Volume 3
Capítulo 69: Último sorriso.
Quando Tyler fez seu caminho de volta para sua casa no Texas, ele tinha apenas uma coisa em mente. Tentar liofilizar a raiz de Lirana e fazer comprimidos.
Talvez se essa fosse uma situação normal, Tyler teria chamado Macal para lhe ajudar e ensinar algumas técnicas. Embora ele tivesse uma formação sólida na área da botânica e soubesse muito mais sobre plantas do que Macal sequer imaginasse, ele tinha que admitir que não sabia nada sobre magia, na verdade ele estava no escuro na maior parte do tempo.
Tyler sempre foi um homem que buscou todos os tipos de conhecimento, mas nunca se interessou por magia, ocultismo ou coisas do tipo. E a razão para isso é que não existia nenhuma utilidade para aqueles conhecimentos, Tyler só queria aprender o que era útil, mesmo que as chances fossem remotas ele gostaria de aprender, foi assim com o latim, sabe-se lá quando ser fluente em latim seria útil para Tyler, mas mesmo assim, ele aprendeu.
Ele chegou em casa e foi até a cozinha onde tinha instalado o liofilizador.
Para começar ele levou o vaso de plantas para lá, o vaso fora da caixa cofre era pequeno e podia ser carregado sem problemas.
Agora com tempo, ele pôde ver em detalhes como era essa planta tão rara, ela tinha um caule fino e verde, suas folhas eram abundantes e se pareciam muito com a de um bordo canadense, suas folhas embora verdes tinham um brilho especial, sabe aquele brilho característico das asas de uma libélula que dependendo do ângulo elas brilham em todas as cores do arco-íris?
As folhas tinham essa mesma qualidade.
Tyler vestiu luvas e um jaleco descartável, ele tinha aprendido com Macal que qualquer contaminação poderia diminuir o poder medicinal. Ele, com muito cuidado, começou a remover a raiz do solo, diferente de tudo o que ele imaginava a raiz era como um globo de ouro, exceto por alguns fiapos de raiz ela era quase uma esfera perfeita.
Ele tinha separado alguns galões de água destilada e os usou para retirar toda a sujeira acumulada. Em um rápido processo a mergulhou em nitrogênio líquido.
Depois de alguns segundos a batata estava completamente congelada, Tyler a pôs no liofilizador e esperou.
No tempo livre ele voltou a sua sina de derreter o ouro e prata em lingotes, todos os comerciantes já sabiam que Tyler preferia a prata ao invés do ouro, contudo o volume de compras era tão grande que nem sempre era possível aos compradores trazerem prata suficiente.
Depois de liofilizada a raiz era seca e leve como um pedaço de isopor, Tyler cortou-a em fatias e então as triturou em um pilão de porcelana, ela ficou como um pó fino e dourado, o último passo era encapsular, contudo não havia grande segredo nisso.
Tyler ainda tinha guardado a caixa da madeira de anaboar, bem com o indicador de resina que fez junto com a caixa, para a sua sorte rendeu 450 comprimidos, muito mais que os 200 de yang sangrento.
Antes de sair ele tinha pedido aos garotos que enviassem os relatórios constantes do quadro clínico de Clare para o seu e-mail.
Mesmo que ele não pudesse ver quando estava fora, ele saberia de todo o quadro no instante em que voltasse.
“Isso é mal, muito mal!” Tyler exclamou surpreso quando começou a ler.
Sem pensar duas vezes ele botou a caixa com os comprimidos debaixo do braço e correu para o hospital.
Segundo os relatórios o estado de Clare tinha piorado de forma repentina poucas horas depois que ele atravessou o portal, ele já tinha previsto que a condição dela podia piorar nesses poucos dias, mas não havia nem 48 horas desde que ele saiu.
Clare estava atualmente entubada na UTI, lutando contra à morte.
***
“Com licença, eu queria visitar a senhora Clarice Smith.” Tyler falou com a atendente.
