Violet Evergarden Japonesa

Tradução: Sirius


Volume 2

Capítulo 12: As Cartas Voadoras e a Boneca de Memória Automática (2)

Em cidades, vilarejos e até mesmo florestas, aqueles tocados pelo vento riram em sua grandeza. Os sons de vendavais furiosos eram uma  melodia  de  chocalhos. Com a graça do Sol, céus azuis límpidos abençoaram as pessoas abaixo.

Naquele dia, o vento de repente tornou-se forte da tarde ao anoitecer. O vigoroso fluxo de ar era quase como um dragão ondulando seu corpo e pisoteando a terra. Onde quer que o dragão passasse, os sons de folhas e gritos de pássaros e insetos cantavam em coro. O local da base da Força Aérea do Exército de Leidenschaftlich, rodeado por bosques, tornou-se também o playground do vento.

Um amontoado de convidados, que acabavam de chegar, saíram de um caminhão   de passageiros que passava várias e várias vezes por causa do dia especial. Assim que o seu interior se esvaziou, ele retornou novamente para a cidade. As pessoas  que desciam dele atravessaram a estrada da floresta enquanto conversavam alegremente entre si. Conforme elas andavam pela trilhada árvore, suas risadas e vozes animadas levantavam-se ao som profundo e giratório de aviões de combate que dançavam no céu.

Estava acontecendo a Exibição Aeronáutica.

No meio disso, também estavam presentes as figuras de membros  do  Serviço  Postal CH, liderado por Claudia Hodghins. Dos funcionários que haviam trabalhado  no escritório aos carteiros que terminaram suas entregas, todos iam caminhando   com os rostos envolvidos em um sentimento de libertação.

“Ilumine, pequena Lux.”

Enquanto todos pareciam se divertir, apenas Lux tinha uma expressão amarga. O presidente, que agora tinha mais de trinta anos, tentou desesperadamente falar com ela para fazê-la sorrir.

Conforme pensava consigo mesma que estava sendo uma criança, Lux cuspiu os sentimentos incompreensíveis em seu coração, “Não, não é como se eu estivesse   de mau humor. Eu... Algo que eu não poderia fazer, não importa o  quê...  foi  resolvido com uma única afirmação sua, Presidente... Mais uma vez, eu entendi  como as coisas funcionam neste mundo; estou simplesmente subindo as escadas    da maturidade... Este mundo é tão...”

“Foi tão ruim para que o escritório público prorrogasse o prazo? Mas, veja, graças a isso, nós fomos capazes de trazer todos da empresa para o festival. Eu... também queria fazer algo para todos, já que eles davam o melhor no trabalho  porque  queriam vir aqui...”

“Mas essa recepcionista do escritório público foi sua ex, certo, Presidente Hodgins?”

“Ahh... bem, era ela?” Ele respondeu vagamente, como se ela não fosse alguém   que, na realidade, poderia ser considerada uma amante, já que simplesmente aconteceu dos dois conhecerem os corpos nus um do outro.

“Para resumir, você tem um relacionamento de simpatia, em  que  vocês  normalmente fingem que não conhecem um ao outro... isso porque, se eu tivesse  sido o único a pedir esse favor, teria sido inútil... Por essa razão...”

Hodgins estava observando Lux, que estava fazendo várias caretas, primeiro com preocupação, mas gradualmente fora se transformando em diversão e ele acabou rindo. A infantilidade desta menina, que ainda estava alienada com as sutilezas das relações humanas, apesar de ter se tornado capaz delas depois de muito trabalho,   e, portanto, permanecendo tão inocente, era adorável.

“Pequena Lux, ficar frustrada por algo assim não é bom. Você é minha secretária, então você terá que continuar aprendendo constantemente minhas maneiras sujas  de agora em diante. As declarações do presidente são...?”

“A-Absolutas.”

O que ele estava tentando fazer com que ela aprendesse?

“Você parece sem energia. Mais uma vez. As declarações do presidente são...?”

“A-Absolutas!”

Hodgins acariciou a cabeça de Lux em satisfação. “Pequena Lux é tão meiga. Eu a elevarei para ser um grande membro da sociedade.”

Enquanto ele continuava acariciando-a da maneira que alguém faria com um cachorro ou um gato, sua mão foi tomada por outros funcionários.

“Presidente, você será preso por isso. Pela polícia militar.”

“Lux, além disso, não siga o que o presidente diz. Você é a estrela da esperança da companhia, então você precisa lutar contra qualquer coisa imprópria, como  se  tivesse a intenção de apunhalar o Presidente.”

“Vocês não são todos terríveis?”

Os funcionários riram, e Lux naturalmente riu também. Ao olhar para eles, Hodgins finalmente foi aliviado. Ele não era bom com mulheres fazendo expressões sombrias.

— Agora, é sobre a outra garota que estou preocupado.

