Volume 1
Capítulo 3: O Soldado e a Boneca de Memória Automática
Aiden Field, desde a infância, proclamava para seus pais que ele se tornaria um jogador de beisebol. Ele era magro e seus membros possuíam músculos flexíveis. Embora ele não fosse bonito, o rosto do garoto de cabelos loiros escuros poderia ser considerado decente em um olhar mais atento. Ele era esse tipo de pessoa.
Era talentoso no esporte, o bastante para carregar ambições para si, e após graduar-se, já havia decidido juntar-se a uma prestigiada equipe de beisebol. Seus pais estavam orgulhosos de seu filho. Mesmo ele sendo um menino do interior, talvez pudesse realmente se tornar um jogador de beisebol profissional. Para ele, esse futuro já era certo.
No entanto, esse caminho não estava mais aberto.
Como Aiden cresceu, em vez de se tornar uma estrela de beisebol, ele se viu no campo de batalha, dentro da floresta densa de um continente longe de sua pátria amada. A facilidade da perfuração do campo petrolífero da nação inimiga que seu país lutou estava escondida. A missão do 34º Exército Nacional, a que Aiden pertencia, era de usar as instalações e assumir o controle da mesma.
A equipe tinha um total de cem pessoas. Sua estratégia era se dividir em quatro grupos e atacar por todos os lados. Não era para ser uma tarefa difícil, mas as pessoas desses grupos estavam atualmente dispersas e assustadas.
“Corra, corra, corra!” gritou alguém de um dos grupos sobreviventes.
Algum aliado havia revelado o plano ao inimigo ou a outra nação que simplesmente estava a um passo à frente? Era para ser um ataque surpresa, mas em vez disso, eles haviam sido atacados primeiro. A invasão simultânea pelos quatro lados foi facilmente destruída juntamente com a formação dos grupos pela súbita chuva de bala no meio da escuridão.
Inicialmente, eles eram um grupo criado de última hora de jovens. Eles eram diferentes dos mercenários instruídos. O jovem que só sabia como operar adequadamente o equipamento agrícola, o garoto que dizia querer se tornar um escritor de light novels, o homem que revelou ter uma esposa que estava em sua segunda gravidez — a verdade era que nenhum deles desejava estar lutando lá. Não havia maneira de desejar tal coisa. Independentemente disso, eles tinham vindo a esse lugar.
Depois de confirmar pelo canto do olho que as pessoas do grupo que se dividiu fugiam para a direção oposta, ele próprio também correu para a floresta sem fôlego. O terror foi tão intenso que tomou conta do seu corpo. Ele tinha ouvido gritos agonizantes no momento em que seus pés tinham chutado a terra. Apagando os gritos de pássaros e insetos, só gritos e disparos ressoavam. A partir disso, Aiden foi capaz de aceitar o fato de que todos os seus companheiros estavam sendo exterminados.
A sensação de ser o caçador inverteu-se em ser o alvo que pode morrer em questão de segundos. Foi uma enorme oposição - o medo do caçador pecava, o medo do alvo perdia sua vida. Nenhum dos dois era bom, mas como seres humanos, também não queriam morrer. Eles preferiam eliminar outros ao invés de serem eliminados. No entanto, no momento, Aiden estava entre aqueles que estavam prestes a serem mortos.
“Espere!” uma voz chamou por trás, seu proprietário trotou até ele com uma arma nas mãos. Uma pequena silhueta poderia ser visto no escuro. Era o mais novo membro da equipe, uma criança ainda em seus anos juvenis.
“Ale...!” Aiden agarrou a mão do menino que tinha parado de mover as pernas e recomeçou a correr.
“Estou tão feliz! Por favor, não me abandone! Não me abandone! Não me deixe sozinho!” Ale implorou enquanto chorava.
Ele era um menino de dez anos nascido na mesma província de Aiden, com quem ele estava familiarizado. Como ele era o mais fraco do esquadrão, ele não foi reconhecido como poder de combate e trabalhou como um menino de reabastecimento.
Por decreto nacional, todos os homens com mais de dezesseis anos foram recrutados incondicionalmente nas forças armadas, e aqueles de idade inapropriada seriam recompensados se eles se voluntarieassem. O garoto havia conversado uma vez com um tom ligeiramente grosseiro sobre como ele se alistou para pagar as despesas médicas de sua mãe, cujo corpo era muito frágil. Aiden preferiria ver a criança sobreviver do que ele mesmo. Mesmo querendo se preocupar com o garoto em primeiro lugar, seus pés tinham se movido por conta própria.
Ah, e pensar que eu iria esquecer esse garoto pequeno e fugiría sozinho...
Seus olhos podiam ver além da escuridão.
“Como se eu fosse abandoná-lo! Estou feliz por você estar vivo! Vamos nos esconder em algum lugar!”
Os dois aceleraram em torno do interior da floresta. Durante a corrida, eles podiam ouvir numerosos gritos de direções diferentes. Se eles corressem para o lugar errado, a morte poderia estar aguardando-os com sua foice em mãos.
“Não... eu não quero morrer, eu não quero morrer...”
Os sussurros suaves de Ale para Deus e os gritos aterrorizados feriram os ouvidos de Aiden.
Eu também... não quero morrer. Há muitas pessoas que eu quero ver novamente e que estão esperando por mim, há um monte de coisas que eu quero fazer.
“Está tudo bem, Ale. Está tudo bem, então apenas corra, corra.” Ele queria acalmar o garoto, mas não podia dizer mais do que isso.
Se ele fosse um dos oficiais superiores, ele seria capaz de manter a calma enquanto tal situação se desenrolava? A realidade, no entanto, era que ele era apenas um rapaz. Como ele estava há uns 10 anos atrasados, não foi considerado adulto o bastante.
