Volume 3
Capítulo 101: Onde tudo deu errado.
“Merda!!!” Tyler gritava e berrava, chutando tudo em seu caminho.
Ele estava bem longe do sensato e calmo senhor de idade que normalmente era. Tyler agora era apenas a frustração em pessoa, ele havia perdido Calie e não sabia lidar com isso.
“Como vocês me acharam?” Tyler perguntou ao agente que estava algemado no carro.
“Hik...” O homem se encolheu covardemente no banco, esse velho já tinha lhe quebrado o nariz e o espancado, agora que sua sanidade tinha visivelmente sumido. Ele sabia que poderia morrer a qualquer momento. “Viemos por causa do ataque cibernético.” Reynolds confessou.
“Que merda de ataque você está falando?” Tyler ficou confuso, de tantas falcatruas que tinha feito ultimamente, um ataque cibernético não era uma delas.
“Um pouco mais de uma semana atrás, houve um ataque contra vários órgãos governamentais e empresas privadas, seguimos os endereços de IP até a sua empresa, com uma olhada minuciosa sobre ela descobrimos tudo, suas armas, munições, veículos, explosivos, etc.”
O rosto de Tyler caiu, ele finalmente pôde ter uma luz sobre os fatos, ele mentiu tanto para os garotos que eles acabaram exagerando nas suas ações quando pensaram que o mundo acabaria depois.
“Foi tudo minha culpa...” Fazia anos que Tyler não chorava, contudo agora ele não pôde evitar de sentir seus olhos se encherem d’água e transbordarem.
“Se entregue agora e eu vou garantir que você tenha um julgamento justo.” Reynolds tentou convencer Tyler quando o viu em um momento de fraqueza.
“Vá se foder!!!” Tyler gritou a plenos pulmões. “A minha maior sorte é se eu pegar prisão perpétua, ninguém vai me pegar, pode esquecer cria de Stalin.”
“Você não pode escapar, acabou. Vamos, se entregue e eu vou garantir sua segurança.” Reynolds começou a ficar um pouco mais confiante, os dois estavam presos em uma caverna, para onde esse velho poderia fugir?
“Você é idiota? Eu não vou me entregar, eu estou pouco me lixando para o que vai acontecer comigo!” Tyler realmente estava começando a odiar esse oficial.
Reynolds se encolheu, mas depois de pensar um pouco, disse. “E a jovem, não se importa com ela?”
Tyler apertou os punhos tão forte que sentiu as unhas entrarem na pele quando ouviu aquele homem citar Calie. “O que tem ela?” Tyler perguntou frio.
“Ela é mãe solteira, ela será presa e sua filha vai para um orfanato.” O agente tentou jogar com as emoções dele.
Tyler quis enfiar as mãos na boca desse idiota e então parti-lo ao meio. Porém depois de se controlar um pouco, ele lembrou-se de toda preparação feita, ela estaria bem. Calie nunca faz nada ilegal, quando ela chegou Tyler já tinha feito os empréstimos, Calie só tinha feito compras, todas legais e com os fornecedores devidamente pagos. “Ela nunca fez nada de errado.”
“E daí, um culpado tem que ser encontrado, de um jeito ou de outro.”
“Bom, você pode tentar.” Tyler não quis conversar mais.
Ele arranjou uma caixa de madeira razoavelmente grande e amarrou Reynolds lá dentro. Não foi um nó simples nos pulsos, Tyler fez questão de apagar um pouco da sua raiva. Ele o deixou apenas de cuecas e o amarrou com as mãos e pés para trás, igual a um porco.
“Isso não vai ficar assim, mesmo se você fugir hoje, vamos te pegar amanhã! A América sempre encontra seus inimigos, não importa onde ou quanto tempo dure!” Reynolds gritava enquanto Tyler fechava o caixote.
A grande caverna consistia de duas grandes câmaras separadas. Tyler acreditava que só a segunda se fecharia, ele pensou isso por duas razões: a primeira era que o primeiro vão já existia; e o segundo motivo era que entre as duas havia um arco esculpido em pedra.
Tyler pensava nessas das câmaras sendo imagens espelhadas, uma em cada planeta. E ao que tudo indicava, as duas só existiam juntas durante os 200 dias.
Claro que tudo não passava de mera especulação, mas mesmo tendo só isso como base, Tyler se programou com tudo que tinha.
Em primeiro lugar, as firmas com os contratos mais caros estavam do lado de lá e até os seus equipamentos mais sensíveis também. Como ainda era manhã do dia 199, Tyler teria que levar mais de uma centena de contêineres para a outra câmara.
Mesmo tendo planejado o layout, não foi tarefa fácil mover os grandes e pesados blocos de ferro. A cada minuto passado Tyler pensava novamente em Calie.
Era uma constante luta consigo mesmo para não explodir aquela entrada e trilhar o seu caminho até ela, mesmo que fosse um caminho de sangue!
De vez em quando ele foi até o policial e o chutou para aliviar a raiva sentida. (Delongas: kkkkkkk. Sou contra a violência, ok)
Um a um, os contêineres foram sendo transportados. Pouco a pouco a raiva foi saindo e a amargura dentro do seu coração foi aumentando.
Não era fácil ter a certeza de que toda essa situação era culpa sua.
“Se eu tivesse falado a verdade para os rapazes?”
“Se eu tivesse sido sincero com a Calie?”
“Se eu tivesse sido mais rápido?”