Depois de confiar algum dinheiro de garantia de sua própria carteira para Lux  comprar tudo o que queria, Hodgins saiu para procurar Violet e Cattleya. Alguém havia dito que ele iria encontrá-las se saísse para caminhar, mas o número de convidados frequentando as Cartas Voadoras era o dobro do que da vez anterior, e isso era uma quebra de recorde. A base da Força Aérea em si era extensa, então   ele acreditava que seria uma tarefa difícil.

— Eu tentei instigá-las a se darem bem uma com o outra, mas eu me pergunto se   eu consegui.

Ao contrário de Violet e Lux, essas duas eram uma dupla com uma taxa de sucesso questionável para promover o crescimento de uma amizade. No entanto, como Hodgins tinha Gilbert e a si mesmo como exemplos de sucesso, ele queria apostar que as duas poderiam, surpreendentemente, se tornarem amigas. Ele estava sem contato com Gilbert no momento, mas tentou não pensar nisso.

Evitando andar sem rumo, Hodgins dirigiu-se diretamente ao lugar de repouso geral. Várias horas se passaram desde que Cattleya havia deixado o escritório.  Elas  devem ter tido um bom tempo vendo a maioria das exposições e cabines.

Ele percebeu que ser alto era útil nesse tipo de situação. Não demorou muito para encontrar Cattleya. Não havia nenhuma maneira de que uma mulher deslumbrantemente linda, que poderia até ser considerada pomposa, não se destacasse.

Cattleya estava sentada sozinha em um banco, parecendo solitária. “Então eu falhei?”

Quando Hodgins tentou chamá-la com um “Eiii”, outro homem chegou antes para conversar com Cattleya. Ele segurou seu braço enquanto como se ela intencionalmente o ignorasse, para fazer com que ela se levantasse. Ele provavelmente a estava convidando para andar pelo festival com ele.

“Isto é mal...”

Hodgins não estava preocupado com Cattleya. Ele caminhou rápido, abrindo  caminho pela multidão.

“Não me toque de maneira tão familiar!”

Ao ouvir um grito com uma voz aguda, ele empurrou as pessoas sem se segurar.    No entanto, Hodgins estava um passo atrasado para o resgate. Cattleya se levantou  e revirou o braço que tinha sido agarrado, libertando-se rapidamente, então agarrou   o homem pela área do peito de suas roupas e mergulhou o joelho em sua virilha.    Era certamente uma dor inimaginável. O homem desabou no chão sem mover-se.

Como Cattleya pretendia desferir mais golpes, Hodgins a deteve gritando: “Cattleya, venha aqui!”

“Ah, presidente!” Aparentemente feliz, ela acenou para ele e correu em sua direção. Afastando uma risada cética, Hodgins acenou para trás.

Cattleya pulou no peito dele. Embora o olhar das pessoas que os rodeavam fossem

prejudiciais, ele priorizou o estado mental de Cattleya. Ele abraçou-a suavemente uma vez, depois deu um passo para trás, recebendo um sorriso com total desenvoltura enquanto perguntava se ela estava bem.

“Adivinha, não consegui chegar a tempo...”

“Presidente, você estava tentando me ajudar? Eu não perco. Mas, entendo que... se eu agir de forma fraca nesses tipos de situações, você tentará me salvar. Eu deveria deixá-lo assim por mais alguns segundos.”

“Não, hum. Isso é verdade.” Ele não admitiu que aquele quem  estava  tentando salvar era o homem. “Mas, você sabe, Cattleya... Tenho certeza de que eu lhe disse que você deveria tentar resolver as coisas pacificamente em situações assim...”

“Eu não usei meus punhos. Eu pensei que uma ex-lutadora marcial como eu não deveria fazer isso com uma pessoa comum, então usei minhas pernas. Porque minhas pernas não são tão fortes. Elogie -me, elogie-me, presidente.”

A jovem chamada Cattleya Baudelaire era de uma beleza brilhante que parecia ter muitos homens na palma da mão com apenas um olhar, mas por dentro, ela era  como um cachorrinho. Era inocente e ingênua, bem como depravada, já que não havia intenções ruins em qualquer coisa que fizesse. Talvez por ela ter confiança    em sua força física, tinha o hábito de resolver qualquer coisa usando a força.

“É ótimo que você não se deixe atrapalhar por algum homem estranho, mas a autodefesa excessiva não é boa, então sem elogios. Vamos deixar este lugar. As pessoas estão olhando.”

“Elogie-meee... ah, hum... mas...”

Rastejando pelo chão, o homem que tinha desabado escapou enquanto os dois conversavam.

Depois de insistir em um vislumbre de seu estado, Cattleya se virou para Hodgins. “Eu tenho que ficar aqui. Violet fugiu para algum lugar, mas ela disse que voltaria  para cá. Se eu sair, acabaremos nos perdendo.”

“'Fugiu para algum lugar'... Isso significa que você não sabe para onde?”

“Sim. Acho que ela provavelmente... foi atrás da pessoa que ela chama de 'Major'.

Hodgins perdeu a voz com as palavras de Cattleya. Seu rosto ficou atônito, ele agarrou os ombros dela com as mãos desconcertantes e trêmulas. “Um homem de cabelos negros em uniforme militar?” Era raro ele falar com voz tão alta.

