Volume 1
Capítulo 2.3: Um Passado que se Mantém
Como todos no Castelo estavam ocupados com os preparativos, o festival veio em um piscar de olhos.
A Cidade fervilhava de pessoas desde manhã, com música por toda parte. Também havia muitos estrangeiros, e a próspera Cidade do Castelo de Farsas tornou-se ainda mais movimentada.
Era o 526° ano em Farsas, o 187º festival de Aitea.
Tinassha tinha ido à cidade desde manhã cedo e fazia um passeio pelas barracas. Quando estava quase anoitecendo, ela voltou ao fosso do Castelo para o seu dever.
Havia também barracas alinhadas bem em frente ao fosso, e muitas pessoas andavam em volta. No meio da multidão, ela estendeu suas mãos em direção ao fosso e fez um simples cântico. Cinco esferas de luz uniformemente espaçadas, iluminaram-se sob a água escura.
Os espectadores aplaudiam as luzes azuis-brancas cintilantes vindas da água.
Ao mesmo tempo, os Magos de outras áreas também acenderam as luzes, destacando as paredes do Castelo no crepúsculo. Enquanto Tinassha olhava para a área ao lado, uma pessoa vestida de Mago a viu e logo se aproximou, acenando com as mãos.
"Como fez? Elas ficaram muito bonitas."
"De fato, elas ficaram. Muito obrigada. Eh…"
"Eu sou Temis. Prazer em conhecê-la."
O homem disse e ofereceu sua mão. Um diagrama mágico podia ser visto gravado em seu braço direito com tinta preta.
Ela sorriu e apertou a sua mão.
"Eu sou Tinassha. Prazer em conhecê-lo."
"Estarei aqui por um bom tempo, então me chame se acontecer alguma coisa."
"Certo."
Temis foi embora, demonstrando sua simpatia o tempo todo.
Seu dever inicial tinha terminado por agora, mas duraria até tarde da noite. O que fazer então? Tinassha se perguntava.
"Os festivais são tão agradáveis, não são? Mas eu quero beber."
"Estamos em serviço."
Entre a agitação, um homem alto caminhava preguiçosamente ao lado de uma mulher, que caminhava com postura ereta. Eles tinham auras completamente opostas, mas os seus movimentos não eram repetitivos, e caminhavam na multidão tão suavemente quanto deslizando.
Os brasões na cintura do homem e no peito da mulher eram ambos de Farsas, e mostravam que suas patentes eram de comandantes ou de superiores.
O ruivo com um rosto amigável que ainda retinha um pouco de infantilidade era Art, aquele que havia chegado à posição de General ainda muito jovem graças às suas habilidades com a espada. A bela mulher com cabelos loiros bem aparados na altura dos ombros era Meldina, que comandava seu próprio pelotão apesar de ser mulher.
Eles estavam levemente equipados para não intimidar as pessoas mais do que o necessário, mas como eles estavam patrulhando o festival, eles ainda carregavam suas espadas.
"Onde está Sua Alteza?"
"Lá dentro, trabalhando."
A banca que vendia carne de porco grelhada parecia ter capturado o interesse de Art, e ele continuou olhando para trás depois de passar por ela.
Mas Meldina ignorou isso e não diminuiu o ritmo.
"Há alguém que o proteja?"
"Ele disse que não era necessário. Esperava que ele confiasse mais em nós..."
"É desnecessário, Sua Alteza é forte."
O homem encolheu os ombros e, de repente, bateu palmas, como se de repente tivesse percebido algo.
"Ah, Meldina, você quer ser a guarda dele, não é?"
"Sua cabeça está bem?"
"…"
Ambos eram amigos de infância, nascidos e criados em Farsas, e seu relacionamento era bom.
Art era quatro anos mais velho. Ele tinha agora 24 anos, mas havia entrado no castelo como Soldado aos 18 anos. Tempos depois, Meldina também havia entrado como se quisesse segui-lo.
À primeira vista, ninguém seria capaz de adivinhar qual era a deles. Mas geralmente trabalhavam juntos e muitos pensavam que eram amantes.
"Está ficando bastante escuro."
Meldina olhou para o céu; as estrelas tinham começado a aparecer fracamente. Eles continuaram na rua principal e se aproximavam do fosso do Castelo.
Logo depois, ouviram o grito de uma mulher que rasgou o barulho vindo da multidão. Art e Meldina correram em direção à voz.
"Meu filho... Meu filho!"
Junto ao fosso, uma mulher se inclinava sobre a água e gritava. Art correu até ela.
"O que aconteceu!? Seu filho caiu?"
A mulher estava tão branca como um lençol. Ela olhou para Art, mas sua voz estava perdida, ela só conseguia acenar com a cabeça.
Tendo conseguido sua confirmação, ele tirou rapidamente sua espada e pulou no fosso sem hesitar.
Mesmo que houvesse luz, ainda estava escuro debaixo d'água. Art abriu bem seus olhos e mergulhou até o fundo.
O fosso era tão profundo quanto a altura de quatro pessoas; não havia corrente, mas apenas esse fato o tornava bastante complicado.
