Volume 1
Capítulo 4.2: A Clareza da Noite
Após ser liberada de debaixo do corpo do homem, Tinassha foi buscar o jarro em questão.
“Eu não falei que minha proteção não funcionaria contra os venenos!? Por favor, tenha cuidado. De agora em diante, eu vou experimentar tudo primeiro.”
“Se você for pega por um afrodisíaco, não vou conseguir impedi-la.”
“Poções Mágicas não funcionam em mim!”
Sua pressão sanguínea subiu e ela ficou brava. Mas após se acalmar um pouco, ela inclinou a cabeça ponderando.
“Não sei qual foi a intenção, mas… é realmente apenas afrodisíaco.”
“Eu acho que sei quem foi, mas não tenho provas.”
Oscar se sentou na cama com as pernas cruzadas. Em seu rosto estava um desgosto nu, o que era incomum vindo dele.
“Bem, vamos arranjar alguma prova então.”
Tinassha lançou um feitiço curto e injetou uma composição Mágica na água afrodisíaca restante no jarro. Em reação, uma tênue figura tridimensional, rosqueada, foi formada no ar.
Depois que os três anéis foram formados, ela acrescentou um pouco mais de entoação.
“O que você está fazendo?”
“Descobrindo quem fez isso.”
“Isso é possível?”
“Acho que não. Quer dizer, não há ninguém treinado para fazer isto atualmente. É uma Magia que foi esquecida há muito tempo; Provavelmente eu sou a única que pode fazer agora.”
Cada vez que Tinassha acrescentava mais cânticos, a figura mudava um pouco de forma e rodopiava.
“Não serei capaz de dizer se é um praticante que não conheço, mas se é alguém que conheço, então posso descobrir quem é. Vejamos… hm...”
Tinassha sabia a resposta, e ela olhou para a figura giratória com mais desapontamento do que nunca.
※ ※ ※
No dia seguinte.
Oscar estava organizando alguns documentos em seu escritório. Tinassha fez chá e o trouxe, e ele o aceitou com um agradecimento.
Naquele momento, bateram na porta. Parecia que aquele que havia sido convocado tinha chegado.
“Entre.”
Quem entrou nervosamente foi Carve, um Especialista em Poção.
“Eu vim de acordo com sua convocação.”
Ele se curvou, e Oscar lhe ofereceu um copo cheio de água.
“Você se lembra disso? Não beba.”
Carve caminhou para frente e pegou o copo. Ele encarou fixamente e o cheirou. Logo soltou um som, e seu rosto ficou pálido. Tinassha olhou para ele com interesse.
“Sua Alteza, por que você tem isso…?”
“Alguém o colocou no jarro no meu quarto.”
“Eh… Eh!?”
Perturbado, ele olhou para frente e para trás entre Oscar e Tinassha. Oscar estava sem expressão, mas Tinassha acenou com a cabeça franzida.
Quando Carve percebeu o que isso significava, ele se curvou fervorosamente para Tinassha.
“Sinto muito!!! De verdade! Como posso lhe pedir desculpas, srta. Tinassha…?”
“Bem, isso é suficiente.”
“Mas este afrodisíaco é bem forte. Só um pouco dele e você perderia todo seu raciocínio em um instante”
O rosto de Carve era branco como um lençol. Tinassha maravilhada se virou e bateu palmas para Oscar.
“Incrível! Admirável!”
“Você deveria me elogiar mais.”
Oscar achou que ela estava muito fofa, batendo palmas inocentemente assim. Logo então ele voltou para Carve.
“…Enfim, quem lhe pediu para fazer isso?”
Ele hesitou apenas um pouco e falou tais palavras com uma voz amarga.
“Duke Pasvar, Tio de Vossa Alteza…”
Oscar sentiu uma dor de cabeça vindo com esta resposta esperada.
※ ※ ※
O atual Rei Kevin era o mais velho de três irmãos. Ele tinha um irmão mais novo e uma irmã mais nova, mas ambos haviam falecido.
