Vida em Folhas Brasileira

Autor(a): Lucas Porto


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 7

 

Nos arredores do vilarejo DiwrOlaf.
Há três anos atrás.

— Que dor de cabeça.

Se levantando com calma, Kishi colocou o polegar e o dedo do meio nas laterais da cabeça e apertou suavemente. Sua cabeça estava um verdadeiro tormento, embora quisesse descansar, sabia que naquele momento isso não seria possível.

Ele olhou ao redor da tenda improvisada, sua roupa estava mal dobrada, suas armas espalhadas por todos os cantos e havia um prato com resto de comida. Algumas moscas voavam por cima da comida, aquilo o causou repulsa.

Quando ele cansou do barulho irritante que elas faziam, abanou a mão perto do prato para as afastar, sem sucesso, elas continuavam ali, o atormentando. Ele bufou em desânimo.

Ele foi até suas roupas bagunçadas. Desdobrou e as vestiu casualmente, sua camisa marrom de camponês era extremamente simples, mas confortável, e por isso ele a adorava. Assim que terminou de se vestir, ele foi atrás das armas que estavam espalhadas por ali.

Foi mais difícil achá-las do que o esperado, elas se camuflaram no meio da bagunça. Quando as achou ficou aliviado. Para escondê-las, vestiu um manto branco por cima das roupas, além de passar um ar de seriedade, ele podia esconder as roupas casuais que sempre vestia de seus subordinados. Sua imagem era mais importante do que as pessoas imaginavam.

Ele ouviu passos.

— Pode entrar — disse para quem se aproximava do outro lado da tenda. O rapaz engoliu em seco e entrou.

— Bom dia senhor… — gaguejou. — Eu sou...

— Eu sei quem é você. O que quer?

— O senhor Fazy e o senhor Gaia pediram para que o senhor fosse até a tenda principal. — O rapaz sem jeito, tremia da cabeça aos pés, ele suava descontroladamente.

— Está bem — anunciou com a voz grave. — Retire-se.

— Com licença senhor! 

Kishi suspirou. Olhou para si mesmo verificando que não havia esquecido de nada. Quando teve certeza de estar com tudo o que precisava, saiu da tenda.

Quando empurrou o pano da entrada a forte luz do Sol bateu em seus olhos. Ele usou a mão para reduzir a luminosidade e olhou ao redor vendo os demais membros da Alopeke. Todos estavam trabalhando, mesmo se tentassem não conseguiam ficar parados.

De postura ereta e dando passos firmes, caminhou até a tenda principal. Seus subordinados constantemente o cumprimentavam. Kishi sabia o nome de cada um deles, conhecia suas histórias, os escolheu a dedo. Mesmo todos sendo criminosos de menor nome, eles eram úteis, e tinham talentos que ele queria para si.

Já faz um ano desde que o grupo foi formado e ele se tornou seu líder. De lá para cá as coisas andam tranquilas, os assaltos sempre ocorrem de maneira rápida e ordenada. Quando os guardas percebem algo já é tarde, e todo o grupo fugiu, deixando para trás apenas o símbolo de uma raposa.

Entretanto a preocupação ainda pairava sobre sua mente dolorida. Seu cérebro começou a pensar e teorizar: a essa altura diversos relatórios já devem ter sido feitos aos superiores, todos dizendo sobre como a Alopeke tem conseguido escapar e agir como bem entendesse.

Uma hora a divisão de espionagem, a Lótus Negra, irá assumir o caso e eles serão investigados. Os membros do seu bando estão relaxando demais e isso pode ser um grande problema.

— A arrogância subiu à cabeça deles.

— Disse algo senhor? — questionou um dos soldados próximos.

— Não, foi apenas sua impressão. — Aquela dor de cabeça o estava fazendo perder o foco, ele precisava descansar.

Após tanto andar, finalmente ele parou na tenda principal onde Fazy e Gaia estavam. A tenda era duas vezes maior que as outras, sua cor preta se destacava das demais tendas brancas e simples. Felizmente, como estavam no meio da floresta ao redor da aldeia Diwrolaf, ele não precisava se preocupar com os guardas locais.

Ele entrou dentro da tenda.