Talvez sua agitação fosse transmitida a Cattleya, e ela também começou a tremer. “Eu... eu não sei. Não o vi. Mas Violet disse que era seu usuário antigamente.”

“Por onde ela foi?”

Encolhida por uma atitude tão ameaçadora, Cattleya apontou para a multidão, seu dedo oscilando fracamente. “Por lá... mas, faz um tempo desde que ela saiu.”

“Eu vou atrás dela e a trarei de volta. Desculpe, Cattleya, mas todos da empresa estão indo para o local de recuperação das Cartas Voadoras, então vá encontrá-los lá.”

“E-Eeh, vou ficar sozinha de novo?”

“Você é uma boa menina, então vá lá! OK?! E nenhuma briga imprudente, mesmo que alguém a segure!”

“Presidente!” Cattleya estava prestes a ir atrás de Hodgins como se estivesse presa   a ele, mas desistiu no meio caminho. Ela estava um tanto exausta.

Ela acabou suspirando ao vê-lo se afastando de costas para ela, enquanto ambos fugiam pela segunda vez naquele dia. Não havia como ajudá-la porque não podia se opor a Hodgins, que cuidava de Violet de tal modo como um pai substituto, e então, Cattleya começou a andar cambaleando. Enquanto pensava que seria ótimo caso   ela se tornasse alguém por quem os outros também correriam atrás, ela estava solitária mais uma vez.

— Hoje é um bom ou um mau dia? Eu me pergunto qual. Ela pensou.

Ela acrescentou o fato de que havia conseguido conversar um pouco com Violet  como um ponto. Quanto a última pessoa que havia deixado Cattleya, isso gerou    uma subtração nesses pontos. Ela logo se juntaria às pessoas da agência e não ficaria mais sozinha. Mais um ponto. No entanto, quando Hodgins priorizou Violet a ela, tornou-se mais uma subtração. Compreensivamente, depois de avaliar os altos e baixos de seus sentimentos, ela poderia dizer que sua situação atual era de estar passando por um dia ruim.

A razão pela qual ela não gostava de estar sozinha era porque a fazia se sentir que ela não tinha charme. As pessoas se reuniam naturalmente em torno de indivíduos carismáticos. Hodgins era um deles. Cattleya também se sentiu atraída por ele como uma borboleta ao mel. No entanto, ela entendeu que não poderia se tornar como ele.

Ela mordeu os lábios levemente. Seu coração estava murchando. Era esperado um começo de mês extremamente maravilhoso, e parte dela estava ansiosa porque o mês anterior foi extremamente depressivo.

“Ei, mulher idiota. Você está sozinha?” Foi depressivo, e ainda...

“Benedict...”

... suas lágrimas voltaram para a frase irônica que a chamava por trás.

Enquanto isso, Violet Evergarden, o centro daquele turbilhão, estava de frente a um homem como se o estivesse confrontando. Longe da multidão, os dois ficaram sob a sombra das ameixeiras que rodeavam a área de manobra, quase parecendo um casal. Não era como se eles fossem completamente imperceptíveis naquele local, então, de longe, eles provavelmente pareciam estar em um encontro secreto.

“Isso foi há algum tempo.”

Cabelo preto. Íris verde. O homem olhou para Violet com seus olhos verdes como se estivesse irritado. Embora ela tivesse a impressão que ela o perderia no fluxo de pessoas muitas vezes, desde o momento em que finalmente conseguiu agarrar seu braço e detê-lo, ele pareceu mal-humorado.

“Por favor, espere.”

Sacudindo grosseiramente o braço que Violet agarrou, o homem virou-se. Talvez porque sua figura adulta fosse muito diferente da última vez que a viu, a reação do homem foi levemente adiada.

Quando ele percebeu quem era, imediatamente mordeu a língua e empurrou-a para longe. “Não me toque.”

Ele era muito parecido com o homem que Violet se lembrava, mas ainda diferente. Ele a observou com desgosto, enquanto ela não se mexia um único centímetro, mesmo depois de ter sido empurrada, o torso aceitando o impacto. Ele era diferente de Edward Jones, a quem conheceu no passado, mas  ainda  muito  semelhante, dado fato de que ele expôs o passado de Violet.

“Você pode não se lembrar de mim, mas...”

“Eu lembro. Não há como esquecer a arma assassina que massacrou meus colegas.”

O irmão mais velho de Gilbert, Dietfriet Bougainvillea, ficou ali.

Violet piscou lentamente enquanto as palavras a atravessaram diretamente. Dietfriet era diferente de Edward Jones, a quem ela conheceu anteriormente, mas ainda   muito similar no fato de ele tentar expor seu passado.

“Entendo.” Violet simplesmente respondeu em reconhecimento.

“O que você está fazendo...? Alguém como você tem que estar sob vigilância. O que aconteceu com o seu Mestre?”

Dietfriet usava uniforme de gola alta da marinha. Talvez ele estivesse parado por questões relacionadas ao dever.

