Volume Único

Capítulo 3

Nós ficamos de mãos dadas na escuridão. A única prova de que estávamos vivos era a temperatura do nosso corpo. Sempre que ela dizia que estava com medo, eu respondia: “Está tudo bem. Seu irmão vai fazer algo sobre isso”.

Aquela que afirmou minha existência era minha irmãzinha. Eu consegui obter coragem do fato que eu poderia confiar. Isso sim, eu era um irmão mais velho. Ela não era boa sem mim, então eu tinha que continuar vivendo.

Mas não me lembro. Não lembro de nada.

Alguém me quebrou? Eu tinha quebrado sozinho? Eu não sabia.

Ainda assim, ela definitivamente existe. Se eu a encontrar algum dia, saberei que é ela com certeza. Mesmo se tiver esquecido, mesmo se não conseguir me lembrar dela, a reconheceria se a visse. Eu quero que seja do mesmo jeito para ela.

Esse sentimento ficou quente dentro de mim como uma fogueira.

 

♦♦♦

 

Se os continentes espalhados pelo mundo eram grandes ou pequenos, não fazia diferença para as pessoas que neles viviam. Qualquer lugar era o mesmo se houvesse humanos vivendo nele. Eles aravam e cresciam. Colher, construir e colorir. Criar e falhar. Esconder, interagir, destruir, morrer de fome, ter sucesso. Ficar deprimido. Derramar lágrimas, coagir. Brilhar, agir imoralmente. Arrependa-se, partir, adorar. Aclamação, raça, luto. Ficar ocioso. Tornar-se nostálgico. Eles se amariam e se matariam.

E ele também.

Embora existissem diferentes tipos, os mercenários que vagavam naquele continente eram em sua maioria, livres guerreiros que se juntavam a qualquer facção dependendo do pagamento. Eles iriam para o leste hoje e para o oeste amanhã. Não importava se, por exemplo, um companheiro mercenário com quem eles haviam bebido juntos se transformasse em um inimigo. Eles também não se importariam com o que acontecesse com o chefe do trabalho anterior, ou com a aldeia da mulher com quem tinham dormido, sempre dependia do dinheiro.

E agora, também, um único mercenário estava sendo levado à morte que certamente viria a muitos outros.

“Tão frio.”

Cabelos louros e arenosos balançavam ao vento misturado com poeira cinza. Um homem com aparência que seria um desperdício, se ele perecesse em tal lugar, desmoronaria como nascera. Sua pele de marfim, na qual o cabelo dourado ficava em pé, era exposta impiedosamente a ameaças naturais. O homem gemeu em meio a suas memórias nubladas, perguntando a si mesmo como as coisas na Terra se revelaram como tais.

Três dias atrás, eu estava matando. Dois dias atrás, também estava matando.

O homem poderia mais ou menos entender o que aconteceu. Ele desperdiçou extravagantemente a satisfação de seu coração a recompensa que recebeu por sobreviver a incêndios em tempos de guerra, e passara a noite com uma mulher absurdamente boa, que tomara conhecimento de seu farto banquete. Seu alojamento e as bebidas que ele consumiu foram arranjadas pela dita mulher. Ela provavelmente administrou algum tipo de droga naquilo.

“Eu me sinto doente... oeh…”

O fato era que todos os seus pertences tinham sido retirados dele, que a recompensa que ganhou ao custo de sua vida tinha sido roubada, e que ele tinha sido deixado ao acaso em tal lugar, sem que ninguém se incomodasse em acabar com ele. Não ser chamado de outra coisa senão infortúnio. Só por seu corpo não estar amarrado era sorte, mas mesmo se fosse, ele não teria se movido. Parecia que ele não tinha a energia para se levantar.

“Alguém...” ele tentou dizer, mas fechou a boca.

Mesmo se eu chamasse alguém, não há ninguém por perto. Existe “alguém” para mim, afinal?

O homem não tinha companheiros ou familiares para ajudá-lo em tal momento.

Era isso que significava viver como alguém satisfeito. Ele faria sua bagagem o mais leve possível e simplesmente seguiria para onde quisesse. Se ele tivesse algum tipo de objetivo grandioso, isso poderia levá-lo a bons resultados. Uma existência morna às vezes se transformaria em um obstáculo para as decisões da vida. Aqueles que não tinham nada provavelmente poderiam ver um mundo muito mais amplo do que aqueles que tinham tudo. No entanto, não ter ninguém para chorar por eles ao provar esses momentos finais era algo solitário.

Uma dor correu em algum lugar nas profundezas do seu peito, o local chamado de ‘coração’.

“Não, eu não estou morrendo.”

A dor passou, mas o homem não tinha o espírito de alguém que obedientemente percebia o destino como destino. Ele fechou os punhos, exortando seu corpo e tentando se levantar de alguma forma.

“Como se eu pudesse morrer... Como se eu pudesse morrer; como se eu pudesse morrer!”

...

O homem abriu os olhos novamente depois de algumas horas.

“Quem... é você, afinal?” Devido à surpresa, mas também porque ele estava sentado, sua voz estava rouca.

“Sou Hodgins, um veterano no meio de uma viagem. Eu sou aquele a quem deve a sua vida por resgatar você nu no meio do nada.”

Ele era um homem um tanto rico, fácil de lidar, que conseguia facilmente entrar em contato com os outros, extremamente calculista e intrigante, que obtinha um grande lucro em jogos de guerra e tinha uma vantagem competitiva. Ele era um empresário atualmente no meio de estabelecer seus negócios. Esse foi o primeiro encontro do homem com Hodgins, seu salva-vidas.

“Por que você me ajudou, velho?” Sua voz áspera ecoou por todo o interior da loja.

Os dois estavam em um restaurante de terraço aberto localizado no primeiro andar de uma pousada para a qual o homem estava se dirigindo. Era tarde demais para o café da manhã e cedo demais para o almoço. O homem era conspícuo. Afinal de contas, não importava como olhasse, vestia uma camisa e calças largas.

“Ah, me desculpe. Esse garoto é um pouco mal-educado. Sim, ele vai se acalmar... Hm? Espere um minuto. ‘Velho’…!? Eu...?” Hodgins arregalou os olhos e se aproximou do homem.

Assim que ele reagiu?

A juventude e o homem excessivamente alegres eram uma combinação inadequada dentro da refinada estalagem. Era inevitável que os olhares dos clientes se juntassem a eles de uma maneira natural, mas com um grunhido de “Não olhem para nós!” do jovem, todos olharam para longe.

“Velho, me escute.”

“Não, não, mais importante, que tal esclarecermos se eu pareço ou não um homem velho? Eu já passei dos meus 20 anos, mas sou mais jovem do que as pessoas da minha geração que são casadas, minha barriga ainda não está grande e, acima de tudo, sou um bom homem, certo? Eu realmente pareço um homem velho? Não é, tipo, irmão mais velho? Que tal você tentar pensar sobre isso? Assim-”

“VELHO!”

Como se estivesse apunhalado no coração por suas palavras, Hodgins agarrou o peito e gemeu. “O que é isso... jovem...?” Até a voz dele estava dolorida.

“Por que você me ajudou? Você está mesmo me alimentando... O que você quer depois? Estou lhe dizendo que não tenho dinheiro.”

Era verdade. Se o homem tivesse que fazer algo sobre aquela refeição naquele lugar agora, seria o fim da linha para ele.

Em contraposição, Hodgins acenou com a mão para o lado. “Não, eu não estou atrás de nada.”

“Então você quer meu corpo?”

“Você tem uma boa autoestima. Bem, quando eu te vi pela primeira vez, seu corpo estava enterrado na areia e eu não pude ver nada além do seu rosto... então, pensei que você fosse uma garota bonita e nua que tinha desmaiado.” Depois de olhar fugazmente para o homem, ele virou a cabeça para uma direção diferente, os olhos distantes. “Quando te levantei com meus braços, notei que você tinha algo extra lá… mas ainda estava vivo, então te trouxe de volta para a pousada comigo, cuidei seu corpo já que você estava com hipotermia… e quando percebi, já era de manhã. Eu sabia que você não tinha dinheiro só de olhar. Você não possuía nada consigo.”

Desta vez, aquele com o peito dolorido era o homem. “Minha culpa. Por... não ter nada.” Como seu tom de voz mudou um pouco, talvez o que tinha sido dito fosse um ponto muito dolorido.

“Jovem, por que você estava dormindo naquele lugar?”

“‘Por que você pergunta…?”

Embora hesitando em discutir seu infortúnio, ele falou sobre sua situação de maneira resumida. Hodgins ouvira a sério no começo, mas a partir do meio, virou o rosto para o lado e seus ombros tremiam como se estivesse reprimindo o riso.

“Se você quer rir, apenas faça isso...!”

“Ei, posso? Ah! Ahahahah! Você finalmente ganhou algo e perdeu tudo?! Isso é muito lamentável! Meu estômago dói... Ah, peraí, peraí... peraí... peraí. Que tal você parar de se levantar dessa cadeira? Vamos nos acalmar? Foi terrível, não foi? Você está com fome também, certo? Coma, coma. Falando nisso, eu não perguntei o seu nome também. Jovem, qual é o seu nome?”

Silêncio.

“Ei, ei, não importa o quão mal-educado você seja, deveria ao menos dizer o seu nome.”

Fazendo beicinho, o homem murmurou secamente: “Não entendi.” Parecendo ter sido feito com as cores do céu de verão e soprado em uma bola de vidro, seus olhos notáveis ficaram embaçados e ele falou desafiadoramente mais uma vez. Cruzando os braços, ele descansou os pés na mesa. “Eu não tenho um nome. Eu poderia ter recebido um, mas não tenho. Me chame do que quiser. Meu nome de registro de quando eu costumava ser um mercenário era ‘Blue’. Já que eu não tenho um nome… usei o azul dos meus olhos.”

Hodgins mostrou agitação pela primeira vez diante do homem, que se transformara em um pedaço de descontentamento. “‘Não tem nome’... O que você quer dizer?”

“Amnésia. Minha memória não tem nada além do que aconteceu desde alguns anos atrás. Não sei onde eu estava, o que estava fazendo, de onde era ou quem eu era antes disso. Quando cheguei, estava deitado na margem do rio nas fronteiras deste continente. Naquela hora, eu estava vestindo uma armadura e uma capa... Se eu não tivesse sido encontrado por uma mulher cigana, teria morrido assim.”

Hodgins finalmente percebeu que suas próprias palavras eram uma gafe verbal.

“Você não lembra de nada? Nenhuma coisa?”

Silêncio.

“Há algo que se lembre?”

Isso pode ter sido importante para o homem o suficiente para fazê-lo vacilar, mesmo em palavras. Depois de mostrar uma expressão de hesitação, ele finalmente abriu a boca. “Eu provavelmente... tive uma... irmãzinha.” Sua atitude era quase a de confessar um pecado. “Ainda assim, não me lembro dela. Eu só tenho a memória que ela existia, e eu não sei que tipo de pessoa ela era. Mas ela estava definitivamente lá. Eu lembro disso.”

Hodgins ficou segurando sua própria camisa na área do peito.

“Eu acompanhei os ciganos por um tempo, aprendendo com eles como cantar, dançar e outras coisas. Então, no final, mudei de emprego para mercenário. Parecia que a luta se encaixava melhor na minha natureza, entende? ‘Aberração Faminta por Batalha’ é meu apelido. Sou famoso no mundo mercenário.” Ao dizer isso, o homem encolheu os ombros. “Bem, isso não é um nome, no entanto...”

Ele não sabia quem era. Quão preocupante era isso para ele? O homem não parecia ter uma personalidade louvável, mas aparentemente estava preocupado em não ter um nome.

“Hum~… é isso? Então, você... era mercenário, certo?”

“Está certo. Isso é ruim?”

“Eu não estou dizendo que é ruim por si só. Mas, mesmo assim, você não tem dinheiro, nome ou coisa alguma?”

“Não não não.” A raiva do homem em relação à sua própria vida estava presente nos muitos tipos de ‘não’. “Você quer ser morto, Velho? Dizendo isso, mas não tenho nenhum senso de obrigação moral, então se eu não gosto de alguém, estou bem em espancá-lo.”