Seu irmão mais novo, que havia servido como primeiro-ministro, havia falecido no mês passado devido a doença. Sua irmã mais nova, que sempre teve um corpo fraco, morreu alguns anos depois de seu casamento. Ela também havia perdido seu próprio filho nos desaparecimentos em série que uma vez abalou Farsas, e então teve um colapso repentino devido à dor.
Seu marido, Duke Pasvar, era um famoso snobe. Após a morte dela, ele construiu uma mansão em Koras com sua fortuna, longe da cidade do Castelo. Lá, ele havia vivido uma vida de auto-indulgência, longe do escrutínio das pessoas. Mas há alguns dias, após o fim da festa, ele havia retornado à sua residência na cidade do Castelo por alguma razão. Ele tinha vindo sem ser convidado, mas desde então teve brigas com os funcionários e espalhava rumores sobre Oscar, nas suas costas, cujo trabalho tinha aumentado. Mas ficava todo educado à sua frente como um parente bondoso.
Quando Pasvar voltou à sua residência naquela noite, ele ouviu os relatórios de seu subordinado em seu quarto com uma garrafa de vinho em uma mão.
“Você sabe se a droga funcionou?”
“A preparação foi impecável, mas se funcionou bem…”
“Bom, então teremos que esperar pelo resultado.”
Uma vez que seu subordinado se retirou, ele derramou um pouco de vinho âmbar escuro em sua taça de prata e murmurou alegremente, já estou bêbado:
“Aquele menino atrevido, parece que mantém um Elementalista por perto. Ele já deve estar pálido de medo, depois de ter percebido a asneira que fez. Será ainda melhor se essa história for verdadeira e a garota morrer.”
“Hmm… Sobre a história que você mencionou, como ela é?”
Uma voz feminina de repente se levantou atrás dele. Assustado, Pasvar olhou para trás.
Fora da grande janela, na escuridão, uma lua azul havia se erguido brilhantemente. Na sala, sob sua luz fria, estava uma menina. Ninguém havia notado sua entrada. Sua pele era muito pálida, e em seu lindo rosto de boneca, estava um sorriso cruel.
“Eu gostaria de ouvir sobre ela.”
Pasvar instintivamente percebeu o perigo e sua voz estava se tornando estridente de medo.
“Quem é você!? Por que está aqui!?”
A menina flutuava suavemente no ar e se aproximava dele, seu longo cabelo preto balançava como se tivesse vida própria. Seus olhos profundamente escuros se concentravam em Pasvar, e seus lábios parecidos com pétalas sorriam.
“Prazer em conhecê-lo. Eu sou Tinassha — Uma Bruxa. As pessoas geralmente me chamam de “A Bruxa da Lua Azul”… Ah, seu sobrinho muitas vezes me repreendeu por entrar pela janela. Então desculpe.”
Pasvar ficou fraco nos joelhos e afundou no sofá. Sua língua não conseguia se mover bem devido ao medo; Ele abriu a boca como se estivesse ofegando e murmurou:
“B-Bruxa…?”
“É uma pena que eu não seja uma Elementalista comum, certo?”
Com essas palavras, Pasvar finalmente entendeu que ela era a “Elementalista” no qual ele tentou sabotar, e que não era uma maga fofa.
“Por que uma bruxa…”
“Que história é essa?”
Ela perguntou suavemente, mas todos no Continente sabiam que o poder de uma Bruxa não podia ser medido por sua aparência exterior.
Pasvar ofegou uma resposta:
“Ele foi amaldiçoado por uma Bruxa… Qualquer mulher que tenha um relacionamento com ele morrerá em pouco temp—”
“Se as mulheres morressem apenas por terem um relacionamento comigo, então haveria muitas mortes desde então.”
A voz de um jovem, cheia de espanto, subiu na sala. Quando Pasvar se virou, ele viu seu sobrinho de pé encostado na parede.
“V-Você, quando chegou!?”
Oscar continuou encostado na parede com o braço cruzado. Ele ignorou Pasvar e disse para a Bruxa:
“Ei, ele não ficou surpreso com a sua entrada pela janela?”
“É conveniente, então está tudo bem, não está?”
Tinassha pegou o relatório que havia sido jogado na cama. Ele tinha informações sobre os recursos humanos, assuntos domésticos e diplomáticos de Farsas, mas nada particularmente confidencial.
