Vida em Folhas Brasileira

Autor(a): Lucas Porto


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 21

 

Acampamento improvisado

— Mas que merda!

O grito de Alissa ecoava por toda floresta, afugentando alguns pássaros locais que tentavam beber a água do lago. Seu corpo estava suado, ofegava enquanto repetia os movimentos de luta que havia aprendido com Kishi e o Senhor Edo.

Kishi, como aquele homem a irritava. Um hipócrita sem noção, que voltava atrás em suas próprias palavras. Eles eram um time, uma dupla, porque ele tinha que ser tão cabeça duro e resolver tudo sozinho? Ela só conseguia xingá-lo conforme realizava os golpes.

Decidiu fazer uma pausa singela.

Seu corpo não estava cem por cento ainda, se esforçar demais poderia lhe causar lesões e piorar sua recuperação, ela se abaixou e molhou o rosto, limpando o suor, vendo seu reflexo distorcido naquele lago.

— Por que você sempre tem que ser assim?  Eu só não quero ser fraca como antes…

Ela puxou o ar para dentro de seu diafragma.

E depois expirou.

A água perverteu.

Em um salto para trás, Alissa teve todos seus sentidos em estado de alerta quando viu aquela figura surgir de repente. Seu corpo gritava em adrenalina enquanto olhava diretamente nos olhos daquele homem.

— Olá — anunciou. — Sentiu saudades? 

— Você…

— Olú, o Cão de guarda. O quarto general da lótus negra. — Ele passava as mãos em seus cabelos levantados a fim de parecer o mais cortês possível. 

— Seu desgraçado!

Ela correu em sua direção com o corpo abaixado, fechou os punhos em um golpe potente, usando todo o corpo para lhe acertar no queixo a fim de deixá-lo desnorteado.

Foi quando aquela extensa lança que ele portava, atravessou o lago dividindo as águas. A velocidade do contra-ataque foi tanta que quando ela percebeu, já sabia que era tarde demais, ela havia sido acertada…

Por gotas d’água.

Perplexa. Alissa deu passos para trás limpando o olho esquerdo que havia sido molhado. Ele não fez um contra-ataque, apenas havia mudado a forma de segurar sua lança, a apoiando entre os ombros, totalmente exposto e relaxado. Alissa teve uma reação natural porém exagerada, para uma simples gota de água.

— Tsk. — Ela tentou manter sua guarda alta, com os braços levantados na altura dos olhos. Pernas fixas no fundo daquele lago onde as águas batiam em seu joelho.

— Você era a moça daquele dia, não é? A filha do alvo. Pensei que tivesse sido morta pelos soldados.

— Não trate meu pai como um simples alvo!

— Ou! Opa, opa, opa. Não quis ofendê-la, estava apenas lembrando do passado, eu havia seguido você e o Noredan até sua casa depois do torneio, mas nunca tive a chance de saber seu nome.

— Você… estava no torneio clandestino…?

— Foi o que eu disse.

Alissa recuou alguns passos, pegando distância o suficiente para que, caso quisesse aceitá-la, ele teria que estender toda a sua lança.

Ela já sabia que havia sido seguida, Kishi avisara que a rua estava quieta demais, mas ela não havia dado atenção. Poderia ter sido qualquer um dos ninjas, mas não ele… Ela aceitava ter cometido esse erro para qualquer um menos o assassino de seu pai.

— Alou… Você está aí? — perguntava com desdém. — Você bem que poderia me dizer seu nome.

— Eu não tenho que lhe responder nada, assassino!

— Igual a você.

Alissa travou.

— O que… O que quer dizer?

— Eu recebi alguns relatórios. 5 mortes por faca e 1 por uma flecha, uma garota de cabelos vermelhos, a mesma que também atrapalhou o combate de Sinsha quando estava prestes a matar o Noredan.

— Não me venha com essa — retrucou. — Eles eram monstros como você, eu apenas me defendi…

— Atacando primeiro? — Ele assobiou. — O cara dá entrada, lembra dele? Você foi bem rápida para cuidar dele, também chama aquilo de autodefesa?

— Não zombe de mim…

— Você luta para me matar, é justo eu fazer o mesmo.

— …

— Pode me odiar se quiser, mas não tenho culpa de seu pai ser um fraco.