“Sim, você é assim. Nem um único ‘obrigado’. Mas eu... não odeio caras insinceros como você.”

“O que há com isso?”

“Além disso, você sabe, eu tenho uma conhecida… é uma garota que se parece com você… Embora seja seu tutor legal, eu a deixei com outras pessoas e saí em uma jornada, como se estivesse fugindo. Mas tive a sensação de que não poderia deixá-la sozinha.”

Alguém que se parece comigo?

“Que tipo de pessoa ela é?”

Não respondendo à pergunta do homem, Hodgins deu migalhas de pão a um pombo que estava esperando a seus pés para que as sobras de sua refeição caíssem. O que quer que ele estivesse pensando, ficou quieto por um tempo e de repente se levantou do banco, correndo atrás do pombo. Os outros pombos não suportavam sua ação imponente, batendo as asas e fugindo para o céu.

“Ei, que tipo de pessoa ela é?!” Seu grito de raiva se sobrepunha à risada inocente de Hodgins e ao som de penas de pássaros.

Com a cidade em que as pombas voaram para as costas, Hodgins se virou. Seus olhos pareciam estar olhando para o homem, mas não estavam.

“A mais forte e mais fraca do mundo.” Como esperado, Hodgins estava sorrindo, mas seus olhos não formaram um arco. Independentemente de a pessoa a quem ele se referia ser má ou boa, o ar ao seu redor transmitia o fato de que ela era alguém importante.

O homem franziu a testa.

O que é isso…? Um enigma…?

Ele ficou ainda menos capaz de entender o salva-vidas à sua frente.

“Eu também tenho que apenas ir e encará-la.” Hodgins tinha dito que passou dos 20, mas ele parecia mais velho do que isso enquanto falava sobre ‘a mais fortes e fraca do mundo’. “Eu não posso dizer a ela... que é difícil para mim olhar para seu rosto quando ela parece triste.”

Com os olhos enrugados, o homem pensou:

Esse cara... ele finge ser decente, mas algo está acontecendo com ele.

Ele sentiu uma reviravolta do outro homem rindo. O último falava muito a princípio, mas ele parecia estar dando razão a seus pensamentos, em vez de ter uma conversa. Ele não estava sobrecarregado com algum tipo de problema enorme? Um que ele realmente não poderia fazer nada sobre.

“Está decidido.” Hodgins apontou um dedo indicador para o homem e fechou uma das pálpebras. “Se você não é nada, por que não me acompanha?”

“Quer dizer que... você vai me contratar?”

“Exato. De tudo, você não possui muito. Venha comigo para ganhar dinheiro. Você precisa de dinheiro para procurar sua irmã e se vingar dos caras que te jogaram pelado no deserto, não é? Em troca, você pode me emprestar sua vida um pouco?”

“Hah?”

“Agora, você só tem a sua vida, certo? Eu vou comprar isso.”

Com essas palavras, o coração do homem começou a fazer sons altos. Ele supostamente estava acostumado a ter sua vida comprada com dinheiro, mas quando perguntado cara-a-cara, sua respiração parecia que iria parar a qualquer momento.

“Quanto isso custa?”

Ao ser perguntado assim, o homem estava em perda de uma resposta.

Após isso, o homem adquiriu um nome.

“Benedict Blue”.

Ele também garantiu uma profissão e um lugar para dormir.

O Serviço Postal CH.

Ele tinha um salva-vidas que era querido para ele.

Claudia Hodgins.

Ele obteve companheiros também.

Ele obteve um longo prólogo, mas essa história é dele.

 

Benedict Blue

 

“A explicação aproximada termina aqui. O cliente que fez esse pedido apenas deseja que a carta seja enviada definitivamente. Pequena Violet será a escritora-fantasma. Benedict fará a entrega. É uma comissão repentina, mas é bom que vocês dois estivessem trabalhando no mesmo lugar. Eu também posso contar com Benedict para sair e encontrar-se no retorno com a Pequena Violet. Vou te dar alguns dias de folga quando terminar, então faça o seu melhor. Então? Parece bom?”

Benedict observou a menina de cabelos dourados que respondeu imediatamente: “Sim”, com olhos azuis semelhantes aos dele. Eles se sentaram um ao lado do outro em um sofá no quarto de Hodgins. Foi um amanhecer lânguido. O trabalho estava prestes a começar naquele dia.

O clima, a atmosfera e a comida de Leidenschaftlich, a qual Benedict antes não estava acostumado, por ter vindo de um continente diferente, agora penetrava em seu corpo sem qualquer sensação de deslocamento.

“Bem.”

Ele não tinha razão e não estava em condições de recusar. O que estava à sua frente era seu salva-vidas e superior. Ele não demonstrou respeito, mas sentiu familiaridade dele. Muito provavelmente, do mais alto grau.

“V, não faça sua bagagem muito pesada. Isso enfraquecerá os movimentos da minha amada moto.”

A garota ao lado do amnésico Benedict era uma pessoa que acabara de aparecer em sua curta vida. Desde o momento em que se conheceram, até Benedict, ela se enraizou na classificação de pessoas que ele ‘de alguma forma não podia fazer as coisas por conta própria’. Ela era uma impressionante Auto-Memories Doll. Desprezou sua impudência, era uma criança ignorante sem saber dos caminhos da sociedade. No começo, ele duvidava que uma pessoa parecida com uma máquina procedesse das forças armadas para trabalhar no ramo de serviços, mas ela era atualmente a figura mais popular do Serviço Postal CH.

“Isso é verdade. Vou reduzir as armas de fogo ao equipamento. Meu peso corporal também é grande devido às próteses, então aumentará a carga na motocicleta de Benedict.”

Sua boa aparência sempre roubara os olhos de quem a olhasse, mas ultimamente ele tinha a impressão de que seu charme aumentou. Era como se a primavera tivesse nascido de dentro de sua beleza fria.

“Mesmo que o equipamento seja escasso, se eu estiver com o Benedict, provavelmente não vou lutar em caso de emergências.”

Ela se tornou capaz de sorrir fracamente de vez em quando.

O maior incidente entre os que eles tinham acabado de experimentar em pessoa, o sequestro do trem Intercontinental, cruzou a mente de Benedict. E também um homem com um tapa-olho, que apareceu abraçado a Violet de lado quando ela perdeu um braço, e foi embora.

Ele não tinha ouvido tudo sobre o passado dos dois, mas Hodgins lhe contou a história geral depois. Eles estavam apaixonados um pelo outro. Não havia espaço para ninguém ficar no meio. A colega deles, Cattleya, disse que os dois aparentemente começaram a se ver nos dias de folga. “Fico feliz”, Cattleya riu.

Benedict não considerou isso tão bom.

Essa foi provavelmente a razão pela qual olhar para Violet pareceu pouco agradável até o momento. Ele suspeitava que ela estava sendo enganada por um homem muito mais velho que convenientemente desapareceu e surgiu novamente.

Colocando positivamente, ele estava preocupado.

Benedict sacudiu taticamente Violet, que não tinha ideia sobre seus sentimentos, na testa com as pontas dos dedos. “Na verdade, não; você é leve. É só que sua bolsa é pesada. Velho, você já levantou a bagagem da V? Balance essa coisa e vai parecer como uma arma contundente normal; Há uma tonelada de armas sob as roupas dela.”

Hodgins fez uma cara quase deplorável. “Pequena Violeta… você compra armas com seu salário, certo…?”

“Elas eram distribuídas para nós quando estávamos no exército, mas agora não tenho outra opção senão comprá-los eu mesma. Só posso aceitar a feitiçaria quando o Presidente Hodgins me conceder permissão, afinal. Eu comprei recentemente uma espingarda de longo alcance. Minhas mãos estão, na verdade, mais acostumadas com maças, no entanto...” talvez devido ao desejo de adquirir armas de grande porte, Violet moveu-se como se empunhasse uma coisa real, olhando fixamente para a arma imaginária.

“Não pode, não pode. Eu tive o trabalho de te dar uma aparência fofa, então não leve coisas assim com você além de casos de emergência.”

“Para lhe dar uma carona ficaria ainda mais pesado.”

Completamente encurralada pelos dois homens, Violet demonstrou uma expressão desapontada, como se estivesse desanimada. “Estou preparada para explicar os pontos de vantagem da maça, mas...”

Sem ela ter a oportunidade de dar essa explicação, os dois deveriam partir às pressas. Hodgins e depois Lux, que estava no serviço telefônico, acenaram para eles, então Benedict e Violet deixaram a agência.

A dupla loira balançou na moto para onde quer que fosse.

O outono acabou, as estações mudou para o inverno. Leidenschaftlich geralmente não testemunhava nevascas, mas os ventos gelados estavam soprando. Luvas, lenços, casacos com capuz, mesmo que as medidas de proteção contra baixas temperaturas fossem apropriadas, o frio estava frio. Enquanto dirigia, Benedict não teve outra escolha senão simplesmente suportar as rajadas geladas de frente. Os braços artificiais de Violet ao redor de seu torso também estavam gelados. O calor da parte de seu corpo real que estava em contato com suas costas era o único calor que sentia. Ele podia sentir o aperto de seus braços com mais firmeza do que quando lhe dava carona no verão. Era por causa da frieza ou por causa de sua confiança nele?

Sentindo uma coceira, Benedict espirrou: “Achoo!” Enquanto acelerava vigorosamente a motocicleta sobre a vasta terra, ele iniciou uma conversa sem nenhum motivo em particular: “Está frio!”

“Sim.”

“V, suas próteses estão bem? Não há desvantagens ou algo assim se elas ficarem muito frias?”

“É ruim se as juntas congelarem, mas isso não acontecerá enquanto a frieza não for extrema.”

“Hum...”

“Nós principalmente perambulamos pelas terras do norte durante a Guerra Continental, então eu tenho conhecimento das proteções contra o frio.”

“Bem, o lugar para onde vamos, Lontano, está dentro da Leidenschaftlich, então, para começar, não vai nevar nesta época do ano. Enquanto o tempo não é anormal, isso é. Também não haverá obstáculos para minhas tarefas de entrega.”

“Sim. Isso é reconfortante.”

“Ei, não diga isso.”

“Por que não? O clima é estável. Aquele que disse que não haveria obstáculos para as tarefas de entrega era você, Benedict.”

“Não é isso; é porque você está comigo. Quando você diz coisas desse tipo, parece que algo vai acontecer.”

“Então o tempo vai ficar anormal por causa do que eu disse?”

Benedict sabia que as sobrancelhas de Violet estavam franzindo mesmo sem olhá-la. Ele riu em voz alta. “Idi~ota. Você entendeu errado. Estou dizendo isso porque é fácil para algum tipo de problema acontecer quando estou com você. Para compensar a sua bagagem ser mais leve, nos preparamos para administrar pelo menos uma interceptação se algo em geral diminuir, mas... Lontano é uma cidade bem grande, então há muitos bandidos. Cidades chamativas também têm muitos lados obscuros.”

“Que problema...”

“Você foi escolhido por algum estranho e a luta continuou; você foi atacada por um bandido e a luta continuou; a motocicleta quebrou e ficamos presos em algum campo. Além disso, o que mais...? Você levanta uma pequena coisa e não há fim para isso.”

Como se para protestar, Violet alegou: “Eu não posso concordar com isso. Benedict, as lutas que você começou unilateralmente também estão incluídas.”

“É mesmo? Pode ser ruim para mim me unir a você.”

Após uma breve pausa, Violet se opôs novamente a parte de se unir a Benedict como algo ‘ruim’, “Eu também não posso concordar com isso… De fato, posso assumir que há um fator em nós que torna fácil algum tipo de conflito. No entanto, fomos capazes de lidar com eles. Nós dois... podemos lidar com isso se algo acontecer novamente.”

Era difícil dizer o que ela estava pensando, e ela poderia estar apenas protestando contra a reputação negativa de suas próprias habilidades. Ainda assim, Benedict de alguma forma ouviu isso como algo diferente.

“Heheh,” o riso saiu dele de uma maneira natural.

Sua respiração saindo em baforadas brancas atrás dele, Violet acrescentou como se estivesse recordando: “Isso se aplica a tempos de guerra e não a tempos de paz, mas... teríamos ainda menos inimigos se Cattleya fosse incluída”, ela sussurrou intermitentemente e Benedict sorriu.