“Certo, Tio, de onde vem essa história?”
“Então, a droga não funcionou em você!?”
“Bem, funcionou um pouco… Para ser honesto, fiquei um levemente desapontado.”
“Você quer ser levado pelo vento e ficar ferido?”
A Bruxa retorquiu friamente a piada de Oscar. Ainda flutuando, ela se aproximou do homem que se encolhia no sofá e arrastou seus dedos pálidos ao longo do pescoço dele.
“De quem você ouviu isso? Se você me disser, eu voltarei.”
Pasvar tentou freneticamente afastar a não dela e gritou:
“Eu não sei! Eu nem sei o nome! Foi um Mago!”
Olharam para o homem, que estava no limite, depois um para o outro.
“Você acha que foi aquele cara?”
“Muito provável…”
Ela deslizou sobre a cabeça de Pasvar e aterrissou silenciosamente ao lado de Oscar.
“Infelizmente, ele deu o primeiro passo.”
“O que ele quer fazer? Não tenho a menor idéia.”
Oscar descansou o queixo na mão esquerda e ponderou enquanto penteava os cabelos da Bruxa com a direita. Ela fechou parcialmente os olhos como um gato sendo acariciado. Ao ver aquela cena, o homem que estava se achatando no fundo do sofá gritou desesperado:
“Então o boato de uma Bruxa rodando por aqui e a Maldição é verdadeiro! Muito bem! Este é o seu fim, e da linhagem de seu Pai! Morram!”
Tinassha começou a construir um feitiço, seus olhos esfriaram, mas Oscar a deteve.
“Mesmo assim, não é algo para você se preocupar, Tio. Você deve voltar à sua mansão em Koras sem se preocupar muito com as coisas.”
Oscar disse, dando de ombros e começou a caminhar em direção à varanda por onde a Bruxa havia entrado. Porém, logo mais insultos foram jogados em suas costas.
“Se você morrer, este país será meu! Você é muito estúpido!”
Mas Oscar não virou a cabeça, como se não tivesse ouvido nada disso. Pasvar riu como se tivesse enlouquecido e a Bruxa, a única que ficou na sala, olhou para ele com desdém. Ela caminhou na direção dele e de repente sussurrou:
“Sua linhagem de sangue não se extinguirá. Por que você acha que eu vim?”
Pasvar parou de rir e olhou para a Bruxa em estado de choque. Ela sorriu enfeitiçadamente sob a luz da lua.
“Sua linhagem de sangue não se extinguirá…. E… nunca mais poderei entrar nesta Cidade… Nunca mais.”
Desta vez, ele afundou no sofá, como um fantoche com suas cordas cortadas. Ele nem sequer teve forças para levantar a cabeça e apenas tremia um pouco.
Tinassha olhou para ele geladamente e caminhou em direção a Oscar; Ele estava esperando por ela na varanda.
“O que você fez?”
“É assim que se coloca uma Maldição.”
Ela sorriu com os olhos fechados.
Com a noite escura se passando como Magia, Tinassha suspirou profundamente. Ao lado dela, Oscar olhava para a cidade e admirava a rara paisagem.
“Que parente maravilhoso você tem.”
“É uma graça eu não ter nenhuma relação de sangue com ele.”
Ele sorriu secamente com os braços dobrados. A Bruxa olhou em seus olhos azuis.
“De alguma forma, sinto pena de você… Definitivamente quebrarei sua Maldição, de uma forma ou de outra.”
Abaixo, a luz do sol tinha começado a aparecer.
Oscar deu uma palmada na cabeça da Bruxa com carinho e pesar. Ela estava olhando para ele com os olhos claros, como uma menina, tão diferentes de seu normal.
“O quê, você quer se casar comigo agora?”
“Eu encontrarei outro caminho!”
Oscar riu da reação habitual dela. Assim o resíduo do mau humor de antes tinha desaparecido.
Naquela manhã, Pasvar deixou a cidade do Castelo como se estivesse fugindo sem levar nada.
Ele então se fechou dentro de sua mansão em Koras, e nunca mais a deixou.