O sangue subiu pela cabeça de Alissa a fazendo investir contra ele. Porém, assim que a ponta da sua lança colidiu contra o solo do lago espalhando um pouco de água, ela recuou novamente tanto quanto avançou.

Suas pernas tremiam.

— Haha, o que foi? Venha! — Ele bateu mais uma vez a lancha no chão a assustando.

A adrenalina gerada por aquele medo sem sentido excedeu toda a endorfina que tentava acalmar os batimentos descontrolados de Alissa. Luta ou fuga. A resposta para os estímulos externos veio assim que Olú começou sua caminhada.

Fugir.

— Ei!

A garota correu o mais rápido que podia, ignorando toda a dor e fadiga de seu corpo, se jogando no meio das árvores para despistar seu inimigo que com a lança preparada em mãos, arremessou com toda a força.

— Argh! — exclamou de dor.

Olú correu na direção do grito de dor e logo viu a ponta de sua lança com sangue do alvo que havia caído atrás de um arbusto. Ele sorriu, e quando chegou mais perto…

— Filha da…

Sua lança havia acertado um mero coelho que agora se encontrava morto. Ele xingou a si mesmo por sua péssima mira. Olhando para o chão, pode ver algumas gotas de sangue que indicaram para onde ela havia ido. Não tinha como fugir dele.

Ele iria cumprir sua missão.

 


Floresta da Morte.

Tudo ocorreu em um flash.

Kishi teve questão de segundos para realizar uma contra medida. Focando toda a sua regeneração na perna quebrada e consequentemente sua força, ele saltou para longe evitando ser esmagado.

O chão ficou estilhaçado, uma grande camada de poeira foi levantada cegando todos os ninjas e ele próprio. Ele estava ofegante, forçava seu corpo a continuar utilizando sua forma Noredan, precisava regenerar suas outras feridas.

Do meio daquela cratera que se formou, um homem se levantou e começou a caminhar. Ele era alto, sua musculatura poderia ser facilmente confundida com a de um urso. Ao redor de seu corpo havia um "esqueleto de metal" que era conectado às manoplas com pequenos furos, Kishi se perguntou o que seria aquilo, com certeza não uma armadura, era fina demais.

Um dos ninjas que estava ali se apressou para atacá-lo tentando o pegar desprevenido. Com espada curta em mãos, o ninja desferiu um corte diagonal em suas costas. Dando uma esquiva rápida para a esquerda, ele revidou com uma cotovelada desacordando o ninja.

Ele estava sem sua katana, havia a soltado sem querer durante aquele ataque surpresa, a procurou com os olhos e virou depressa quando sentiu um ataque vindo. Aquele homem colossal que estava distante agora apareceu ao seu lado em uma velocidade anormal. Cruzou os braços e então, seu corpo foi atingido pelo soco do homem.

A força foi tão absurda que, em sua percepção, ele havia perdido seus braços. Haviam pequenos buracos na manopla, desses buracos uma forte rajada de ar foi lançada fazendo o corpo de Kishi ser jogado para longe com muita força. Parte de sua camisa rasgou.

Ele tentou cair de uma maneira correta, mas estava muito desnorteado para tal feito. Pode apenas tentar se levantar após o golpe.

"Como ele chegou ali tão rápido? Essa velocidade não é normal, será que é mais uma daquelas técnicas especiais? E esse vento que seu ataque provocou? Merda..."

O homem ergueu os braços na altura do rosto, ele estava se preparando para correr. Sabendo que um combate direito seria inútil, Kishi correu o mais rápido que podia na direção dos ninjas inimigos.

Os ninjas ficaram surpresos com aquele movimento, mas não se acovardaram. Segurando suas armas com força eles tentaram conter o seu avanço. Quando o mesmo se aproximou o suficiente ele saltou na direção do ninja mais próximo o atingindo com uma joelhada. 

O ninja que foi atingido caiu no chão, os demais começaram a atacar. Era difícil se esquivar, mas ele estava conseguindo. Para sua surpresa, porém, o homem colossal que estava distante partiu em sua direção... Voando?

Da mesma forma que os buracos de sua manopla lançava uma forte rajada de vento, na parte de trás daquele traje de combate haviam propulsores que soltavam uma rajada de ar dez vezes mais forte o que permitiam que aquele homem tivesse uma locomoção acima da média.