“Se isso acontecesse, realmente não haveria nenhuma diversão para nós”, ele riu.

Daquele ponto em diante, o caminho para o destino levou algumas horas.

O lugar para o qual a Auto-Memories Doll e o carteiro do Serviço Postal CH se dirigiam era Lontano. Pequena em comparação com a capital Leiden, era a cidade mais próspera entre as vizinhas. As casas formavam círculos, como se para cercar um velho castelo, em cima de um morro ligeiramente elevado, que se estendia por cerca de cem metros, um rio com o mesmo nome do país que corria nas proximidades.

“Agora…”

A hora atual estava certa antes do meio dia, os turistas gradualmente formando uma multidão animada.

“Onde. Deveria. Estar?”

Os olhos azul-celeste de Benedict viajaram em busca de um bom ponto de encontro. Havia um banco, uma padaria, uma loja de souvenirs e uma estátua de uma mulher nua carregando uma criança. A padaria também parecia ter um café, e as pessoas podiam ser vistas apreciando o interior aparentemente quente e o pão recém assado das janelas de vidro.

“Já sei. V, vamos fazer da padaria nosso ponto de encontro. Não importa quem chegue primeiro, esperamos lá dentro.”

Violet assentiu bruscamente. “Você quer comer pão, certo?”

“Eu quero. O pão da padaria é saboroso. Eu nunca entrei para comer lá, no entanto. Mas é delicioso o suficiente para garantir que comprar alguma coisa lá e trazê-la de volta se tivermos entregas para fazer em Lontano é quase um bom senso entre os colegas carteiros. Aquele com queijo derretido... vamos levar uma lembrança para o Velho.”

“Você está sendo o mais rude possível para mim com isso, sabe?”

“Peço desculpas... Bem, alguma coisa aconteceu?” O ato de Benedict de comprar lembranças para Hodgins puramente por boa vontade parecia inacreditável para Violet. Portanto, ela expressou sua preocupação por um mau funcionamento em seu corpo ou mente.

Benedict atingiu o topo de sua cabeça com uma expressão de simpatia. “Não acabou! Você simplesmente não sabe, mas às vezes eu dou lembranças ao Velho! Até mesmo as Auto-Memories Doll compram lembranças para a agência se forem para algum lugar exótico, certo? É o mesmo que isso. O Velho me oferece comida e outras coisas antes do dia de pagamento também... Como o almoço, bem, muitas vezes...”

“O presidente Hodgins tende a dar um tratamento especial a Benedict.”

Não quero ouvir isso de você que ele trata como uma filha, pensou Benedict.

Ele falou enquanto se voltava para o outro lado, “Ele foi tão longe para tomar um amnésico como eu e me dar um nome... Ele pode ser especial para mim, e eu para ele.”

Ele acidentalmente, sem querer, expressou isso.

“É isso mesmo?” Violet jogou uma interjeição como o normal e Benedict foi pego de surpresa.

Ele já tinha nome e posição social. Não era mais o “Blue” que não tinha nada. Ele não queria se sentir envergonhado quando vivia com o nome da cor dos olhos.

Eu me pergunto…

Ele não estava orgulhoso disso também.

Eu me pergunto como ela vai reagir.

Ela certamente não faria um grande escândalo, mas provavelmente diria algo irritantemente deprimente. Ao abraçar sentimentos desconfortáveis, Benedict esperou por sua resposta.

No entanto, não importa quanto tempo ele esperou, não houve reação depois disso.

Seus olhos azuis repetidamente trocaram olhares. Um prolongado silêncio se seguiu entre eles.

Finalmente, Violet inclinou a cabeça ligeiramente, como se perguntasse: “É algo importante?”

Benedict acabou investigando sem pensar. “Ei, alguma coisa a dizer sobre eu ter amnésia?”

Os cílios dourados de Violet foram golpeados. “‘Alguma coisa’…?”

“Existe, certo? É amnésia de que estamos falando. Isso é raro, não é?” Dizer isso foi um pouco vergonhoso e patético para ele.

Isso significava que ela não estava muito interessada em seu passado? Ele se sentiu um pouco decepcionado.

“Isso não é verdade.”

As próximas palavras que ele ouviu mudaram seus sentimentos.

“É realmente incomum, mas na minha subjetividade pessoal, isso não é estranho.” Violet sussurrou com um tom que soou de alguma forma feliz, “Eu também não tenho nenhuma memória de antes de um certo ponto no tempo. Eu também não sabia falar. Major me deu o nome de uma deusa das flores. Benedict, com que significado foi dado o seu?

Está certo.

Parecia que Benedict tendo amnésia não era um grande problema para Violet.

Isso foi tudo.

A garota chamada Violet Evergarden também costumava ser nem mesmo uma pessoa, mas uma arma, durante o tempo em que ela não tinha nome. E ela falou disso sem pretensão alguma. Ela não pensou nisso como uma vergonha.

“É sobre Presidente Hodgins qual estamos falando, então ele deve ter dado algum significado. Nós dois podemos dizer que somos muito afortunados, certo? Se eu tivesse sido usado por alguém que não fosse major, não sei o que seria de mim a partir de agora.”

Ela pensou nisso como apenas um processo para até conhecer a pessoa que ela mais amava.

“Oh.”

Violet, que era inocente e de fato não tinha algo em algum lugar, sentia-se triste e preciosa.

“Então, qual é o significado do seu nome?”

“Eu esqueci!”

“Então, vamos perguntar ao presidente Hodgins quando voltarmos. Eu quero saber.”

“Não não não! Não pergunte! Bem, eu vou fazer as entregas, então você vai ao seu cliente também! Até mais!” Benedict subiu a moto mais uma vez e acenou para Violet.

“Entendido. Deixarei o nome para mais tarde também.”

“Você é teimosa.”

Assim, os dois se dirigiram para o trabalho, cada um em uma direção diferente.

As entregas de Benedict não demoraram muito. Uma casa recebeu um pacote com uma variedade de suprimentos de uma mãe que vivia em Leiden para seu filho que trabalhava em Lontano. Três edifícios receberam documentos trocados entre escritórios. Cinco residências receberam cartas. Em caso de ausências, ele teria um pouco de trabalho, ou levando a encomenda de volta com ele ou perguntando aos vizinhos da pessoa sobre onde tinham ido, mas ele terminou antes do que presumiu sem a necessidade de tais coisas.

Logo entrou na padaria do local de reunião, sentando-se onde podia ver a situação do lado de fora e tomando café. Parecia que o trabalho de escrita fantasma de Violet ainda levaria algum tempo.

Acho que vou pegar a lembrança primeiro, então.

Ele não foi capaz de imaginar Violet escolhendo um presente, então escolher um por si mesmo provavelmente era mais eficiente. Pensando assim, Benedict selecionou alguns itens que ele considerava salgados de sua própria experiência comendo-os. De acordo com um pedido ao funcionário, ele tinha a parte de Hodgins do pão embrulhado.

“Isso é tudo?”

Percebendo a simplicidade na cor das mercadorias que escolhera, Benedict inclinou o pescoço. “Hmn, alguma outra coisa que você recomendaria?”

“Que tal uma torta? Além disso, não são pães, mas eu recomendo nossos cookies também. Há pessoas que vêm aqui só para comprá-los.”

“Ah~...”

“Eles são populares entre as garotas. As fitas são fofas também.”

Uma mulher apareceu nos pensamentos de Benedict.

“Eu tenho alguém que gosta deles, mas ela está longe agora. Tudo certo. Apenas adicione essa torta.”

No final, ele tinha uma torta de maçã como adição. Ele então voltou ao seu lugar e calmamente saboreou o café.

Enquanto observava o pacote em que ele pedira para ser embrulhado, se perguntou se a pessoa que estava receberia ficaria satisfeita com isso. Ele logo conseguiu imaginar Hodgins sorrindo largamente e levando em suas mãos a lembrança oferecida por seu eu brusco. Ele podia imaginar o outro sendo um pouco surpreso e, em seguida, lentamente, quebrando em um sorriso depois de ser dito o que era. Mesmo o outro dizendo: “Obrigado, Benedict”, e ele mesmo virando para o lado enquanto respondia: “Não é nada”. Ele também teria ficado feliz em tirar dinheiro de sua carteira vazia para os biscoitos, se houvesse alguém para recebê-los, ainda assim...

Ela está muito longe agora, huh.

Aquela que veio à sua mente era uma garota de cabelos escuros e olhos roxos, Cattleya Baudelaire. Muito parecida com Benedict, ela tem sido uma colega desde o dia da fundação do Serviço Postal CH. Ela gostava de doces, era ruim em lidar com as dificuldades, era uma gata assustada, apesar de parecer ousada e destemida, e tinha um lado infantil em oposição à sua aparência.

Bem, acho que ela não ficaria muito feliz se os recebesse de mim.

Eles brigariam assim que se vissem. O suficiente para transformá-lo em uma ocorrência comum dentro do Serviço Postal CH. Era fácil dizer apenas olhando que eles não o faziam realmente porque detestam um ao outro, entretanto…

Eu me pergunto se ela me odeia.

… Eles não poderiam dizer isso tão facilmente. Embora estivessem na mesma agência, eles tinham ocupações diferentes e, portanto, sentiam muitas saudades um do outro. Deles era uma repetição em que o alvorecer se quebraria após eles lutarem, e eles esqueceriam que a briga tinha acontecido e começariam a brigar mais uma vez. Independentemente disso, eles acabariam conversando um com o outro à vista, incapazes de ignorar um ao outro, e então ele pensou em agradá-la com alguma coisa.

Eu não a odeio, no entanto.

Para Benedict, a sensação de distância entre ele e ela, que era digno de ser considerado uma nova espécie de ser humano, era algo complicado.

As coisas simplesmente não vão bem conosco. Eu não posso tratá-la como as outras mulheres.

Como ele nunca tinha experimentado um romance adequado, não tinha como saber o que isso significava.

Depois que ele refletiu sobre todos os tipos de coisas, um grande bocejo saiu de sua boca. Ele esticou os braços para o céu com um puxão e arqueou o corpo como um gato. E depois relaxou mais uma vez. Pensar em fazer uma pausa no trabalho tinha todos os seus sentimentos tensos e o corpo relaxado.

Estou ficando meio sonolento.

Como ele tinha que trabalhar desde o início da manhã e suas tarefas diárias se sobrepunham, a sensação de satisfação de ter o estômago cheio e o quarto gentilmente quente fazia com que suas pálpebras baixassem naturalmente. Seu corpo foi lentamente roubado pela sonolência e ele acabou incapaz de manter os olhos abertos. O cheiro do interior da loja era fragrante, as conversas das pessoas pareciam divertidas. Os elementos que compunham uma atmosfera que poderia ser entendida do coração afrouxaram a cautela de Benedict.

Mesmo assim... V está vindo...

Uma garota de cabelos dourados surgiu nos pensamentos de Benedict.

Bem, acho que logo vai me encontrar.

O café dentro da loja estava lotado. Ainda assim, ele acreditava que, como era ela, chegaria a esse lugar a toda velocidade.

Ela vai... procurar por mim.

Depois que ele ficou amnésico, não importava quem, não havia ninguém que o conhecesse.

Tudo bem se eu cochilar, certo?

Ninguém havia procurado por ele.

Tudo bem, certo?

No entanto, Violet Evergarden provavelmente iria. Pensando assim, Benedict fechou os olhos. Ele bocejou de repente e amplamente, adormecendo completamente como se estivesse morto. Consciência distante, sua linha de pensamento flutuou no ar. Ele esqueceu o que estava pensando no meio do caminho, convidado para o reino dos sonhos.

Chamá-los de “sonhos” pode ser uma forma defeituosa de expressão. No caso dele, eram reproduções de fragmentos de memória que ele acabara esquecendo. Uma vez liberado do mundo real, o passado viria correndo atrás dele e batia suavemente em suas costas.

Um filme que parecia um velho amigo voltando de longe tocou em sua mente. “Bem-vindo de volta, meu amigo que não se lembra mais de seu próprio nome”, dizia. O filme se repetia várias vezes dentro da cabeça de Benedict.