Quando Violet se viu incapaz de responder, Dietfriet estalou a língua e acrescentou: “Não me refiro a Gilbert. Você foi levada, e no momento, está sendo usada por seu amigo, certo? Corra para lá. Não se agarre a mim.” Ele gesticulou  como se estivesse enxotando um cachorro.

“Você está ciente?”

A atitude de Violet em como ela falou suavemente provavelmente foi considerada confusa para Dietfriet. Quando ele a conheceu, ela era um monstro de baixa inteligência que não conseguia pronunciar uma palavra. “Não me  faça  perder  tempo.” Ele a encarou como se sua aparência bonita e sua figura adulta instigassem mais medo dentro de si. “Isso diz respeito ao meu irmão. E manipulação incorreta. Isso é óbvio. É do meu irmãozinho que estamos falando. Agora venha, fico ansioso em vê-la no meio de uma multidão.” Dietfriet mostrou sua irritação. À luz de sua ira, agarrou vigorosamente o braço  de Violet.  Quando um rangido ressoou, ele soltou em surpresa. Ele olhou para o braço e depois para o rosto de Violet.

Os dois estavam tensos. Como um herbívoro que encontrou um carnívoro em uma pradaria, ambos estavam perdidos quanto a quem se moveria primeiro.

“Eu não estou... carregando armas. Não vou matar ninguém. Foi-me dito... para não matar mais. E eu... não o farei mesmo se for mandado.” Violet revelou as duas mãos para enfatizar que ela estava desarmada.

“Como eu posso acreditar em você, se é realmente assim? Você... é uma ferramenta que não deseja nada além de ordens, certo? Eu deixei você ir, mas se eu ordenasse algo, você não o faria? Ei. Você costumava fazer isso quando eu a comandava no passado, não é?”

“Eu não farei.”

 

 

Dietfriet empurrou uma das mãos em formato de arma para o peito de Violet. Sua unha perfurou ligeiramente seu decote. Parecia que sua reação de autodefesa despertava com o sentimento de ser tocada pela longa ponta de dedo de  um  homem. Seu eu habitual teria tomado medidas imediatamente. No entanto, ela não se moveu.

“Mate-se.”

A respiração de Violet parou. Isso durou um, dois, três segundos. Embora o ar rapidamente preenchesse seu corpo novamente, seu rosto permaneceu pálido. Mesmo o som de seus batimentos cardíacos, sentiu como se esse som parasse com as palavras que ela recebeu do homem que recordava vestígios daquele quem ela respeitava e aparentemente amava.

E, no entanto, Violet respondeu: “Não vou. Eu fui... ordenada a viver.” A resposta que ela deu com o máximo esforço foi misturada com tristeza.

“Sério? Uma espécie de medida protetora, eu pensei sobre isso... depois de eu ter entregado você a Gil... Ele disse para você não morrer ou algo assim, certo...? Realmente, que medida protetora. Ele é uma pessoa sentimental. Teria sido melhor se você tivesse morrido enquanto era usada por Gilbert. E mesmo depois de tudo você ainda está viva e seguindo em frente. Mesmo agora... eu ainda vou visitar as famílias das pessoas que você matou para dar-lhes dinheiro.”

O campo de visão dos olhos azuis de Violet ficou instável. A ponta de dedo que foi puxado para longe não tinha tirado sangue, mas essas palavras a impactaram tão dolorosamente quanto violência física. “Se... há... algo... que eu possa...”

“Eu não preciso de nada!! Não de você!”

Quando ele ergueu a voz, atraiu a atenção dos outros. A dupla acabou parecendo  um homem de uniforme militar intimidando uma mulher civil.

“Você... também... saia. Apenas saia.”

“Eu ainda... tenho perguntas.”

Dietfriet deu um suspiro profundo, bem profundo. Ele coçou sua franja e franziu o cenho para Violet como se realmente a tivesse odiado. E então, ele começou a entender o braço artificial que ele havia empurrado uma vez. “Então venha comigo de uma maneira que não fique estranho para todos os outros. Vamos para outro lugar.”

Por presunção, Violet chegou tão perto de Dietfriet quanto podia. Os convidados mais próximos provavelmente acreditaram que eles apenas tiveram uma briga de casal.

Os dois caminharam silenciosamente por um tempo. A consideração de Dietfriet em sua maneira de orientar uma dama era proporcional à linguagem abusiva que ele usara com Violet. Se é ou não algo que ele fez automaticamente e sem querer, poderia ser deduzido em sua expressão facial. Ele estava usando o uniforme da marinha, afinal. Esse comportamento pode ser convencional. Ou seja, andar como se fosse protegida por um homem adulto.

Não foi a primeira vez que Violet atravessou um ambiente com pessoas rindo alegremente e com a sua mão sendo puxada por alguém de uniforme militar, mas, no geral, era uma experiência de vida rara. A situação era completamente diferente da época anterior. A pessoa que ela perseguiu, o auge de seu campo de visão ao olhar para ela, tudo.