Ah, alguém nos salve. Eu não quero morrer em um lugar como este. Eu não quero morrer. Não importa o que seja, eu não quero morrer.
Os tiros ecoaram de novo, mais perto do que antes. Ele podia ver que as folhas caíam das árvores em certa direção e era capaz de dizer que um inimigo estava se aproximando por trás. Ele queria parar a sua própria respiração, para equilibrar seus batimentos cardíacos altos.
“Corra! Corra! Corra!”
Ao mesmo tempo em que ele mentalmente repreendeu Ale por não ser capaz de manter-se, ele se repreendeu.
Eu vou acabar morrendo também. Eu vou acabar morrendo também.
No entanto, ele não pensou em deixar de lado aquela mão minúscula. Ele nunca poderia fazê-lo. Aiden segurou-a ainda mais forte.
“Ale, mais rápido!”
Enquanto se moviam, ocorreu uma explosão. Sua visão ficou completamente branca por um segundo. Seu corpo voou, então imediatamente atingiu o chão. Ele rolou para o solo por cerca de três metros e parou quando atingiu uma árvore desmoronada. O gosto de sangue se espalhou em sua boca.
“Ta ...” em segundos, sua consciência ficou embaçada. Mas seus olhos estavam abertos, e seus membros ainda podiam se mover. Era um feito inacreditável que ele estivesse vivo.
Provavelmente não era uma bala de artilharia. Ele limpou seu corpo, coberto de sujeira por conta do impacto, e confirmou sua situação. O caminho pelo qual havia passado tinha se tornado um grande buraco. A vegetação tinha sido queimada e tudo estava enegrecido. Aiden não tinha ideia com o que o inimigo havia atirado, mas sabia que sua posição fora descoberta e que seu inimigo não teria misericórdia para aniquilá- los.
“A... Ale...” no entanto, Aiden verificou se a mão que estava segurando ainda estava ali. Ele ficou pasmo ao perceber que o garoto que deveria estar ali não estava à vista.
Ele não está aqui... Ale... ele não está aqui...
A mão, ainda quente, residia em sua palma. Mas o resto tinha desaparecido. Sem cabeça, sem pernas. Ele não conseguia ver nada além da metade de um braço com seus ossos saindo da carne rasgada.
De jeito nenhum.
Seu coração estava tão barulhento que parecia que seus tímpanos iriam entrar em erupção. Ele se virou para trás. Em um lugar remoto, ele pôde encontrar uma pequena cabeça entre os troncos caídos. Não se moveu.
“Ale!” ele gritou, tendo espasmos enquanto estava à beira de chorar, ele notou a cabeça se encolher ligeiramente, sua boca formando um sorriso.
Graças a Deus, ele está vivo.
“Espere por mim...”
Ao ouvir a voz do garoto, sentiu-se ainda mais aliviado.
Ele está vivo. Ele está vivo.
A pequena cabeça se moveu mais, virando-se para olhar para ele. Ele estava coberto de sangue, mas ainda estava vivo. Seu braço tinha sido arrancado, mas ele ainda estava vivo. Como Aiden estava prestes a ir para ele e fugir com o garoto em seus braços, no momento em que fez um movimento, mais tiros foram disparados. Aqueles não eram sons de balas chamativas como as anteriores, era algo que se assemelhava ao som de rifles. Aiden desesperadamente se abaixou para esquivar-se dos tiros, enquanto o grito agudo de alguém podia ser ouvido de dentro da escuridão.
“Alguém” ...sim, certo. As únicas pessoas nos arredores são eu e Ale.
Ele não se levantou até os sons de tiros irem embora. Seu coração batia em um ritmo desagradável.
Meus batimentos cardíacos... são muito barulhentos. Aah, fique quieto, fique quieto...
“Por que você está atirando tanto? Você está se divertindo?” Foi o que a densa chuva de balas fez ele querer perguntar. Assim que parou, ele ergueu o pescoço e percebeu que a pequena cabeça tinha parado de se mover.
“Ale...?”
Os olhos que o olhavam como se ele fosse o único de quem pudesse depender agora estavam como se estivessem prestes a cair. A boca do menino abriu-se quando ele pronunciou suas últimas palavras. Ale tinha perecido enquanto olhava para Aiden com os olhos arregalados.
“Ah... ah... aah...! Aah!” gritos estranhos escaparam da garganta de Aiden. Ele saiu do lugar o mais rápido que pôde. Ainda sentindo o olhar dessas pupilas em suas costas, ele correu como um louco.
Seu coração martelou seu peito. Sua mente estava em alvoroço, como se gritasse com a intensidade de uma centena de pessoas. Talvez fosse por causa dos tiros. Ou foi por causa do Ale ter dito “espere por mim”?
Cada parte do seu corpo estava repugnantemente quente. Ele parecia estar sendo assado por sua própria temperatura corporal.
Ale está morto. Ale está morto.
Ele sabia que havia várias outras pessoas naquele campo de batalha que tinham acabado da mesma maneira. Muitos já podiam estar mortos ao pisar em minas terrestres ou ser abatidos.
Ale está morto. Ale está morto.
“Ah... aah... aah... aah... ah... ah...” gritos continuaram saindo de sua garganta dando a luz aos seus sentimentos, que ele nem sequer compreendia bem. Embora tivesse a intenção de gritar com todas as suas forças, sua voz estava muito fraca, insignificante no mar de inúmeros outros. “Ah... aah... ah... ah... ah... AAAAAAAAAAAAAH!” As lágrimas brotaram de seus olhos. Parecia que sua respiração podia parar com tanto catarro em seu nariz. Mesmo assim, apenas suas pernas se moviam, e ele não parou de correr.
Não, eu não quero morrer...