Sua reunião com seu amigo chamado passado começou com um céu noturno.

Era uma noite linda, em que uma lua cheia apareceu. Sua versão de memória se arrastou para fora de um lugar extremamente, mas extremamente escuro, e então ele ficou surpreso com a luz brilhante da dita lua por um instante e estremeceu.

Estava em uma praia, com areia sob seus pés. Pisando nela, seus sapatos estavam manchados de lama e sangue. A dor surda em todo o seu corpo era angustiante. Ele poderia ter se machucado seriamente. No entanto, suas pernas se moviam sem que ele pudesse se importar com a dor.

Sua mão estava segurando em alguma coisa. Algo suave e pequeno que tinha temperatura corporal.

Ele olhou para trás. Uma garotinha apareceu à vista. A garota tinha o cabelo loiro muito parecido com Benedict, mas de um tom ligeiramente diferente. Seu cabelo estava enrolado em uma fita de veludo preto.

Quando seus olhos se encontraram, ela assentiu como se dissesse: “Estou bem”. Depois de confirmar isso, Benedict correu mais rápido. Ele confiava na garota que o seguia.

Eventualmente, o olhar dele foi adiante. Um único barco flutuava na superfície do mar.

Dali podemos escapar com isso, pensou ele.

Ele não sabia do que estavam fugindo. No entanto, se era algo assustador o suficiente para amedrontá-lo, se era alguém terrivelmente forte ou uma situação de números grandes contra números pequenos, suas circunstâncias eram que eles tinham que fugir. Mas essa não era a questão.

Benedict se virou e disse: “Estamos fugindo disso”.

Como se tivesse sido apagado, ele não conseguiu ouvir o nome dela.

“ —, está vindo?”

Ele também não podia ouvir seu próprio nome.

“Está certo. Eu não vou te abandonar. Nós vamos acabar ——. Porque é o jeito do ——— de fazer as coisas. Sem essa droga, ————.”

A cor de seu cabelo, olhos e lábios, ele podia ver aquelas coisas lascadas.

“Mas… Mas mesmo que ————, mesmo que eu pare de te reconhecer como minha irmãzinha, mesmo que você pare de me reconhecer como seu irmãozão, tudo bem. Somos irmãos, afinal de contas.”

Mas ele não podia ver o rosto dela.

“Mesmo se esquecermos, tenho certeza que reconheceremos um ao outro.”

Ele não podia dizer como o rosto dela se parecia. Os tons de sua fita e orbes estavam fragmentados.

“Isso não é certo? Se estivermos juntos, mesmo que nos esqueçamos, podemos nos lembrar um do outro quantas vezes precisarmos. Se você encontrar um homem que você gosta ou algo assim, pode esquecer e me jogar fora. Mas até então...”

As sombras de seu cabelo, sua voz e entonação, ele só podia distinguir esses tipos de coisas.

“… Não solte essa mão, não importa o que. Se você fizer isso, nós realmente acabaremos esquecendo de tudo”, disse o Benedict do passado como se estivesse fazendo uma ameaça.

“Entendido.”

Os dois embarcaram no barco e começaram a remar em direção ao mar aberto.

Por fim, as coisas sempre terminavam em um ponto em que ele olhava para o barco do fundo do oceano. E assim, ele pensava que, aah, eles falharam.

Seu corpo convulsionou. O filme reproduzido dentro de sua cabeça não durou mais do que alguns minutos, mas Benedict acordou acompanhado por uma sensação de fadiga, quase como se tivesse feito uma longa viagem.

Olhos entreabertos, ele olhou ao redor. Violet não estava em lugar nenhum. Ele verificou o relógio da loja. Nem mesmo dez minutos haviam se passado desde que ele começara a tomar seu café.

Aproximando-se calmamente, tomou o único café ligeiramente frio em sua boca. Bebendo um gole, ele se tornou incapaz de se contentar com um pouco e engoliu em goles como se fosse água.

“Mais uma vez”, ele pediu outro, levantando a mão para um dos garçons. Ele queria a amargura da realidade, o suficiente para ele não ser mais convidado pela sonolência.

Você já viu isso tantas vezes, mas ainda tem medo?

Embora ele tivesse pensado até um momento antes que ela não precisasse vir, ele agora desejava ver muito essa garota.

Está bem.

Nem mesmo ele sabia exatamente o que estava bem, mas disse a si mesmo.

Está bem.

Ele precisava daquelas palavras.

Estou… bem. Não estou?

Ele mesmo não deu uma resposta à pergunta feita.

Benedict acabou se desprezando. Ele não costumava ser tão agitado mesmo quando trabalhou como mercenário pela primeira vez.

Ele olhou em volta novamente. Ninguém era alvo de pavor. Nada estava acontecendo no momento. Não era como se ele estivesse correndo por um campo de batalha para ganhar dinheiro, nem como se tivesse sido abandonado em um deserto completamente nu. Ele poderia dizer, mesmo sem resolver a situação. Ele foi abençoado agora e nada era aterrorizante. As coisas eram finalmente pacíficas. Muito pacíficas.

No entanto, Benedict não sabia que, quanto mais pacíficos fossem os tempos, mais a dor das cicatrizes marcando-o acabaria voltando.

Desde que ele me acolheu, não fiquei fraco?

Estranhamente, seja mental ou física, as feridas não eram curáveis. Suas partes visíveis se curariam. No entanto, mesmo se curassem na superfície, apenas pela atmosfera e pelas pessoas e coisas ao redor, a verdade é que “uma ferida foi ganha” sempre retornaria. As cicatrizes figurativas perseguiriam as pessoas para sempre como a Lua flutuando no céu. E eles iriam doer.

Mesmo que o ferimento demorasse apenas um instante, a verdade de que alguém estava ferido era eterna.

Quando… vou lembrar de tudo?

A cicatriz de esquecer a única pessoa que ele absolutamente não deveria ter esquecido estava fazendo com que o coração de Benedict se mutilasse sem que ele percebesse. Se a repetição de suas memórias aconteceram milhares de vezes, então, por milhares de vezes, Benedict esteve se culpando.

Sem saber por que ficava tão confuso, ele reproduziu suas lembranças novamente. Elas eram uma repetição das anteriores. Como visto do lado de fora, as coisas eram óbvias para aqueles que sabiam de suas circunstâncias.

Um novo café foi trazido, mas ele não sentiu vontade de beber naquele lugar quente. Foi Benedict quem propôs o encontro, dizendo que se deveria esperar, mas ele decidiu o fazer em frente à padaria, montado em sua motocicleta. Respirando no meio do frio, ele se acalmou um pouco. O ar perfeitamente limpo e gelado dentro de seu corpo esfriava sua cabeça. Mesmo que seu corpo tremesse, era por causa da frieza.

De repente, Benedict olhou diretamente para o lado. Foi devido a ele sentir um olhar por algum motivo.

Uma garota loira de cabelos curtos estava parada ali. O seu era um tom não natural de loiro, então era mais provável que fosse uma peruca. Ela estava vestida com um vestido de cetim branco leitoso semelhante ao tom de sua pele, sob um casaco preto. Ela parecia o tipo de mulher que levava uma vida de ter seus louvores cantados por homens naquela cidade de artistas. Com um cigarro entre os dedos, ela soprou fumaça de tabaco de seus lábios vermelhos brilhantes. Estar em um bar cercado por homens ao redor e rir elegantemente seria adequado a ela. A frente de uma padaria não era apropriada para ela…

“V-Você,” a mulher chamou Benedict, com um aspecto que parecia dizer que ela tinha feito isso involuntariamente. Sua voz era rouca.

Benedict voltou seu olhar. A mulher deu-lhe uma sensação estranha de déjà vu. Se eles não tivessem se encontrado em algum lugar antes, seu sexto sentido sussurrou.

Subconscientemente, seus olhos foram para o cabelo dela. Se aquela sua irmã crescera, aquela mulher com tal aparência, era velha demais para ser ela? Ainda assim, as mulheres podiam mudar a ideia de sua idade com a aparência, com maquiagem e roupas. Benedict lembrava dos rostos das mulheres com quem ele passara tempo até agora. Não deveria ele descartar a possibilidade de que ela fosse sua irmã mais nova?

Talvez porque o brilho nos olhos de Benedict ficara aguçados, a mulher deu um passo para trás e depois jogou o cigarro fora, deixando o lugar. No começo, ela andava devagar, indo gradualmente em pequenos trotes.

“Ei”, quando ele percebeu isso, Benedict pulou de sua moto e estava chamando por ela. “Ei, espere.”

Ele perseguiu a mulher enquanto ela corria, agarrando seu braço a força. Não gostando, a mulher tentou se livrar dele, mas Benedict amarrou seus braços atrás das costas. Enquanto cheirava o perfume doce e doentio, parecia que ele estava prestes a sufocar.

“Me deixar ir!”

“Você me conhece, né?!”

“Eu não!”

“Você definitivamente conhece, não é mesmo?! Não, eu… eu…!”

Eu sinto que te conheço.

“Você, é você…”

Ele poderia estar saltando para conclusões. Ele estava bem com isso sendo um mal-entendido. No entanto, se esse não fosse o caso, ele certamente não queria perder essa informação por engano.

“Você é... minha... irmãzinha?”

Ao ser perguntada, a mulher cobriu a boca com as duas mãos.

 

♦♦♦

 

O caminho de volta foi extremamente tranquilo naquele dia.

Tendo terminado a escrita fantasma de seu cliente, Violet chamou Benedict, que estava exalando baforadas brancas do lado de fora. Levou alguns segundos para reagir e seu rosto parecia quase como se tivesse visto um fantasma. Notando que ele não tinha nada em mãos, apesar de ter dito que compraria uma lembrança a Hodgins e, ao voltarem para a padaria, o funcionário estava cuidando dela. Como Benedict não disse nada, Violet foi a única a agradecer-lhe.

Mesmo quando ela lhe disse: “Bem, então, vamos para casa”, enquanto montava no banco de trás, ele estava fora de si e não deu partida. E mesmo quando a motocicleta finalmente se moveu, ele parou de dirigir em menos de um minuto.

“V, meu mal. Estou me sentindo horrível agora. Eu posso causar um acidente e te machucar.”

Violet não perguntou se algo havia acontecido. Como ele certamente estava pálido, Violet trocou de lugar com “Então, eu vou dirigir”, adaptando-se às necessidades do momento. Ela aprendeu a montar cavalos e dirigir veículos em certa medida durante seus dias de soldado. Mesmo depois de algum tempo, ela confiava que poderia fazê-lo.

“Benedict. Você vai cair assim, então, por favor, segure mais forte.”

“Minha culpa…”

“Não, se você se sentir mal com o balanço, eu pararei. Por favor, diga se sentir algo.”

“Aah. Minha cabeça está doendo muito. Posso... fechar os olhos um pouco?”

“Está tudo bem.”

Depois de dizer isso, Violet olhou para o céu. Quando o crepúsculo se aproximava, o céu estava envolto em nuvens, mas não parecia que a chuva, a neve ou as anormalidades do tempo ocorreriam.

Era muito raro que Benedict se aquecesse na boa vontade das pessoas e pedisse desculpas. Já que estava se sentindo mal, era impressionante que ainda não tivesse perdido apenas seu julgamento de tê-la substituindo-o como motorista. No entanto, o fato de que Benedict, que normalmente tinha apenas uma grande atitude, permaneceu em silêncio durante toda a viagem, agarrou-se a uma garota mais jovem do que ele e sentou-se no banco traseiro como estado de emergência.

Claro, Violet Evergarden também entendeu que era uma emergência.

Um pouco cansado como poderia estar, sonolento como poderia estar, aquele homem nunca deixaria alguém dirigir sua amada moto. Era um veículo pessoal dado a ele por Claudia Hodgins quando estava iniciando seus negócios.

Violet limitou-se a falar com ele de maneira desapaixonada: “Benedict, você estava falando com alguém antes de eu chegar?”

“Sim.”

“Eu tenho bons ouvidos.”

“Sim, você é como um animal selvagem.”

‘Eu quero fugir daqui’. ‘Eu quero que você me consiga tempo’. ‘Eu quero que você me ajude’, coisas assim?

