Volume 1
Capítulo 5: O Prisioneiro e a Boneca de Memória Automática
A neve pálida dançava agilmente. Tudo começou com um único floco, se transformando em vários outros que reuniam-se e eventualmente cobriam o solo. Para as aldeias que não se preparavam para períodos mais frios, viajantes que atravessavam rodovias a pé, campos e montanhas onde os vestígios de outono ainda demoravam, as manifestações do inverno tornavam seu poder conhecido.
Por que as quatro estações existem? Não havia ninguém que pudesse responder a essa pergunta, mas era incontestável que as temporadas fossem necessárias, uma vez que regulavam repetidamente a vida e a morte e ajudavam o ciclo mundial a não se atrasar.
No meio de um certo campo de batalha, uma menina observou o céu. À medida que a substância branca e fria flutuava lentamente, a menina perguntou ao senhor a seu lado: “O que é isso?”
“Isso é neve, Violet.” Tirando as luvas que cheiravam a fumaça de pólvora, o Senhor colocou uma mão aberta na frente dela. Um floco desceu sobre ele, e logo, derreteu.
A menina assoprou, estranhando. Pela primeira vez, ela tentou dizer o nome da substância que havia se dissolvido na mão de seu Senhor: “Neve...” Ela era a entonação de uma criança pequena que acabara de começar a aprender palavras.
“Está certo, ‘neve’.”
Não havia apenas um cadáver. Ao redor da área em que os dois se encontravam, inúmeros corpos de soldados estavam espalhados por toda a terra frígida, como se tivessem sido abandonados por não haver túmulos o suficientes para eles.
“O que estava na mão de Major derreteu. A desses cadáveres... não.” Ela apontou para eles com o machado de batalha na mão.
Não fazendo nenhum comentário sobre sua atitude alegre com o falecido, o Senhor simplesmente abaixou a arma. “A neve derrete quando entra em contato com o calor. Se cai sobre coisas frias, ela simplesmente se acumula. Me dê sua mão.”
A garota fez exatamente como ele disse. Quando o Senhor removeu sua luva, que era da mesma cor que a sua, a mão pálida foi exposta. A neve também caiu na sua pele de porcelana, transformando-se em água. Por um segundo, a menina, cujo rosto parecido com uma boneca, não tinha emoção, alargou os olhos. Não se podia discernir a expressão no olhar do Senhor enquanto observava sua reação. Ele parecia tão distante.
Assim que limpou a gota da mão com um dedo, ele acrescentou: “Como evidentemente seria.”
“Ê assim mesmo? Eu pensei... pode não derreter na minha mão.”
Os enviados de gelo que caíram do céu continuamente tocaram a mão da menina e a do Senhor que a agarravam, derretendo nas duas palmas de diferentes tamanhos.
“Então eu também estou quente.” A menina declarou o óbvio com o tom de alguém que acabara de testemunhar um milagre.
“Você está... viva. É por isso que você está quente.”
“Mas... muitas vezes, me disseram que... eu pareço ser feita de gelo.”
“Quem disse isso?”
“Bem... eles podem estar entre aqueles que morreram...”
Com apenas um olhar, pode-se notar que, entre os montes de cadáveres que se encontravam na pradaria, alguns usavam o mesmo uniforme que a menina e o senhor. A menina não mostrou sinais de tristeza ou dor nesse fato. O vento de inverno soprava fortemente no espaço entre os dois com um assobio.
“De agora em diante, informe-me sempre que você for insultada.”
Certamente, a menina não pensou nisso como um insulto. Mesmo assim, parecia que ela não tinha entendido completamente o que exatamente devia denunciar, mas concordou com firmeza e depois olhou para o rosto do Senhor da mesma forma que observou o derreter da neve. Ao notar que alguns deles se acumulavam em seus ombros, ela esticou automaticamente o braço para derrubá-los.
“Neve... apaga outras cores quando se empilha, não é?”
O Senhor pegou sua mão, colocando a luva sobre ela. “Sim. Não apenas cores, mas também os sons.”
A mão da menina gradualmente se aqueceu. Foi devido ao calor concedido pela luva. “Isso é assim?” Ela olhou para as esferas verde- esmeralda que significava tudo para ela. Neles se refletiu uma menina inexpressiva, espetacularmente bonita, soldada coberta de sangue. “Se nevou... em todo o mundo...” a menina parou por um momento “seria mais difícil para as pessoas se matarem.” Ela perguntou depois de examinar novamente o rosto do Senhor: “Isso apagaria as preocupações de Major também?”
“Violet,” o Senhor respondeu como se fosse dar uma palestra à inocente, “apagar algo... significa simplesmente esconder, não resolver.”
♦ ♦ ♦
A Prisão Altair era uma instalação construída sobre um grande pedaço de terra, cercada por uma cerca excepcionalmente alta e coberta por céus cinza. O número atual de prisioneiros era de cerca de 2.200.
Aproximadamente 400 membros da equipe viviam nele, monitorando e guiando-os para a retificação. Foi reivindicada como a maior prisão do continente, mas também foi elogiada por ser tão competente que nenhuma fuga aconteceu desde que foi criada. A prisão estava localizada em uma região chamada Cornwell na parte norte do continente.
Era um território extremamente frio, envolto em neve durante todo o ano. As distâncias entre as cidades eram significativas - mesmo que uma pudesse sair da instalação, levaria meio dia de carro para chegar a qualquer cidade vizinha. Portanto, se um prisioneiro colocasse um pé para fora, nada além de uma morte solitária e fria o aguardaria.
Independentemente do quanto alguém queira escapar, nunca poderia ser
feito com facilidade, razão pela qual o lugar era o mais adequado possível para prisão.
No entanto, isso se aplicava unicamente à primeira seção, que abrigava aqueles que cometiam crimes de baixo nível. No segundo, terceiro e quarto, o sistema de controle sobre os prisioneiros era cada vez mais grave de acordo com suas acusações e as atrocidades praticadas por eles, sem que se dê trabalho manual; eles eram meramente supervisionados. Aqueles que residiam nas referidas seções foram considerados muito perigosos para receber qualquer forma de tarefa, independentemente do que poderia ser.