“Se eu a tivesse trazido, mesmo que a força?”
Eram tantos “SES” na cabeça de Tyler que ele não estava mais raciocinando direito.
E nessa névoa depressiva Tyler passou o dia 199, quando o dia 200 chegou ele ainda estava trabalhando, a cada unidade que ele levava era parte do seu coração que permanecia no Texas.
Não, com Calie.
Quando Tyler viu Aurora pela primeira vez, ele sentiu que era seu destino vir para esse local. Por todo o tempo que ele planejou se mudar, ele não sentiu arrependimentos com a mudança definitiva.
Mas então Calie chegou em sua vida, aquele sorriso fácil e olhar alegre tinham mudado seus sentimentos. Nesse momento, Tyler não tinha a menor dúvida de que se houvesse uma escolha entre desistir de tudo isso apenas para ficar com ela, ele largaria tudo sem olhar para trás.
Mas era uma pena que essa escolha não existia…
A única companhia de Tyler agora era o barulho constante do motor da empilhadeira, de vez em quando ele ouvia barulhos do lado de fora, eram máquinas e pessoas gritando. Tudo o que afastava Tyler da prisão era uma camada de rochas.
Os policiais estavam empenhados em entrar na caverna devido ao seu colega do FBI feito refém.
Mesmo que o risco de serem pegos de surpresa com outras explosões fosse alto, eles ainda tinha um companheiro lá dentro. Eles sabiam que Tyler poderia ficar anos lá dentro se dependesse de tudo o que tinha, entrar lá dentro seria apenas um começo para as negociações.
Quando era por volta de 10:00 PM do dia 200, Tyler terminou toda a movimentação.
No fundo do seu coração ele decidiu um objetivo, encontrar uma forma de voltar para a Terra e pegar Calie!
Tyler tinha visto índios brasileiros, pessoas caucasianas, asiáticas e africanas. Em algum lugar do seu cérebro ele formulou uma teoria, essa não era a única caverna/portal que existia. E se ele encontrasse outra, ele pagaria o preço que fosse para trazer sua amada com ele.
Decidido de sua missão, ele pegou um martelo e uma talhadeira e começou a trabalhar firme na rocha de arenito.
Assim como John Carter ficou longe de sua Dejah Thoris, separados por mundos de distância, ele escreveu na parede.
[Ock, Ohem, Oktei, Wies, Barsoom]
Deixando sua mensagem ali, ele foi para a segunda câmara.
Quando o seu relógio apitou meia-noite, um vento inexplicável percorreu todo o local. O arco que separava os dois ambientes foi tomado por uma luz branca e brilhante, depois disso uma camada de rocha tremeluzente começou a se formar, ganhando mais cor e forma a cada segundo, não demorou muito para que ela se tornasse sólida e selou Tyler completamente em seu novo mundo.
“Me espere, eu vou voltar” Tyler suspirou e virou-se, ele caminhou até a saída.
“Olá, meu campeão!” Uma voz doce e macia soou nas costas de Tyler.
Assustado com a saudação ele virou-se rapidamente. “Quem...” Sua frase morreu antes dele encontrar alguém.
Tyler pensou que estava ficando louco, ele claramente tinha ouvido alguém falar com ele, mas agora que se virou, não existia nada.
“Hum..” Tyler franziu o cenho e procurou em volta.
“Campeão.” Dessa vez a voz falou mais lenta e melodiosamente perto.
Instintivamente ele olhou para cima. Contra todas as expectativas e conceitos lógicos, Tyler viu algo que não poderia existir em um mundo normal.
Ali, bem na sua frente, a poucos metros de altura estava uma mulher flutuando. Ela era sem dúvidas a mulher mais linda que ele já vira.
Tyler não estava enfeitando ou exagerando quando pensou que ela era de longe o ser mais lindo que ele já vira, ela era tão perfeita que ele sabia que ela não poderia ser humana.
Como ela estava deitada sobre uma nuvem branca, ele só pode ver a parte superior do seu torso. Contudo, aquela pele branca como jade... os olhos violetas... e o cabelo negro como a noite. Faziam ela parecer uma etérea deusa.
“Quem é você?” Tyler perguntou depois de reunir coragem o suficiente.
A mulher flutuando em sua nuvem riu ao ver o nervosismo do homem. “Por enquanto me chame apenas de Néria.” Ela falou suavemente.
“Então, Néria. Existe algo que você quer de mim?” Tyler sondou, ele sabia que ela estava longe de ser alguém comum.
“Eu só quero que você conquiste o mundo, meu campeão.” Néria riu com deleite.
“O que diabos isso quer dizer?” Tyler estava confuso.
“Isso quer dizer que a nossa competição começou...”
“...” Tyler estreitou os olhos, essa conversa sinistra não estava cheirando bem.
“Sabe, eu tenho vigiado você por muitos e muitos anos, agora você vai fazer aquilo que nasceu para fazer.” Um sorriso se espalhou pelo seu rosto angelical, e então ela flutuou junto com sua nuvem até ficar na altura da cabeça dele e tocou nos seus lábios com os seus finos dedos. “Eu já lhe passei a minha benção a algum tempo, então só te desejo sorte!”
“Benção?”
“Competição?”
“Espere quem é você?” Tyler começou a perguntar todas essas coisas à mulher misteriosa.
“Nós vamos nos encontrar novamente quando todos os campeões estiverem no jogo!” Néria deu um último sorriso e desapareceu como se nunca estivesse ali.