Volume 3
Capítulo 84: Aurora.
“Então vossa majestade quer que eu separe uma área de cultivo?” Macal perguntou.
“Em primeiro lugar, é apenas Tyler, em segundo lugar é apenas uma área pequena. Eu quero que você cuide das plantas que eu vou trazer.” Tyler explicou.
“O Mestre deve vir de um lugar muito diferente, para querer que eu cuide de suas plantas.” Macal falou.
Tyler percebeu que ele tinha parado de chamá-lo de vossa alteza, mas ainda sim não conseguiu chamá-lo sem algum honorífico.
“Não vai ser segredo no futuro, então eu vou abrir logo o jogo com você, eu não sou desse planeta!” Tyler revelou.
Macal tinha uma expressão muito estranha no rosto, seus lábios tremiam e de vez em quando ousavam formar um sorriso. Ele se parecia com um aluno que está pendurado na matéria de um professor chato e tem que rir de qualquer piada, o problema era que macal não tinha ideia se era uma piada ou não.
“Estou falando sério.” Tyler cortou sua evidente indecisão.
Macal soltou um gemido e começou a coçar o queixo. “Pensando bem, até que faz sentido… Não, na verdade, isso explica tudo.” Ele disse depois de um tempo.
“Vocês até que aceitam fácil.” Tyler riu.
“Quem mais sabe?” Macal quis saber.
“Por enquanto apenas o rei e você, mas eu vou contar a todos que são da minha confiança. Quando eu for coroado, não será segredo.” Tyler revelou.
“Essas plantas do seu mundo são muito especiais?” Ele perguntou curioso.
“Sim e não, no meu mundo não existe magia, nós nem temos plantas medicinais como essas, porém tentamos resolver todos os problemas com a engenhosidade.”
“Isso parece fantástico. Os artefatos que o mestre nos mostrou eram tão diferentes que todos nós pensamos que usava magia, quem diria que não há magia… e como se resolve os problemas nas plantações sem magia?” Macal perguntou.
“Bem, me fale primeiro, quais são os problemas daqui que são resolvidos com magia.”
“Quando a colheita se mostra fraca e o reino sente que não será o suficiente ele pode usar núcleos de feras para adubar as plantações. Ouvi dizer que algumas vezes pequenos agricultores fizeram amizades com ninfas e elas deram suas bênçãos as lavouras.”
“Isso é muito interessante, lá no meu mundo nós criamos vários institutos de pesquisas, e é trabalho deles resolver os problemas que surgem na nossa sociedade.”
“Esse institutos são como a casa dos sábios?” Macal perguntou.
“Sim, mas dezenas de vezes maiores, cada cidade grande tem no mínimo um, alguns são apenas para ensinar as pessoas, outros são apenas para procurar soluções e outros fazem as duas coisas.” Tyler explicou.
“Fascinante, e como se soluciona o problema das plantações?” Macal era como um menino curioso que tinha descoberto um novo mundo.
“Encaramos o problema com racionalidade. Por exemplo: Uma plantação não deu bons resultados. Devemos investigar e descobrir a origem do problema, pode ser o solo, a água, o clima, ou a genética daquela semente não é ideal para aquele local.” Tyler explicou.
“Entendi a explicação do mestre sobre a água, o solo o clima. Contudo eu não sei o que significa genética.”
“Desculpe, foi um erro meu.” Tyler respirou fundo e tentou explicar o processo genético de uma maneira simples. “Muito tempo atrás, descobrimos que todos os seres vivos são feitos de pequenos blocos de construção e eles formam um código, cada ser vivo tem um código diferente de outro.”
“Bloco de construção?” Era evidente que Macal estava boiando.
“Pense numa receita de bolo, todos os bolos do mundo teriam os mesmos ingredientes, o que mudaria seriam só a quantidade usada em cada um. Até aí tudo bem?”
“Sim, é um pouco confuso, mas eu entendo um pouco.”
“Certo, tentarei ser simples.” Tyler fez uma pausa e retomou o pensamento. “Os códigos são a nossa receita, é isso que faz cada um ser diferente dos outros. Você já viu como as pessoas que tem a pele muito branca ficam quando tomam muito sol?” Tyler pensou em um exemplo fácil.
“Elas se queimam fácil” Ele respondeu.
“E as pessoas de pele escura?”
“Não se queimam.” Ele respondeu parecendo captar o conceito.
“Eu não sei como é aqui, mas no meu mundo aconteceu dessa forma, nos locais onde é muito frio, as pessoas têm o tom de pele claro, os cabelos são mais dourados e vermelhos e os olhos também são mais claros. Onde é muito quente as pessoas têm a pele mais escura e os cabelos e olhos são quase sempre negros.”
“Faz muito sentido, por que é isso?”
“Questão de adaptação.” Tyler explicou.
“E como se usa isso nas plantas?”
“Bom, se o local tem pouca água, podemos encontrar uma semente mais resistente, ou se é frio escolhemos uma semente de um local frio.”
“Então no seu mundo vocês procuram sementes de vários locais e plantam onde ela se daria melhor?” Macal supôs.
“Mais ou menos. Se um casal que é de uma pessoa de pele escura se casa com uma de pele clara, como serão seus filhos?” Tyler perguntou.
“Terão a pele que nem é tão clara com um, nem tão escura com a do outro, será uma mistura dos dois.” Ele respondeu.
“Você concordaria se eu dissesse que os filhos deles herdaram as características dos pais, eles podem até não serem muito resistentes ao sol ou ao frio, mas ficam bem nos dois cantos, contanto que não seja tão extremo?”
“Concordo!” Macal respondeu prontamente.