Para abrigar criminosos que não poderiam ser autorizados a fugir, era indubitável para qualquer prisão, mas Altair tinha uma vantagem de ‘não importa o que’, ‘definitivamente’ e ‘inquestionavelmente’ para a palavra ‘absolutamente’. Era um indivíduo que causaria um enorme impacto na sociedade, se ele, de qualquer forma, conseguisse escapar. Assim, ele ficou escondido.
Aqueles que entraram no lugar estavam normalmente surpresos com o quão impecável era. As paredes dos corredores cuidadosamente limpas foram decoradas com réplicas de pinturas famosas. Era uma atmosfera que se assemelhava à sala de espera de um hospital.
Não importa quem venha da entrada ou o que usassem, eles seriam chamados imediatamente, de modo que as pessoas sentadas em filas nos bancos da sala de espera nunca teriam que aguardar por muito tempo para que os procedimentos de entrevista começassem. Os dados escritos em detalhes sobre os que eles vieram ver, o propósito de sua visita, até seus registros de hospitalização e presença ou ausência de histórico médico foram alinhados em listas, registrando obrigatoriamente tudo sobre cada visitante sem omitir um único fato. Enquanto isso, suas identidades seriam confirmadas com os seus cartões de identificação sendo apresentados.
Se nenhum problema fosse encontrado durante a entrevista, as reuniões seriam permitidas depois em uma sala com compartimentos divididos por paredes finas, que poderiam acomodar uma grande quantidade de pessoas. Trazer comida também foi tolerável desde que fosse examinado. As tortas não foram recomendadas, pois o conteúdo de seus recipientes seria agitado. Após a inspeção, os visitantes finalmente receberam as reuniões.
O fato das pessoas que foram visitadas ter sido apreciado por outros não mudou a realidade de que eles pecaram. No entanto, entre os visitantes, um havia vindo estritamente para o trabalho. Uma única Boneca de Memória Automática foi despachada para a prisão, com pé firme e silenciosamente, em um mundo de neve. Recebendo tratamento especial como hóspede, a mulher estava em uma sala privada. Era uma sala para pessoas importantes que foram permitidas após o período de inspeção.
A aparência da jovem era incompatível com uma prisão. Suas íris azuis que se assemelhavam a safiras de estrelas possuíam um encanto misterioso. A fita vermelha escura envolvendo seu cabelo dourado trançado e excepcional que parecia estar envolvido no brilho das constelações e o broche verde esmeralda protegido no centro de sua jaqueta azul prussiana, que não era mais do que um acessório, eram marcas registradas. Dentro de suas botas de malha de cacau, as pernas inclinadas diagonalmente de uma forma encantadora, enquanto ela permanecia sentada em uma cadeira. Ela era uma beleza que normalmente não seria encontrada no interior de uma penitenciária, roubando constantemente os olhares de todos os membros da equipe na sala silenciosa enquanto fazia sua vigilância e escolta.
A jovem que não fez movimentos visíveis, como uma boneca, piscou os olhos para o relógio colocado em uma das paredes da sala. Parecia que para encontrar quem ela veio ver, precisaria de um certo tempo e muita força de vontade. Ela não mostrou nenhuma frustração em relação à inevitabilidade, mas apenas um pouco antes, o ar sobre ela parecia revelar distúrbios. Uma batida então ecoou na sala sem sons além do tic da agulha do relógio e suspiros de admiração pela atratividade da mulher proveniente dos membros da equipe.
“Senhorita Violet Evergarden, os preparativos para a reunião foram concluídos.” Uma mulher gordinha com uma voz rouca a chamou. Seu uniforme de segurança verde escuro parecia um pouco apertado, os botões quase pulando da área do peito.
Como foi chamada, Violet levantou-se rapidamente enquanto pegava a mala de viagem e o guarda-chuva listrado que havia deixado no chão, uma das outras equipes femininas alargou os olhos com uma expressão um tanto espantada. E então, a expressão se converteu em ciúmes e inveja da tão bela menina com características fascinantes. O membro da equipe representou Violet com um olhar estupidamente aturdido. O último, em seguida, procedeu a guiar Violet através de uma passagem de uso exclusivo limitada ao pessoal autorizado.
“Eu sou Chaser. É só por um pouco, mas vou te mostrar.” A voz grossa de Chaser ecoou desagradavelmente pelos corredores, junto com o som dos passos de Violet.
Fora das janelas do corredor, o que podia ser visto era a crescente neve acumulada e o mundo branco coberto.
“Então... você é famosa no negócio amanuense, Violet Evergarden? Fiquei chocada com isso, mas a protagonista de 'Ice Rose Princess' foi baseado em você, certo? Você sabe, a peça teatral... do roteirista Oscar. Minha colega estava realmente com ciúmes de mim, porque eu seria a única que irá acompanha-la hoje. Esse conto é popular entre os fãs de Oscar, afinal. Não assisti a peça, mas ela me recomendou pela boa história.” Chaser falou enquanto olhava no perfil de Violet.
Violet simplesmente assentiu com a cabeça, não mostrando muita sociabilidade.
O que há com isso? Tão pretensiosa. Além disso... ela pode ser bonita, mas é demais, e acaba sendo assustadora.
Chaser virou-se com um clique brusco na língua. Parecia que a aparência bem estruturada de Violet, que poderia ser considerada uma beleza legal, era um dos fatores determinantes de por que sua incomunicabilidade às vezes podia machucar as pessoas. A outra parte nunca conseguiria adivinhar a razão por trás do seu escasso uso de palavras. Para alcançar seu destino, era necessário usar a escada.
Mesmo sem Violet perguntando por que não havia elevadores, Chaser explicou.
“Abaixo está... haah... cheio de criminosos com delinquentes e transtornos psicóticos realmente sérios... haah, haah... então, para diminuir o número de rotas de fuga no caso improvável de que haja um fugitivo, existem... apenas escadas. É uma dor... para os membros da equipe... como eu, porém...”