Diferente da bagunça de seus aposentos, aquela tenda estava completamente organizada de forma surreal. Gaia odeia sujeira tanto quanto Kishi, e diferente dele o mesmo não possui preguiça ou desdém, sempre se planejando e nunca participando das grandes festas de comemoração. Alguém muito minimalista, uma característica perfeita para um estrategista.

Após seus olhos darem uma volta rápida pelo local, eles pararam logo em frente onde se encontrava uma mesa de madeira retangular. Quatro pessoas ao redor delas, dois subordinados responsáveis por vigiar a área faziam seu relatório sobre o que tinham visto. Fazy entediado está sentado em cima da mesa comendo uma maça, seus cabelos amarelos e olhos cor caramelos se reviraram a cada instante. Já Gaia que escutava o relatório constantemente dava um olhar de canto para Fazy, inconformado com a falta de educação de seu companheiro.

Gaia era um homem velho, por volta de seus 35 anos. Pele morena, um cavanhaque respeitável e olhos afiados. Por mais que tivesse uma aparência ameaçadora ele é extremamente gentil e educado com todos. Menos com Fazy.

Inclinando a cabeça ao lado, Fazy notou Kishi, que havia recém chegado. Então, em um pulo que assustou os outros três, ele correu na direção do líder.

— Chefia! — gritou com empolgação. — Que bom que você chegou, cê vai me dar uma missão né? Ah eu to tão entediado, vamos fazer alguma coisa vamos, vamos! — insistiu.

— Senhor! — Disseram ao mesmo tempo os dois vigias, batendo sua mão contra o peito.

— Vocês estão dispensados — disse Gaia para os subordinados que concordaram com a cabeça e se retiraram. — Que bom que chegou — esperou os dois vigias saírem — Kishi, dormiu bem?

— Um pouco, ainda estou de ressaca. Alguma novidade da patrulha? — aproximou-se devagar até a mesa.

— Ei, não me ignore! — desabafou Fazy, ele odiava não receber atenção.

— Por hora não. — respondeu a Kishi. — Ainda assim, vamos nos movimentar durante essa noite, ficar muito tempo em um mesmo lugar pode ser prejudicial.

— Aaah, nunca acontece nada — bufou. —, Eu nem pude participar do nosso último evento, fiquei escutando as histórias dos soldados enquanto bebiam.  Por que você não deixa eu me divertir um pouco?

— E como pretende se divertir?

— Ah você sabe, me deixa enfrentar os guardas, ou fazer um dos grandes assaltos, estou com saudade de ver aquele seu truque com facas. Você poderia me colocar como vigia, não acha?

— Se dependermos de você para vigiar a área, em menos de três segundos você iria atrair inúmeros soldados. Estaríamos mortos antes de podermos fazer algo — contestou Gaia.

— Seria mais divertido assim... — retrucou Fazy.

— Encontrarei algo para você fazer, não se preocupe. Gaia eu estive pensando mais cedo na possibilidade de a Lótus Negra começar a investigar nosso grupo, acha possível?

— Sim, isso é se já não começaram a investigar. Temos fugido dos guardas e das famílias de forma brilhante, mas isso está manchando a honra deles. A família Iona está irritada por conta do assalto daquela mansão em Carreg–Goch.

— Não aguento mais ouvir sobre isso — choramingou Fazy, e com um forte sopro de ar, Gaia revirou os olhos. — Quem liga para a Lótus negra? Eles não fazem nada demais, no nosso próximo golpe vamos fazer algo bem chamativo! Com explosões!

— Explosões fazem muito barulho. — contestou Gaia.

— Por isso são explosões!

— Gaia — disse Kishi, mais uma vez ignorando Fazy —, sobre Carreg–Goch, nós tínhamos conseguido diversos documentos importantes, algum daqueles documentos serviram para algo?

— Sobre isso... Encontrei uma coisa, mas não sei se deveríamos.

— Aha! O Gaia está com medo! — zombou com um enorme sorriso no rosto, Fazy se divertia ao ver Gaia perdendo a paciência.

— Escuta aqui seu-

— Parem os dois! — Esbravejou Kishi, fazendo os dois se calarem. — Eu quero saber sobre os documentos, prossiga.

Fazy virou a cabeça, irritado por ter recebido bronca.

— Bem, segundo alguns documentos que conseguimos traduzir, parece que o rei tem um banco.

— Um banco?