Tais eram os sentimentos mais óbvios — o instinto de sobrevivência, o medo da morte.
Eu não quero, eu não quero, não quero... está tudo bem, mesmo se eu nunca puder jogar beisebol novamente. Está tudo bem, então... Eu não quero morrer. Eu não quero morrer, eu não quero morrer. Eu não vim para este lugar... por livre arbítrio.
“Mãe... Pai!”
Mais uma vez... quero ver a mamãe e o papai mais uma vez. Eu não quero morrer. Tem tantas pessoas que quero ver novamente.
Os rostos das pessoas de sua cidade natal continuavam aparecendo em sua mente, um após o outro. Por fim, o que ele recordou foi o sorriso de uma certa garota. Era o rosto de sua amante, que ele tinha deixado sem poder dizer adeus ou mesmo saber o sabor de seus lábios.
“Maria...”
Se eu soubesse que as coisas seriam assim, eu a teria beijado e abraçado mesmo que fosse a força.
“Ah, Maria...”
Mesmo num momento como este, ele pensou nela com muito carinho. “Maria!”
Se mantivesse isso, sentia que poderia morrer a qualquer momento, mesmo sem receber qualquer dano corporal.
“Maria! Maria! Maria!”
E se isso acontecesse, seria deplorável se ela continuasse pensando nele mesmo depois de sua morte.
Não, eu não quero morrer. Eu não quero morrer!
Era muito lamentável, pensou.
Não, eu não quero morrer! Não, não quero morrer. Não, não quero morrer. Não, não quero morrer Não, não quero morrer. Não, não quero morrer! Não, não quero morrer, não quero morrer, não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer. Eu não quero morrer na terra fria sob o céu solitário de um país que eu nem sei como pronunciar o nome. Ainda não sei nada da verdadeira alegria e felicidade da vida. Só dezoito anos. Eu só vivi por dezoito anos. Tenho o direito de viver mais. Eu nasci para ser morto como um cão em um lugar como esse? Não é isso. Eu nasci para ser feliz. Não está certo? Eu nasci para sofrer? Eu não nasci do amor dos meus pais? É isso; tenho o direito de ser feliz. É assim que deveria ser. Além disso, não é como se eu quisesse matar alguém deste país. O governo decidiu por conta própria, fomos obrigados a vir aqui. Eu não quero magoar ninguém. Eu não quero magoar ninguém. Eu não quero ser morto por ninguém. Eu não quero matar ninguém. Onde neste mundo alguém já nasceu para matar outros? Isso não é sem sentido? Por que temos que lutar um contra os outros apenas porque vivemos um pouco longe um do outro ? O que aconteceria depois que o fizéssemos e morrêssemos? Quem decidiu que as coisas deveriam acabar assim? Sou humano. Eu sou um ser humano. Eu sou um ser humano com pais que me amam. Eu tenho uma casa para voltar. Tenho pessoas esperando por mim. Mesmo assim, por que é que um rapaz como eu tem que fazer parte da guerra ? Quem começou algo assim ? No mínimo, não fui eu. No mínimo, não fui eu. Eu nunca desejei que algo assim acontecesse. Eu não quero isso. Eu quero ir para casa. Quero voltar para minha cidade natal. Quero voltar para minha cidade natal. Aah, eu quero voltar. Neste momento, quero deixar este lugar e voltar para aquela bela cidade rural.
Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. Agora mesmo. AGORA. MESMO.
“Ah...” uma voz diferente, mudando o som que gotejava de seus lábios. Suas costas estavam insuportavelmente quentes e ele teve que agachar- se depois de um impacto. Como seus joelhos não podiam apoiar seu próprio peso, imediatamente ele caiu de bruços no chão.
O que é isso? Parece que há lava escorrendo de minhas costas... é muito... quente.
Incapaz de deitar-se, ele esvaziava o que estava em seu estômago. Estava vomitando mesmo que não tivesse comido nada. Era realmente sangue.
Hã, de jeito nenhum... eu vomitei... sangue... eu... porquê?
Aiden moveu seu pescoço para olhar suas costas pela primeira vez. Ele podia ver uma mancha negra se espalhando até mesmo na escuridão.
Não havia como suar. Ele foi então capaz de confirmar que tinha sido baleado quando ouviu o som de botas se aproximando lentamente e viu vários soldados armados vindo de trás.
Ao ver que Aiden ainda podia se mover, os homens riram. Se eles estivessem jogando, era provavelmente uma aposta para ver quem matá-lo com um único tiro. Muito provavelmente, Ale e os outros tinham sido tratados da mesma maneira.
“Este é o quinto.”
Pareciam homens jovens da mesma idade de Aiden. Seus corpos se banqueteavam com o prazer de simplesmente matar alguém, bêbados com a atmosfera da guerra. Se tivessem nascido em algum outro lugar e conhecessem pessoas diferentes, talvez não fossem desse jeito.
Aiden tinha matado muitas pessoas aleatórias na linha de frente, mas ele tinha acabado de entender o que realmente era uma guerra. Tratava-se de assassinar pessoas, simplesmente isso. E aqueles homens se divertiram com ele. Mesmo com causas maiores sendo usadas como justificativa, a essência da guerra não mudou. Perceber isso só quando estava prestes a ser morto era ridículo.
Quaisquer que fossem as razões pelas quais as nações tinham de lutar uns contra os outros, não tinha valor em zonas de combate. Essa era a verdade simples e cruel. Aiden era um assassino, os inimigos eram assassinos, e um deles não teria escolha a não ser morrer. Na medida que as coisas se desenrolavam, quem logo seria eliminado era ele.
Por que as coisas ficaram assim ?
Os homens conversavam, apesar de Aiden, ainda estar deitado no chão. “São trinta pontos se bater nas costas.”