O soldado feminino com total desenvoltura alcançou o broche esmeralda naturalmente. Ela mesmo quando criança poderia ter sido invencível. A já adulta Boneca de Memória Automática, Violet, estava oscilante em apreensão.

Assim que o número de pessoas diminuiu, Dietfriet soltou seu braço como se estivesse atirando-a.

“Você tem algum assunto comigo? Porque se for ressentimento, não vou ouvir.”

“Eu não... tenho ressentimentos de você.”

Dietfriet bufou. “Eu me pergunto sobre isso. Recebo elogios e rancores de muitas direções. Eu tenho esse tipo  de personalidade, afinal. Às vezes, eu sinto que vou ser detonado assim.”

“Eu não vou fazer isso. Não vou fazer... uma coisa dessas com você.”

Na resposta de Violet,  seus olhos verdes se esforçaram indescritivelmente. Uma fúria, ao contrário de seu desprezo primário, envolveu esses mesmos olhos.

Como se fosse empurrada por Dietfriet enquanto ele se aproximava, Violet  deu alguns passos para trás. Sua coluna prendeu-se contra o tronco de uma grande árvore, mas quando ela olhou fixamente para ele, independentemente, sem evitar  seu olhar, um punho voou ao lado de seu rosto. Ela não foi  atingida,  mas  um pedaço de madeira coçou a bochecha. Ela não foi a única que sangrou. Com um vislumbre, ela confirmou que o sangue derramado veio do punho de Dietfriet.

“Você se lembra...? Quando você era pequena, eu costumava te socar e te chutar.”

“Sim.

“Sempre que não sentia sua intenção assassina, você recebia um certo tratamento violento de mim. Quando estou com você, também me torno um monstro... você me faz assim.”

“Eu faço você...?”

“É isso mesmo. A culpa é sua. É assim até mesmo agora. Só de estar com, e falar com você, já me enfurece. Meu coração não pode descansar. Você faz isso comigo. Você matou meus companheiros. O que aconteceu anteriormente invade meus sonhos muitas e muitas vezes. Mas embora eu esteja com um desgosto colossal de você, eu não a desprezo. Não, pode ser que eu simplesmente te odeie tanto que não posso lidar com isso, mas não sinto rancor. Seria algo mais próximo de ceder. Eu acho que não tenho escolha senão me conformar com o fato de um ser defeituoso como você existir neste mundo... você tem alguma ideia do por quê?” Dietfriet socou a árvore mais uma vez com o outro punho.

Violet não desviou o olhar. Ela olhou com firmeza para o outro com aqueles olhos azuis. Talvez por serem de um tom de azul muito claro e intenso, acabaram trazendo uma sensação de exposição a Dietfriet.

“Um dos meus companheiros que você matou tentou te estuprar. É por isso que você o assassinou. Tudo, tudo, tudo, tudo está em círculos! É porque tudo está em círculos...! É por isso que não tenho ressentimentos de nada disso.” Dietfriet disse.

“As coisas... que eu fiz... e que você fez ...?”

“Exatamente. Ninguém te contou?”

Violet sacudiu ligeiramente a cabeça. “Não, me disseram sobre isso.”

Como um acerto ao alvo, a previsão de Hodgins agora se abateu sobre Violet: “E então, pela primeira vez, você notará as muitas queimaduras que você tem. Você perceberá que ainda há fogo em seus pés. Você perceberá que há pessoas derramando óleo sobre ele. Pode ser mais fácil viver sem saber tudo isso. Certamente haverá momentos em que você também acabará chorando.”

Até o momento em que suas pálpebras se fechariam para a eternidade, ela não saberia o sentimento de queimar seu corpo. Tal era o monstro que ela estava destinada a ser. No entanto, o monstro, a ferramenta, Violet, estava atualmente vivendo como uma pessoa. Tem sido assim desde que ela tinha chorado quando trouxe um jovem falecido de volta à sua cidade natal - antes, muito antes disso. Apesar de sentir o cheiro de si mesma sendo envolvida e escaldando em chamas, ela escolheu “viver”.

“E é por isso que, mesmo que você me aborrecesse, eu diria 'como se eu me importasse’.”

Havia uma razão pela qual tinha escolhido viver como pessoa. Somente uma, essa era a única luz brilhante na vida das monstruosas garotas.

“Você está enganado, não é isso... minhas desculpas por te parar. Eu tinha que... simplesmente... queria perguntar sobre o Major.”

Dietfriet lentamente afrouxou o punho. O sangue brotou em seus dedos brancos. “Ele se transformou em uma completa bagunça graças a você, mas o que você quer com ele?”

“O que devo fazer?”

“Hein?”

Violet Evergarden perguntou a Dietfriet Bougainvillea, “Embora eu seja... uma ferramenta, não consegui protegê-lo. Mas... ele me disse para viver, e é por isso que estou vivendo. Se houver... qualquer outra coisa... que eu... possa fazer,  gostaria que me dissesse. Está tudo bem... de eu estar viva? Eu acabo... me transbordando de sensações. Sensações... de estar envolvida com pessoas. Apenas de estar envolvida com elas. Mesmo assim... eu sou a ferramenta do Major... foi me dito... para viver... para o Major...”