— Sim. É uma fortaleza extremamente bem protegida. Dentro dessa fortaleza o rei colocou várias de suas riquezas, documentos e tudo que pode ser importante.

— Por que ele fez isso? — Fazy questionou. — Não é mais fácil guardar tudo lá no castelo? Esse rei não bate bem das botas.

— O rei está com medo de ser destronado? 

— Precisamente.. Caso algo aconteça com a família real, o rei pode fugir para um desses vários bancos espalhados por Artéria. Lá ele terá guardas fiéis e dinheiro o suficiente para viver em tranquilidade.

— E tu sabe onde fica um destes bancos, né não Galinha.

— Fazy! — Gritou com raiva. Gaia odiava esse apelido pejorativo, por conta de ter se assustado com uma galinha durante uma de suas missões, e Fazy insistia em lembrar ele desse seu erro broxante. 
Kishi deixou uma pequena risada escapar.

— Vamos para esse tal banco — continuou Kishi. — É o que falta para nos destacarmos como um grupo criminoso, quando o rei comandar a lótus negra para vir atrás de nós, já estaremos na outra ponta de Artéria, ingressando no mercado negro, teremos reputação o bastante para isso, eles terão que nos deixar entrar.

— Uhu! Aventura!

— Não é assim tão simples… — explicou Gaia. — Parece que esse banco em específico está sendo guardado por um... 

Samurai

Nesse momento ambos arregalaram os olhos e ficaram pálidos. A empolgação que Fazy sentia sumiu no mesmo instante em que ele ouviu aquela palavra. Kishi achou aquilo impossível de se acreditar. Gaia olhou para ambos e suspirou.

— Eu disse que era problema.

— Ei, ei, ei! Cê tá falando sério? Um samurai?! Isso é….

— Impossível — completou Kishi. — Você tem certeza disso?

— Estava bem claro nos documentos que um samurai guarda o banco. Além é claro de uma forte equipe de guarnição.

— Não temos notícias de samurai em Artéria já faz quase vinte anos. Algumas pessoas até acham que eles não existem mais — indagou Kishi. — Vamos mesmo assim, provavelmente é um blefe.

— Do que você tá falando Kishi? Perdeu a cabeça?! — Fazy se aproximou, ele estava mais branco que açúcar e suando muito. — Um samurai vale mais que mil homens! Mesmo com todo mundo aqui da Alopeke atacando ao mesmo tempo nós iríamos perder feio. É claro que não há mais notícias deles, ninguém ousa os enfrentar.

— O Fazy está certo Kishi. — disse Gaia tossindo por ter concordado com Fazy. — É por conta dos samurais que nenhuma das 10 Grandes Famílias enfrenta a família real. É suicido até mesmo para eles que possuem dez vezes mais tropas.

— Nós sabemos que você quer ingressar no mercado negro, é lá que os peixes grandes estão. Mas enfrentar um samurai…. Eles não são peixes grandes, são tubarões enormes, seremos massacrados! — Fazy apoiou seu corpo na mesa, suas pernas estavam trêmulas.

— Vamos continuar com os assaltos comuns que temos feitos, em um ano quem sabe nos aceitem no mercado negro. Não precisamos ser apressados, Kishi.

— Não faz sentido mandar um guerreiro tão forte para um local como um banco, não existe certeza que o rei realmente vá usar esse plano de emergência — contestou Kishi —, e mesmo se for usar, porque ele escolheria um forte localizado na região sul? Ele  não deveria manter o samurai por perto para impedir possíveis ataques? Ou ao menos ter mandado esse samurai para o norte onde a família Sains opera. Eles são os maiores aliados do rei.

— Kishi pare com isso — alertou Gaia, suando frio pelas loucas que Kishi dizia. — Mesmo que você tenha vontade de atacar esse banco, os demais soldados não, se mentir para eles e você estiver errado a Alopeke pode ser destruída.

— Então... Apenas eu irei.

— É suicídio! — Gaia perdeu a compostura. — Kishi nós não estamos falando de um guerreiro qualquer estamos falando de um samurai!

— Existem outras opções mais favoráveis, para com essa loucura! — insistiu Fazy.

— Quero a localização do banco, avise os soldados sobre o que eu irei fazer e os deixem em prontidão. — Após falar aquelas palavras, ele deu as costas aos dois e começou a caminhar para fora.