“Eu disse para você apontar para a cabeça, não é? Idiota. Vamos perder a aposta.”
“Já basta. Vamos procurar outra presa. Esse ai não pode mais se mover.”
“Aponte melhor na próxima vez.”
Assim que terminassem de conversar, ele certamente seria eliminado. Poderia ser da maneira mais desumana possível, com suas roupas arrancadas e seu corpo arrastado ao longo do solo.
Não.....
As lágrimas caíram des seus olhos novamente.
Não, não, não.
Quando os homens risonhos não estavam mais observando-o, ele rastejou pela terra para fugir de alguma forma.
Eu não quero morrer como Ale. Não, não, não, não, não. Qualquer coisa menos esse tipo de morte. Alguém... ajuda. Ajude-me. Alguém... me ajude. Alguém... Deus... Deus... Deus... Deus...!
“Ei, você não vai embora.” Junto com uma voz fria, o som de tiros ecoaram.
Sua perna havia sido atingida. Talvez por causa de ter sido baleado nas costas mais cedo, ele não sentiu nenhuma dor, apenas o calor.
Assustado com o fato de que não conseguia mais sentir dor e que seu pé não se movia mais, Aiden gritou.
Os tiros continuaram repetidamente. Parecia um jogo. Seus membros restantes foram destruídos um por um, até que não havi mais nada. Seu corpo encolhido com cada tiro fez os homens que assistiam rirem.
Vergonha, humilhação, desespero e tristeza tomaram conta de seu corpo.
“Esse cara é como um sapo.”
“Isso é uma merda. Apresse-se e mate-o.”
“Sim. Mate-o, mate-o.”
“O próximo é na cabeça.”
Seguiu-se o som de uma série de balas. Aiden estava com muito medo de tudo, ele fechou seus olhos fortemente e se prepou para morrer. Foi nesse momento que algo tremendamente enorme caiu do céu como um trovão. Rodando repetidamente, perfurou a terra. Seria um sinal de que uma grande existência estava chegando para pôr fim a esses conflitos tolos? Por um segundo, devido ao choque, foi o que todos pensaram. No entanto, o que tinha descido não era uma divindade mítica, mas um machado gigante. Sua lâmina de prata estava encharcada por chuva vermelha de sangue. Sua alça tinha uma ponta pontiaguda em uma forma que se assemelhava a um botão de flor.
Machados eram representantes simbólicos de todas as armas — mais brutal do que armas, mais eficiente do que espadas. Mesmo que isso fosse o meio de um campo de batalha, para algo desse tipo cair do céu não era nada menos do que enigmático. E as anormalidades não terminaram aí. Um objeto voador fez ruidosamente o seu caminho em direção a eles.
“É um Nightjar!”
Tal era um monoplano que tinha sido popularizado na indústria de armas e distribuído do norte próspero para o resto do país. Era um tipo de avião de caça dupla, um pouco maior do que os barcos compactos de um assento. Sua característica principal era sua forma, que era similar a forma do pássaro que possuia o mesmo nome, com asas grandes e ponta afiada da fuselagem. Seu casco era fino, mas foi usado pela maior parte do tempo como uma espécie de vigilante, devido a sua velocidade elevada.
Qual lado ? De que lado é ?
Nem Aiden nem os soldados que estavam prestes a atirar nele podiam se mover. Qual deles era um aliado de Nightjar?
Alguém pendia de uma longa corda de ferro que pendia do avião de baixa altitude. A pessoa esticou o braço para agarrar o machado de batalha lançado para destruir tudo naquele lugar, girando em torno do suporte várias vezes antes de pousar no chão. Observando tais movimentos acrobáticos, Aiden inalou profundamente, mas sua respiração só ficou perturbada.
O ser misterioso levantou lentamente a cabeça. Só o seu rosto branco era verdadeiramente visível no meio da escuridão. Era como uma rosa branca florescendo na noite. Mesmo com sua visão ligeiramente distorcida por lágrimas, Aiden poderia dizer o quanto ela era deslumbrante. Suas íris azuis lembravam os longínquos mares do sul, os lábios vermelhos como o nascer da lua num deserto. Seus traços faciais teriam feito seu coração acelerar mais do que o normal, mas em tal situação, ele sentiu nada mais que medo. Seus cabelos dourados brilhavam intensamente mesmo na escuridão, fazendo destacar a fita de Borgonha.
Não importava como alguém a olhasse, era uma mulher tão bonita quanto uma boneca.
“Desculpe-me por interromper sua conversa. Eu tomei a liberdade de intrometer-me de cima.” Sua voz ressoou ruidosamente. “O Sr. Aiden Field está por aqui?”
Falando tão elegantemente e tendo uma aparência tão digna, ela poderia ser um anjo ou um deus da morte, deixando os homens confusos. Isso era apenas o esperado — com uma mulher de tal calibre aparecendo no campo de batalha, ninguém não seria capaz de ajudar, mas pergunto se eles estavam alucinando. Aiden, que ficara um pouco aliviado ao ver que os outros homens se concentravam nela, logo foi atingido novamente pelo pavor.
O que... é isso?
Por que aquela mulher estava procurando por ele? Enquanto meditava sobre isso, Aiden estava em um dilema e não conseguia pensar em outra coisa senão responder à insondável entidade: “S-Sou eu... eu sou Aiden.”
Talvez revelar seu nome tivesse sido um erro. Poderia colocá-lo em uma situação ainda pior. Mesmo assim, os rostos das pessoas de sua cidade natal ressurgiram em sua mente.
“Ajude... me...” ele implorou roucamente.
Quando os olhos sem emoção da mulher pararam sobre ele, que ainda estava deitado no chão, ela gentilmente inclinou a cabeça. “Prazer em conhecê-lo. Eu corro para qualquer lugar para providenciar qualquer serviço que um cliente possa precisar. Eu sou Violet Evergarden do serviço de bonecas automatizadas.”