Os dois costumavam ser um monstro e seu dono, um jogador e sua ferramenta. Tudo em seu relacionamento mudou.

“Como se eu soubesse! Por que você está me perguntando?!”

Mesmo assim, a serva seguiu os ensinamentos de seu antigo mestre.

“Porque eu costumava ser... sua ferramenta.”

O monstro que ele escolheu de uma ilha isolada se desenvolveu, tornou-se capaz de falar e estava tremendo de inquietação.

“Se você é uma ferramenta, não vá ter vontade própria!”

Tremendo de inquietação e em busca de ajuda.

“Porque... você... costumava ser... meu... mestre.”

Dietfriet foi pego de surpresa pela declaração de Violet.

— Você achou que eu era seu Senhor?

As íris azuis de Violet eram lindamente límpidas. Portanto, elas fizeram o Dietfriet se recordar das coisas que ele a fez fazer no passado, como um espelho.

“Como se eu me importasse com uma ferramenta que joguei fora! Você é um  monstro e uma calamidade que destruiu a vida do meu irmãozinho! “

As coisas que as pessoas fizeram aos outros voltaram para eles nesse período de tempo.

“Senhor Dietfriet... então, por que... você... me deu ao Major?”

A dor e a gentileza voltaram para ele. Era um olhar que parecia disparar em sua direção. Um que estava pendurado nele, mas que não diria isso. Aqueles eram os mesmos olhos que ela tinha mostrado a Dietfriet ao se separar dele. Ele tinha sido perfurado por esse olhar e trouxe ela junto a si daquela ilha remota, deixando-a para seu irmão mais novo, que era o único membro da família com quem  ele  tinha contato.

Por que ele a entregou para Gilbert? Foi como Violet disse.

Ela era uma ferramenta útil, mas Dietfriet a considerava demais para ele. Ele não acreditava que tivesse uma prova concreta de que seu irmão mais novo poderia usá-la corretamente enquanto ele lhe confiava Violet. O fato de que ele poderia tê-la mantido viva e vendê-la deve ter atravessado sua cabeça. Parecia que Gilbert tinha sido pressionado por Dietfriet.

O que a Dietfriet tinha em mente ao deixar Violet para Gilbert? Não existia mais ninguém como opção, exceto Gilbert? E quanto aos outros oficiais da Marinha? Naquela época, deve ter existido outras possíveis escolhas. No entanto, ele a entregou para a sua família.

“Você entende sentimentos humanos?” Dietfriet esticou as mãos para pegar o colar de Violet.

Ele queria bater nela? Ele queria matá-la? Ou talvez fosse um sermão?

“Se você entende, então morra. Aceite minha ira e meu sofrimento. Mas você... não vai morrer mesmo se eu lhe disser, certo?”

“Eu também não vou morrer. E eu não quero entender... pelo o quê você está perplexa. Eu tenho feito coisas muito piores do que você fez para viver. Mas e daí?  Eu estou vivo. Quando eu morrer, acabará. Até eu tenho lamentos e dificuldades.    Há também momentos em que penso que morrer seria muito melhor, e nesses momentos, penso em me matar. Você continua fazendo uma expressão como se  você fosse a única a estar com dificuldades; todo mundo tem dificuldade.  As  pessoas que você matou não morreriam se não tivessem  se  envolvido  comigo. Pode ter sido minha culpa. Eu era o comandante, afinal. Não consegui protegê-los enquanto os comandava. Mas, sabe, monstro... se você... tem o menor remorso pelo que fez, e não morrerá não importa o quê... viva, até que você seja morta por alguém ou que sua vida se esgote. Ao invés de morrer...”

Ele queria bater nela? Ele queria matá-la? Ou talvez...

“...é mais difícil continuar vivo.”

Possivelmente...

“É muito mais difícil continuar vivo. Ainda assim, engula tudo isso e viva. Acontece que aqueles que não podem fazer isso, acabam morrendo. Se você não morrerá por suas próprias mãos, nunca culpe seus pecados a ninguém e continue viva. Viva,   viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva, viva...” Dietfriet de repente soltou o colar de Violet, “e depois morra.”

Violet fitou Dietfriet com um olhar diferente daquele que ela daria a Gilbert, mas certamente era alguém que estava olhando ao seu Senhor. “Senhor  Dietfriet.  O Major realmente... faleceu?”

“O que você... quer que eu diga?”

Com essas palavras, Violet respirou fundo. Ela podia ver algo brilhando no céu.  “Você não... dirá 'sim', como todos os outros, você dirá? Acabei de confirmar isso. Se o Major tivesse morrido, você definitivamente, de qualquer forma... já teria me matado.”

Dentro do campo de visão de Violet, algo caiu do céu azul sobre a cabeça de Dietfriet, como neve, como flores.

“Ele está vivo, certo?”