Ele subiu para os céus e mais uma vez caiu com outro potente golpe rachando o chão, por um triz não o acertou. Kishi então focou sua força nas pernas mais uma vez e saltou.

Seu objetivo era novamente escalar uma daquelas árvores gigantescas, além de poder lidar com os arqueiros, ele também poderia aproveitar a posição para buscar por sua katana.

Algo pegou seu braço.

Uma corrente surgiu do nada se prendendo em seu braço direito. Ele então foi jogado para baixo, teve tempo apenas de tentar proteger sua cabeça. A colisão com o solo foi feia, ele gritou de dor olhando para o responsável pelo ataque.

Era Sinsha.

Ela caminhava com um sorriso em seu rosto. No braço direito estava segurando sua corrente, e na outra mão portava uma espada, a sua espada. 

O homem colossal se aproximou de Sinsha.

— Teremos que mandar os ninjas recuarem um pouco, ele irá usá-los como escudo humano. 

— Isso é porque você foi lento, Gazel. 

— Não podia atacar de forma descuidada, não sou você.

— Eu não ataco de forma descuidada! 

— Escutem! — Kishi gritou. — Não vim aqui para lutar, eu quero apenas o orbe e então vou embora. Torne isso fácil para ambos.

— O que? Pensei que tinha vindo aqui me ver, não vamos nem lutar um pouco? — zombava dele, mas mantinha um pouco de seriedade em suas palavras, conhecia sua força e principalmente, a respeitava.

— Não é hora de brincar, Sinsha. — disse olhando para sua irmã, e depois para o Noredan. — E por que acha que nós vamos te dar ouvidos? Você está em uma clara desvantagem.

— Perguntar não ofende…

— Ta bom, vamos decidir isso de uma vez. — Sinsha começou a rodar sua corrente em alta velocidade. Gazel tentou a impedir, mas ele não teve chance.

Utilizando seu Osoi, Sinsha desapareceu e reapareceu várias vezes em diferentes pontos simultaneamente. Ela jogou sua corrente tentando acertar, mas ele se esquivava.

Ela apareceu na frente de Kishi e com a espada que pertencia ao mesmo tentou cortá-lo pela diagonal, horizontal e terminou com um golpe vertical. Esse último foi defendido com as palmas de suas mão centímetros antes da lâmina tocar seu rosto.

Sinsha então saltou para trás. Quando ele olhou para o lado, Gazel surgiu e desferiu um soco com ar que o atingiu em cheio. Aqueles golpes eram extremamente potentes e o lançaram outra vez para longe.

Assim que caiu se levantou logo em seguida, e por pouco não foi atingido por uma flecha.

Gazel mais uma vez foi voando em sua direção. Dessa vez, Kishi rebateu o soco, utilizando toda a força que o Noredan o proporciona, ambos colidiram seus punhos. Empatados, nenhum dos dois podia acreditar que havia alguém que pudesse se comparar a sua força.

Gazel colocava força em suas pernas para não dar um passo atrás. Já Kishi sentia aquele rugido de vento colidindo com seu punho o fazendo sangrar. 

Ele teve que recuar para trás quando viu uma corrente se aproximando por cima. Ele desviou do golpe que o pegou de raspão na coxa. 

Ele saltava de todas as maneiras que podia para desviar daquelas correntes. Sinsha então-

Sumiu.

Ela apareceu atrás do mesmo e tentou decepar sua cabeça. O reflexo de Kishi o salvou em último instante o fazendo se abaixar, então viu a perna de Sinsha voar na direção do seu rosto o atingindo.

Mais uma vez arremessado, indo parar quase que em cima das árvores gigantes. Gazel e os ninjas ficaram chocados com a força que o chute de Sinsha tinha, já ela se irritou, não foi ela que fez isso.

Ao mesmo tempo em que o chute atingia o seu rosto, o mesmo focou toda a sua força nas pernas e saltou para trás, assim, ele não só reduziu o dano do chute como também foi jogado para longe pegando distância.

Ele colidiu contra um galho da árvore e se segurou antes de cair, agora tinha uma visão perfeita do campo de batalha. Para sua surpresa havia um arqueiro ali que prontamente apontou sua flecha.

A flecha foi disparada, mas ele errou, recebendo um soco no rosto em seguida. Kishi não perdeu tempo e saltou para o galho mais próximo, indo atrás dos outros arqueiros.