“Assim nós fazemos com as plantas, vamos cruzando várias e várias espécies até que encontremos uma ideal para cada tipo de local.”
Macal estava boquiaberto, ele tinha dedicado toda a sua vida para a agricultura e de repente Tyler abriu as comportas do conhecimento sobre ele. Foi uma enxurrada devastadora, muitos dos seus pensamentos e suposições foram confirmados nesse instante. “Por favor, me ensine tudo o que o mestre sabe, eu pago o preço que for.” Ele se ajoelhou na frente de Tyler e implorou.
“Calma homem, não precisa disso, eu vou te ensinar. Mas voltando ao meu pedido, você tem um local onde eu possa fazer essa plantação?”
“Claro, tenho sim, eu separarei a melhor terra e cuidarei com minha vida.”
“Não é para tanto, porém eu agradeço e também separe alguns jovens para que eu os ensine junto com você.”
“Sim, escolherei os melhores de todo o reino.”
“Bom, nesse caso vamos ter que trabalhar muito.”
Os pensamentos de Tyler era fazer um jardim experimental e ver quais culturas se davam bem aqui. Ele queria aumentar a capacidade de produção agrícola desse mundo, bem como sua variedade.
Se você pensar bem, 90% das comidas de todo o mundo são feitas tendo base, poucas plantas diferentes.
O trigo, o milho, a cevada, a soja, o arroz, o feijão, o cacau, o café, a cana-de-açúcar, sorgo e a aveia são os pilares da alimentação mundial, uma pessoa pode até não comer diretamente qualquer um desses, contudo certamente comeu algum animal que foi alimentado com eles.
Se Tyler introduzisse apenas sementes de trigo, milho e arroz de alta qualidade, haveria uma diferença esmagadora na qualidade de vida das pessoas dessa Terra…
Dessa Terra?
“Macal, eu estou com uma dúvida, como vocês chamam o planeta de vocês?” Tyler perguntou.
“O mestre não sabe disso?” Ele estava surpreso.
“Quando eu cheguei fiquei tão excitado com as coisas novas aparecendo na minha frente que nem passou pela minha cabeça perguntar o nome desse planeta, e depois eu tive que fingir que era um estrangeiro de um país distante, então ficaria estranho se eu perguntasse.” Tyler se explicou.
“Desculpe, o mestre tem razão, informando ao mestre, chamamos esse mundo de Aurora!” Macal revelou.
“Aurora… Aurora…” Tyler ficou repetindo várias vezes esse nome, mas nada tirava da sua cabeça que era um nome muito estranho. “Aurora não é um nome de pessoa?”
“O senhor conhece alguém que se chama Aurora? Isso é tão estranho.”
‘É, realmente, se você encontrasse alguém que se chamasse Terra, seria muito estranho mesmo.’ Tyler pensou.
“Vocês sabem do motivo desse nome?” Tyler perguntou.
“Não, mas eu ouvi dizer que os povos sobre a montanha contam uma lenda. E nessa lenda o nome Aurora quer dizer presente.” Macal explicou.
“Quem são os povos sobre a montanha?” Agora era Tyler quem estava curioso.
“O reino Leste e Oeste, faz divisa com as montanhas ao norte. Todas as montanhas são propriedade dos anões. Contudo, quase nenhuma raça de anão vive em cima da terra, eles preferem viver no interior das suas minas. Como era de se esperar não dá para plantar nada no interior das cavernas. Os povos que vivem sobre a montanha cultivam e fazem comércio com eles.”
“Eles são outro reino?”
“Não, eles são de várias tribos diferentes, às vezes estão unidos e outras vezes lutam entre si. Nenhum reino até hoje interferiu no território deles.”
Como se fosse anos atrás, Tyler se lembrou daquela moça que ele salvou em sua primeira viagem pelo reino. Seu nome era Krinna, antes de se despedir ela lhe beijou e disse que fazia parte desse povo.
Embora tenha sido uma experiência interessante, Tyler não levou em consideração na época.
“Acho que eu deveria ir lá depois.” Tyler suspirou.
“Não aconselho o mestre ir lá só.” Macal alertou.
“E por que não?”
“Bem, nossas terras podem ter seus perigos, como feras, trolls, ogros e goblins, mas lá dizem que existem monstros em forma de homens. Dizem que há homens lobos e homens-morcego que lutam entre si.”
“Homens lobos e homens-morcego?” Tyler ficou com uma pulga atrás da orelha. “Como eles são, não vi nenhum registro deles nos livros das guildas.”
“Poucas pessoas sabem sobre eles, eu mesmo só soube pois um mercenário me contou. Aparentemente existem pessoas que podem se transformar em lobos imensos e outras que precisam beber sangue de seres vivos para sobreviver, assim como alguns morcegos.”
‘Seriam lobisomens e vampiros?’ Tyler pensou. “E eles lutam entre si?” Tyler queria saber mais.
“Parece que são inimigos mortais, nenhum suporta a existência do outro, o mercenário que me contou, disse que cada um tem a força e agilidade de dez homens. Eles são guerreiros ferozes, nem os anões ousam interferir nos seus territórios.”
“Agora fiquei curioso e apreensivo.” Tyler suspirou. “Eu vou partir para a floresta da perdição amanhã, quer ir junto?” Tyler mudou de assunto e o chamou.
“Sério, posso ir junto?” Os olhos de Macal brilhavam.
“Sim, esteja pronto para sair de manhã cedo.” Tyler informou.
No resto do dia ele ficou treinando tiro ao alvo com o rei, mas em nenhum momento deixou de pensar em como esse mundo era diferente, era muito mais ameaçador e brutal que a Terra, mas sem dúvidas tinha seus pontos positivos.