As Cartas Voadoras estavam chovendo pelos céus. Um jorro de vento se esfregou entre os dois, soprando ferozmente com um estrondo. As cartas fluíam como uma tempestade de neve. Aviões amarelos voavam como se estivessem cortando o céu. Eles espalharam as cartas que levavam os sentimentos de muitos, de modo a entregá-las às pessoas abaixo. Era como se quisessem dizer:  "Escolha uma dessas. A carta que você vai pegar na sua queda vai animar o seu destino.”

“Violet!” Dentro de uma linha de visão privada, alguém gritou o nome de Violet e carregou-a com força, como se fosse uma bagagem.

A figura de Dietfriet ficava cada vez mais distante. Ela tentou sussurrar seu nome, mas não conseguiu mais alcançá-lo. A última coisa que viu dele foi quando ele girou abruptamente os calcanhares. Ele não cedeu um único olhar em sua direção.

Violet, em seguida, gritou para a pessoa que corria em sua direção, e que logo em seguida desesperadamente sequestrou-a, “Presidente... Hodgins.”

“Mantenha a cabeça abaixada!”

“Está tudo bem, presidente Hodgins.”

“Não está! Por que... você está com uma pessoa tão perigosa?!”

Violet verificou mais uma vez o local do objeto brilhante que ela tinha confirmado anteriormente. Nada mais podia ser visto lá. “Está tudo bem. Eu já notei que estava sob a mira do atirador de elite daquela colina.”

“Você disse 'Atirador de elite'... !?”

“Os guarda-costas dele não estavam juntos, mas uma vez que eu estava perto dele, eu pude sentir o perigo. Essa pessoa... sempre andou com guarda-costas... então    eu sabia quando não os vi. Mas isso era apenas para vigiar. Ele não tinha nenhuma intenção de dar um sinal. Presidente Hodgins, o trabalho está indo bem?”

Sua calma geralmente era confiável, mas ele não podia dizer isso em tal situação. Hodgins respondeu com raiva e impaciência misturadas com alívio: “Eu estava pensando que Cattleya iria chorar, então eu terminei o mais rápido possível... e  então, eu ouvi que você foi atrás de um homem com uniforme militar... Eu senti calafrios. Nunca vá ver o irmão mais velho de Gilbert, pequena Violet. Embora essa pessoa esteja relacionada com Gilbert pelo sangue, eles são  pessoas  completamente diferentes. Mesmo que ele seja seu antigo Senhor, você não pode. Ele é assustador. Ele... te odeia. Eu fui descuidado... A partir de agora, mesmo que este seja um festival, não participaremos dele. Eu pensei que você seria arrastada   de volta para os militares... Eu terei você de volta para casa hoje. Ok?”

“Sim.”

“Ele disse alguma coisa? Você está bem?”

Violet não respondeu imediatamente. Ela esticou uma mão em direção  ao  céu. Ainda carregada por Hodgins, ela pegou uma das cartas nas mãos.

“Ei, ele disse algo estranho? Pequena Violet?”

Ela escolheu os pensamentos de uma pessoa direcionando-se a Hodgins. “Não, não. Nada... Eu só... recebi alguma coisa.”

“Viva.”

“O que foi isso?”

“Sem nunca culpar alguém, viva. Viva. Viva.”

“Palavras de encorajamento.”

“E então morra.”

 

♦ ♦ ♦

 

Dietfriet andou no meio das cartas espalhadas. Ele se distanciou do centro da área  de manobra, em que as pessoas estavam ficando loucas pelas Cartas Voadoras, entrando na torre de controle que tinha acesso proibido para qualquer  pessoa,  exceto para quem fazia parte da equipe. Ele acenou com a cabeça para aqueles    que usavam o mesmo uniforme naval que o seu, assim como aqueles que usavam o do exército.

“Se você tivesse feito algo imprudente, meus submissos no voo acrobático teriam visto.” Entre as pessoas, um homem que estava de lado falou com ele. “Eles ainda estão voando.” Quando um alto timbre ressoou de seu braço mecânico, o homem  que falou apontou para o céu.

“Já faz alguns anos.”

Sua aparência estava diferente de quando Dietfriet o conheceu. Um de seus olhos estava coberto por um tapa-olho, e uma laceração estava em partes escondida por ele. Seu cabelo era da cor do anoitecer. Suas íris verdes esmeralda eram como verdadeiras joias. Seu perfil, limitado à melancolia, estava preenchido de frieza. O corpo alto estava vestido com o uniforme negro purpúreo do exército de Leidenschaftlich, o país litorâneo tão famoso por ser uma nação militar. Não era o  tipo que qualquer soldado poderia usar. Um emblema de ouro anexado a sua capa indicava a escala de sua patente.

Gilbert acenou para a mão de Dietfriet, que descansava em seu ombro. “Que frio. Só agora conheci sua ferramenta.”

Para os dois, era óbvio o que “ferramenta” significava.