Seja por falta de exercício ou excesso de peso, Chaser desceu as escadas com muita dificuldade. Enquanto ela suava e sibilava, Violet olhou-a repetidamente em preocupação, e quando parecia que iria escorregar, Violet chegou sua mão para ela. Com uma velocidade que não podia ser registrada pelos olhos humanos, ela agarrou o colar de Chaser, segurando-a ainda no ar.
“Oeh... Ueh...” enquanto engasgava, Chaser foi superada pelo medo, assim que confirmou que estava sendo levada pelo pescoço. “D-D-D- Deixe-me sair!”
Violet lentamente a colocou em uma posição na qual ela não perderia mais um passo, sussurrando baixinho atrás dela: “Minhas desculpas. Perdoe-me pelo tratamento áspero, Senhorita.”
O rosto de Chaser estava pintado de vermelho com sua voz tocante. “Pare com isso de ‘Senhorita’! Eu já tenho um marido e filhos!”
“É assim mesmo? Perdoe-me mais uma vez, Milady.”
“Ah, não, não é isso...”
Quão rude de mim, não expressando uma única palavra de gratidão, embora eu tenha sido salva...
“Então, Senhora.”
“Não se trata do honorífico!”
“Parece que eu fiz você passar por uma experiência desagradável. Gostaria de apontar minha gafe? Vou tentar melhorar o máximo possível.”
Chaser ficou estupefata. Se ela estivesse no lugar de Violet, teria expressado o quão ferida era com um rosto fechado. No entanto, a própria Violet não teve nenhuma mudança de atitude. Em vez de ficar gelada, Chaser percebeu que era simplesmente menos impessoal.
“Isso não é... Eu queria dizer que fui ruim. Você entendeu? Eu gritei para você, mesmo tendo me ajudado, e eu sou... pesada... então, obrigada.” Chaser disse com os lábios ligeiramente apertados.
“Que tipo de comparação é essa? Você poderia me levantar muito facilmente com um pequeno corpo... você tem muita força. Que estranha Boneca de Memória Automática. Também... você age assim com todos?”
“Eu sempre fui... mais forte que as pessoas normais. Isto em parte tem a ver com as minhas próteses. Eles foram fabricados pela Estark Inc., então o nível de durabilidade é bastante alto. É possível usar força e movimentos que normalmente não podem ser alcançados por um corpo humano, por isso é extremamente conveniente. Mas por ‘agir assim’, você quer dizer...?”
Quando Violet tirou uma das suas luvas pretas sem hesitação, Chaser ficou um pouco cética, convencida de que deve ter havido circunstâncias sobre o assunto e respondeu: “Como, você sabe... falando com pessoas como se estivessem nobreza. Bem, parece que o seu negócio tende a muitos clientes ricos, por isso deve ser o seu padrão operacional...”
“Eu uso o discurso formal com todos desde sempre. No entanto, se minhas palavras a deixaram desconfortável, peço desculpas.”
“Não pensei que fosse desagradável, apenas surpreendente. Mas eu estava... bem, um pouco feliz. Normalmente, não me chamam de ‘Senhorita’ por causa de minha idade.”
“É mesmo?”
Naquele instante, pela primeira vez, Chaser notou um pouco de manifestação facial em Violet. Era uma fraca semelhança com o que poderia ou não ser chamado de sorriso.
“Um certo alguém... me ensinou a falar tão educadamente quanto agora. Ser louvada por isso é uma honra... enquanto considero as coisas que aprendi como um tesouro.”
Ao vislumbrar o lado humano de Violet, Chaser podia sentir sua exasperação diminuir um pouco.
“Vamos seguir adiante lentamente. Seria terrível se a Senhora escorregasse novamente.”
“Você não precisa usar um honorífico tão imponente sobre mim. Apenas 'Chaser' está bem.”
“Senhora Chaser.”
“‘Chaser’!”
Depois de ser corrigida com um tom de repreensão, Violet piscou algumas vezes e testou o nome em sua língua: “Chaser... então, apenas me chame de Violet.”
A respiração de Chaser involuntariamente ficou presa na garganta ao ver a expressão e gestos de Violet, o que poderia fazer qualquer um querer pintar um retrato dela.
Ser referida sem formalidades por esta mulher... expõe um sentimento inesperadamente especial.
Com o estômago fazendo cócegas, Chaser respondeu: “Assim é melhor.”
♦ ♦ ♦
Demorou bastante tempo para descer toda a escada. Assim que finalmente chegaram ao fim, as duas se encontraram em outro corredor. Ele tinha espaço suficiente para que cerca de duas carruagens de cavalo passassem facilmente ao mesmo tempo. As paredes estavam cheias de portas de sala que tinham pequenas janelas para espreitar. Cada quarto foi fornecido com exatamente o mesmo mobiliário. Havia diversas pessoas. Homens velhos, jovens e até crianças pequenas. Todos usavam o mesmo macacão branco e preto - o uniforme de um prisioneiro. Era impossível acreditar de imediato que todos eles tinham acusações de crime, pois levaram estilos de vida silenciosos, não causando particularmente qualquer alucinação.
“Impressionante, não é? Não lembra muito mais um hospital psiquiátrico?” Quando Violet assentiu silenciosamente, Chaser continuou: “Há alguns caras aqui sem qualquer sentimento de culpa. Em circunstâncias normais, você realmente pensaria que eles eram pessoas comuns. Até pensei assim quando cheguei aqui pela primeira vez. Bem, quando eles falam, você pode dizer pouco a pouco que estão loucos, mas do lado de fora, não são diferentes dos humanos comuns.
Assustador, hein?” Chaser riu. “Sim, isso está certo.”
Chaser não conseguiu ouvir exatamente a declaração de Violet sobre, pois as duas acabaram de parar na frente do último quarto.
“Está aqui. É a cela em que seu cliente está. A suíte que este rei do crime está hospedando no nosso ‘hotel’.”
Dois guardas estavam de cada lado da porta sem esconder suas armas. Os homens robustos pareciam atordoados ao ver a beleza de Violet, mas não demoraram muito para voltar às suas severas posições sem perder a calma.