Com a visão cheia de lama Art se movia lentamente sob a luz. Enquanto olhava em volta e começava a se sentir impaciente, as esferas de luz aumentaram sua intensidade de repente. O alcance da luz se expandiu num piscar de olhos e corroeu a escuridão, tornando a água do fosso tão brilhante quanto o meio-dia.
O incidente repentino o surpreendeu, mas Art continuou a olhar em volta e viu um menino de cerca de dois anos à deriva a uma curta distância.
Segurando o corpo inconsciente do garoto, ele rapidamente nadou em direção a superfície. Quando ele saiu da água e respirou fundo, houve aplausos dos arredores.
Ele confiou o garoto a Meldina. Quando ele saiu da água, ela imediatamente pegou a criança e a deitou, verificando sua respiração e pulso.
"Ele está bem. Há pulsação e parece que ele não bebeu muita água."
"O-Obrigada!"
A mãe chorou e lhes agradeceu, abraçando seu filho de perto.
"Estou feliz por não ter bebido..."
"Certo."
Depois de enviar a mãe e o filho a um médico por precaução, Art, que estava pingando molhado, suspirou em alívio apertando a bainha de suas roupas.
"Eu não conseguia enxergar bem lá embaixo. Ah, falando nisso…"
Ele ergueu a voz e perguntou à multidão:
"Quem é o Mago que está encarregado das luzes nesta área?"
Uma mão se levantou no meio da multidão de espectadores.
"Sou eu. Sinto muito pela minha falta de atenção."
Tinassha disse e se afastou da multidão. Art ficou encantado por um momento, quando a viu.
"Ah não, não foi isso que eu quis dizer... Você ajudou, aumentando a luz. Obrigado."
Tinassha fez uma reverência silenciosa.
Enquanto Art olhava sobre a cabeça dela, ele viu o Mago de manto, encarregado da área vizinha levantando seu braço tatuado e encontrando seus olhos. Ele estava preocupado com a comoção?
Vendo que a confusão havia sido resolvida, e a multidão começou a se dispersar lentamente. Meldina devolveu a espada a Art - Ela estava cuidando dela para ele.
"Em primeiro lugar, traga uma muda de roupa."
"Ah... certo!"
Enquanto caminhavam em direção ao posto dos Soldados, que ficava a uma boa distância, Art disse:
"Ela me surpreendeu! Que mulher bela. Nunca vi alguém assim…"
"Ela é uma aprendiz de Bruxa que venho de uma Torre. Sua Alteza a trouxe junto."
O rosto de Meldina foi distorcido como se as palavras que ela mesmo proferiu fossem sinistras.
"Ah, aaah! Eu ouvi falar sobre isso. Não é de se admirar."
"Não é de se admirar o quê?"
Art balançou a cabeça para se livrar da água em seu cabelo. Ao lado dele, Meldina fez uma careta de aborrecimento; ela provavelmente foi molhada.
"Nah, eu pensei que Sua Alteza não se interessasse por mulheres, então foi inesperado ouvir essa história... Mas se for ela, então é compreensível."
"Compreensível o quê?"
"Ei, é pouco atraente ter ciúmes, Meldina."
Ela bateu nas costas dele por trás com todas as suas forças.
Estava no meio da noite, e o festival chegava ao fim. Tinassha flutuava no céu acima do Castelo e olhando para a Cidade abaixo.
A cidade, iluminada por luzes coloridas, parecia uma caixa de joias forrada com um tecido preto.
Seu vestido escuro estava mudando suavemente de forma ao vento, mas seu próprio corpo branco estava inteligentemente misturado à noite.
"Tinassha!"
Reconhecendo a voz vinda de baixo, ela desceu lentamente. Oscar estava olhando para ela de uma sacada.
"Sua visão é muito boa."
Ela desceu silenciosamente e ficou ao seu lado.
"Eu podia ver uma luz tênue sobre você."
"Eh…?"
Ela olhou para suas roupas maravilhada. Ela não estava usando nada luminoso, então o que ele quis dizer?
Mas Oscar pareceu não se importar e mudou de assunto.
"Como vai seu dever?"
"Estou mantendo as luzes sem nenhum problema. A propósito, também criei uma barreira de ar para que ninguém mais caia no fosso."
"O quê?"
Ela não respondeu, apenas penteou seus cabelos bagunçados com os dedos. Ela olhou com carinho para a vista noturna que se espalhava abaixo dela.
"A cidade é realmente linda. Nem parece que há pessoas sob todas aquelas luzes."
O sorriso dela era calmante. Oscar acariciou sua cabeça.
"Então, valeu a pena descer da Torre?"
"Sim."
"Isso é bom."
Tinassha riu como se houvesse algo engraçado naquelas palavras, e voltou a flutuar no ar novamente.
Logo depois, Oscar, de repente, agarrou a mão dela e a puxou para baixo.
"O que...!"
Tinassha que já estava na altura do ombro de Oscar estava prestes a reclamar quando notou Razar correndo na direção deles.
"Vossa Alteza! Há problemas!"
Vendo como Razar estava eufórico, eles se olharam curiosamente.