Quando os soldados voltaram para si e apontaram suas armas para ela, Violet já estava segurando sua própria arma. Era um machado maior do que um humano normal, mas levantou-o com as duas mãos como se não pesasse nada, como uma espécie de monstro. Os homens tremeram de medo.
“Mo... Morra, morra, morraaa!”
Os tiros ecoaram junto com os gritos, mas a mulher permaneceu ilesa enquanto preparava o machado, que não obteve um único arranhão de bala.
“Aqui vou eu... Major.” Depois de sussurrar humildemente, a mulher saltou sobre Aiden, com o objetivo de cortar os homens. Embora parecesse delicada e frágil, cada um de seus passos ressoava com estrondo.
Desde que Aiden estava em um estado tão precário, era difícil para ele torcer o pescoço e olhar para trás, mas ele ansiou tanto ver o estado da luta que, de alguma forma, conseguiu observá-la pelos cantos dos olhos. Parecia que a mulher estava dançando, mas na realidade, ela estava meramente balançando o machado para os oponentes, girando amplamente. Era uma técnica extremamente bizarra. Ela se protegera dos ataques usando a lâmina, quase como um substituto para um escudo, então agarrava na alça enterrada na terra e levantava-a em pé, girando em seus calcanhares.
Os homens que logo não puderam se defender das ofensas entregues por um corpo tão delicado, renderam-se e começaram a gritar. Mesmo que seus movimentos fossem claros, o resultado que eles tinham conduzido foi o oposto. Dominou uma variação da arte marcial clássica com matança que Aiden nunca tinha visto antes. As armas estavam sendo quebradas pela ponta do punho do machado, como se fossem tão frágeis quanto os brinquedos de uma criança. Apenas por ser atingidos pelo cabo em seus ombros, os homens caíram de joelhos.
“Ela é... um monstro!” gritou um deles, fugindo sem ser perseguido.
A mulher concentrou-se unicamente em atacar os homens que a confrontaram de maneira maquinal. Era óbvio que ela estava acostumada com batalhas extremas, ao ponto de que a palavra “acostumado” em si era um eufemismo.
“Esta... maldita mulher! Morra! Morra!”
A mulher continuou rapidamente a trocar golpes com os homens que disparavam cegamente na escuridão, balançando o machado sem hesitação e aproximando-se gradualmente deles enquanto esquivava-se das balas. No instante em que um deles alcançou uma arma no bolso e a carregou na altura do estômago, ela girou as pernas esguias e o chutou na cara.
Nenhum de seus movimentos fluidos foi para desperdiçar seus golpes consecutivos. A diferença de poder era esmagadora. Certamente, mesmo se houvesse mais soldados contra ela, a situação não teria mudado. Era como se a força da mulher residisse inabalavelmente dentro do machado que ela segurava.
Porque... ela não usa a lâmina? Aiden pensou intrigante. Com um machado tão vicioso, ela poderia facilmente pôr fim a tudo se usasse sua força principal, mas não o fez. Estabelecendo-se por usá-lo como uma arma contundente, ela não deu golpes fatais.
A batalha durou pouco. Depois de bater em todos menos nele, a mulher voltou ao lado de Aiden. Agachada, ela olhou para seu rosto. “Eu sinto muito pela espera.”
Foi então que Aiden notou como a nomeada Violet Evergarden tinha um rosto com reminiscências de criança.
Ela nào... é tão velha quanto eu?
Sua beleza bem-desenvolvida deu a impressão de uma mulher adulta e madura, mas sua figura era também igual de uma menina.
“Mestre...” Violet ofegou profundamente ao examinar mais de perto o corpo inteiro de Aiden.
“O... Obrigado... por me salvar... hum... como... você me conhece?”
Enquanto Aiden falava com um rastro de sangue saindo de sua boca, Violet tirou um conjunto de ataduras de sua bolsa e começou a envolvê- las em torno de suas feridas. “O Mestre chamou por mim. Você entrou em contato com o serviço de bonecas automatizadas depois de ver nosso anúncio, não foi? A taxa definitivamente foi paga.”
Ouvindo isso, Aiden procurou em sua memória, apesar de seu raciocínio tornar-se nebuloso devido à perda de sangue. Pensando nisso, um velho panfleto estava no bar enquanto ele bebia em uma cidade ao lado de seu antigo campo de batalha. O quadro de avisos do bar estava cheio de variados serviços informativos, panfletos de mensagens e memorandos, e o homem encontrara um panfleto entre eles.
“Então, era verdade ... que o serviço de bonecas automatizadas correrá para qualquer lugar a qualquer hora?” ele sorriu para o slogan promocional. Foi nessa vez que Aiden se lembrou de ter contatado o serviço como castigo por ter perdido em um jogo de cartas, e isso lhe custou uma quantia absurda de dinheiro.
“Que tipo de boneca você deseja? Aceitamos qualquer pedido.”
Depois de ter sido perguntado por um jovem no telefone, Aiden respondeu sem pensar muito. “Eu gostaria de uma beleza requintada que poderia entrar na linha de frente. Ah, uma mulher, por favor.”
“As bonecas necessárias para viajar para áreas perigosas são especialmente caras.”
“Não há maneira de torná-la mais barata?”
“Uma oferta relativamente barata é se você alugar uma para o tempo mínimo de um dia.”
“Então eu vou com isso. Hum, minha conta é-”
Ele havia se esquecido de cancelar a ordem depois, e provavelmente não tinha falado tão articuladamente no telefone desde que estava bêbado na época. Entre as pessoas que tinham festejado com ele como idiotas, ninguém se lembrou do que ele tinha feito no dia seguinte devido à ressaca.