“A partir deste ponto, você só pode manter itens autorizados com você. Existe a possibilidade dele roubar algo e tentar usá-lo como arma. Não podemos dar uma única abertura. Ou então, você pode ser influenciada por sua persuasão. Normalmente, não permitimos que as pessoas tragam até mesmo canetas, mas... isso tornaria seu trabalho impossível.
Por favor, deixe conosco tudo o que é afiado ou que pode ser uma arma em potencial... além de suas ferramentas de trabalho.”
“Tudo?”
“Sim, tudo.”
Depois disso, Violet ficou pensativa por um momento, antes de responder com “tudo bem” e entregar a bagagem. Seu guarda-chuva era seu camarada de viagem, juntamente com sua bolsa desgastada. O guarda que os recebeu cambaleou um pouco com o peso. Ela então tirou as botas de cacau e descascou suas palmilhas, puxando facas dentro delas.
“Ei, o que os inspetores fizeram?” Resmungou um dos guardas.
Ela também tirou sua jaqueta azul prussiana e a inverteu, tirando uma arma da manga. Em seguida, ela revirou a saia apenas um pouco. Havia um cinto de balas, e ao chegar mais alto com a mão dela, ela tirou um uma faca balística também. Por fim, ergueu as mãos em direção a seus cabelos dourados complexos e diligentemente trançados. De sua trança, que terminava na linha vermelha, ela tirou um objeto fino de ouro. Então dois, então três.
“Para o que... você usa isso?” Chaser perguntou aterrorizada, ao ver as armas escondidas de Violet.
“Eles são dispositivos ocultos usados para perfurar a artéria carótida.” Todos os presentes, com exceção de Violet, suspiraram.
“O que... você é?”
“Em vez de serem de uso frequente, eles são para proteção. Eu ouvi que não é seguro que as mulheres viajem sozinhas. Ainda assim, não sou nada além da amanuense Violet Evergarden.” Ela disse como se proclamasse, simplesmente pegando uma caneta-tinteiro e um conjunto de cartas pratas que brilhavam da mala.
“Há realmente... mais armas?”
Sendo solicitada a confirmação, Violet pareceu mais uma vez pensativa antes de assentir. “Nenhuma. Somente o que resta é o fato de eu mesma ser uma arma viva, mas não posso fazer o meu trabalho se não for permitido passar, então está tudo bem?”
Isso poderia ter sido uma piada. No entanto, depois de ter visto as armas escondidas, ninguém riu.
O bloqueio foi removido e a porta robusta abriu com um som apagado.
O interior era consideravelmente mais espaçoso do que o que poderia ser imaginado de fora. Era duas vezes maior do que o que havia observado nas celas dos outros presos ao passar por eles. Com o quarto tão grande, os móveis escassos se destacaram - uma cama com apenas um colchão e uma perna em branco, uma pia sem espelho, e, embora houvesse uma vaso sanitário e uma banheira, ambos estavam separados do resto. Além disso, numerosos livros estavam espalhados pelo chão e uma mesa com duas cadeiras foi colocada no centro da sala. Os móveis e o papel de parede eram completamente brancos. Era quase como o interior de uma casa de bonecas. Semelhante a um templo ou santuário, estava vazio e solitário.
“Hey, Violet Evergarden.”
Um homem sentou-se numa das cadeiras. Algemas de ferro restringiam o pescoço, os pulsos e os tornozelos. Sua voz distinta transbordou com a galanteria de um cavalheiro. Seu cabelo cinza-gelado estava bem penteado, a pele que talvez não tivesse contato com a luz solar. A palidez era ainda mais notável, ele usava um macacão branco e preto, seus fofos olhos de avelã era o seu traço mais notável. Não havia sensações de crueldade em seu sorriso gentil, até o ponto em que não acreditaria que ele fosse o prisioneiro mais seguro de Altair.
“Prazer em conhecê-lo. Eu me vou a qualquer lugar que meus clientes desejarem. Eu sou do serviço de Bonecas Automatizadas, Violet Evergarden.”
Quando Violet se curvou elegantemente, o homem fez um gesto para a cadeira vazia. As algemas fizeram um som perturbador como ele gesticulou. “Bem, sente-se.”
A prótese de Violet gritou quando colocou a mão na cadeira. Parecia que o objeto tinha sido colado no chão para não ser uma arma em potencial.
“Você sabe sobre mim?”
“Eu sei o que eu li nos documentos da empresa que me despacharam.”
“Sério? Então tente recitar meu registro criminal.”
Como se Violet o tivesse memorizado perfeitamente, ela imediatamente respondeu: “Em primeiro lugar, você era procurado como um criminoso de guerra de primeiro grau na anterior Grande Guerra. Após sua deserção, você repetidamente cometeu assalto, estupro, e assassinato por incêndio, e depois de um tempo de estar na notícia, se estabeleceu como líder de um culto religioso. Você está por trás das mortes dos devotos deste culto também. Aproximadamente quatrocentos crentes se envenenaram em um suicídio em massa ao seu comando, Mestre. Você também mutilou os corpos dessas pessoas e fez uma torre com seus membros. Isso, entre outras coisas.”
O homem deu uma ovação a Violet. “Você me estudou bem. Estou feliz, Violet. Você não precisa se referir a mim como ‘Mestre’, apenas me chame pelo meu nome.” Ele disse, com tanta força, que alguém poderia pensar que a lista de acusações contra ele não era real. No entanto, estranhas pistas de insanidade mostraram constantemente aqui e ali, como ele fazia. Afinal, ele gostava de ouvir alguém falar sobre seus inúmeros pecados.
Violet obedeceu-o sem hesitação. “Sir Edward Jones.” O nome sussurrado derramou desapaixonado de seus lábios. “Então, Sir Edward, isso é um pouco grosseiro de mim, já que mal nos encontramos, mas eu gostaria de começar a trabalhar o mais rápido possível. Para quem você deseja escrever?”
“Já? Vamos conversar mais.”
“O tempo que me foi permitido é limitado.”
“Eu... quero que você escreva uma carta, mas é apenas uma frase, então acabará em breve. E então, Violet desaparecerá, certo? Então vamos conversar até o último minuto.”
