Volume 1 – Arco 3
Capítulo 26: Numens Não Sentem Amor
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— Ah cara, que dia cansativo! — exclama Daidairo alongando suas costas com uma expressão de dor no banco de trás de um carro.
— Por acaso você sabe fazer alguma outra coisa além de reclamar? — questiona Nohi, sentada a sua frente.
— Me dá um desconto inspetora, estamos desde as cinco e meia trabalhando!
— Se realmente acredita que isso é muito, não deveria ter se tornado um inspetor — Ela afasta a tela de seu tablet de perto de si, virando o pescoço levemente para o lado — tenho vergonha de ter um parceiro tão incompetente.
O rosto de Daidairo é como de uma criança que acaba de levar um esporro de seus pais, abaixando a cabeça em silêncios enquanto Kaori está no banco do motorista dirigindo com um sorriso no rosto.
— De toda forma, sabemos que daqui em diante, temos que estar atentos para o Asas do Diabo, então se esforcem! — Kaori ao mesmo tempo que segura o volante olha seu relógio — bem, estamos com um pouco de tempo ainda, querem comer algo?
Daidairo curva-se ficando no meio de sua companheira e veterano com um olhar de felicidade, — Lógico, para ter uma ideia eu nem almocei hoje!
— Por favor, não se aproxime tanto, você fede.
— Oh, perdão... — Ele volta a se sentar corretamente em seu lugar.
— Pois bem, se não me engano tem um drive-thru em algum lugar por aqui... — responde Kaori, girando o volante.
O carro vira na primeira esquina, parando frente a um sinaleiro os fazendo aguardar alguns segundos enquanto Daidairo cantarola baixo olhando para a janela.
Após alguns poucos minutos, estão de frente para uma lanchonete drive-thru chamada Burguer-Queen, que com uma atendente eletrônica anota o pedido dos três de forma precisa.
Daidairo pede fritas com um copo grande de refrigerante diet, já Nohi escolhe somente um copo de café gelado extraforte, por fim Kaori pede três hamburguês grandes com uma garrafa de água para viagem.
— Finalmente, já não aguentava mais a fome... — diz Daidairo, com a mão sobre seu abdômen.
Nohi continua com sua expressão amena, não se importando com sua volta, diferente de Kaori que gargalhava a cada pequeno comentário de seu aprendiz. Tudo ocorria perfeitamente bem como o final de expediente dos três inspetores, se não fosse por um chamado.
O telefone de Kaori toca, o fazendo atender rapidamente, para assim sua expressão que antes era calma e divertida se tornar seria com um olhar profundo.
— O lanche vai ter que esperar — diz jogando seu telefone para o lado colocando as mãos novamente no volante.
— Que! Como! Por quê?!
— Cala a boca! — exclama Nohi, colocando o cinto de segurança com urgência — qual a situação Inspetor Mutoh?
— Parece que ouve relatos de civis sobre pessoas estranhas saindo dos esgotos a dois quilômetros daqui, não podemos arriscar possíveis Numens a solta no distrito.
— As batatas estão quentinhas...
Kaori pisa fundo no acelerador, fazendo as rodas do carro queimarem no asfalto partindo em alta velocidade para a última localização do qual os suspeitos foram vistos.
Sem muita demora, o carro do qual estão chega ao seu destino, é possível perceber logo de cara os bueiros dos esgotos destruídos a força, o que aumenta ainda mais a possibilidade dos suspeitos serem perigosos sobreviventes do culto da SEIDAI que fugiram a tempo do desmoronamento.
— Olhos bem abertos... trouxeram seus Necat-deos? — questiona Kaori, retirando do porta-luvas um revólver.
Aquela arma é definitivamente diferente das comuns, além de seu grande tamanho, uma energia negra emana dela.
— Positivo — responde Nohi, retirando de seu terno uma pequena caixa fechada que emana uma energia dourada.
— Ela iria me matar se eu tivesse esquecido — Daidairo mostra em sua mão uma caixa idêntica à de sua parceira.
