Volume 3
Capítulo 93: Um plano de contingência.
“O que você vai querer de mim?” Juan perguntou depois de um tempo.
Ele viu esse senhor de idade curar sua filha de uma maneira misteriosa, mesmo com a explicação de Tyler dizendo que era um remédio experimental de algum grande fabricante, ele não acreditou. Afinal, não importava o preço, as pessoas pagariam.
Juan mesmo sabia que se o preço daqueles simples comprimidos fossem 50 milhões, ele pagaria! Não importava se ele tivesse que fazer um empréstimo, vender sua casa, seu carro ou sua alma.
Sua filha era tudo o que ele tinha, ela era o presente que sua mulher lhe deixou, se fosse um dos seus clientes regulares que tivesse curado sua filha, com toda certeza ele seria o escravo mais produtivo daqueles cartéis.
“Quero que você trabalhe para mim.” Tyler foi curto.
“Você sabe como eu trabalho?” Juan perguntou indeciso.
“Sei...” Tyler tinha um gosto estranho na boca enquanto pensava nessa situação.
“As pessoas em geral não gostam do meu trabalho.”
“As pessoas tendem a gostar mais de quem prende bandidos, do que de quem solta.” Tyler deu de ombros.
“Então por que está aqui?” Ele quis saber.
“Por que eu vou fazer algo errado e não quero que outros sejam culpados por minha causa.” Tyler foi bem sincero.
Juan pensou bem nas palavras de Tyler e então disse. “Primeiro tente me explicar o contexto geral e eu vou pensar num plano.”
“Certo...” Tyler começou a descrever os seus planos e tudo o que estava legalmente fazendo de errado.
É claro que ele não contou seus motivos e tão pouco Juan queria saber, há muito tempo ele já sabia até onde deveria saber, e o que não saber sobre seus clientes.
Tyler descreveu sobre o calote que daria tanto nos bancos onde tinha feito empréstimos e também nas mercadorias que estavam sendo guardadas no armazém. E talvez o pior de tudo eram os roubos de informações que os garotos e seu grupo de Nerds estavam hackeando de tudo quanto era lugar.
“Olha, sua situação é bem complicada, com um pouco de suborno e provas falsas aqui e ali eu posso te estimar que sua pena será de uns 10 anos, se eu trabalhar bem, você sai em dois para uma prisão domiciliar por causa da sua idade.” O advogado explicou depois de um tempo.
“Acho que você não me entendeu corretamente, eu estou pouco me lixando de como vai ficar minha imagem ou de quais crimes eu serei acusado. Eu só não quero que Calie e os garotos sofram as consequências.”
“Mas e se te pegarem?” Juan perguntou confuso.
“Acredite, eu tenho meus métodos de sumir.”
Tyler novamente foi muito curto em sua declaração, mas vendo a confiança que esse velho tinha, Juan não duvidou de nada. “Quão longe estaria disposto a proteger eles?” Ele sondou.
“Até onde for preciso.” Tyler foi firme.
Juan afundou-se na sua poltrona e ficou batendo os dedos na mesa enquanto buscava uma saída. “Tenho uma opção...” Ele falou depois de longos minutos.
“Fale.” Tyler quis saber.
“O que eu vou propor, é algo que eu desaconselharia a qualquer pessoa em sã consciência fazer.” Ele fez outra pausa como se estivesse ponderando no que falaria. “Se quiser seguir em frente terá que confiar completamente em mim, e não terá nenhuma garantia que eu farei o combinado.”
Se fosse em outra circunstância Tyler teria quebrado a cara desse advogado metido a comunista, só que dessa vez era Tyler quem era um bandido procurando uma saída entre as brechas da lei.
“Vamos em frente.” Tyler aceitou.
“Confia em mim tanto assim? Eu tenho motivos para confiar em você, contudo você não.”
“Você parece ser um homem fiel a seus próprios princípios, mesmo que eles não sejam tão corretos assim.” Tyler falou.
“Se é assim que pensa, eu não vou discutir. Deixe-me explicar a minha linha de ação.” Juan começou a falar.
Segundo o que Tyler pôde filtrar dessa conversa, o plano era o seguinte. Juan e Tyler teriam um breve relacionamento profissional, bem aberto publicamente, logo seguido de um rompimento de proporções épicas.
Todos os bens que Tyler pensasse em doar para Calie ou para os garotos seria “tomado” no tribunal por Juan. Após o dia “D”, Juan agiria mais como um acusador do que um advogado, como Tyler estava pouco se lixando com as repercussões e acusações em cima da sua pessoa, era um prato cheio para Juan mudar o foco dos processos que eventualmente recaiam sobre Calie e os garotos.
“Quanto tempo falta para você sumir?”
“Mais ou menos 100 dias.” Tyler respondeu.
“Se quer guardar algum dinheiro, eu recomendo que faça em espécie, minimize o uso de contas em bancos.” Ele aconselhou.
“Certo, eu vou deixar algum dinheiro, bem como algumas bolsas de estudos pagas. Com as universidades eu me viro, ainda tenho alguns amigos lá dentro e não será problema, desde que eu tenha pago.” Tyler informou.
“Me dê um relatório completo dos seus bens e de como suas empresas vão agir, talvez eu possa aconselhar em algumas coisas e minimizar os problemas no futuro.” pediu.
Como Tyler já sabia que ele precisaria de algo do tipo então tinha um preparado de antemão.
Agora quem suspirou aliviado foi Juan ao perceber que Tyler estava se mantendo o máximo possível longe das encrencas e pagando fielmente todos a quem comprava.
“Sabe, um jeito de minimizar os danos é aplicar uma cláusula no contrato de cada pessoa ou empresa que alugar uma área no seu armazém.” Juan disse.
“Cláusula?” Tyler ficou confuso.