“O tempo dado pelos superiores é de treze minutos.”
“Eles são bastante mesquinhos. É porque você é cara. Você é como uma cortesia de classe alta, certo? Você fará qualquer coisa que lhe disser após a taxa ser paga.”
“Não ofereço serviços sexuais. Eu sou uma Boneca de Memória Automática.”
“Haha, eu quis dizer que você se vende. Você... realmente... não muda. No passado, quando te vi no campo de batalha, parecia uma boneca de porcelana fria. Essa foi a minha primeira impressão sobre você.”
As sobrancelhas de Violet se contraíram nas palavras de Edward. Uma pequena mudança aconteceu diante da 'boneca de porcelana fria’.
“Ah, essa expressão. Você realmente não se lembra de mim. Eu também sou um ex-soldado. Mesmo que nunca tivéssemos nos falado, fazíamos parte da mesma estratégia... veja, de volta à batalha do Portão Fantasma, quando você teve um arranjo temporário com o outro país.
Você foi selecionada para estar nas Forças Especiais, certo? Sempre foi apegada a um dos superiores, então nunca sentiu como se houvesse qualquer oportunidade de te obterem. Naquela época, mesmo os caras do meu corpo comentariam sem parar o quão fofa você era. Na verdade, houve um que partiu para fazer uma mudança em você, mas ele não voltou antes que a estratégia começasse... ei, você fez algo com ele?”
Violet não respondeu Edward, que explodiu como água em cascata. Como se quisesse dizer alguma coisa, ela ficou rígida com a boca aberta.
“Ou talvez aquele oficial superior cuidou dele? Isso significa que você estava ligada? Os dois não se sentiram assim naquela época... de qualquer maneira, vocês eram como um cão louco e seu dono. Ou poderia ser que você criou à noite? Estou realmente curioso sobre isso... Aah, não faça esse rosto, é assustador. As mulheres tornam-se mais fortes quando estão bravas e isso me deixa nervoso. Mas, Violet, eu sou seu Mestre agora, então você não pode me morder.”
“Você sabe... sobre o meu passado.”
Como ele finalmente ganhou uma reação de Violet, Edward balançou a cabeça para a esquerda e para a direita, assim como uma criança. “Sim, eu sei... que você era uma menina soldada que foi recrutada por sua força. Além disso, você jogou fora seu passado e agora trabalha como uma amanuense. Eu investiguei muito. Essa é a informação que adquiri antes de me trazerem até aqui. Violet, você já foi presa? Não? Você é tratada como uma heroína depois de tudo... ser um ex-soldado do país vitorioso, é certo... os prisioneiros só podem banhar-se uma vez a cada três dias. Horrível, certo? A comida também é ruim; é o pior. Quando não recebo trabalho forçado, não tenho escolha senão adormecer o dia todo. E eu acabei pensando muito em você, então me pergunto se isso não é amor.” O olhar de Edward flutuou do rosto de Violet para o baú. Ele observou a mulher que estava obrigatoriamente em uma posição submissa, como se quisesse lambê-la.
“Sir Edward, você não me contratou para escrever uma carta?” Perguntou Violet, sem perder a voz no olhar intensamente sexual.
Na sua atitude, o que poderia ser considerado rebelde, Edward sorriu enquanto agitava os braços algemadas contra a mesa. Eles fizeram barulhos bruscos. “Eu vou mandar você escrever uma carta. Eu disse a você, certo?” Nisso, ele parou de sorrir. Como uma vez não pareceu satisfazê-lo, ele continuou a bater na mesa uma e outra vez, sem se importar se lhe ferisse as mãos.
“Sir Edward.”
Barulho, barulho, barulho. O som desagradável machucou nos ouvidos. “Sir Edward.”
Barulho, barulho, barulho. Sua pele se apagou, o sangue se espalhando por seus ferimentos. Era um comportamento petrificante que prejudicava a si mesmo.
“Sir Edwar—”
“AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!” Edward de repente uivou, alto como um lobo. O som horrível reverberou através de toda a sala.
A porta logo foi batida de fora. Quando Violet virou para trás, viu os guardas olhando pela janela da porta para verificar a situação com olhos cautelosos. No entanto, eles se abstiveram de entrar, quando Violet levantou a mão com um ‘está bem’.
“Eu me pergunto... porque ninguém escuta adequadamente o que eu digo.” Edward moveu o pescoço em círculos. Ele então olhou como se houvesse alguém além de Violet perto dele. “É tão problemático... Ei, Violet... você está bem, não é? Mesmo fazendo as mesmas coisas, você é tratada com honra. As pessoas também ouvem mais o que você diz, certo? Não é o meu caso. Quando você está marcado como inadequado, acabou.”
Ele tremia ligeiramente enquanto cerrava os punhos. “Não estou certo? Quero dizer, qual é a diferença entre nós? Se é a quantidade de pessoas que matamos, você é a única com um número maior, certo? Não sei por que... mas eu sou um criminoso de guerra. Criminoso de guerra. Você sabe o que é isso? Alguém que comete crimes durante a guerra. Meu país perdeu a última Grande Guerra, e aquele que ganhou - ou seja, as nações aliadas lideradas pelo seu país - decretou que eu era ‘um assassino em massa que matou muitas pessoas’. Quando chegou a hora de retornar às majestosas mãos da minha terra natal, que costumava me apoiar minha força... nosso pedido foi arquivado e eu me tornei um sacrifício vivo. É estranho. É realmente estranho. Isso me irrita. Eu matei muito porque meu país mandou... então você acha que eu poderia perdoá-los pela minhas ações, que de repente se tornarem depravadas? Não posso perdoar... Eu apenas comi a isca como me disseram. Se o que eles me deram para comer estava podre, o culpado não deveria ser eu, mas os superiores, certo? Mesmo assim, esses caras... tentaram me julgar antes de fugir. Eu estava apenas tentando fazer um lugar para mim no meu país e levar uma vida alegre... mas, não importa onde fosse, eu seria punido. Não gosto de punição, é assustador... Ei, não existe um país onde você possa fazer o que quiser sem que seja rotulado como crime?”