E pensar que ela... real mente viría... Além disso, uma mulher como esta sozinha no meio de uma zona de combate... exatamente da menira que eu pedi, nada mal.
Enquanto a figura de Violet refletia nos olhos de Aiden, ela parecia nada mais que um anjo.
“C-Como... você sabia onde eu estava?”
“Segredo da empresa. Não posso responder a isso.”
Como ela recusou tão bruscamente, ele só poderia ficar em silêncio. Se uma mera corporação copista tinha conseguido tal feito, como no mundo poderia ser um “segredo da empresa”?
“Por agora, Mestre, vamos sair daqui. O seu corpo está doendo? Por favor, aguente...”
“Não, não está doendo... apenas me sinto muito quente... Isso é... provavelmente... muito ruim, certo?”
Às lágrimas de Aiden expressaram dúvida, Violet engoliu o que ela parecia estar prestes a dizer. Depois de um silêncio momentâneo, ela acomodou o machado em um suporte preso ao redor de seu corpo e colocou seus braços ao redor de Aiden. “Vou ter que tratar você como bagagem por um tempo. Por favor, tenha paciência.”
Seu corpo envolto por força, ela o ergueu. Apesar de sua declaração anterior, estava mais perto de carregá-lo como uma princesa. A vergonha parecia possível mesmo em tal momento, e Aiden sentiu vontade de rir através de suas lágrimas.
Desse ponto, as ações de Violet foram rápidas. Enquanto corria pela selva, apesar de estar carregando um homem adulto, ele se preocupava com o que ela faria se encontrasse mais inimigos, mas parecia que não seria o caso. Aparentemente, Violet tinha recebido instruções de alguém.
Uma voz ocasionalmente vazava dos grandes brincos de pérolas que ela usava, e ela se movia depois de responder a ele em tom baixo. Depois de um curto tempo, os dois chegaram a uma casa abandonada com a intenção de usá-la como esconderijo temporário.
“Mantenha seu corpo escondido aqui por um tempo.”
O interior da casa foi coberto de teias de aranha e poeira. Deixando Aiden cair no chão, Violet vasculhou sua mochila, tirando um cobertor.
Os cantos dos lábios de Violet levantaram ligeiramente a pergunta de Aiden. Depois de endireitar o cobertor, ela colocou Aiden no meio e fechou em torno dele.
“Eu me sinto... abafado...”
“Vai ficar frio mais tarde.”
“É assim mesmo?”
“Provavelmente. Foi-me dito isso.” Aquelas eram como as palavras de alguém que tinha visto inúmeras pessoas falecerem.
Aiden se sentiu ainda mais intrigado por Violet. Que tipo de passado ela tinha? Como ela era tão forte? Muitas perguntas flutuavam em sua mente, mas o que saiu de sua boca era algo completamente diferente: “Você poderia... escrever uma carta em meu lugar?”
A expressão de Violet ficou rígida diante das palavras de Aiden.
“Ou talvez... aquele dispositivo de telecomunicação de vocês pode chegar ao meu país?”
“Não, infelizmente.”
“Então, por favor... escreva-me uma carta. Você veio aqui... porque eu a contratei, certo? Por favor, escreva. Afinal, parece que... eu vou morrer logo... então eu quero... escrever uma carta.” Sua garganta começou a ficar seca e ele tossiu depois de falar.
Ao vê-lo cuspir sangue, Violet esfregou os ombros e assentiu. “Entendido, Mestre.” Seu rosto não duvidava mais. Ela pegou o que parecia ser um papel de boa qualidade e uma caneta da bolsa, colocando-a no colo, dizendo a Aiden para recitar a carta para ela.
“Primeiro é... Mãe e Pai, eu acho...”
Ele falou sobre como o criaram com tanto amor, como lhe ensinaram o beisebol, como eles estavam certamente muito preocupados, já que não havia muitas cartas que pudessem ser entregues do campo de batalha, e como sua última carta se transformara em sua vontade. Ele então transmitiu sua gratidão e desculpas.
Escrevendo rapidamente, Violet capturou seus sentimentos com precisão. Sempre que as palavras se acumulavam, ela perguntava se os termos usados eram bons o suficiente, melhorando o conteúdo da carta. Aiden não tinha sido capaz de escrever para seus pais com frequência em parte devido a não ser bom com a coleta de seus pensamentos, mas era diferente com ela ao redor. As palavras nasceram uma após a outra — tudo o que ele queria dizer transbordou.
“Mãe... mesmo tendo lhe dito... que eu me tornaria um jogador de beisebol... para conseguir dinheiro para você restaurar nossa casa... me desculpe. Pai... Pai, eu queria que você assistisse mais de meus jogos.
Fiquei muito feliz... quando você me disse que gostava de me ver bater na bola. Eu... eu realmente comecei beisebol porque eu queria ser louvado por você. Eu sinto que, se houvesse... qualquer outra coisa que você me elogiasse... teria sido uma opção também. Não há nada mais afortunado... do que ter nascido como seu filho. Eu quero saber porque. Eu... sempre... fui tão feliz... e, bem... passei por muitas dificuldades... mas... eu nunca pensei que eu morreria assim. “
Mesmo que ele não tivesse sido ensinado por seus pais como matar...
“Eu não acho que isso iria acontecer. Como, normalmente ... normalmente ... as pessoas imaginam tornar-se adultos, encontrar uma amante, casar-se, ter filhos... eu... eu... eu... eu pensei que seria capaz de cuidar de vocês. Eu não achei... que eu seria baleado sem realmente saber por que... e morrer em um país tão longe de vocês. Eu sinto muito. Eu também estou triste... mas vocês dois... certamente... estarão mais tristes. Eu devia voltar para vocês em segurança... já que eu sou o único filho de vocês. Eu... deveria voltar. Mas... eu não vou poder. Eu sinto muito. Desculpe-me.” Ele se ressentia tanto de não poder ver seus pais novamente e se sentia tão culpado que suas lágrimas repetidamente pararam suas palavras.