— Por que você quer tanto jogar sua vida fora? — gritou Gaia, antes que ele saísse da tenda.

— Não confunda as coisas, Gaia. — Tanto Fazy quanto Gaia estranharam a resposta. — Não estou indo lá para morrer, que tipo de homem eu seria se formasse um plano contando com minha própria morte?

Após aquilo, ele saiu da tenda.

 

 

Sete horas depois.
Perto do banco do rei.

Gaia, Fazy e os demais soldados da Alopeke estavam em cima de uma montanha, de frente a um grande penhasco. Naquela posição eles conseguiam ver quase perfeitamente o forte chamado de Banco Real. Usando um aparelho desenvolvido pela Lótus Branca chamado de binóculos, eles conseguiam ver a uma distância enorme de forma perfeita.

Os soldados estavam todos armados com espadas e escudos, enquanto por fora a proteção era forte, por dentro seus corações frágeis tremiam de medo. Nenhum deles queria estar ali, morriam de medo de serem capturados pelo samurai. Alguns dos soldados até mesmo oravam para Hanbai, Iona ou qualquer deus que pudesse os ouvir.

Fazy notou a inquietação dos soldados, no primeiro sinal de problemas eles correriam sem pensar duas vezes. O próprio Fazy estava nervoso. Sua mão esquerda tremia sem parar, seu coração dava fortes sinais de um ataque cardíaco. O sangue fervendo correu por cada parte do corpo. O cérebro estava em estado de alerta, pronto para fugir a qualquer instante.

— Fazy, olha — cochichou Gaia, apontando para um local.

— O que? — Ele pegou o binóculo e viu Kishi andando calmamente pela estrada principal que levava a porta do forte. Alguns arqueiros já o haviam notado e apontaram suas flechas para ele. — Ele é maluco….

— Que bom que notou. Ele disse para ficarmos de olho nos arqueiros frente ao portão. 

— Que merda…

 

 

De frente ao portão principal.

Caminhando sem quaisquer preocupações, Kishi olhou para cima do forte onde os arqueiros estavam. Quatro deles vigiavam o portão principal e todos os quatro já o notaram. O banco é extremamente protegido, tem portas de ferro e uma parede revestida. Aqueles altos muros poderiam segurar uma tropa inteira e não sofreriam nenhum arranhão.

Por um momento ele se sentiu preocupado quando viu os arqueiros. O vento soprava forte de oeste a leste e por isso seria difícil acertá-los. Caso optassem por matá-lo naquele momento, todo o plano iria se desfazer.

Quando chegou perto o suficiente do portão, um dos guardas gritou:

— Parado! — Kishi obedeceu. — Quem é você e o que faz aqui? Essa área é restrita, apenas pessoas autorizadas podem-

— O samurai está aí não está?

Os arqueiros arregalaram seus olhos. Eles se entreolharam e não souberam o que fazer, o arqueiro do meio na qual havia iniciado a conversa voltou a dizer.

— Sim, temos um samurai aqui — explicou —, se tem consciência disso, é melhor ir embora.

— Não. Eu quero desafiá-lo.

— O quê? — Pasmos os arqueiros se entreolharam novamente, em um tom de deboche aquele mesmo arqueiro disse. — Você está louco rapaz, acha mesmo que pode….

— Derrotar o samurai? Acho — anunciou com o olhar frio. — A menos que você me diga que ele está com medo de me enfrentar. Sabem como foi difícil achar esse lugar? Tive que subir uma montanha apenas para enfrentá-lo, onde fica a educação do seu tão precioso guerreiro?

Os arqueiros não disseram nada. Um deles saiu dali e adentrou o banco para falar com os superiores. Mesmo assim os demais não abaixaram as flechas. Eles suaram frio na possibilidade daquele homem ser mesmo capaz de enfrentar um samurai ou... Não, era apenas um louco homicida que procurava uma morte honrosa. Tem que ser isso.

Uma pequena gota excêntrica e animada pulou da testa de Kishi, escorregando junto de outras duas, as três pularam ao mesmo tempo do queixo de Kishi para o chão. Blash. Foi o que gritaram quando colidiram com o chão seco e deformado.