“Deixe claro que cada um tenha que fazer um seguro obrigatório antes de fechar contrato com você.” Ele esclareceu.
“Vai dar certo?” Tyler não estava muito convencido.
“Olha, se as pessoas forem corretas quando derem o valor no ato de fechamento do seguro, elas não terão perda alguma, sendo assim não haverá muita gente revoltada querendo vingança.”
“Você está correto, eu vou fazer como pediu. Agora vamos dar uma olhada em sua filha.”
Antes de irem conversar, Tyler tinha examinado a garota e viu que o seu estado era bastante peculiar.
Em primeiro lugar, quando ele a examinou viu que ela tinha uma febre muito alta, contudo não sofria de nenhum efeito adverso.
O corpo humano foi feito para trabalhar a 36.5ºc, apenas em situações especiais, quando a mulher está ovulando, essa temperatura sobe em meio grau.
Um fato interessante é que se o corpo subir a sua temperatura em apenas um grau ele precisa do dobro de calorias para exercer os mesmos exercícios de uma situação normal. Estranhamente, a menina Lupita estava com 41,5°c e não apresentava nada de anormal.
Com 40ºc de febre não há mais nenhuma divisão celular ocorrendo e todas as funções mais básicas do corpo estão severamente prejudicadas.
Quando Tyler perguntou o que ela sentia, ela apenas respondeu que se sentia muito quente, mas não doía nada.
Era chato admitir que ele não sabia de nada, Tyler só pôde tentar controlar o ocorrido da melhor forma. Ele supôs que essa febre inexplicável era fruto das ervas medicinais, tudo o que ele pôde fazer foi aplicar um soro com um coquetel de vitaminas na menina a fim de evitar uma desidratação, ele nem se deu ao trabalho de tentar dar um antitérmico, pois tinha medo de cortar o efeito das ervas de alguma forma.
Quando eles entraram no quarto novamente, a menina estava muito melhor. Sua pele estava rosada e seus olhos tinham um brilho mais vivo e sadio. Os sacos de soro intravenoso estavam quase no fim, tudo ia bem, se não fosse o médico dela fazendo um escândalo.
“Que merda é essa? Onde está esse cara? Me diz eu quero saber!” Ele gritava com a pobre enfermeira que não tinha culpa de nada.
Tyler tinha uma filosofia bem simples de vida, ela era: converse quando se pode resolver na conversa e lute quando as palavras não funcionam.
Estava claro que esse idiota não conversaria.
Tyler não pensou duas vezes, agarrou na orelha do médico e o arrastou para fora do quarto como uma criança mimada.
“Mas o quê?!” O homem estava sem saber o que estava acontecendo.
“Seu monte de merda incompetente! Eu relevei seu erro porque poderia ser algo que passaria despercebido aos olhos, principalmente de alguém que ficou cuidando do paciente a noite toda e estivesse cansado, todos somos humanos e podemos falhar.” Tyler deu um soco na boca do estômago dele, fazendo-o perder o ar. “Ela ia morrer, e o que você ia fazer? Ia pedir desculpas?” Tyler perguntou.
“Ela já está perto de morrer de qualquer forma.” O médico respondeu de forma mesquinha.
Aquilo foi a gota d'Água para Tyler, ele se lembrou do dia da sua formatura, de como ele e seus colegas estavam tão emocionados quando fizeram o juramento de Hipócrates que até choraram de emoção, todas aquelas palavras viraram um estilo de vida. Mesmo nas selvas em meio ao caos das batalhas, cada soldado a quem Tyler se prontificou a prestar socorro, recebeu total atenção sua.
E agora, um merda desse praticamente cuspia no que muitos outros construíram antes dele!
Já caído no chão devido ao soco na barriga, o homem só pôde ficar em posição fetal enquanto recebia chutes sem fim de Tyler.
“Eu vou fazer o possível para tirar a sua licença, um monte de merda como você salva mais vidas em casa sem fazer nada do que trabalhando num hospital! Eu quero saber quem deu um diploma para um incompetente como você!” Tyler rugiu.
Ouvindo os gemidos abafados, Juan veio ver o que estava acontecendo. “O que é isso?” Ele quis saber.
“Sua filha ia morrer por causa dele e ele nem estava ligando para o estado dela. Não sei quem te indicou ele, mas se eu fosse você, tirava a licença, a casa e todo o dinheiro que ele tem.”
Parece que Tyler tinha pisado no calo de Juan, pois o homem se transformou. “Pode deixar eu não só vou processar ele como tenho alguns amigos que me devem favores.” Ele foi frio e cada palavra continha uma clara intenção de morte.
Tyler voltou para dentro e checou a condição da menina mais uma vez antes de ir. Sua febre já estava quase passando e ela estava quase que completamente lúcida. Qualquer pessoa comum fica meio grogue devido as fortes drogas, a menina que tinha um corpo tão frágil não era uma exceção, mas agora parecia que tudo corria bem.
Mesmo não sabendo os parâmetros médicos de como as ervas estavam agindo, Tyler prescreveu mais comprimidos.
“Eu quero que você faça o seguinte.” Tyler passou um estojo de inox para o pai. “Dê dois desses vermelhos e um dos amarelos quando completar 24 horas, depois dê apenas um vermelho por dia, quando terminar a semana leve-a num hospital e faça um check-up completo dela. Eu volto quando você estiver com o resultado dos exames.”
“Eu vou fazer!” Juan estava resoluto, ele estava muito mais animado quando viu a rápida melhora da filha.
“Certo, até mais então.”
***
Quando Tyler acabou de entrar em casa ele recebeu uma ligação.
“Alô?”
“Tyler, você pode vir aqui em casa, o cachorro está agindo estranho.” Calie soou preocupada do outro lado da linha.