Volume 3
Capítulo 102: Um homem perdido em suas escolhas.
Quando Tyler deixou a caverna e foi até a cidade, em seus olhos não havia nenhuma felicidade.
Hoje era para ser um grande momento para ele, hoje seria o começo do seu grande império. As ruas da cidade fervilhavam de pessoas indo e vindo.
“Bem-vindo mestre!” Thoran recebeu Tyler junto com todos os criados da mansão.
“Obrigado.” Tyler forçou um sorriso.
Desde de que Thoran e Noeru sabiam sobre a verdade, eles prepararam uma recepção de boas vindas.
“Sua Alteza.” Macal o cumprimentou.
“Macal.” Ele acenou de volta. “Vamos entrar.”
“Quais são os seus planos, agora quem vai ficar aqui?” Macal quis saber.
“Primeiro vou começar as bases para um império, preciso de um lugar inteiramente novo para construir tudo.”
“O que é um império?” O nobre nunca tinha ouvido essa palavra antes.
“Um império.” Tyler começou a explicar. “É diferente de um reino, um reino é pequeno em extensão e composto por pessoas de um mesmo povo, com cultura e costumes iguais. Já um império tem vastas extensões de terra, muitos povos com costumes e culturas diferentes.”
Macal ficou quieto por um tempo absorvendo essa nova informação. “Um império não é fácil de ruir? Digo muitas pessoas pensando diferente tendem a criar uma rachadura.”
“Um império só pode ficar unido por três fatores distintos, dinheiro, força ou ideologia.” Tyler tomou fôlego e começou a falar aquilo no qual já tinha pensado por muito tempo. “No primeiro momento eu unirei todos sob o dinheiro e a força, mas a longo prazo será através da ideologia, eu quero trazer a todos um novo conceito de unidade, eu vou ensiná-los sobre patriotismo.”
“Mestre Newman, creio que não será tão fácil, todos nós temos nossas próprias crenças. Não é simples desistir delas.” Macal estava cético quando levantou essa questão.
“Sim, você está certo. É por isso que meu foco não será nos adultos e sim nas crianças e nos jovens.”
“Crianças, jovens? Não levará muito tempo até que eles possam fazer alguma coisa?” Macal ainda estava cético.
“Sim, 15 ou 20 anos.” Tyler confirmou.
“...” Não era que Macal duvidava de Tyler, é só que isso era muito tempo para investir.
“Acha que isso é muito tempo?” Tyler perguntou, ele sabia o que Macal estava pensando.
“Sim.” O homem balançou a cabeça.
“15 ou 20 anos é apenas o começo, 40 anos será a idade mínima para formar o conceito de império. Pense bem, uma criança de 8 anos hoje em 20 anos, terá 28. A maioria das pessoas com 28 anos já é casada e tem filhos. Eles são a próxima geração, esse império durará centenas ou talvez milhares de anos. Muitas coisas terão que ser trabalhadas a longo prazo.”
“Agora as intenções do mestre são mais claras para mim. Como o senhor vai fazer para mudar as crianças e os jovens?” Ele quis saber.
“Em primeiro lugar vou fazer um decreto, todos os órfãos atuais serão tidos como filhos do estado, eu quero construir uma cidade do zero. Minhas prioridades nelas serão uma indústria, uma academia militar e um instituto de ensino.”
“O que o senhor vai fazer com tanta criança? Acho que temos milhares delas assim no reino.”
“Vou fazer delas um exemplo, elas serão meus alunos. Vou fazer médicos, engenheiros, professores, soldados e tudo o que um país precisa.”
“Oh, ensinadas pelo próprio mestre? Haverá muitos nobres querendo colocar seus filhos sob seus cuidados, aposto que se eu contar isso para minhas esposas terei uma grande discussão em casa! Hahaha” Macal riu pensando na cena.
“Esposas?!” Tyler ficou confuso por um instante.
“Sim, tenho duas.” Macal foi sincero e nem deu muita ênfase.
“É normal um homem ter várias mulheres aqui?” Tyler ficou curioso.
“É, mas a maioria dos plebeus só tem apenas uma mulher. Normalmente quem possui mais de uma esposa é um nobre ou um comerciante rico. Isso não é comum no seu mundo?”
“É, mas onde eu vivia não era tanto.” Tyler pensou nos muçulmanos, é clássico na cultura muçulmana um homem ter várias esposas, mas esse costume não se restringia a povos árabes. Tribos indígenas de todos os povos praticavam a poligamia, embora esse costume tenha caído nos últimos séculos, mas durante a ásia feudal. Se um lorde que não tivesse mais de uma esposa ou várias concubinas era mal visto pela sociedade.
Mesmo nos EUA não era ilegal ter várias esposas, podia não ser comum ou aceitado amplamente. Mas ilegal não era, algumas religiões e seitas praticavam a poligamia.
“Entendo, eu tenho duas. Quando o mestre for coroado, haverá muitas propostas, em algum momento o mestre terá que aceitar mais de uma.”
“Como assim?” Dessa vez era Tyler quem franzia o cenho.
“Veja bem, nossas mulheres aceitam com normalidade. Para um nobre bem relacionado e influente, sempre existem pessoas propondo suas filhas, uma ou outra será linda. Fica difícil recusar...” Macal deu de ombros.
Tyler seguiu essa linha de raciocínio e viu que ela não estava tão errada assim, era apenas uma cultura diferente. Certa vez quando ele estava trabalhando como médico humanitário na áfrica, um homem chegou para uma consulta, Parecia que o homem era o líder tribal de algum canto próximo. Acredite ou não, o homem entrou na sala com 12 esposas e 35 filhos. Tyler já tinha visto homens com mais de uma esposa antes, mas aquele foi o recorde.