Violet anotou cada palavra que ele pulava. “Eu poderia torná-los mais precisas, mas a este ritmo, eu sinto que será melhor se a carta tiver o modo de falar do Mestre.”
“Sério? Seria bom... mesmo sem palavras mais bonitas?”
“Sim... eu acho que desta forma... é melhor.”
“Quando você diz assim, eu meio que me sinto... ela...” ele riu compulsivamente, tossindo mais sangue.
Violet enxugou os lábios com um lenço já encharcado de sangue. “Há mais alguém para quem você queira escrever?”
Como lhe foi perguntado com um toque de urgência, Aiden ficou em silêncio por um momento. Sua visão estava embaçada, embora as lágrimas já não saíssem. A voz de Violet também estava distante. Se Violet estava com pressa, ele deve estar em um estado terrível. Ele estava prestes a morrer.
O sorriso de uma simples garota com cabelos trançados veio à sua mente.
“Para... Maria.” Enquanto sussurrava seu nome, seu amor o envolveu até o ponto de querer morder algo.
“Senhorita Maria... é isso? Ela é da sua cidade?”
“Sim. Se entregá-la juntamente com a dos meus pais, você deve ser capaz de saber quem ela é. Ela é uma amiga de infância do bairro. Nós estávamos juntos desde que éramos pequenos... ela era como uma irmãzinha... mas depois que ela se confessou, eu percebi que provavelmente... gostava dela também. Mas... eu vim aqui... sem ter feito nada que os casais fazem com ela. É meio estranho namorar uma amiga de infância... haha, devíamos ter... pelo menos beijado... eu teria ficado contente, honestamente. Eu nunca... fiz isso antes.”
“Vou transferir esses sentimentos de vocês para a carta. Mestre, só um pouco mais... por favor, faça o seu melhor.” Como se estivesse fazendo um desejo, Violet firmemente segurou a mão de Aiden.
Incapaz de sentir seu calor ou mesmo seu toque, ele começou a chorar novamente. “Sim.” Depois de organizar seus pensamentos nebulosos, Aiden começou a falar, “Maria, você está... fazendo o certo?”
A razão pela qual estou começando esta carta com uma saudação tão casual... é porque eu não quero que você sinta que estou morrendo.
“Eu me pergunto... se você está... sozinha... já que eu não estou ai. Seria um problema... se você estivesse chorando todos os dias... mas eu... vi seu rosto chorando... desde que éramos crianças... e é bonito, então você não deveria... chorar na frente dos homens.” Ele repetiu memórias do tempo em que passou com. “Eu me pergunto se você se lembra... quando você... se confessou. Você tinha... me dito para não me lembrar... daquele dia, mas... você sabe, eu... eu... realmente... realmente... realmente... fiquei feliz naquela época.”
A maneira como você sorriu em meus braços com suas bochechas rosadas’.
“Eu estava realmente... tão feliz...”
Sua figura quando ela ainda era pequena. O tempo que ela começou a deixar seu cabelo crescer por muito tempo. A mulher que Aiden amava profundamente apenas pelos momentos que passaram juntos foi esculpida dentro dele.
“Isso foi provavelmente... o pico... da minha vida... sério. Quer dizer, não me lembro de mais nada. Muito mais... do que quando eu... ganhei um torneio de beisebol... ou quando fui... elogiado pelo meu pai... o que me fez... mais feliz...”
Minha Maria. Minha Maria. Minha Maria.
“...foi quando... você me disse... que estava apaixonada por mim.”
A primeira vez em que lhe contaram que o amava sem ser pelos seus pais.
“Para dizer a verdade... eu costumava... só te ver como uma irmãzinha... mas você é... muito fofa, então... eu logo... me apaixonei por você... Você vai se tornar ainda mais linda a partir de agora, certo? Aah, estou com ciúmes... dos rapazes que poderão vê-la... se eu pudesse... eu teria... queria... te fazer... minha noiva... e viver... construir uma pequena casa de campo... naquela zona rural, com você . Eu te amei. Eu te amo, Maria. Maria... Maria...”
Aah, minha linda namorada. Se você estivesse aqui agora.
“Maria, eu não quero morrer...”
As respirações de Violet ressoavam em seus ouvidos. “Maria, eu quero... voltar para você...”
Aah... minha cabeça... está gradualmente... derretendo.
“Eu quero... voltar... para... você...” Ele não podia manter os olhos abertos. Mas se ele os fechasse, as palavras parariam também. “Maria... espe... re... mesmo que... só... minha alma... eu vou voltar... mas... bem, eu não... sou o único... a esperar. Apenas... não esqueça... não... esqueça... o primeiro homem... para qual você... se confessou. Eu também... não vou... esquecer. Mesmo... nas portas... do céu... eu não vou... esquecer. Maria... não... me esqueça. “
Violet... está escrito?
“Ah... não é bom... meus... olhos não... abrirão. Violet... eu confio...
minha... carta... a... você... obrigado... por me salvar... e por... ter vindo... eu não estou... sozinho... eu não estou... sozinho...”
“Estou aqui. Eu estou bem aqui. Estou do seu lado.” “Por favor... por favor... me toque...”
“Eu estou segurando sua mão agora.”
“Ah... bem... isso... é ... verdade... está... começando a ficar... frio. É ...
verdade... eu estou... frio... eu estou... fri... o...”
“Vou acariciar um pouco sua mão. Está bem. Só fica frio por um tempo. Logo, você vai encontrar um lugar quente.”
“Estou sozinho...”