— Os Necat de vocês ainda são de recrutas, então tomem cuidado para não acabarem exagerando... essa é a nossa única defesa contra esses demônios.
— Sim senhor!
— Entendido...
Assim, os três saem do veículo, recebendo um comando de mãos vindo de Kaori, fazendo-os se dividirem em direções diferentes.
O local em questão é uma zona menos movimentada do distrito, tendo somente casas, apartamentos antigos e patrimônios públicos sendo dividido por uma imensa ponte que corta por completo tal área de outras zonas mais movimentadas.
De maneira cuidadosa Nohi é a primeira a encontrar uma pista, de baixo da ponte há pegadas ao chão, não somente de uma pessoa, mas sim de duas na mesma direção.
Atenta a tudo a sua volta, ela pressiona o centro da caixa do qual segura, fazendo-se abrir de uma forma tecnológica emanando uma luz dourada, mesmo parecendo impossível, um bastão longo de duas mãos surge sendo expelido de dentro da pequena caixa.
Ambas as pontas do bastão estão eletrificadas por uma corrente de energia constante, tendo um cabo escuro do qual é feito de um material especifico pouco visto no dia a dia das pessoas comuns.
Nohi mantinha sua expressão calma e serena, correndo em direção das pegadas se deparando de frente a duas figuras com mantos brancos com um único símbolo no centro de seus peitos, sendo duas mãos com dedos entrelaçados.
— Parados, em nome da nossa jurisdição vocês estão detidos — diz Nohi em alto e bom tom, assumindo uma posição defensiva com seu bastão.
— Tsc, que droga nos alcançaram — comenta uma das figuras de voz profunda.
— Ao menos tivemos sorte de ser apenas uma garota — gargalha a figura ao seu lado.
— Vamos apenas ignorar ela... ou talvez podemos usar ela como refém!
— Isso é uma ótima ideia.
Ambas as figuras se viram lentamente em direção de Nohi, com um sorriso estampados em seus rostos.
— Não vai ter jeito... — Nohi deixa seu bastão no chão, pegando com sua mão direita um elástico, amarrando a parte de trás de seus cabelos loiros — apenas me informem... vocês são Numens, não são?
A figura da direita gargalha, disparando em direção a inspetora, com o vento seu manto é jogado para o lado, revelando unhas extremamente longas e afiadas em seus dedos, do qual somente um Numen conseguiria ter.
De forma graciosa, Nohi fecha seus olhos girando seu bastão em um movimento limpo após pega-lo novamente, o Numen passa por ela crendo ter a atingido com suas unhas, mas para sua surpresa em somente um piscar de olhos, seu braço direito do qual realizou o ataque é arrancado de seus ombros.
Sangue se espalha no chão sujando tudo a volta, no entanto o que mais surpreendia é que nem mesmo uma gota de sangue respinga em Nohi.
— Vadia desgraçada! Como fez isso?! — grunhe de dor, enquanto procura seu braço arrancado.
— Está se referindo a isso? — Ela ergue sua mão esquerda, revelando ao Numen caído um braço perfeitamente decepado.
O olhar de desespero de tal Numen se torna evidente, fazendo tremer seu maxilar, ao mesmo tempo que seu companheiro parte para cima dela acreditando que esteja desprevenida.
No outro Numen é facilmente visto seu Bakemono já que em seu peito a uma espécie de buraco profundo do qual dispara um projetil branco familiar a um osso.
Mesmo acreditando ter acertado seu alvo, sua cara de espanto é ainda maior, vendo a mulher que estava a sua frente, surgindo em suas costas, perfurando sua nuca com a ponta do bastão, fazendo-o sentir uma intensa corrente elétrica por todo seu corpo.
O Numen então cai ao lado de seu amigo, tossindo sangue sentindo sua vida lentamente se esvaindo.
— Tudo bem! tudo bem! nós nos rendemos... — exclama o Numen de unhas grandes.
— Acredito que não seja mais possível — Ela graciosamente caminha na direção dos dois concluindo — minha função aqui não é capturar Numens, mas sim exterminá-los.