— Droga. Ei, Gazel! — gritou. — Me lance para lá em cima.

— Está bem. — Ele respondeu.

Sinsha correu na direção de seu irmão e saltou em cima dele. No mesmo instante Gazel deu um soco de vento controlado o que serviu como propulsão para que a mesma fosse jogada para cima.

Ela voou em alta velocidade e com um pouco de dificuldade jogou sua corrente em um tronco de árvore e se balançou nele. Indo direto para onde Kishi estava. Gazel cerrou os punhos irritado por não poder ajudá-la, ele não conseguia voar tão alto com seu equipamento.

Sinsha então caiu em sua frente e o atacou.

Os movimentos de sua corrente eram rápidos e letais, mesmo utilizando sua katana ele ainda sentia a força de cada impacto. A árvore era estreita, o que fez Kishi quase pisar em falso em determinado momento, ele precisava acabar com aquilo rápido.

Em uma investida seguida por um corte horizontal, o golpe acertou em cheio a ninja que segurou sua corrente tentando se defender. A força do golpe era tanto que ela recuou alguns passos para trás e nisso, acabou perdendo o equilíbrio e caindo até o chão.

Mas ela não iria desistir tão fácil.

Jogando sua corrente na parte de baixo do galho grosso em que estavam, ela balançou usando o peso de seu corpo para se jogar atrás de Kishi o pegando desprevenido com um chute em suas costas, dessa vez, foi ele que caiu.

Ele ativará seus olhos negros temendo o impacto contra o solo, mas por uma segunda distração, não viu quando Gazel, usando seus propurçores, apareceu em pleno ar o acertando com seus poderosos ventos.

— Toma essa!

O golpe foi poderoso o suficiente para fazer seu inimigo cuspir sangue, e a colisão contra o solo fora mais dolorosa ainda. Mesmo assim, Kishi ainda se levantava, regenerando seus ferimentos e se apoaindo em sua espada, ele não ia perder, e essa determinação em seus olhos negros assustou tanto Gazel quanto Sinsha.

Mas eles também não podiam perder.

 

 

Acampamento improvisado.

Alissa  corria o mais rápido que suas pernas conseguiam, suava e ofegava muito, mas não podia parar. Ela teve sorte que a lança de Olú atingira apenas parte de sua coxa, agora seu foco era fugir junto do senhor Edo.


Ela percebeu que era impossível vencer.


O velho senhor estava aproveitando a suave brisa, quando se deparou com Alissa. Seu rosto estava pasmo, alguns ferimentos se abriram e ela cairá em seus braços assim que se aproximou o bastante.


— Alissa! — Ele não soube o que falar, assim que a teve em seus braços utilizou sua magia para curar seus ferimentos. — O que houve com você?


— Ele voltou… O general, ele está aqui.


— O quê?


— Não temos tempo, vamos fugir enquanto ele…


— Correr enquanto os outros falam é falta de educação, sabia?


Os dois ficaram pasmos quando, sem qualquer tipo de som ou barulho, Olú surgiu no lado deles, com a lança apostas pronto para um novo ataque. O pai de Kishi rapidamente entendeu sua mão na direção do mesmo, a fazendo brilhar num tom verde esmeralda.


O general saltou o mais longe que conseguiu para evitar aquele golpe surpresa. Ele não esperava por um ataque mágico, não do velho. Começou a tocar seu corpo com a palma da mão para ter certeza se nada havia acontecido com ele.


— Magia… — Olhou para eles, dando um sorriso falso. — Achei que o Noredan fosse o único que usava truques, o que você fez velho?


— A única pessoa que utiliza truques sujos aqui é você — respondeu.


— Como você nos encontrou?


— Oh, isso? Parece que seu noredan e meu lorde tiveram algum tipo de contato, então fui mandado para cá. Bem conveniente não acham?


— Isso é ruim, Alissa — sussurrou Edo. — Ele é mais ágil, rápido e experiente que nós, não irá nos deixar fugir.


— É, eu sei disso — disse já em pé, sacando sua faca. — O que vamos fazer?


— A floresta. Ele não conseguirá mover sua lança livremente lá, é nossa única chance.


— Acho que ele sabe bem disso. Como  vamos atraí-lo?


— Estou pensando nisso. — Edo voltou sua atenção para Olú, gritando para o mesmo. — O que você quer de nós?