“Senhor, o horário de visitas já acabou, o senhor deve retornar amanhã.” A atendente falou em um tom que misturava cordialidade e rigidez.
Vendo que a atendente não faria nada Tyler perdeu a paciência.
“Olha aqui, eu sou o Dr. Newman, o médico particular dela, minha paciente está em um estado gravíssimo e eu não tenho tempo a perder com você, agora ou você me libera, ou eu vou ter que chamar a Dr. Sara Johnson para resolver esse problema.” Tyler foi duro.
“Desculpe-me!!!” A moça ficou assustada depois que percebeu a gafe que tinha cometido.
“Ah, Dr. Newman! Que bom que veio, eu estava me perguntando quando iria aparecer?” A Dr. Sara exclamou, pelo visto ela estava passando apenas por coincidência, felizmente para a atendente, pois ela se livrou de uma boa discussão.
“Aqui, Dr. Newman, desculpe-me a demora...” A atendente muito esperta deu logo o crachá de visitante a fim de despachar Tyler o mais rápido possível.
Tyler pegou o crachá sem tirar os olhos da mulher como se quisesse passar a mensagem. ‘Não faça isso comigo de novo, é melhor decorar o meu rosto.’
“Dr. Johnson, eu estava de viagem e fiquei incomunicável, mas assim que soube voltei imediatamente, por favor me dê os detalhes!” Tyler suplicou, ele nem percebeu, mas sua voz soava verdadeiramente preocupada.
“Por favor, me chame apenas de Sara, afinal minha mãe me disse que o senhor é como se fosse de casa, venha me acompanhe.” Sara o convidou.
Sara tinha falado com sua mãe no mesmo dia em que o viu pela primeira vez e para sua surpresa ela além de lhe quase ordenar cuidar das parentes dele, ficava ligando constantemente para saber se ela estava mantendo sua palavra, ela realmente ficou curiosa com esse senhor e procurou seu nome na internet, para sua surpresa descobriu as várias formaturas dele e alguns de seus artigos científicos publicados, que eram no mínimo curiosos e excêntricos, não no mal sentido, apenas era muito incomum o fato deles transcenderam as vias normais de um artigo comum, ela sentia o conhecimento diverso de Tyler transbordando em cada linha, era como se ele interligasse uma simples coisa com todos os fatores internos e externos que a causavam. Sem saber ela desenvolveu uma admiração profissional por ele, sem contar que ele tinha sido muito cortês e simpático quando se conheceram.
“Essa mulher é uma guerreira, eu não acompanhei o seu caso desde o início, porém com base no seu histórico ela deveria ter ido a muito tempo, mesmo agora ela está em coma se agarrando à vida como uma desesperada, eu simplesmente não sei como ela ainda está viva!”
Tyler tinha chegado às mesmas conclusões quando leu o histórico médico de Clare, a pobre Calie não sabia, mas a três anos atrás o médico tinha dito que ela tinha apenas mais três meses de vida, e como uma guerreira ímpar ela lutou contra o câncer e durou por mais três longos e dolorosos anos, contudo depois da visita de Tyler o quadro um pouco estável declinou como alguém caindo de um penhasco, nem três horas depois dele ter atravessado o portal ela entrou em coma, e assim estava desde aquele dia.
“Ela faz parte daquele grupo que são os milagres vivos...” Tyler suspirou.
“Concordo.” A médica respondeu.
Todo médico sabia desse termo, às vezes existem pessoas que desafiam a lógica, elas são aquelas que eram para estar mortas, porém simplesmente continuam lá.
Como um homem que leva uma facada na cabeça e em vez de sair em um caixão sai apenas com um par de pontos na cabeça e um pacote de aspirinas no bolso.
Clare estava atualmente na UTI, então visitas normais eram proibidas, contudo profissionais da área da saúde são autorizados a entrar.