Esperar era entediante e aumentava a preocupação. Se o samurai dizer "não" para o convite de combate, então três flechas atingiram Kishi ao mesmo tempo, ele não vai conseguir escapar, disso ele estava ciente. Por dentro de seu manto branco, ele tocou sua arma e a segurou com força quando o viu.

O arqueiro havia voltado.

Trocando palavras baixas, o arqueiro que até então estava se comunicando com Kishi deu o anúncio.

 — Ele aceitou! Abram o portão. — Kishi respirou mais calmo.

"Estou progredindo."

O grande portão de ferro finalmente começou a se mexer. Ele gritou quando arrastou as pernas pelo chão quase como se anunciasse a chegada de Kishi. O jovem inconsequente caminhou quando o portão se abriu completamente.

Ele andou em linha reta, durante seu caminho encontrou algumas bifurcações, mas os guardas o orientaram. Ao chegar na praça daquele forte, ele viu o céu escuro cheio de pequenos pontos brilhantes. No meio daquela área aberta havia um homem.

Com uma armadura vermelha que brilhava tanto quanto as estrelas. Duas armas em sua cintura: a katana, sua espada principal, e a wakizashi, uma espada curta para quando ele não tivesse tempo de desembainhar a katana.

Seu rosto era coberto por um capacete que fazia alusão a um demônio com olhos negros. Ele se lembrou de uma antiga canção que falava sobre o demônio que os samurais enfrentaram, mas isso é irrelevante no momento.

— Então você é o samurai. Não vai me mostrar seu rosto? — provocou.

— Não seja presunçoso. Me provocar não irá tirar minha concentração. — Ele mordeu o lábio irritado pelo samurai ter acertado. — Quem é você?

— Kishi…. Apenas Kishi.

— Apenas Kishi? Pois bem. Eu sou Fuyuki Hiroshi. Você ainda quer permanecer aqui, Kishi? Se sacarmos nossas armas não terei piedade.

— Antes me responda. — Ele levantou a cabeça e olhou para a esquerda. — Aqueles dois arqueiros ali e os demais soldados, eles irão interferir?

— Não — Fez um gesto para os arqueiros se afastarem —, não tenha uma preocupação tão fútil.

— Mesmo que eu vença?

— Você não irá, mas têm minha palavra que nada ocorrerá caso saia daqui vitorioso.

— Assim fico mais aliviado — confessou Kishi relaxando os ombros. O samurai entrou em posição de combate, segurando sua katana, ele esperava o movimento do inimigo.

Kishi desembainhou suas armas. Duas espadas curtas com a lâmina curvada. O samurai ficou curioso, aquele tipo de arma não era visto normalmente. Pensando um pouco, se lembrou o nome e o estilo de combate daqueles que usam esse estilo.

— Duas cimitarras? 

— Não.

— O quê?

— São lâminas curvadas, não confunda com simples cimitarras.

— E qual a diferença?

— Lâminas curvadas... — Kishi parou e se acalmou, bufando logo em seguida. — Esqueça.

Em um impulso, Kishi surgiu na frente do samurai o pegando de surpresa. Como ele estava um pouco abaixado, ele usou a lâmina curvada da mão esquerda para atingir os olhos do samurai. Seu objetivo foi apenas distrair sua atenção, caso o samurai esquivasse ou defendesse ele teria sucesso em seu segundo ataque com a outra lâmina.

O samurai contra-atacou.

Sacando a wakizashi com a mão direita, o samurai tentou um corte vertical no rosto de Kishi. Felizmente, ele conseguiu mexer a cabeça um pouco se esquivando do ataque rápido. Hesitar seria como cortejar a morte. Por isso, Kishi rodou o corpo em 360° graus e usando novamente a lâmina curvada da mão esquerda, tentou um corte horizontal.

Mais uma vez o samurai se defendeu. Puxando a katana com a mão esquerda ele defendeu o ataque usando a arma de ponta cabeça, uma defesa improvisada sem dúvidas, mas o suficiente para evitar o golpe.

Após isso em um salto o samurai se afastou. Ele guardou a wakizashi e segurou a katana com ambas as mãos, agora da maneira correta. "Ele apenas atacou com a mão esquerda" pensou o guerreiro renomado, "Então o atacarei pela direita." 

Kishi jogou sua arma na direção de Fuyuki.