— Direto ao ponto em velhote. Eu quero saber onde estão os outros orbes da dor. — aquela resposta fez a menina cerrar os olhos. — Vocês sabem onde estão, pelo visto.


— E acha que vamos te contar se você perguntar, idiota.


— Mas é claro que não! Na verdade quero que vocês resistam bastante, igual o idiota do seu pai.


Com sangue nos olhos, Alissa correu na direção de Olú visando sua garganta. O pai de Kishi tentou impedi-la, mas já era tarde demais. Com cortes horizontais e verticais ela tentava acertar Olú que sem qualquer dificuldade se esquivava, sorrindo.


Ele utilizou a outra extremidade da lança para acertar seu rosto com um pouco de força, o que quebrou sua sequência de golpes. Depois acertou um chute potente com a sola do pé, fazendo a menina cair de costas no chão.


Ela se levantou a tempo de ver ele preparar uma estocada, um golpe pela direita. Posicionou a faca em frente a ponta da lança para tentar defender, quando ouviu o aviso.


— À sua esquerda! — gritou Edo em desespero.


Por puro reflexo ela mudou sua defesa para a esquerda quando ouviu o aviso. Ela presenciou uma lança surgir do nada, junto com Olú que estava em choque por terem defendido sua técnica.


Com o golpe bloqueado, a menina se afastou para pegar espaço, se posicionando entre o inimigo e seu aliado.


— Como… — repetia Olú várias vezes.


— Senhor Edo, o que foi isso que eu acabei de ver?


— Um golpe camuflado. Ele fez uma série de movimentos para confundir sua percepção para que o verdadeiro golpe surja em um ponto totalmente imprevisível — explicou. — Então foi assim que ele aparecia e sumia de repente.


— Como você sabe tanto sobre o meu Frich


— Então é assim que você chama seu truque.


— Não é um truque! — retrucou. — É uma das técnicas secretas de Ryoto, ninguém além dos generais deveria conhecê-las! 


— Quanta bobagem — disse Alissa, apertando com mais força sua faca. — É só um truque sujo igual a qualquer outro, e agora que eu sei como funciona, você não vai me derrotar.


Com outra investida com a faca, Olú tentou contra-atacar em mais um golpe invisível. Porém outra vez o velho avisou sobre sua tática o que permitiu Alissa mudar sua trajetória e por pouco, desviar da ponta da lança que surgiu do nada ao lado de sua cabeça.


A faca da menina cortou parte de sua barriga. Ele xingou, mesmo sendo um golpe de raspão aquilo era preocupante. Fincando sua lança no chão, ele partiu para um mano a mano. 


Um golpe vertical veio, mas Olú se esquivara, ele desferiu um soco de direita que foi defendido por sorte por Alissa que outra vez tentou o atingir com um corte horizontal, na altura do pescoço.


Ele desviou com facilidade e acertou um gancho de esquerda na menina. Segurou seu pulso com a mesma mão o torcendo, fazendo ela grunhir em dor e largar a arma. Finalizou com uma cotovelada no estômago tão potente que ela foi levada ao chão no mesmo instante.


Com ela fora do caminho, Olú pegou sua lança e avançou contra o senhor Edo que estendeu sua mão, a fazendo brilhar novamente. Aquela era uma magia de cura, inofensiva, mas seu inimigo não sabia disso, e tentou desviar o que lhe rendeu algum tempo.


Tempo o suficiente para ele se jogar e rolar no chão, desviando da estocada com a lança. Seus velhos ossos doíam, seu corpo não era mais como antes, por isso quando o chute veio ele apenas pode receber o ataque e ser jogado ao chão.


— Velho desgraçado! 


Levantando a lança acima de sua cabeça e a segurando com ambas as mãos, ele desceu a lâmina em um corte mortal para finalizar Edo que não pode fazer nada. Quando o ataque em fim chegou, uma enorme poça de sangue foi feita.


Mas aquele não era o sangue dele.


Alissa havia pulado na frente do ataque, recebido o corte por extenso que ia de ponta a ponta em seu torso.


— Que menina idiota….


— Não! Alissa! 


O senhor Edo segurava a menina em seus braços, suas mãos tremiam ao ver tanto sangue espalhado por ali.


— Me desculpa… — dizia com a voz fraca, quase rouca. — Eu não podia deixar… Que o senhor morresse também.