Em vez de ser uma faladora pobre, Violet não era tão proficiente em habilidades de conversação quanto a maioria das pessoas, e por isso ela não sabia o jeito certo de falar com ele naquele momento.

“Não tem nada a ver com você”, respondeu Benedict friamente em uma voz baixa que soou como se ele estivesse a repelindo.

Quando a conversa terminou ali, uma cortina de silêncio desceu sobre eles mais uma vez.

Violet estava mergulhada em pensamentos. Ela quase nunca colocou esforço em conversas. Se lhe dissessem que não falasse, ela não falaria. Quando perguntado, ela responderia. Ela iria perguntar o que era necessário. Era disso que conversas costumavam ser. Para ela, pelo menos.

No entanto, a adulta Violet agora entendia que as coisas não poderiam ser assim.

Ela falou com Benedict novamente: “Aquela senhorita te chamou de irmão, Benedict, mas você tem amnésia, certo? Essa pessoa é sua irmã mais nova? Bem... você realmente tem uma irmã mais nova?”

“Onde você ouviu isso?”

“Eu estava observando enquanto você segurava os braços daquela mulher. Aprendi com o Presidente Hodgins que ninguém deveria intervir nas relações entre homens e mulheres. Portanto, fiquei esperando no local e fiquei te vigiando, para mediar se fosse necessário.”

“O que o velho anda dizendo…? Falando nisso, esse tipo de coisa é chamada de ‘espionar’.”

“Aquela pessoa era sua irmã mais nova? Os momentos de quando vocês estavam a lado a lado não me pareceram como...”

A motocicleta passou por cima de uma pedra enquanto ela falava, e então a estrutura do veículo flutuou animadamente por um instante. Aterrissou e começou a correr mais uma vez.

“Ela não parecia ser sua irmã mais nova para mim. Isso é apenas minha suposição, mas acredito que ela é mais velha do que você. Para começar, você tem amnésia, por isso, mesmo que tenha uma irmã mais nova morando separada de você, não há necessidade de mais investigações, já que você não se lembra dela, não?” Violet era indiferente demais. Sem qualquer compaixão ou curiosidade sobre o que estava acontecendo com Benedict, ela declarou suas conclusões. Mesmo se deveria esfregar o nervosismo de Benedict do jeito errado.

“Cale-se! Você não sabe de nada! Pode ser ela!” Benedict bateu nas costas de Violet com os punhos. “Eu tenho uma irmãzinha! Eu tenho lembranças dela! Essa é a única coisa que eu definitivamente tenho, definitivamente, definitivamente, definitivamente, definitivamente, definitivamente, definitivamente, definitivamente, com certeza, com certeza, com certeza, com certeza, com certeza.”

“Por que? Você não tem memórias.”

“Eu tenho certeza!”

“Como?”

Quando perguntado assim, ele não teve escolha senão falar sentimentalmente.

“Porque eu sinto amor por ela!”

Violet engoliu em seco a palavra ‘amor’.

“Ficou em mim! Mesmo que eu não tenha minhas memórias, eu tenho isso!”

Foi constrangedor e tolo.

“É a única coisa que definitivamente, definitivamente não é mentira!”

Ele normalmente nunca falava de amor, mas desesperadamente recorria ao mesmo apenas por enquanto.

Nós ficamos de mãos dadas na escuridão. A única prova de que estávamos vivos era a temperatura do nosso corpo. Sempre que ela dizia que estava com medo, eu respondia: “Está tudo bem. Seu irmão vai fazer algo sobre isso”. Aquela que afirmou minha existência era minha irmãzinha. Eu consegui obter coragem do fato que eu poderia confiar. Isso sim, eu era um irmão mais velho. Ela não era boa sem mim, então eu tinha que continuar vivendo. Mas...

“Eu tinha uma irmã e realmente não entendo, mas estava protegendo-a! Eu estava pensando em protegê-la não importa o que, não importa o que…! Eu não sei porque estou vivendo sozinho assim...! N-não me lembro!”

Eu não lembro.

“Protegendo-a de que…?”

Alguém me quebrou? Eu tinha quebrado sozinho?

“Eu não sei! Poderia ser qualquer coisa... Não é isso que é importante para mim! Eu não me importo como costumava viver quando era um pirralho... Eu supostamente costumava ter uma irmã, e o fato de ela não estar aqui é um problema para mim! Sou amnésico e, quando acordei, minha irmã não estava ao meu lado; Eu me tornei um idiota que não sabia nada sobre mim ou minha irmã! Eu não tenho nada! Mas…!”

Eu não sei. Mas…

“Mas, eu definitivamente... tenho uma irmãzinha.”

Ainda assim, ela definitivamente existe. Se eu a encontrar algum dia, saberei que é ela com certeza. Mesmo se tiver esquecido, mesmo se não conseguir me lembrar dela, a reconheceria se a visse. Eu quero que seja do mesmo jeito para ela.

Com esse pensamento, o tempo todo ele vivera como se estivesse rezando.

“Essa mulher disse que me conhece… Eu também, também já a vi antes de alguma forma. Eu não sei se ela é minha irmã ou não. Mas mesmo que ela não seja… quando chegar a hora, não quero me arrepender!”

Depois de dizer isso, Benedict teve seu rosto golpeado contra as costas de Violet. Isso foi porque a motocicleta parou repentinamente e abruptamente. O nariz de Benedict, nem muito alto nem muito baixo, foi esmagado, e ele ficou angustiado por um breve momento.

Violet, a motorista e a causa da dor, virou-se para trás e estendeu a mão para Benedict. Seus rostos estavam próximos o suficiente para que seu cabelo dourado, queimando contra o céu vermelho mais furioso, roçasse a ponta de seu nariz. Violet segurou o ombro de Benedict como se dissesse: “Não fuja”.

“Benedict.”

Seus olhos azuis, perfuraram-no como uma lâmina.

“Por favor, escute. Eu lhe disse antes que eu também sou órfã, fui levada e criada, e não sei quem são meus pais, certo? Pela minha experiência, indivíduos que ‘tendem a presumir suas memórias’ entram em contato com vagabundos que tentam fazer coisas indesculpáveis. Aqueles que me convidaram para a escuridão alegando me conhecer e se propondo a discutir em detalhes não foram nem uma, nem duas pessoas...”

Violet Evergarden, tentando desesperadamente transmitir suas próprias palavras à outra parte, era tão incomum quanto Benedict confiando sua amada motocicleta a alguém.

“Durante meus dias como soldado, o Major sempre suportou todo o peso e me protegeu.”

Foi exatamente por isso que, com seu discurso rápido, Benedict não pôde selar seus lábios usando persuasão severa.

“Depois de crescer, quase fui assassinada por uma organização cultista que alegou que eu não era um ser humano, mas uma semideusa. Não conheço nada do meu passado, por isso, mesmo que me digam essas coisas, penso que elas podem ser verdadeiras. Benedict, você não é igual a mim nesse aspecto? Provavelmente existem muitas mulheres que te conhecem. As mulheres que você namorou, as pessoas com quem você passou a noite até agora... se lembra de cada uma delas? Você e o Presidente Hodgins são parecidos. No passado, o Presidente Hodgins foi ao hospital, onde fui hospitalizada após ter bebido por seus arrependimentos e desabafou. Você nunca fez algo assim? Mesmo se você deixar de fora a possibilidade de ser enganado por essa pessoa... se ainda estiver pensando em fazer alguma coisa...”

As palavras de Violet não foram gentis nem um pouco.

“Benedict.”

No entanto, dentro de suas próprias possibilidades, ela estava pensando, pensando e pensando.

“Benedict, você precisa se aquecer mais?”

Atualmente, ela estava tentando fazer o que pudesse ao máximo.

“Eu não sei se sou sua amiga ou não. Lux parece bem em ser minha amiga. Cattleya também me chamou de amiga. Benedict, eu não sei sobre você. Passamos muito tempo juntos, mas mesmo agora ainda não sei dizer com certeza qual definição devo dar aos outros. Para mim, as pessoas que me disseram que eu sou sua amiga são minhas amigas.”

O que havia entre os dois era o tempo que passavam juntos. Desde o momento em que se conheceram até agora, construíram uma relação de confiança.

“É por isso que, para mim, mesmo que você não seja meu amigo, caso haja alguma coisa incomodando você...”

Assim como o carinho esquecido entre Benedict e sua irmã, isso era algo precioso.

“Não, independentemente de qual seja a definição do nosso relacionamento, eu… eu… se há algo fazendo com que você fique assim… e se… é um inimigo que devo enfrentar…”

Mesmo se ele não tivesse um passado, Benedict tinha um presente.

“... então vou atacar com tudo o que tenho.”

Ele tinha uma aliada chamada Violet Evergarden.

Sob o céu escuro, a dupla ainda jovem se expôs e tomaram uma decisão.

 

♦♦♦

 

“Hoo, hoo, hoo”, o sussurro baixo dos pássaros encenou a noite como algo um pouco estranho.

As noites em Lontano eram como as das cidades sem noite, nas quais as luzes dos bares não se apagavam mesmo na calada da noite. O lugar que tão resplandecente precisava era de prédios que chamam a atenção, álcool de alta qualidade e mulheres bonitas. Até os homens irem dormir, as mulheres contratadas para entretê-los também não conseguiam dormir.

No momento, uma mulher solitária estava saindo de um bar que ainda estava com as luzes acesas, vestindo um sobretudo preto que poderia derreter na escuridão da noite. Ela era uma beleza loira cativante.

“Onde você está indo?”, Perguntou um homem que estava na entrada do bar com um olhar feroz.

A mulher mostrou-lhe uma caixa vazia de tabaco que pertencia a um cliente regular do bar. “Cigarros.”

As mulheres que trabalhavam em bares tinham que relatar tudo o que faziam. Seus corpos mesmos eram a mercadoria. Ao contrário dos bens normais, os corpos podiam andar por vontade própria.

Se eles desaparecessem em algum lugar, não haveria negócios.

“A loja ainda está aberta. Me pediram para comprar mais. Se você não se apressar e me deixar ir, vai ser repreendido por me impedir.”

Ela pretendia falar com indiferença, mas seu corpo tremeu sob o sobretudo. O homem olhou seu corpo da cabeça aos pés.

“É noite. Não é como no meio do dia. Eu irei. Não posso deixar você ir sozinha.”

“Eu quero fumar lá fora um pouco.”

“Você não pode estar planejando fugir de novo, certo? Você quase foi morta antes, não foi? Se não aprendeu da maneira mais difícil depois disso, você é uma idiota. Até você pagar suas dívidas, você é o mesmo que gado.”

Os lábios da mulher tremiam ao ser chamada de ‘gado’. “Não é minha dívida.”

“É o seu homem, certo? Ele é o pior tipo de bastardo que vende mulheres de um continente em que ele nunca andou.”

“Eu não me importo mais com ele.”

“Mesmo que ele não venha mais vê-la, você trouxe isso para si mesma. Não tem escolha, a não ser compensar isso. Não pense em coisas estúpidas... Bater em mulheres também não é coisa nossa.”

A mulher empurrou a caixa de tabaco vazia para ele como se a entregasse. “Eu realmente pedi para pegar os cigarros. Se acha que é mentira, pergunte sobre isso lá dentro. Se você acredita em mim, pode vir junto. Então eu posso respirar o ar do lado de fora um pouco, e não precisa se preocupar com a minha fuga. Estamos resolvidos com isso, certo?”

 O homem estalou a língua com o diálogo provocativo, mas parecia ter concordado. Ele pediu a outro funcionário para assumir o cargo e fez um acordo.

“Se você demorar muito...”

A mulher esperou rigidamente enquanto os homens conversavam. Por fim, os dois começaram a descer a estrada de pedra iluminada pelas luzes da rua.

A mulher observou o homem. Ela estava lá para ser vendida pela pessoa por quem ela costumava ser apaixonada, mas suspeitava que o homem também estava sendo obrigado a trabalhar naquela loja por algum motivo. Ela pode estar errada.

Mesmo que fosse esse o caso, em sua condição atual, ela não tinha a compaixão dos outros. Se ela quisesse se libertar de seu estado atual, que, como o homem disse, havia se desdobrado de algo que ela mesma havia feita…

“Está frio... não está sentindo?”