“Eu... viajei para vários lugares, mas pelo que sei, não existe lugar assim.” O tom de Violet não mudou.
O sorriso de Edward cresceu quando ele chutou a parte de baixo da mesa com os joelhos, como se mostrasse sua indignação. As algemas presas aos tornozelos bateram.
“AAAAAAAAAH, AAAAAAAH!” Novamente, ele gritou exorbitantemente: “AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! AAA A AA A A AA AAAAAAAAAH!”
As pessoas às vezes tentam controlar os outros com gritos e violência. “Haah, haah... haah...”
E um método eficaz e fácil.
“Não posso mais... aguentar isso...”
No entanto, há momentos em que funciona e as vezes não.
“Aah, não posso... aguentar mais isso... muitas coisas... são bastante nojentas, hein?”
Violet não fez um único movimento visível.
“Por que as pessoas... não escutam o que digo, como se fossem cadáveres?”
Apaticamente, Violet simplesmente o observou com suas orbes azuis, com a expressão de uma boneca sem vida.
“Ei, ei, Violet... não é como matar sem pensar. Eu tenho muitas razões... você tem tempo para ouvir cada uma delas? É sobre minha casa... ah, sobre esse culto religioso. Os seguidores morreram dizendo que usariam suas vidas para me dar força. Eles queriam se tornar parte de mim em vez de perecerem; algo parecido. Fiquei emocionado com a paixão e acabei dizendo: “Então, prove-me.” O que há de ruim nisso? Além disso, é meu direito de brincar com os cadáveres daqueles que se tornaram parte de mim, não é? Que problema eu causaria a qualquer um se eu brincasse com o corte de meus pulsos? Somente o fato de que sujaria o chão. Mas eu poderia limpar sozinho. É o meu negócio. Sim, era nosso negócio. Seja qual for o meu relacionamento com eles, a realidade da morte era deles, seu maior ato de altruísmo e que eu estava muito feliz com isso... é nosso negócio. Essa forma de amor também existe. Mesmo assim, sempre que eu estava em julgamento, sempre me disseram que eu era culpado... Eu queria que as pessoas me escutassem corretamente. Aah, tenho tanta inveja de você, Violet. Você é bonita, independentemente da passagem do tempo. Bonita, bonita... e não é tratada como uma imundície ou estigmatizada tão desgraçado como eu, certo? Mas é exatamente porque... você é bonita que... Violet... Eu quero te enganar. Eu quero pressioná-la no chão, rasgar sua roupa, ver seu rosto chorando em minhas mãos, fazer buracos em seu corpo e mexer com ele. Ei, Violet Evergarden...”
Depois de ter falado tanto, Edward recuperou sua alegria, olhos castanhos estreitando suavemente. Foi um olhar gentil. Embora seu estado atual pudesse esquecer o que acabara de acontecer, o sangue permaneceu espalhado pela mesa diante deles como prova de sua fúria.
“Ela e eu... qual é a diferença... entre nós?” Ele murmurou uma pergunta, aparentemente para um terceiro, enquanto se voltava para a direção oposta de Violet.
Edward havia dito que seus sentimentos por Violet eram quase impossíveis de descrever. Para ele, nada poderia ser definido imediatamente. Sua curiosidade, libido, intenção assassina e raiva se misturaram, e assim ele não pôde escolher um. Da mesma forma, o próprio Edward não poderia ser descrito com apenas uma característica como um homem.
Violet colocou uma mão dentro de sua jaqueta e lentamente tirou um lenço. Ela era a espécie de mulher para ter algo escondido dentro de sua pessoa, não importa o que. Alcançando Edward, ela lhe deu o lenço.
“Não está doendo.”
“Mas está sangrando.”
“Eu meio que... não consigo entender... você bem. Ei, pode dizer apenas olhando esses punhos, certo? Em vez de me dar um lenço quando não sou capaz de limpar este sangue corretamente, limpe-o por mim.”
Ao ser solicitado, Violet colocou o lenço sobre os braços. “Por favor, desdobre suas mãos. O sangue não pode ser limpo se as unhas o estão cobrindo.”
Edward estava apertando as mãos com tanta força que suas unhas morreram na pele dele. Violet envolveu o lenço ao redor deles como se estivesse aquecendo-os. A força de Edward gradualmente se dissipou nisso.
“Faz muito tempo da última vez que uma garota me tocou.” A voz de Edward escapou de seus lábios.
“Eu não sou uma garota.”
“O que há com isso...? Não é como se você fosse um homem, certo?”
“No entanto, não é isso.”
“Então, o que você é?”
Na pergunta silenciosa de Edward, Violet fechou os olhos, destacando seus brilhantes cílios dourados. Ela ficou quieta por um momento, como se fosse incapaz de organizar suas ideias. Mesmo essa ação foi linda.
Como Edward havia comentado, tudo sobre ela era atraente para os outros.
“Como eu pensei, não é isso.”
Na superfície, era assim que as coisas eram. “Eu sou...”
Uma ex-militante e menina soldado. “Eu sou...”
Uma jovem com um belo corpo. “Eu sou...”
E disse bela, bem como a neve, escondeu algo.
“...algum tipo de... remanescente.” Violet se definiu como nenhuma mulher, nem homem, nem mesmo como pessoa.
“‘Remanescente’...?”
“Sim. Eu não sou o que poderia ser chamada de... uma ‘garota’. Como disse, Sir Edward, matei muitos como soldados. Eu sou uma assassina. Exceto, o título conferido a mim... não era isso. Isso é tudo. Na realidade, eu sou uma das pessoas que deveriam estar aqui. A única diferença... é como as pessoas... nos chamam.”
Edward piscou algumas vezes, como se estivesse espantado. “Você admite que é uma assassina?”
“É a verdade. Não é como se... eu tivesse esquecido disso. E também não é como se eu não tivesse reconhecido isso. Eu ainda tenho armas... dentro da minha bolsa, apesar da guerra ter acabado.”
“Isso é surpreendente... então é isso? Eu estava completamente sob a impressão... que você estava vivendo tentando se recriar como algo adorável e fingir que seu passado nunca aconteceu. Quero dizer, você...”