A lâmina curvada da mão esquerda rodou em alta velocidade, cortando o ar e colidindo na katana de Fuyuki. As armas encostaram seus lábios em um beijo metálico exuberante. A lâmina curvada agora rodou na direção inversa indo para cima. Fuyuki não entendeu por que ele jogou sua arma de maneira tão descuidada, estaria louco?

Kishi correu e pulou alto. Pegando a arma no ar com a lâmina apontada para baixo. Ele caiu em cima do samurai rasgando o ar. Pular não é uma boa decisão durante um combate e ambos sabiam bem disso. O samurai atacou com sua katana enquanto Kishi caia, não havia forma de se esquivar e nem de se defender. 

Ele iria perder o equilíbrio deixando uma brecha gigantesca para que Fuyuki acabasse com aquela brincadeira. Mas algo pareceu familiar, um instinto de guerreiro.

Um brilho chamou sua atenção.

Fuyuki parou o golpe com a katana antes que a mesma atingisse Kishi, movimentando o braço se defendeu de uma lâmina curvada que vinha de outra direção usando o kote, a placa de metal no braço da armadura.

"Quando ele jogou a segunda arma?" — Fuyuki pensou.

Após se defender daquela lâmina, ele se afastou para esquivar do golpe que vinha por cima de Kishi. Quando o garoto tocou os pés no chão ele agarrou a bainha da arma que havia sido defendida. Girando o corpo enquanto avançava, ele tentou vários cortes no samurai que se defendeu habilmente.

Após ter todos os golpes giratórios defendidos, Kishi em um último giro chutou a barriga da armadura do samurai. Quase não houve efeito. Aquele ataque nem mesmo o móvel do lugar.

Erguendo a arma com as duas mãos e a segurando alto. Ele desceu a lâmina da katana em alta velocidade, rasgando o céu estrelado em um golpe vertical. Kishi só teve tempo para colocar as lâminas curvadas na frente do ataque e torcer para não ser cortado ao meio.

O combate foi decidido naquele momento.

Uma terceira lâmina curvada que foi jogado a pouco tempo voltou rodando em alta velocidade. Atingiu o ombro esquerdo do samurai, exatamente na parte em que a armadura não o protegia, por conta de atrapalhar a movimentação. 

O samurai ficou confuso com aquele ataque repentino por trás. Tal ataque anulou seu golpe cortador de céu. E isso foi a brecha que Kishi precisava para com um único ataque, exatamente no pescoço onde não havia proteção, decapitar o samurai.

A cabeça saiu voando e o corpo sem vida caiu no chão. Guardou as três lâminas e cuspindo no corpo morto disse:

— Você era falso como imaginei. — Deixou um sorriso escapar. — Os samurais sempre se apresentam primeiro. Idiota.

 

 

Posto de vigia,
Onde Fazy e Gaia conversam.

— Ei Gaia, os guardas estão se movimentando — anunciou Fazy.

— Me passa esse binóculo — ordenou Gaia enquanto via os guardas do portão principal. Um soldado novato veio correndo até os arqueiros, ele estava desesperado e suando muito. — É isso.

— Isso o quê? 

— Homens! Preparar para invadir, o samurai foi derrotado!!

Quando aquelas palavras saíram da boca de Gaia, todos ficaram pasmos.

 

 

Dentro do banco do rei.

— Bem, o que temos aqui agora?

Todos os guardas que estavam ali dentro correram para a praça onde ocorreu a luta de Kishi, um guerreiro desconhecido, contra Fuyuki, o samurai. Muitos deles já estavam assistindo o combate, mas assim que o samurai foi morto todos ficaram alertas.

Os arqueiros miraram no intruso, lanceiros se aproximavam devagar e os guardas mais comuns ficavam parados, estando ali apenas para impedir uma fuga. Kishi percebeu que não tinha como escapar. 

— Pa...Pa... Parado! Não mexa um músculo — exclamou um dos guardas.

Kishi deu um passo para frente.

Todos deram um passo para trás.

— Tem muitos guardas aqui. Cuidar de vocês vai ser trabalhoso — disse enquanto olhava para os arqueiros e contava os números. Eles eram sua maior preocupação.

— Do que...

— Ei!

— Hã? Sim...? 

— Mande todo mundo abaixar as armas.

— Não posso fazer isso, você é um inimigo...