… Ela teve que agir por conta própria. Mesmo que contasse com a ajuda de um salvador, já que havia planejado tudo sozinha, era seu próprio poder.

As luzes da tabacaria ficaram visíveis. Apenas um pouco mais e eles iriam alcançá-lo.

Por favor, por favor, ajude-me, Deus.

“Você pode fumar um cigarro, mas vamos voltar assim que terminar.”

Ajuda-me, ajuda-me, ajuda-me!

A razão pela qual a mulher fechou os olhos firmemente foi entregar seu desejo ao Deus que residia em algum lugar lá fora, mas mesmo que ela não estivesse fazendo isso, certamente teria fechado os olhos de qualquer maneira.

Isso foi porque alguém abruptamente veio correndo de um beco e sussurrou: “Ei, o ponto de encontro era aqui, certo?”

Como aquele que havia falado era de estatura muito menor do que a do homem, o chute investido nele esmagou suas regiões inferiores, e então ele imediatamente colocou a mão sobre a boca. Ao reconhecer o rosto da pessoa aplicando força para que o homem não soltasse um único grito, a mulher disse: “P-Por favor! Pare! Ele não é uma pessoa má!”

Até um tempo antes, ela não se importava com ele, mas ao ver algo terrível acontecer com o mesmo, um sentimento saiu de dentro dela. Ouvindo o pedido, a pessoa que aparecera tão repentinamente segurou sua mão e desapareceu no beco do qual ele havia vindo.

Os cabelos dourados do homem correndo à sua frente brilhavam intensamente mesmo à noite, dentro de um beco que não tinha iluminação. Ao contrário de sua peruca, era um louro-claro natural.

“Irmão...”, a mulher chamou o homem indo em frente com um tom misto de êxtase.

No entanto, o que ela recebeu em troca foi como um tiro: “Pare com isso; é nojento.” Enquanto corria, Benedict Blue estalou sua língua. Quando a mulher demorou a correr, ele a puxou para frente com força.

Um sapato saiu do pé da mulher. Era um salto alto. Ela usava porque fazia a suas pernas deixar os homens enfeitiçados e satisfeitos. Não era adequado para correr.

“Meu sapato saiu!”

“Tire o outro!”

Ouvindo o grito, a mulher fez o que foi dito e tirou o outro par enquanto chorava. Eram sapatos que brilhavam prateados dos quais ela gostava. No entanto, no momento, ela não precisava de beleza. Ela voltou correndo com todas as suas forças.

“E-ei. Por que... você está sendo tão frio? Você vai me ajudar, certo? Eu sou sua irmã, afinal de contas.”

Na pergunta feita com moderação, Benedict respondeu com uma voz desapontada: “Ah, sobre isso: foi um mal-entendido”.

Depois de tirar o sapato, ela correu rápido. A mulher aumentou sua velocidade, ficando lado a lado com o que puxava seu braço. “Eh?” Sua voz reverteu para a original em vez do curso extremo dos acontecimentos.

“Achei que tinha visto você antes… mas minha colega me disse para rastrear as poucas lembranças que tenho da minha vida e, quando tentei fazer isso, você estava lá. Eu te conheci. Mas você não é minha irmã.”

Silêncio.

“Foi você quem roubou tudo o que eu tinha e me jogou no nada, não é?”

Ainda silêncio.

“Lembro-me até o ponto em que dormi com uma bela mulher. Não me lembro do rosto dela. Mas, esse… cabelo loiro que parece falso... emaranhado em meus dedos quando eu acariciava; essa é a única coisa que ficou na minha memória. Eu estava bêbado, não estava? Eu ganhei a maior quantia de dinheiro de recompensa até então, daí acho que fiquei arrogante.”

A mulher tentou parar no local. No entanto, Benedict puxou-a com força.

“Não pare! Corra!”

“Eu não quero! Você está me dizendo que você vai me fazer o mesmo comigo? Eu não serei mais ninguém! Eu odeio homens! Eu não quero mais viver sendo usado por alguém! Eu quero voltar para o meu país!”

Lágrimas brotaram dos olhos da mulher, mas Benedict não era o tipo de homem que vacilava nesse tipo de situação. Ele agarrou o vestido da mulher pela gola e, depois de jogar a cabeça para trás, ele seguiu o impulso e deu uma cabeçada nela.

Os dois se contorceram em dor.

“É por isso que eu disse que vou aceitar você de volta! Quem precisa de alguém como você, idiota?” Não é como se eu tivesse te perdoado! Se eu não tivesse sido salvo por um cara muito bom depois daquilo, já teria te matado a muito tempo”

“Se você descobriu a minha mentira, então por que…? Eu fingi ser sua irmã e pedi para você me sequestrar, sabia?!”

“Eu acabei de falar para você, não foi? Graças a você ter me abandonando em um deserto, eu sou a pessoa mais abençoada que poderia existir! Se eu não tivesse conhecido aquele cara lá atrás, nem teria um nome e estaria dormindo com mulheres em algum lugar e acordando completamente quebrado! Tudo porque acabei tendo um destino bom o suficiente para rebobinar minha vida até aquele ponto de uma deusa de merda como você! Acontece que você quase me enganou, mas tive vontade de te salvar! Entendeu?! Eu te odeio, então mantenha isso em mente! Assim que eu te ajudar, tome cuidado com as estradas à noite!”

Depois de soltar todo seu diálogo ofensivo com outro “idiota”, Benedict fez a mulher correr. A mulher não podia acreditar. Até agora, ela havia contado a inúmeros homens que haviam entrado em seu corpo sobre sua história pessoal e tentou obter sua ajuda. No entanto, ela não tinha ninguém.

“Você tem um olhar terrível em seus olhos, huh. O meu também é muito terrível.”

Ela não tinha ninguém.

“Eu tenho amnésia. Eu costumava ter uma irmãzinha… mas não me lembro dela.”

Ela não tinha ninguém.

“Ei, seu cabelo me lembra da minha irmã; posso acariciá-lo?”

Ela não tinha ninguém.

“Eu vou aumentar o seu salário se você ficar até de manhã, então esteja aqui. Já faz um tempo desde a última vez que estive com alguém.”

Ela não tinha ninguém e, assim, pensara que seria certo enganar alguém.

Suas lágrimas derramavam incessantemente. Elas desciam como se para bloquear sua boca e nariz. Era difícil respirar. Mesmo assim, ela tinha que dizer isso.

“Sinto muito!”, enquanto soluçava, a mulher pediu desculpas a Benedict.

“Aah?!”

“Sinto muito por mentir para você! Sinto muito por essas duas vezes!”

“Cale-se! Eu te disse que não te perdoaria, e não vou! Essas duas vezes! Não vou perdoar pelo resto da minha vida!”

“Mas... Mas sinto muito! Desculpe por fingir ser sua irmã!”

No meio da passagem pelo beco, eles ouviram tiros atrás por algum motivo. Aqueles que a vigiavam como uma mercadoria provavelmente vieram atrás dos dois. Benedict deu uma olhada para trás, mas continuou correndo sem se importar.

“Eles vieram atrás de nós!”

Benedict já estava respondendo aos gritos da mulher com um “Cale a boca!” Tão facilmente quanto respirar.

As balas passaram por ao lado de seus pés. No entanto, os tiros que eram intensos no início diminuíram gradualmente conforme os dois correram pelo beco. Benedict atirou por trás do ombro como uma ação evasiva, mas não tentou atingir.

Assim que chegaram ao fim do beco, Benedict abriu a tampa entreaberta de que estava no caminho. “Agora, caia!” Ele jogou a mulher para dentro. Ele a ouviu gritar, mas, já que havia subido, percebeu que não era uma descida muito grande. Antes de descer também, ele olhou para uma determinada direção. “V…”

Além de seu olhar estava sua companheira, que prometeu parar os inimigos com toda a força que ela pudesse.

 

♦♦♦

 

Ela estava no topo de uma árvore longe da posição atual de Benedict e da mulher. Violet Evergarden, que estava atacando o grupo que os perseguia, tinha como objetivo confirmar que os tiros estavam vindo do grupo. Ela mirou a arma de fogo nas mãos e puxou o gatilho. A trajetória perfeita de suas balas passou por Benedict e pela mulher, dificultando as pessoas que obstruíam seu caminho.

Percebendo que sua própria arma havia sido acertada por alguém, o homem que havia disparado o primeiro tiro levantou a voz, espantado: “Você está brincando comigo, certo?!”

Enquanto ele estava em choque, o atirador invisível continuou atacando. Um deles tentou mirar e atirar nas costas da mulher, que estava ficando para trás enquanto corria, mas também teve a sua arma destruída antes de disparar e, embora ele fosse atacado, era facilmente capaz de se defender contra ela.

“Não atire sem pensar! Estamos sob a mira de alguém!” outro gritou, mas em uma noite tão escura em um beco como esse, o pânico de alguém acertar apenas suas armas com tanta precisão fez com que os homens perdessem sua natureza..

“Fique LOONGE!”

Uma lenda dos campos de batalha, desconhecida para aqueles que viviam nas cidades através da transformação das mulheres em comida, os deixava loucos. Eles enfrentaram cegamente o céu e dispararam aleatoriamente. Balas vieram voando para a direção de Violet também, mas não tocaram o corpo dela.

Armas tinham algo chamado “distância de alcance efetivo”. As armas usadas pelos homens não eram adequadas para tiros de longo alcance. As coisas também dependiam das habilidades da pessoa que as utilizava, por isso as diferenças de distância ocorreram mesmo com esse tipo de arma.

Com um rifle de longo alcance adotado pelos militares, Violet estava mirando de uma árvore que os homens absolutamente não podiam ver. “Alvo encontrado... fogo.”

Os sons de tiro ecoaram.

De longe, ela podia ver a arma de alguém caindo de sua mão. “Alvo acertado.” Ela moveu silenciosamente e depressa, como se estivesse realizando um trabalho simples. “Fogo, alvo acertado.”

Ficaria tudo bem se o rosto dela estivesse distorcido de dor pelo impacto do tiro.

“Fogo.”

No entanto, a expressão facial de Violet não tinha emoção.

“Fogo.”

Eventualmente, quando tudo ficou quieto, enquanto exalava uma respiração profunda, Violet deixou de atirar e desceu até a raiz da árvore. Parece que o rifle de longo alcance que comprara recentemente com seu próprio salário havia feito um trabalho satisfatório para ela.

Como conseguiu o acertar o alvo, ela imediatamente deixou o local.

 

♦♦♦

 

A batalha de tiroteios que ocorreu na cidade de Lontano durante a noite se transformou em uma ocorrência muito maior do que Benedict e os outros imaginaram, e a situação chegou ao ponto de a polícia militar ser chamada. Acontece que outras pessoas além da mulher por trás do escândalo haviam se misturado à confusão do tumulto e fugiram da cidade pelas sombras, mas essas eram histórias desconhecidas para Benedict e Violet.

Algumas horas se passaram desde o incômodo de fuga.

“Ai!”

“Cale-se! Apresse-se e os coloque!” Em um mundo onde corria a luz da aurora, Benedict jogou os sapatos que estivera usando no rosto da mulher.

Enquanto murmurava reclamações sobre ele arremessando os sapatos para ela, a mulher os amarrou. Ela tinha corrido a noite inteira de seus caçadores com Benedict, então seus pés estavam feridos e molhados de sangue. A dor era severa, mas a alegria de conseguir escapar permitia que ela sentisse que não importava. Além disso, enquanto vestia os sapatos de Benedict, embora fossem muito grandes, ficou mais fácil para ela andar em comparação a quando estava descalça.

Benedict foi descalço no lugar. Ele estava com feridas em todo o corpo. Suas roupas estavam rasgadas em todos os lugares também.

“Ei, por que?”

“Cale a boca... não pergunte tantas vezes.”

“Mas, é só… eu continuo me perguntando por quê. Até agora, ninguém me ajudou, então é muito estranho para mim.”

Com essas palavras, o rosto de Claudia Hodgins cruzou a mente de Benedict. Seu bem-humorado empregador e salva-vidas. Ele também havia presenteado Benedict com roupas e sapatos quando este estava nu.

Eu também continuo me perguntando por que, eu acho.