Os olhos vazios de Edward agarraram Violet. A figura única refletia nesses alunos - cabelos dourados, íris azuis ainda mais cristalino do que os lábios de cor rosa. Não importa a partir de que perspectiva, ela nasceu amada pelos deuses.
“Você é... linda.”
Naquela frase, Violet sorriu pela primeira vez para ele. Foi um sorriso tenso que quase poderia fazer um som à medida que se espalhava. “As pessoas veem principalmente... o que aparece na frente de seus olhos. Embora não seja como se os monstros fossem apenas aqueles com chifres.”
As mãos de Violet estavam quentes enquanto seguravam Edward, mas suas palavras entraram em suas orelhas cobertas de gelo. Um pesado silêncio caiu entre os dois.
“Seria melhor se o doce entorpecimento que estou sentindo agora pudesse ser transmitido para você...”
Mais sangue manchou o lenço. Foi devido a Edward apertar as mãos com força.
“Ei.” O olhar que ele dirigiu para Violet estava aceso com calor. “O que você acha de matar?”
“Mais tarde soube que não é algo que devemos fazer.”
“O que você sentiu ao matar?”
“O desejo de... fechar meus olhos.”
“Você pensa em si mesma... do mesmo modo que pensa sobre outros seres humanos?”
“Não.”
“Então você se considera especial?”
“Não, eu acredito que sou algo terrível.”
“Você está feliz pela guerra ter terminado?”
“Há uma sensação de realização de completar minha missão.”
“Você ficou feliz quando a guerra começou?”
“Não.”
“Mas o campo de batalha exige você, certo?”
“Eu não voltarei... para os militares... novamente.”
“Por quê? Mesmo que não deseje isso, seu país quer. Além disso, o fato de você ainda não ter se realistado já é estranho. Os superiores estariam te seguindo. Você não pode manter esta ‘jogada’ por muito tempo.”
“Se ele quisesse, eu poderia retornar. Estou no meu trabalho atual, porque ele mandou.”
‘“Ele mandou’?”
“Sim.”
“Por esse homem... era quem estava sempre ao seu lado?”
“Sim.”
“É assim mesmo? Que pena. Ei, qual foi a coisa mais agonizante para você até agora?”
“Eu não entendo bem a agonia.”
“Então, a coisa mais triste?”
“Eu também não entendo isso muito bem.”
“Tem alguém que você odeie?”
“Eu não... entendo o ódio muito bem.”
“Alguém que você ama?”
“Eu não... entendo o amor muito bem.”
“Você não tem emoções?”
“Eu não sei.”
"Pelo o que você vive?”
“Desde que nasci, tudo o que me resta fazer é viver até eu morrer.”
“Já quis morrer?”
“Não.”
“Ei, o que você faria se eu dissesse para você nunca mais exercer uma arma em sua vida?”
“Eu não aceitaria isso.”
“Você gosta de armas?”
“Provavelmente.”
“Você gosta de ferir as pessoas?”
“Não... Talvez... Provavelmente”.
“Você é... perversa, hein?”
Essa pergunta foi respondida apenas depois que Violet mastigou o lábio. “Provavelmente.”
Edward não conseguiu suprimir o sorriso dele. “O que eu faço?” Ele murmurou bruscamente. “O que eu faço, Violet?”
“Algum problema, Sir Edward?”
“Eu realmente posso... acabar ficando loucamente apaixonado por você.”
“Você não está apenas enganado?”
“Enganado sobre o quê?”
“Eu e você, Sir Edward... somos parecidos. Você está apenas se identificando comigo e lembrando o sentimento de familiaridade.”
“Nós não somos iguais. Procuro o prazer em matar, mas você não é diferente? Sabe, você é... como uma máquina. Não é apenas o nome de Boneca de Memória Automática perfeito para você? A boneca mais corajosa do mundo. Mas eu... sou um antigo assassino que matou pessoas com um estado de espírito claro. Não é magnífico como você.”
“Mas eu...” Ela continuou depois de respirar: “não hesitaria em matar caso fosse encomendada.” Suas palavras não pareciam falsas ou inventadas. “Não hesitarei se o meu ‘Mestre’ me ordenasse. Eu acredito que somos tão parecidos quanto possível. E por isso que... você... me ligou, não é? Eu sou semelhante a você, então queria ver outra versão de si, andando por um caminho diferente do seu, não é? Sir Edward... Eu acho que... você fez algo lamentável... usando-me para cumprir seu único desejo.”
Edward balançou a cabeça com as palavras de Violet. Suas bochechas pálidas coradas e seus olhos anteriormente estreitados estavam abertos. “Não tenho arrependimentos.” Suas orbes escuras brilharam. “Eu não tenho... arrependimentos, Violet Evergarden!” Ele riu estridentemente, batendo os joelhos. “O que, então, é isso? É isso? Você sempre estava muito mais perto de mim do que pensei, e ainda está, mesmo agora. Eu vejo, vejo... aah, o que é isso? Desculpe-me por ter ficado irritado. Ah... você é maravilhosa. Maravilhosa, Violet. Isso acaba de ser provado de forma concreta. O tempo que eu passei conversando com você foi esplêndido para mim. Realmente um ótimo momento. Nós deveríamos nos ter visto mais cedo. E não... dentro desta rocha, mas em um lugar mais apropriado para duas pessoas se encontrarem.”
“Não, reunir-se em um lugar como este... nos convém.”
“É assim mesmo?”
“Sim. Agora, Sir Edward, parece que tempo está quase esgotado. Para quem você vai escrever uma carta? Vamos fazer uso de qualquer palavra possível. Permita-me cumprir o meu papel. Estou aqui... porque você quis.”
Isso não despertou o entusiasmo de Edward. Ele simplesmente observou Violet segurando a caneta e o papel com um olhar ressentido. “Ei, posso tocar o ombro do seu braço não dominante?”
“Não posso concordar com esse pedido.”
“Tão mesquinha... não é bom me fazer um pequeno favor?”
“Ninguém nesta prisão já fez isso?”