— O samurai disse que caso eu vencesse poderia ir embora. Vocês irão mesmo sujar a honra de um samurai que morreu em batalha?

Ninguém soube o que dizer. Deixá-lo ir embora seria o correto, mas ele era um inimigo que sabia a localização do banco do rei... Alguns engoliram em seco, outros suaram em desespero. "Ele vai matar todos nós" foi o que o guarda pensou.

— Abaixem as armas! — mandou o guarda, e todos obedeceram.

Kishi sorriu.

Sendo guiado até a saída. Kishi deu pequenas olhadas para os guardas conforme andava. Assim como seus homens, aqueles guardas evitavam ficar perto dele. 

Quando parou em frente ao portão de ferro, esperou calmamente enquanto o mesmo abria. Algumas pedrinhas pularam pela vibração que o portão fazia quando era aberto. Quando finalmente estava aberto, Kishi caminhou para ir embora.

E então parou.

— O que foi? — perguntou o guarda que o acompanhava.

Um dos soldados ali presentes também notou as pedrinhas do chão, mesmo com o portão parado elas continuavam se mexendo.

— Por um momento fiquei preocupado. Ainda bem que você entende as coisas rápido. — disse.

— Do que você está falando? 

— Inimigos! — gritou um arqueiro.

— O quê?!

— Sessenta... Não, oitenta homens a cavalo vindo!

— O que você fez seu des--

Em um girar Kishi cortou a garganta daquele guarda deixando os demais ali perplexos. Lançando as duas lâminas curvadas, ele atingiu a cabeça de dois guardas que estavam correndo para fechar o portão.

Uma tropa de guerreiros se aproximava. Todos de cavalo e com boas armas, Kishi sorriu com tudo aqui. A imagem de um guerreiro misterioso e poderoso que derrotou um samurai, confundiu os guardas os deixando focado demais nele.

— Homens! — gritou. — Avançar!

 

 

Após o árduo confronto entre Alopeke e os guardas do banco.
Vitoriosos: Alopeke.

— Ufa... Pensei mesmo que você iria morrer. Ainda bem que era um samurai falso — desabafou Fazy enquanto dava tapinhas nas costas de Kishi.

— Mas era um bom guerreiro, faz sentido que ele tenha conseguido manter a farsa por tanto tempo.

— E como é que você sabia que os samurais precisam se apresentar primeiro? Tu não é samurai não né?

— Não. Meu pai me contou sobre isso, ele...

— Kishi — Gritou Gaia enquanto corria na direção dos dois.

— Não diga meu nome perto dos subordinados! — exigiu.

— Desculpe, mas você precisa ver isso, encontramos enquanto estávamos saqueando o banco. — Gaia entregou uma carta para Kishi, a princípio ele e Fazy não entenderam. Enquanto Kishi lia o conteúdo, Fazy deu uma espiada por cima, mas não entendeu muita coisa.

A carta continha uma apresentação, relatório dentre outras informações triviais, o verdadeiro conteúdo estava no final:

"[...] Fuyuki, agradeço por seus serviços você será recompensado quando retornar ao palácio. Dentre os tesouros guardados no banco real há uma caixa com o símbolo da realeza. A mesma contém um tesouro nacional que não deve ser pego pelos inimigos, no pior dos casos destrua o conteúdo [...]"

— Foi o rei que escreveu isso?

— Sim, e encontramos a caixa. — Gaia mostrou uma caixa de madeira retangular, em cima havia o símbolo de 4 lótus representando que aquele item pertencia ao rei.

— Uou, bonito e tals, mas o que vamos fazer com uma caixa? — Perguntou Fazy.

— Idiota, o importante é o que está dentro. Olhem. — Gaia abriu a caixa.

Uma forte luz saiu quando a caixa foi aberta. Kishi e Fazy viram seis esferas coloridas. Havia um símbolo estranho gravado nelas que eles não conheciam. Algum tipo de código provavelmente. As seis esferas brilhavam no tom azul, verde, vermelho, amarela, rosa e marrom.

— Que símbolo é esse? Não é um kanji.

— Não, é uma língua antiga, antes da reformulação.

— Nossa, é velho então — ironizou Fay.

— O que são essas esferas, Gaia?

— Kishi…. — Gaia tomou fôlego antes de prosseguir. — Você já ouviu falar sobre...

Noredan?



Comentários