Pessoas que nunca foram tratadas gentilmente pensariam em amor incondicional como o começo de algo aterrorizante. Eles acreditavam firmemente que tudo o que os outros lhes trariam seria repreensão ou abuso.

“Eu te disse, certo? É porque fui salvo por um cara legal. É por isso. Por um pequeno sorriso que veio dele.”

“Benedict.”

Seu nome foi chamado, Benedict se virou.

Com folhas na cabeça, a cúmplice do dia, Violet Evergarden, estava oferecendo passagens para o primeiro trem da manhã, que agora partiria. “Além disso, leve isso também.” Juntamente com o bilhete, ela deixou nas mãos da mulher um saco de pão recém assado presumivelmente comprado em uma loja próxima.

A mulher olhou o pão e Violet alternadamente, com lágrimas nos olhos. “Obrigada.”

“Sem problemas. Tenha cuidado no seu caminho...”

“Você não tinha nada a ver com isso... realmente, obrigada.”

“Não. Tem a ver comigo. Eu era a sua cúmplice, afinal de contas.”

Ouvindo isso, Benedict riu alto. Quando ela falava sobre ser sua cúmplice, a conotação era simplesmente de emprestar uma mão, e ele não tinha pensado que ela iria realmente colocá-lo em prática.

Como Violet e Benedict eram os únicos que sabiam o significado disso, a mulher inclinou o pescoço. “Benedict... você também.”

“Use ‘senhor’.

“Sr. Benedict, você também, muito obrigada…!”

“Mais uma vez, tenha cuidado nas estradas à noite,” respondeu Benedict com uma ameaça incorporada a ele.

O horário de partida ainda não havia chegado. A dupla, tendo decidido deixá-la lá e ir, terminou suas despedidas com um “Até mais” e começou a se afastar.

“H-Hum! Sr. Benedict.” Talvez ainda tendo algo a dizer, assim Benedict se virou, a mulher estava sorrindo, seus cabelos loiros tremulando ao vento da manhã. “Sabe, eu tinha um irmão mais velho... eu não o vejo há anos, então não consigo me lembrar dele, mas quando eu era criança, eu costumava chamá-lo de ‘Irmãozão’... eu realmente pensei nisso quando eu te chamei assim.”

“E daí?”

“Se eu fosse sua irmãzinha, definitivamente procuraria o mundo inteiro por um irmão mais velho como você!”

“Você não é ela, no entanto.”

“Eu não sou! Mas um dia, com certeza...! Um dia, você vai encontrá-la,” a mulher sorriu levemente.

Naquele momento, os olhos azuis de Benedict se abriram. Uma sensação indescritível e estranha correu por todo o corpo dele. Se as chamadas memórias fossem fornecidas às pessoas, atravessando não apenas suas almas, mas também as particularidades de seus corpos, e se elas pudessem ser lembradas através de um pequeno gatilho, caso algo fosse esquecido, poderia ser como esse tipo de sentimento, como um formigamento de um choque elétrico.

A mulher acenou, ainda sorrindo. Ele não disse a ela para calar a boca.

“Idi~ota.” Sua voz tremeu. Virando-se de costas, Benedict começou a andar.

Violet o seguiu.

Ah, eu...

Sua visão era instável.

Por que? Por que eu achei que ela fosse minha irmãzinha?

Ele agora podia dizer claramente. Ela não era igual a sua irmã. Em primeiro lugar, embora ambas fossem loiras, as sombras de seus cabelos eram completamente diferentes e, embora sua irmã também fosse bonita, ela e aquela mulher tinham características diferentes.

“Benedict?”

Sim, sua irmã não era uma beleza tão luxuriosa, mas em vez disso tinha uma aparência mais instável. Ela tinha um tom de voz mais suave e o comportamento, e não era o tipo de pessoa que se referia aos outros como ‘você’.

“Benedict, por favor, espere.”

Para começar, ela raramente o chamava de ‘Irmãozão’ e principalmente o chamava pelo seu nome. Não se lembrava desse nome, mas lembrava-se dela chamando-o.

“Benedict, você vai tropeçar se você andar assim.”

Aah, de todas as coisas… de todas as coisas…

“Benedict, por que você está chorando?”

Ele só tinha se lembrado de sua irmãzinha por causa do sorriso da mulher que o derrubou no inferno.

 

♦♦♦

 

“Bem-vindo de volta, meu amigo que não se lembra mais de seu próprio nome.”

Ela era uma chorona e uma gata assustada. Ela sempre se escondia pelas minhas costas e me seguia. Eu gostei quando ela veio correndo na minha direção depois de me ver. É por isso que eu a faria procurar por mim de propósito às vezes. Os tempos em que estávamos juntos eram felizes e o descanso era o inferno.

Eu tive uma irmãzinha. Ela estava lá o tempo todo. Isso é certeza.

Na minha memória mais antiga, ela estava ao meu lado. Estava muito frio quando acordamos. Nós estávamos em um lugar que era como uma torre de pedra. Ela era a mais próxima de mim e estava tremendo também. Os adultos não tinham nos dado cobertores, então a chamei e nós dois nos abraçamos. Quando eu perguntei: “Quem é você?”, Seu rosto parecia que estava prestes a chorar e ela disse: “Não me esqueça”.

Foi-me dito depois que ela era minha irmãzinha, então eu pensei: “Isso mesmo”. Ela disse que eu estava em uma condição muito ruim. Que quase morri por causa de um ferimento na cabeça que, aparentemente, eu mesmo causei. Que eu fui rápido em querer morrer quando meu ego explodiu. Eu seria eliminado se enlouquecesse apenas mais uma vez. É por isso que ela chorou para mim, me implorando para ficar são.

Minha irmã se lembrava muito mais do que eu. Nós realmente não moramos naquele lugar e nós tínhamos uma família. Mas as pessoas esqueciam as coisas pouco a pouco naquele lugar. Quando perguntei se ela tinha certeza de que eu era seu irmão mais velho, ela respondeu que sim. “Você está esquecendo as coisas também, certo? Como você sabe?” Eu perguntei. Quando a pressionei com um, “Isso mesmo, como você pode saber?”, Ela chorou ainda mais, “Eu tenho o sentimento de amor deixado em mim, então somos família”. Ela tinha uma personalidade estranha, mas depois daquelas palavras, achei que tinha que proteger minha irmã.

Os adultos chamam a torre de ‘casa’. Em ‘casa’, crianças pequenas eram recrutadas para fazer trabalhos de adultos. Havia todos os tipos de empregos. Como entregar coisas ou recuperá-las. Trabalhos em que alguém morreria quando eu realizasse aquele tipo de trabalho. Aqueles que eram bons no trabalho também recebiam pedidos mais diretos. Parece que fiquei louco quando eles se amontoaram. Se você falhasse em seus deveres, seu irmão mais novo, irmã mais nova, irmão mais velho ou irmã mais velha, o menor número de cada um de nossos familiares, seria morto. As pessoas que nos conheciam e nos amavam eram reféns. Bem, isso deixa as pessoas loucas.

‘Casa’ era como uma pequena unidade militar. Nós sempre fomos a lugares diferentes. Pelo que os adultos diriam, ‘casa’ era um meio de abrigo temporário para os funcionários. Eles estavam preparando recursos humanos capazes de suportar qualquer tipo de missão de batalha do zero. Pensando sobre isso agora, eles me davam remédios e incenso sem parar todos os dias por algum motivo.

Minha irmã, eu e os outros, que estavam esquecendo muitas coisas, aparentemente éramos alunos de recursos humanos. Pelo que minha irmã me contou, naquela confusão de crianças, eu era o mais apto para esse trabalho. Parece que fui eu que tomei a maior quantidade de remédio, então meu esquecimento foi muito o pior.

Os seres humanos poderiam ser criados do zero depois de esquecerem tudo? Além disso, eles poderiam ser elevados e serem os humanos mais fortes? As respostas eram ‘sim’ e ‘não’ - você poderia dizer as duas coisas.

Os adultos diriam que nos contratariam assim que crescêssemos. Que, no momento, éramos gado.

Parecia que os adultos nos monitorando tinham vivido como nós no passado. “Não existem apenas idiotas aqui?” pensei. Eles não aprenderam nada, mesmo depois daquelas coisas horríveis que foram feitas a eles.

Eu decidi que, se tivéssemos que nos tornar adultos naquele inferno, é melhor fugirmos. Minha irmã estava chorando. Se tentássemos escapar, os adultos viriam nos matar com certeza.

O sentimento de querer morrer sempre esteve em mim. Se eu fosse morrer de qualquer jeito, queria morrer pela minha irmã. Eu queria matá-los.

Ela era a única coisa bonita naquele mundo patético. Eu não sei se ela era realmente minha irmã. Mas mesmo que acabássemos tendo a mesma cor de cabelo e olhos, ela era tudo que eu tinha. Ela era a garota que eu mais queria proteger no mundo. Mesmo que ela fosse tudo que eu tinha...

“Seu irmãozão irá protegê-la, ok?”

Mesmo que ela fosse tudo que eu tinha... Eu certamente não deixaria minha irmã livre.

Lágrimas escorriam dos olhos de Benedict.

“Merda…”

A vida… é uma merda.

Em sua lembrança de levá-la pela mão em meio à noite, fugindo e, finalmente, observando o barco no mar, se a irmã dele estava naquele barco, como ela teria sobrevivido? Ela tinha ficado a deriva e sido pega por alguma alma bondosa? Será que sua irmã sobreviveu e depois esqueceu sobre eles? Ela estava vivendo bem em algum lugar sob o mesmo céu, mesmo quando eles eram incapazes de ver um ao outro?

Isso foi apenas um sonho.

O mundo parecia cheio de histórias felizes, mas na verdade eram muito poucas. Histórias e vida real eram...

Eu não precisava de uma vida assim.

No mínimo, a vida de Benedict provou do mar. Era salgado demais e intragável. Foi o mesmo agora. As gotas de lágrima que escorriam por suas bochechas, passavam por seus lábios e pingavam de seu queixo e tinham o sabor salgado do oceano. O passado de Benedict estava o perseguindo e estrangulando seu pescoço, para matá-lo de tristeza. Ele queria gritar e chorar, perguntando: “Por quê?”.

Agora mesmo. Deus, por que você está fazendo isso? Acabe com isso agora mesmo. Deus, não há salvação para mim. Por favor, me ajude. Acabe com isso agora mesmo. Deus, eu não posso respirar por causa da dor no meu peito, por causa dessa tristeza. Depressa, o mais rápido possível, agora, traga...

“Não fique louco, não morra,” ela pediu a ele.

…Um fim para essa vida…!

Ele foi amaldiçoado por isso.

“Foi divertido?” Se ele fosse perguntado assim, poderia responder que foi muito divertido.

Sim, tudo foi divertido.

Em sua nova vida, depois de conhecer aquele homem, a umidade e a temperatura do continente em que ele foi trazido ao ser pego eram diferentes, e tudo estava fresco. A motocicleta que ele recebeu no lugar de segurar uma arma ou espada mostrou a ele muitos mundos.

Ele simplesmente entregou as coisas. Ele pensara que era apenas isso, mas na primeira vez percebeu que ser um carteiro era difícil. Todos os dias, ele estava em medo de ser repreendido pelos clientes ou receber gratidão excessiva. Era estranho para alguém como ele, que nunca recebera uma carta, entregá-las.

Era simplesmente entregar. Se alguém fosse capaz de andar ou dirigir uma moto, seja mulher, homem, criança ou um ancião, qualquer um poderia fazer isso. Não precisava ser ele. Não foi um trabalho que só ele poderia fazer. No entanto, ele achava que essas simples entregas não eram ruins. Ele considerou isso divertido. Entregas em que ele era capaz de agradar os outros eram agradáveis.

No mundo em que ele começou a andar como se tivesse nascido de repente, desde que conhecera aquele homem, sim, parecia tolo, mas o mundo ganhou cores como se tivesse encontrado sua mulher predestinada.