“Eu não estou mentindo. Ela me perseguiu. Não acho que ela me confundiu com você, mas ainda assim, seja cuidadoso. Você está fingindo estar morto, não é? Por que você está fazendo as coisas de uma maneira tão complicada...?”

“Irmão, sobre a Violet...”

“Eu não contei a ela nada.” Dietfriet não proferiu nenhuma mentira. “Parece que ela estava perdida depois que você se foi. Eu lhe disse algo como seu ex-Senhor: viva o máximo que puder, e depois morra.”

Por ele não ter afirmado nada, pensou que Violet Evergarden voltou para casa com esperança de que foi envolvida e tranquilizada.  Ele não pretendia revelar isso ao seu irmão mais novo.

“Esse é o seu desejo, certo? Provavelmente não é o mesmo... que o daquela coisa. Antes de eu perceber, alguém a estava levando embora. Como ele tinha um notável cabelo vermelho, deve ter sido um colega seu durante seus dias de escola militar, certo? Ele deve ter pensado que eu ia matá-la. Haha, como se eu conseguisse. Se eu pudesse matá-la, eu já teria... Ei, Gil. Você não poderia dizer que você gosta  desse monstro, você pode? Você elevou-a em uma mulher bem fina, mas você sabe o que há por dentro. Pare com isso.”

“Não diz respeito a você.”

“Diz sim. Você é importante. Você é meu irmãozinho.”

“Isso é entre mim e Violet. Não diz respeito... a mais ninguém. Quem empurrou tudo para o tal 'irmãozinho importante' foi você, não foi? Tudo o que eu, aquele que foi deixado para trás...” os globos oculares esmeralda de Gilbert se inclinaram. O céu estava tão brilhante que apenas o ato de olhar causava dor. No entanto, ele  continuou com os olhos abertos. “Estou apostando minha vida inteira para proteger meu negócio. Estou esculpindo minha própria posição por isso. Agora, minha razão de viver não é por uma patente ainda mais alto no exército, ou para pôr em ordem a casa Bougainvillea por você.. É por ela. Se alguma vez você fizer alguma coisa, eu vou te esmagar com tudo o que tenho. Minhas armas são para isso. Isso não vai mudar mesmo que meu oponente seja você, irmão.”

Vendo o quanto seu irmão mais novo, a quem ele estava se encontrando pela primeira vez desde muito tempo, mudou, Dietfriet observou o céu como se fosse muito ofuscante. “Você... não é mais pequeno, hein.” Ele fechou o punho e tentou dar um soco no ombro de Gilbert.

Gilbert cedeu. Ele agarrou firmemente a mão do irmão. Dietfriet aguentou o pulsar  em sua mão e envolveu-a sobre a de Gilbert. Era quase como  quando  eles  prendiam as mãos na infância.

“Ei, eu posso ser um irmão de merda, mas... eu amo você.”

Os irmãos contaram uns aos outros segredos. Em voz baixa, para que ninguém   mais ouvisse.

“Eu sei.

Dentro da casa Bougainvillea, eles sempre conversaram dessa maneira. Para não serem repreendidos, eles só sussurravam, apenas os dois.

“Você realmente... entende, hein. Mesmo assim, eu te amo... com todas as minhas forças. Eu te amo, Gilbert... Eu... me pergunto por que... simplesmente...  não  consigo transmitir isso direito às pessoas que eu realmente gosto.”

“Eu sei, irmão.”

 

♦ ♦ ♦

 

À medida que o véu da noite desceu, as pessoas que adiaram a Exposição Aeronáutica confiaram no luar e nas lâmpadas de seus aposentos para ler as palavras de encorajamento que lhes foram enviadas por um alguém desconhecido. Suas próprias cartas inspiraram alguém? Com seus pensamentos em estado selvagem, eles refletiram cuidadosamente nesse dia. Pode ter sido  bom  para  alguns. Pode não ter sido para outros. Seja o que for, a bondade que lhes foi conferida reduziu incondicionalmente a solidão de uma longa noite e a ansiedade para a manhã seguinte, concedendo-lhes um pouco de esperança.

Em pé, sozinha, frente a uma janela, Violet tentou abrir o envelope único que ela trouxera consigo das Cartas Voadoras depois de ter sido levada de volta para a mansão Evergarden.

“Sim.”

Tudo o que continha eram as palavras “anime-se”, com uma caligrafia que parecia  ser de uma criança.

O amanhecer foi igual para todos. Não importa quem fosse.

As manhãs eram apenas uma pequena parte de um dia inteiro. No entanto, também foi um momento importante em que a conduta das pessoas seria demarcada. A cor  do céu que eles avistariam, o perfume do ar, se eles tinham comido, quanto eles dormiram no dia anterior - cada pequeno elemento era definitivo para suas escolhas e, efetivamente, ditava seus destinos. Sem saber disso, as pessoas se  arrependeriam depois das decisões que tomaram casualmente. Afinal, o amanhecer foi igual para todos, mas isso se aplicava unicamente aos seres vivos.

Uma vez que algo começou, a única coisa que restou era seguir em direção ao fim.



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