“Entendo...”
“No futuro o mestre terá que escolher com sabedoria, nós nobres comuns não precisamos ficar escolhendo a ordem das esposas, porém o senhor será rei e a posição da esposa diz de quem será o herdeiro.”
“O rei Otaviano não teve outras esposas?” Tyler ficou curioso, o rei tinha lhe dito que teve uma mulher e ela morreu no parto do seu segundo filho.
“O rei amava muito sua esposa e não quis ter outra mulher, desde que ela morreu ele tem apenas algumas cortesãs que aquecem sua cama a noite, ele nunca teve nenhum outro filho, nem se casou novamente.”
Tyler lembrava-se da sua primeira conversa com o imperador, ele disse que um dos seus filhos morreu em uma batalha contra o Reino Central e o outro foi numa viagem para o além-mar e nunca mais voltou.
“Mestre, o senhor sabe onde será essa nova cidade?”
“Não, eu quero um local onde um rio grande passe perto, tenha muita mata e campos, e de preferência não seja tão distante do mar.”
“Eu acho que posso ajudar o mestre nessa tarefa, afinal eu andei por todo o reino em busca de ervas medicinais.” Macal sorriu com a perspectiva de ser útil.
“Sem problemas, antes disso eu tenho que ir até a capital para ver o rei e depois quero começar a passar alguns estudos aos nobres da casa dos sábios. Sem falar que haverá uma grande invasão marinha em um futuro não tão distante.”
“Céus, eu já havia me esquecido dessa última, tão cedo como príncipe herdeiro e já tendo uma provação tão grande...” Macal lamentou.
“Não fique tão aflito, isso na verdade é uma benção disfarçada. Será um meio de mostrar as minhas capacidades!”
“O mestre está tão confiante!” Macal ficou admirado, para ele Tyler já era uma existência sem par, e quando tratou uma invasão de monstros marinhos como se fosse uma coisa banal, só fez aumentar ainda mais a estima em seu coração.
“É claro, mas mudando de assunto. Como foi com as fadas?” Tyler quis saber, antes de passar esse último período sem vir para Aurora, ele tinha deixado Macal com as fadas para que ele começasse um plantio de ervas medicinais.
“Estar com elas foi como realizar um sonho, não havia uma única planta que pudesse se esconder delas, não só isso, as fadas também tem um amplo conhecimento dos usos de cada uma delas, tanto o cultivo como os usos delas serão muito mais bem explorados no futuro!”
“Isso é muito bom.” Tyler assentiu.
Os dois ficaram conversando até a noite quando Noeru pediu para ver Tyler.
Depois de receber a autorização para entrar no escritório, Noeru veio com um casal jovem. Tyler logo reconheceu o homem, ele era o guarda que teve a noiva sequestrada pelo príncipe do Reino Central, e pelo sorriso que exibia a moça ao lado devia ser ela.
“Você deve ser Helena, certo?” Tyler chutou.
“S… sim.” Nervosa a moça respondeu curvando-se.
“Lamento tudo o que aconteceu.” Tyler tinha uma cara amarga enquanto falava, só Deus sabia o que essa menina tinha passado.
O guarda segurou firme as mãos dela e disse. “Eu contei a ela todo o esforço que o mestre fez em descobrir o que aconteceu, bem como puniu os culpados. Estamos totalmente gratos, sei que eu não sou mais que um mero guarda, mas se no futuro o senhor precisar de alguma coisa de mim, mesmo que seja minha vida. Eu darei no mesmo instante!”
“Bom.” Tyler riu. “Mas por enquanto pense em viver ao lado dessa jovem, antes de querer morrer.”
“Sim, mestre.” No coração do jovem, Tyler era alguém quase digno de adoração.
“Como a encontrou?” Tyler ficou curioso.
O rapaz parecia que tinha uma raiva interna quando começou a falar. “Naquela noite em que fizemos justiça, eu pedi ao mestre para procurá-la. Então parti imediatamente, quando cheguei perto da fronteira fui de vila em vila e de casa em casa, por sorte ela foi encontrada por alguns aldeões e teve seus ferimentos tratados.”
“Isso é muito bom, fico feliz em saber que puderam se reencontrar.”
“Obrigado.” Ambos responderam juntos.
Depois de ter essa conversa, Tyler se deu conta do quão estava cansado. Agora que parou para pensar, já faziam dois dias que ele não dormia, ele passou o tempo todo dos dias 199 e 200 carregando contêineres em uma empilhadeira.
Despedindo-se dos demais, Tyler foi até o quarto e adormeceu quase que instantaneamente.
Em meio a um sono conturbado, Tyler viu Calie em uma cela.
Ela estava completamente suja e cheia de hematomas, seus cabelos estavam completamente bagunçados e suas roupas rasgadas.
Não era só isso, a pequena Mel estava em uma situação igual e como ela não passava de uma criança, ela parecia estar bem pior.
Com a criança chorando aninhada em seu colo, Calie via Tyler do lado de fora da cela.
“Como pôde me abandonar? Como pôde nos abandonar? Eu te amei, e você me deixou aqui numa maldita prisão!”
Calie chorava, chorava de raiva. Duas fileiras brancas se formaram em sua face, eram suas lágrimas que deixaram um rastro na pele suja.
“Me perdoe, eu não quis que isso acontecesse!” Tyler começou a gritar desesperado enquanto tentava entrar naquela cela.
“Eu te odeio! Eu te odeio! Eu te odeio!” Calie repetia enquanto Tyler inutilmente tentava salvá-la.