Havia uma grande janela de vidro onde os acompanhantes podiam olhar a seus parentes, Tyler logo reconheceu uma pequena cabeleira cor de areia.
“Calie?” Tyler perguntou.
A pobre moça, ouviu alguém lhe chamando e virou o rosto.
Lá estava ele, mesmo ainda sendo praticamente um desconhecido ela se sentiu extremamente grata por ver aquele senhor de idade ali, inconsciente de saber que estava andando em sua direção ela se aproximou a uma distância de apenas um passo dele.
Tyler sentiu uma faca entrando no seu peito quando olhou para o estado de Calie, sua pele branca destacava as grandes olheiras esculpidas pelas noites em claro e seu pequeno nariz vermelho dizia o quanto ela tinha chorado, Tyler sentiu como a vida era injusta, nesse momento ele decidiu evitar a qualquer custo vê-la nessa situação novamente.
“Minha… mãe…” Quando Calie pensou que todas as suas lágrimas tinham secado elas fluíram novamente, sem pensar ela abraçou Tyler com força.
Tyler não teve nenhuma reação lúcida quando Calie o abraçou, uma pessoa composta teria lhe abraçado de volta e dito algumas palavras de conforto, mas nada disso veio na mente dele.
Sem ação ele apenas acariciou a cabeça dela, enquanto ela derramava tudo o que tinha na blusa dele.
Sara vendo a cena os deixou em paz.
Mesmo se você perguntasse para ambos depois, eles nunca poderia dizer corretamente quanto tempo passaram se abraçando daquele jeito.
“Eu vou dar um jeito...” Tyler finalmente falou depois de um tempo.
Calie não disse nada e apenas acenou.
Tyler procurou Sara enquanto pensava num modo de dar o remédio para Clare.
“Eu quero entrar para vê-la.” Ele disse quando a achou.
“Claro, vamos trocar de roupa.”
Para entrar em uma UTI a pessoa tem que usar uma bata descartável, máscaras, luvas e toucas. Tudo isso é porque o estado de saúde das pessoas ali é muito delicado e qualquer sujeira ou mínima doença externa pode piorar o quadro do paciente até a morte, a pobre Clare tinha passado pela quimioterapia e quase não possuía mais defesas no corpo.
O plano de Tyler era o seguinte, ele pegaria uma seringa no carrinho de equipamentos da sala, abriria duas cápsulas de lirana e uma de yang sangrento dentro de um recipiente qualquer com um pouco de soro, apenas o suficiente para diluir.
Em um horário que ninguém estivesse olhando ele injetaria no acesso intravenoso. Seria uma saída de mestre, ninguém desconfiaria e talvez fosse o suficiente para que ela melhorasse ao ponto de voltar para o quarto, e lá seria muito mais simples, já que ela poderia tomar os comprimidos sozinha.
Quando estava se trocando Tyler colocou discretamente os comprimidos na junção da luva com a bata, aquelas pequenas cápsulas eram tão pequenas que ninguém desconfiaria de nada.
“Está pronto?” Dr. Sara veio perguntar.
“Sim.” Tyler respondeu e a seguiu.
Eles entraram na sala e o barulho intermitente dos “Bips” soavam a todo momento entre os diversos pacientes ali.
Bip… bip… bip…
Era toda a resposta que vinha daquela mulher, Clare estava toda entubada naquela cama.
Tyler se aproximou pegou na mão dela então abaixou-se até os ouvidos dela e falou. “Não se preocupe, eu estou aqui agora.” Tyler falou tentando soar confiante.
Os batimentos de Clare aumentaram por um instante depois de ouvir a voz dele.
Contrariando qualquer lógica ela abriu os olhos.
Tyler ficou boquiaberto com aquilo!
Ela olhou fundo nos olhos dele e então esboçou o que seria um sorriso.
Bip… bip… biiiiiii….
Aquele foi o seu último sorriso, lentamente Tyler viu os olhos azuis dela perderem o brilho.