimista. Para minha surpresa, a vasta extensão azul acima era tão clara e tranquila quanto a serenidade de espírito que eu almejava. Um milhafre solitário desenhava figuras em forma de oito contra o firmamento, seu chamado melancólico ecoando do alto enquanto escaneava a terra em busca de sua próxima refeição. Ao lado dele, pendia a lua minguante, imóvel e plácida no céu matutino, como uma única gota de leite derramado.
Inspirei uma lufada revigorante de ar fresco e costeiro, buscando fornecer ao meu cérebro cansado um novo suprimento de oxigênio. Com as narinas agora umedecidas pelo toque salgado da brisa, captei um leve aroma de flores de ameixeira, entremeado ao cheiro habitual de sal marinho. Era a primavera antes do meu último ano no ensino médio. Eu tinha dezessete anos.
Voltei meu olhar para a estrada à frente e retomei minha caminhada à beira-mar, enquanto as ondas quebravam contra o paredão ao meu lado. Não era, nem de longe, o caminho mais direto para casa, mas isso me parecia perfeito — precisava de um tempo a mais para pensar.
Pensei na noite passada — aquele evento fatídico que havia sido o catalisador de tudo isso, mas também um tipo de desfecho, pelo menos para mim. A realidade dos fatos ainda não havia se instalado por completo. Tudo que conseguia fazer era repassar os eventos daquela noite repetidamente na minha cabeça, me perguntando infinitamente se aquilo era mesmo o final que eu queria ou se havia algo mais que eu poderia ter feito; uma escolha diferente que poderia ter tomado, um desfecho melhor. Quanto mais eu refletia, mais parecia que minha mente estava sendo engolida por uma areia movediça, cada tentativa de escapar me afundando ainda mais em um pântano de arrependimento.
Ainda assim, continuei tentando (e falhando) encaixar meus pensamentos dispersos em uma forma coesa que eu pudesse compreender, até que, sem perceber, já estava parado diante da porta de casa. Atravessei a entrada, tirei os sapatos e fui direto para o meu quarto sem nem anunciar minha chegada. Não tinha forças para fazer mais nada, então me joguei na cama, tentando expulsar o fluxo incessante de pensamentos angustiantes com cada suspiro pesado que saía dos meus lábios. Não demorou para que a exaustão começasse a se manifestar. Fazia sentido, considerando que eu não dormia desde a noite anterior.
Mal fechei as pálpebras e um fluxo de memórias começou a passar por elas em sucessão rápida, como uma série de slides projetados em um telão — memórias da Akari e dos últimos dias que passamos juntos. Em uma imagem, ela ria; na seguinte, chorava; e em outra, corava intensamente. À medida que essas imagens se desenrolavam no fundo dos meus olhos fechados, como quadros congelados no tempo e no espaço, percebi o quão abençoado eu havia sido por compartilhar cada um desses preciosos e fugazes momentos com ela. Apenas tê-la por perto — falando, ouvindo, existindo — era o suficiente para me fazer sentir satisfeito com minha vida medíocre. E foi exatamente por isso que, independentemente das escolhas que eu pudesse ter feito ou das que ainda faria, prometi a mim mesmo que faria o que fosse necessário para—
Antes que pudesse terminar esse pensamento, minha mente finalmente cedeu às demandas urgentes do meu corpo por sono, e perdi a consciência.
Este Capítulo foi traduzido pela Mahou Scan entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!