Na pergunta que parecia tentar convencê-lo, Edward assentiu com um sorriso inocente e infantil: “Sim. Assim, se estiver dentro das possibilidades... os presos no corredor da morte acabarão fazendo um desejo egoísta antes de morrer.”
Com isso, Violet fechou os olhos, e então desviou o olhar para seus próprios dedos agarrando a caneta. “Sim, isso é certo.” Suas palavras pareciam as mesmas de que quando ela respondeu Chaser. “Sir Edward, eu pergunto novamente.”
“Aah, desculpe. Eu estava ignorando sua pergunta, certo?”
“Sim. Quem é o destinatário da carta e qual será o seu conteúdo?”
“Eu não quero que ninguém mais saiba quem é o destinatário, então eu vou sussurrar isso. Estou enviando isso para... apenas uma pessoa.
Alguém que eu realmente quero matar, mas não consegui.” Edward apontou para o teto. “Para Deus.”
Ao ouvir isso, Violet não disse que as cartas não poderiam ser entregues a esse lugar. Ela olhou para a direção que Edward apontou e piscou como se fosse muito brilhante. Ao fazê-lo, Edward aproximou-se dela, o rosto ao lado de sua orelha.
“...escreva isso.” Apenas Violet ouviu as palavras que ele expirou. Depois de lhe sussurrar, ele deu um beijo na têmpora dela. “É um adeus. Tchau, Violet.”
Como se o tempo tivesse sido precisamente medido, uma campainha que marcou o fim do período de visitas tocou. Violet saiu da sala com uma carta selada nas mãos. Ela inclinou a cabeça para os membros da equipe que pediram segurança para saber se tudo estava certo. Chaser pensou que a falta de mudança em sua expressão desde o momento em que ela entrou era muito artificial e, portanto, alarmante.
O mesmo que antes, as duas caminhavam juntas pela prisão. Elas subiram as escadas que quase pareciam uma estrada para o céu, chegando lá fora. Violet não ouviu Chaser dizer isso, mesmo que ela rejeitasse a oferta, a mesma a acompanharia até o portão principal, que era a única saída.
Talvez porque estivesse nevando, os passos que Violet já havia deixado no chão já não estavam à vista, e um novo e puro caminho branco estava em seu lugar. A neve realmente escondeu tudo. Cheiros, sons e tudo a seu respeito.
“Violet.”
“Para onde... você está indo agora?”
“Eu retornarei para onde minha sede está localizada por um tempo. É... minha casa atual.”
“É isso...?” Não era o que ela realmente queria perguntar. “Ei, para quem você enviará a carta do psicopata?”
As palavras que Violet saíram com uma respiração amarga: “Não posso falar das minhas trocas com os clientes.”
“Eu escutei tudo. Enquanto você estava lá, eu estava monitorando sua conversa em uma sala separada. Esse era o meu outro dever para hoje. Ei, você não pode entregar coisas... a Deus. Apenas jogue fora... a carta desse patife.”
“Não.” Violet balançou a cabeça. “Ele é alguém que eu também conhecerei algum dia.”
A maneira como Violet agarrou firmemente a alça da bolsa, onde a carta havia sido colocada de forma alguma no peito de Chaser.
Por alguma razão... Por algum motivo, eu quero falar com essa mulher. Ela é diferente de mim. Ela é terrivelmente linda e misteriosa.
Certamente, ela também tem um lado muito assustador. Ainda sim...
“Os deuses que você e ele conhecerão... são diferentes.”
Olhando de perto, Violet era apenas uma menina, com apenas a aparência de um adulto. Ela era uma mera garota, um pouco mais velha que as crianças de Chaser. Embora ela tenha dado a impressão de ser uma ‘mulher’, seu quadro enquanto estava debaixo da neve estava frio.
“É isso?”
“É isso. Isso é o que eu acho. Eu não sei nada sobre sua pessoa, mas você... é a mulher que me observou em uma extensão irritante para que eu não escorregasse na escada quando veio comigo. Mesmo eu sendo... o tipo de pessoa que pensa que tudo está bem, enquanto as pessoas que me interessam estão bem... quando... o tempo de encontro com Deus vier... Definitivamente vou encontrá-lo primeiro. E se está certo eu reclamar de muitas coisas quando isso acontecer... eu digo corretamente a ele... que você cuidou de mim. Que você é uma boa sujeita, então ele
não deve esquecer você. Eu digo a ele.” Chaser disse descaradamente, estufando seu peito.
Violet sorria ou acenava silenciosamente com isso? Se aconteceu, não apareceu.
“Chaser...” Foi apenas por uma questão de segundos, mas ela mostrou uma expressão semelhante à risada de uma criança que acabara de encontrar sua mãe. “Obrigada.” Sua voz parecia jovem.
“Violet...”
Depois de levantar a saia graciosamente e curvando-se, Violet voltou. Ela pulou na carruagem e fechou a porta.
O chamado de Chaser, limitado a despedidas, reverberou fortemente em meio ao mundo da neve: “Violet!”
A figura das carruagens ficou cada vez mais inchada, inutilmente mesclada com os flocos que caíam.
“Violet! Eu pedirei que você escreva uma carta para mim um dia! Ei, continue esse trabalho até isso acontecer!”
Chaser não saiu do local, mesmo depois que a carruagem já havia desaparecido. Mesmo um coração que não sabia o que dizer também seria enterrado em branco pela neve. O mundo em que a carruagem que Chaser estava assistindo e desapareceu era simplesmente lindo.
No interior da carruagem, Violet limpou o pouco de neve que havia caído em cima de sua cabeça. Derretia com o toque de sua mão.
“Major...” Ela chamou o honorífico de sua pessoa mais insubstituível: “Major...”
“Eu quero te ver. Onde você está agora?” Ela não sussurra essas coisas.
“Por favor, me dê uma ordem.” Tal era o que ela ansiava por mais do que qualquer outra coisa.
A boneca cessou de observar a paisagem fora da janela, profundamente pensada enquanto fechava os olhos. Tinha a impressão de ouvir os sons distantes e nostálgicos de um campo de batalha.