Foi divertido, foi divertido, foi divertido, foi divertido, foi divertido. Eu não deveria ter me divertido e, no entanto, me diverti muito. O que você tem feito? Por que você estava gostando? Você não estava em posição para isso. Você é uma pessoa que deveria ter morrido sem saber o que era ‘divertido’. Acabar, acabar, acabar, acabar. Tudo deve chegar ao fim. Vamos terminar esta versão de mim agora. Não é melhor para todos? Não haveria mal para ninguém se houvesse menos uma pessoa como eu, sem família ou amante, no mundo. Eu me diverti bastante. Quanto às pessoas que ficarão tristes por mim, basta que eu as conte com uma mão. Eu vou me apagar e tornar esse mundo sujo limpo no final. Você não deveria estar se divertindo. O que você precisa fazer é apenas uma coisa: enfrente sua irmã, que está sorrindo dentro de sua cabeça.

Foi por isso que Benedict procurou impulsivamente sua arma com uma das mãos.

Certamente, as pessoas morreram assim. A tristeza iria selar suas gargantas e eles morreriam incapazes de respirar. Elas morreriam por ter mais momentos tristes do que momentos felizes.

Ele sentiu que não seria capaz de viver, mesmo que por outro segundo. Ele não desejava morrer. Em vez disso, ele estava tomando uma decisão para si mesmo que ele tinha que morrer.

No entanto, de modo algum tudo ocorreu bem o tempo todo. A vida não era algo que precisasse se preparar de antemão.

“Ugh... uuugh...”

Como resultado das escolhas feitas, houve inúmeras mudanças. Houve momentos em que apenas coisas graves aconteceriam. Uma série de coisas, como lamentar nascer.

As dificuldades eram como a chuva gelada que Deus derramaria sobre qualquer um. Seria ótimo que houvesse um lugar para se refugiar ou um guarda-chuva, mas houve momentos em que não se podia encontrá-los. A chuva prolongada faria o corpo esfriar e as raízes de seus dentes tremeriam. Para as pessoas, era algo difícil de suportar. Quando se tornasse impossível resistir, às pessoas...

“Pare.”

… desejariam a morte.

“Pa… r…”

O propósito das criaturas vivas era algo que elas decidiam sobre si mesmas.

“Pare.”

Ainda sim…

“Pare.”

… O mesmo aconteceu quando ele estava naquele deserto.

“Parar com isso, porque…?”

Um certo número de pessoas, amadas pela Deusa da Fortuna, foi capaz de filtrar de tal instância. Se alguém o cutucasse completamente, descobriria que era apenas o resultado de algo que estava se acumulando.

O trabalho da Deusa aconteceu de uma maneira vívida. Se alguém perguntasse o que exatamente era isso...

“V...”

… Seria alguém aparecendo para segurar a mão de quem quer que seja quando tentassem morrer.

No penhasco de sua vida, aquela que agiu como seu fogo de apoio apareceu.

O que a Deusa trouxe era diferente para cada pessoa. Para Benedict Blue, era...

“Benedict.”

… era Violet Evergarden.

 

 

Por que você está segurando minha mão?

Apesar de não ter conseguido dar um único passo, acabou andando.

“Isso não é bom.”

Ele não podia segurar a arma enquanto ela segurava a mão dele.

“Se você está chorando, não pode ver o que vem pela frente.”

Embora ele quisesse disparar uma bala em sua cabeça, ele não podia.

“Eu vou puxar você pela mão, ok?”

Ao ser informado por aquela garota, que se parecia com sua irmã, para voltar para casa...

“Vamos para casa.”

… Ele acabou pensando que, aah, ele tinha que viver.

“V...”

A razão pela qual ele não foi capaz de deixá-la sozinha de uma maneira ou de outra desde a primeira vez que a viu, foi que suas aparências eram semelhantes. Ambas tinham cabelos dourados e olhos azuis, e estavam um pouco solitárias. Sentia como se sempre tivesse feito dela algo como uma substituta para sua irmã.

“V... eu...”

Ele foi incapaz de tirar os olhos dela, e até se referiu a ela por um apelido.

“Eu… provavelmente… matei… minha irmãzinha… eu me lembrei…”

Embora ele tivesse esquecido sua irmã, uma parte dele acabou pensando que, se ela estivesse viva, teria acabado assim. Suas lágrimas se tornaram incontroláveis em sua própria idiotice. Ele se perguntaria: “Por que meu eu passado falhou, se ela era tão importante pra mim?”

“Nós naufragamos no caminho, e eu me separei dela... U-Uugh... É... é como se eu tivesse a matado...”

Violet apertou ainda mais a mão dele. “Você não sabe disso ainda, certo?” Ao invés de uma irmã mais nova, ela era como uma mais velha. “Assim como essa pessoa disse, você pode encontrá-la novamente um dia”, ela sussurrou como se para adverti-lo, como se para acalmá-lo.

“Impossível... Impossível... eu definitivamente era o único... o único que sobreviveu... eu... eu estava...” Ele derramou muitas lágrimas, as palavras cortadas pelo seu choro. Foi sufocante. Ele queria que a sufocação terminasse.

“Benedict, nada é definitivo. Meu major estava vivo também. Quem pode definitivamente dizer que sua irmã está morta?”

A mão com a qual ela juntara os dedos latejava. No entanto, se não fosse por essa dor, sentia-se como se logo fosse soltar e se matar.

“Mas... mas você sabe...”

“Nós fizemos muita coisa hoje. Podemos lidar com isso a partir de agora também. Não acha?”

“Eu estaria... eu estaria melhor morto...! Eu estaria melhor morto!”

“Benedict.”

As pernas de Violet pararam completamente. O choro de Benedict parecia de um menino para ela? Ela chegou mais perto, forçando a cabeça dele no seu ombro. “Vamos voltar, Benedict.”

“Para onde?”

“Para o Serviço Postal. Você e eu só temos esse lugar.”

Silêncio.

De fato, eles não tinham outro lugar. As pessoas que esperariam por eles e manteriam sua posição sem enlouquecer, de fato não estavam em lugar algum a não ser lá.

Tudo bem se eu voltar?

“Eu… fiz coisas horríveis no passado. É só que ninguém sabe que eu... quando eu era mercenário...”

“Sim.”

“Eu fiz muitas coisas estúpidas. Não é perdoável só porque eu era criança.”

“Sim.”

“Eu... mas...”

O rosto de Claudia Hodgins cruzou sua mente.

Eu não deveria... voltar.

A sensação de alegria quando ele andou pela primeira vez com os sapatos folgados que o homem lhe deu. As piadas que o contou enquanto tagarelava reclamações quando saía com ele. O riso de quando eles iam beber e fazer um tumulto juntos.

Mas…

Suas sobrancelhas baixaram sempre que ele estava perturbado. Suas costas arqueando sempre que Lux ficava brava com ele. A voz doce que usava apenas para mulheres. A força que ele mostrou para ele. Ele era a única pessoa bem-humorada no mundo que poderia se apegar a um homem amnésico que não tinha nada.

Eu quero voltar.

Ele queria voltar para aquela boa pessoa, tão profundamente que isso o encheu de lágrimas.

“Mas mesmo assim, você vai viver, certo?”

Benedict engoliu em seco. Aquelas palavras quase pareciam uma bala disparada em seu peito. Ele ficou tão surpreso que ficou sem palavras. Ela era normalmente um taciturno e não usava palavras decoradas. Mas às vezes corajosamente trazia a verdade à luz.

“Você vai viver, certo?” Um pouco de súplica estava misturada na voz de Violet.

A mão que Violet juntou à sua. Seus dedos artificiais.

“Vamos contar as coisas que fez e as coisas que você fará a partir de agora, para que não esqueça.”

Eles eram a prova das coisas que ela havia perdido e quebrado. Bem como um símbolo de regeneração. Esses dedos delicadamente o ataram no lugar.

“Até você morrer algum dia.”

A garota na frente dele aceitara aquela agonia muito mais cedo do que ele, sem fugir ou desviar os olhos dela, e simplesmente ficou em meio à tristeza.

“Hoje... por enquanto, vamos apenas voltar para casa.”

Essa era Violet Evergarden.

“Agora vamos caminhar. Você se lembra de que nosso turno era apenas até a manhã e que vamos precisar trabalhar novamente ao meio-dia?” Gradualmente, mas ainda puxando sua mão, ela guiou Benedict. “Ontem, acabamos voltando para Lontano sem terminar nossos relatórios. Nós tínhamos prometido a Lux que iríamos enviá-los hoje sem falta. Estamos muito bagunçados para ir trabalhar, parecendo que nada aconteceu. Com certeza, se aparecermos para trabalhar assim, pode haver um grande escândalo, certo?”

“Eu me pergunto se o velho vai ficar bravo...”

Claudia Hodgins. O homem que lhe deu tudo o que tinha agora. Ele queria muito vê-lo. Enquanto ele relembrava a voz e o rosto dele, seu peito parecia prestes a explodir.

Na vida de Benedict, incluindo seu passado, Hodgins foi o único adulto a protegê-lo.

“Você foi capaz de encontrar o Presidente Hodgins porque estava vivo. Você pode encontrar sua irmã também. Certamente... Pessoas como nós não são boas se não acreditarmos, Benedict.”

Ele tinha força suficiente para viver sozinho, não importava onde.

“Hoje foi muito cansativo, né? Vamos para casa.”

“Ei, V.” Como Violet perguntou qual era o problema, ele murmurou enquanto enxugava as lágrimas com a manga de sua camisa, “A coisa sobre eu chorar é um segredo entre nós dois.”

As figuras dos dois enquanto andavam de mãos dadas provavelmente pareciam com os irmãos que se davam bem.

 

♦♦♦

 

“Agora, você só tem a sua vida, certo? Eu vou comprar isso.”

Com essas palavras, o coração do homem começou a fazer sons altos. Ele supostamente estava acostumado a ter sua vida comprada com dinheiro, mas quando perguntado cara-a-cara, sua respiração parecia que iria parar a qualquer momento.

“Quanto isso custa?”

Ao ser perguntado assim, o homem estava em perda de uma resposta. “Não sei.”

Enquanto ele respondia seriamente, Hodgins riu: “Que idiota, dê um preço alto.”

“Por quê?”

“Você poderia dar uma soma que eu não posso pagar, de modo que teria que contratá-lo pelo o resto da minha vida.”

Por um instante, ele não entendeu o que foi dito, e então respondeu após um breve momento: “Não quero! O que você está dizendo?”

“Quero dizer, você não tem nada, certo?”

“Não fique dizendo ‘nada’!”

“Nós seríamos como uma família se estivéssemos juntos, mesmo se não estivéssemos ligados por sangue. Apenas dê um preço que não posso pagar.”

“Hah?”

“Como eu disse, poderíamos ser como uma família. Bem, tudo bem. Mais importante, seu nome.”

“Não, não, ei, você é definitivamente um cara estranho, certo?”

“Chegou o meu!”

“Velho! É como se você não estivesse ouvindo o que eu digo, não é?”

“Tudo bem. Escuta aqui, ó.”

“Escuta aqui você!”

Com um rosto extremamente feliz e um pouco tímido, Hodgins disse: “Pode ser um pouco pretensioso. Eu entendo seus sentimentos agora. Ah, não, veja, são meus sentimentos, por assim dizer. Estou colocando nisso o meu desejo de ter um jovem como você para ser assim.”

Naquele segundo, a única coisa no mundo que testemunhou o brilho naqueles olhos azuis foi Claudia Hodgins.

“Significa ‘abençoado’, que tal ‘Benedict’?”

Ele sabia pela primeira vez a alegria de ter sua vida abençoada por alguém naquele momento.

“Vamos seguir o deus que administra a proteção divina. Deixe ‘Blue’ ser seu sobrenome. O nome que você deu a si mesmo, mais o que te dei, ‘Benedict’. ‘Benedict Blue’. Sim, é um bom nome. Prazer em conhecê-lo, Benedict.”

Mesmo quando se machucava ao lembrar de seu passado, ele seria abençoado sempre que alguém chamasse pelo seu nome.

“Idi~ota.”

 

♦♦♦

 

Ele não queria deixar essa bênção novamente.

“Aah, Benedict e Pequena Violet. Bem-vindos de vol... Ei, vocês não estão nada bem! O que aconteceu…? Vocês dois, venham aqui! Pequena Lux, o kit de primeiros socorros!”

Apesar de ser um pouco longa, essa é a história de Benedict Blue.



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