— Lenta demais para me atacar pelas costas, então escolheu se sacrificar? Como é idiota.


— Seu-


A lança parou em seu pescoço, cortando um pouco de sua pele enrugada.


— Cuidado com as palavras velhote. Agora você vai me responder, como você conhecia minha técnica?

 

 

No interior da Floresta da Morte.

Campo de batalha contra os Generais.

Kishi corria o mais rápido que conseguia, desviando das flechas que vinham em sua direção. Ele tentou se defender das flechas utilizando sua katana, mas como infelizmente aprendeu da pior maneira, isso não seria possível.

Quando uma flecha veio em sua cabeça ele ricocheteou, a flecha explodiu em um clarão vermelho. As feridas estavam sendo regeneradas graças aos seus poderes, mas levar ataques assim só iria aproximá-lo de seu fim.

Parte de seu rosto ficou queimado, nada muito grave, apenas o suficiente para prejudicar sua visão, o que naquele confronto poderia ser mortal. Ele ouviu passos vindo por trás dele, passos leves como uma pluma, quase imperceptíveis. Estava se aproximando.

Ele parou de correr e se virou junto de sua katana realizando um corte horizontal. Sinsha que estava o seguindo deslizou pelo chão passando por debaixo do seu ataque. Gazel também estava vindo.

O urso tentou acertar um soco em Kishi que se jogou para o lado. Mas Gazel não desistiu, ele se virou e começou uma sequência de socos atingindo o ar. Normalmente aqueles socos não causariam problema nenhum, mas graças aos ventos selvagens que saiam de sua manopla cada soco era possivelmente mortal.

Quando os ventos o atingiam, era como ser cortado por navalhas, algumas vezes até pequenos galhos e pedras o atingiam, deixando o ataque mais doloroso. Ele colocou os braços na frente do ataque em forma de cruz e fechou os olhos.

— Vai Sinsha! — Gazel gritou.

Sinsha correu em sua direção com uma expressão de felicidade, ela sabia que o confronto havia sido decidido ali. Kishi abriu um dos olhos e viu a mulher que segurava sua corrente preparar um ataque contra o mesmo. Se ele se movesse seria jogado para trás violentamente, se não se mexesse iria ser atingido pela ponta daquela corrente.

Xeque-Mate.

Foi então que para a surpresa de todos uma das flechas com ponta vermelha voou naquela direção. Quando os ventos se colidiram com a flecha uma enorme explosão ocorreu pegando todos desprevenidos.

Gazel deu alguns passos para trás, parte da explosão o atingiu. Ele olhou para cima e viu um dos arqueiros em choque com o que havia acabado de fazer. Aquilo o deixou muito furioso, a ponto dele perder a compostura.

— Seu idiota olha o que você fez! Não atire sem uma ordem! — ordenou. 

Kishi foi o que mais sofreu do ataque, ele caiu de costas e rodou pelo chão. Se sentiu agradecido pela decisão idiota daquele arqueiro, a explosão fez com que a corrente de Sinsha errasse sua garganta o salvando por pouco.

Infelizmente ele ainda estava muito ferido, enfrentar os ninjas mais fracos não era um problema, mas quando uma grande quantidade de ataques vinha em sua direção seguida pelas fortes bufadas de ar aquilo se tornava impossível de se defender.

 Gazel sofreu alguns cortes, nada muito letal. Já Sinsha foi atingida quase nenhuma vez, sua técnica de clones ilusórios quase sempre a salvava dos ataques. Ele tentou outra vez ativar os olhos negros. Sem sucesso.

"Eu ativei os olhos negros muitas vezes. Minha cabeça parece estar inchada, eu não vou vencer..." — Ele alternava seu olhar entre os dois generais.

Sinsha não esperou. Correu outra vez, agora determinada a dar um fim naquilo. Para a sua surpresa Kishi não demonstrou medo, ele guardou a katana em sua bainha ficando totalmente desprotegido.

— Finalmente aceitou a derrota?! Como você é chato-

Algo atingiu suas costas.

O olhar de Gazel ficou perplexo quando viu uma espada atingir as costas de Sinsha com precisão. Ele olhou para os lados procurando quem fez aquilo, mas com exceção dos três ali, apenas os ninjas estavam ao seu redor.

Ele olhou para o Noredan.

Algo havia mudado.



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