“Está tudo bem. Mestre, está tudo bem.” A voz de Violet soava um pouco dolorida.
Aiden perdeu progressivamente a noção de onde estava. Onde estava aquele lugar? Por que sua cabeça estava tão obscura naquele momento?
“Pa... Pai...”
Ei... estou com medo... Mãe, por algum motivo... não consigo ver nada... é assustador...
“M... Mãe...”
Estou com medo. Medo. Medo. Medo.
“Está tudo bem.” Como alguém assegurou gentilmente, Aiden se acalmou e sorriu um pouco.
No final, as palavras que ele que queria dizer eram: “Mari... a... beije... me...”
Eu... queria te beijar. Mas... eu estava sempre muito envergonhado... então eu queria saber se você poderia ser a única a fazê-lo.
Um pouco depois de pensar assim, ouviu o som de lábios tocantes.
Aah, eu consegui ter meu primeiro beijo com a garota que eu gosto no final... Maria, obrigado. Obrigado. Vamos nos encontrar novamente.
“Descanse em paz, Mestre.” A voz de alguém ecoou de longe.
Ele estava incerto de quem era aquele “alguém”, mas uma última vez, Aiden soltou um sussurro tão leve quanto um suspiro. “Obri... ga... do...”
Violet abraçou a carta do jovem que tinha morrido na frente dela enquanto chorava, antes de cuidadosamente colocá-la em sua bolsa. Levantando-se com firmeza, dirigiu-se ao aparelho de comunicação: “A partir de agora, eu estarei voltando. Indique onde se situa o ponto de desembarque da unidade de transporte. Além disso, este é meu próprio egoísmo, mas... eu pago as despesas de transporte, por favor... deixe- me levar... um cadáver comigo.”
Não havia uma única lágrima em seu rosto.
“Bem, mesmo se você dissesse que é uma deficiência, não pode ser ajudado. Compreendo. Eu nem... sempre faço coisas assim, então... sim, por favor. Muito obrigada.” Ela falou desapaixonadamente, como se estivesse em um escritório. No entanto, enquanto ela carregava o corpo de Aiden Field mais uma vez, naquele hora, ela o segurou muito mais levemente, não estava incomodada pelas manchas de sangue que deixou em seu pano branco. “Mestre, vou levá-lo para casa.” Ela disse para o garoto que sorriu um pouco com os olhos fechados. “Definitivamente, vou te levar para casa.” Em seus traços inexpressivos, apenas seus lábios vermelhos tremiam ligeiramente. “É por isso que... você não vai mais ficar sozinho.”
Abraçando a juventude, ela silenciosamente deixou a casa de campo. De além da selva, disparos e gritos ainda podiam ser ouvidos, mas Violet não voltou.
♦ ♦ ♦
As empresas de correios e empresas postais tinham uma estreita relação. Normalmente, as cartas dos copistas seriam entregues por carteiros, mas como este veio de um país distante em guerra, a Boneca de Memória Automática entregou-a pessoalmente.
Uma área agrícola bonita cercada por campos de arroz dourados. Ela poderia concordar que era uma cidade bucólica tão esplêndida que entendeu o motivo do jovem lamentar por não poder voltar a ela. Mesmo enquanto Violet, uma estranha, olhava pela janela da carruagem em que se encontrava, todos os transeuntes a cumprimentavam.
Para aquela terra terna, ela trouxe uma mensagem triste.
Seu destino era o local de nascimento de Aiden Field. Violet relatou tudo para o casal de idosos que haviam respondido à porta, entregando a carta — entregando “ele” — para eles. Ela então passou a contar-lhes sobre seus últimos momentos, sem esquecer nada. Maria, a menina cuja ilusão “ele” tinha visto antes de passar, estava lá também. Eles ouviram sua conversa enquanto derramavam lágrimas sem dizer uma única palavra. Parecia que a imagem do menino estava impressa em seus corações para nunca ser esquecida.
A garota, de rosto vermelho, ficou quebrada ao aceitar a carta de Aiden. “Por quê? Por que ele teve que morrer?” perguntou para Violet.
Ela permaneceu em silêncio, sem responder a nenhuma das perguntas. Mesmo ela sendo normalmente inexpressiva e apenas dizendo o que ela deveria, francamente, ela ficava em uma perda de palavras ao ser abraçada por uma mulher chorando no momento da sua partida.
“Obrigado.”
Era uma coisa inesperada de se ouvir. “Nunca esqueceremos... sua bondade.”
Como ela não estava acostumada a ser abraçada por alguém, seu corpo se enrijeceu e se encolheu desajeitadamente.
“Obrigado... por trazer nosso filho de volta.”
Com tal calor, seus olhos expressaram perplexidade. “Obrigado.”
Ela olhou para a mulher que transmitia sua gratidão enquanto chorava — a mãe de Aiden. Para Violet, era de alguma forma insuportável, e ela respondeu com um fraco, “Não... não...” Um oceano de lágrimas se espalhou suavemente dentro das esferas azuis que olhavam para “ele”. “Não...” O mar se transformou em uma gota única, leve, e escorreu por sua bochecha branca. “Eu sinto muito... eu não pude protegê-lo.” Essas não foram as palavras da Boneca de Memória Automática Violet Evergarden, mas de uma pequena garota. “Desculpe-me... por deixá-lo morrer.”
Ninguém a culpava. Mesmo Maria, que havia lamentado ao longo das linhas de “Por quê?!” não culpou a Violet. Todos os parentes simplesmente se abraçavam e compartilhavam sua dor.
“Desculpe-me...” Violet continuou a se desculpar repetidamente em voz baixa. “Desculpe-me por deixá-lo morrer.”
“Obri... ga... do...”
Ninguém culpou você por nada, Violet Evergarden.