— Vagabunda! — grita o Numen ferido no pescoço, disparando outro projétil de surpresa com suas últimas forças.
Talvez tomada pela certeza de que a batalha já estava ganha, ou por sua arrogância, o disparo quase a atinge no peito, obrigando-a ter que se defender com o centro do bastão, abrindo uma abertura em sua guarda.
Aproveitando-se da oportunidade criada por seu amigo, avança contra ela cortando o bastão ao meio com o fio das garras de seu unico braço restante.
O Numen sorri vendo o momento de ouro, avançando ainda mais, porém com movimentos de uma ginasta, Nohi abre um espacate girando suas pernas no chão em seguida o derrubando em uma rasteira.
Para pôr fim perfurar o peito de tal Numen com um dos lados do bastão partido enquanto o outro ela arremessa contra o seu aliado penetrando o crânio dele com facilidade, exterminando os dois em seu agil movimento.
O olhar de Nohi, no entanto não era de felicidade ou alívio, mas sim de frustração, cerrando seus punhos com raiva.
— Mas que droga, eu abaixei minha guarda... droga...
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Já em outra direção, Daidairo havia localizado um dos suspeitos, assim acabando por perseguir a figura de mantos brancos e cabelos longos em direção a um beco sem saída.
Ele tentou comunicar sua parceira e seu superior, mas sem sucesso, enfim decidindo continuar sozinho, entrando no beco escuro e anunciando.
— Em nome de nossa jurisdição! Ordeno que se rende, aqui é a SPCN, os Abutres! — exclama Daidairo, retirando seu bastão idêntico a de sua parceira.
— Por favor... só me deixe ir para casa...
Ele ouve tal voz feminina vinda de todos os lados, mesmo sendo um beco sem saída ele não consegue vê-la, o fazendo forçar sua visão para tentar encontrá-la.
— Creio que isso não seja possível, não sem antes averiguarmos quem você é.
— Eu sei quem vocês são... e sei o que fazem com pessoas como nós, nos exterminam sem nem mesmo olhar para nossos rostos — responde tal voz feminina de maneira tremula.
— Então você é uma Numen... — Daidairo continua olhando para os lados.
— Eu só quero ver minha filha, por favor...
Os olhos dele se arregalam, mostrando uma expressão de dúvida, — Como? Você tem uma filha?
— Sim... e eu farei de tudo para vê-la! Até mesmo matar você!
Daidairo em choque percebe um vulto vindo de seu ponto cego, rapidamente tendo somente tempo de erguer seu bastão para se proteger de um ataque em meio a escuridão.
Vendo por fim pela primeira vez a Numen a sua frente, ela é uma mulher de cabelos castanhos curto e seu Bakemono é evidente a seus olhos, tanto seus braços e pernas são semelhantes a répteis se camuflando no escuro, enquanto seu corpo permanece humano visível a olhos normais.
— Droga...
A Numen então se afasta, revelando outra de suas habilidades, ela pode escalar as paredes em extrema velocidade, enquanto várias vezes realiza ataques vindo de todos os lados deixando Daidairo em sua posição defensiva durante grande parte do tempo.
O suor escorria pela sua testa, pingando em seus olhos enquanto pensa em uma alternativa de contornar tal situação.
Daidairo então respira fundo, se concentrando para o próximo ataque e no momento certo antes dela acertá-lo, ele gira seu bastão em tremenda força a velocidade em sua volta, criando uma onda de ventos por todos os lados como um furacão.
É impressionante como um humano conseguia ter tremenda força a ponto de se comparar a um Numen, assim fazendo ela cair contra o chão com a pressão do ar.
Daidairo novamente brandi seu bastão atingindo o ombro da Numen com a corrente elétrica a fazendo gritar com uma intensa dor, para cair de joelhos sem reação.
— Uff... essa é a minha primeira batalha fora do meu treinamento, acho que fiz certo em treinar meu corpo.
— Por favor...
Daidairo alonga seu pescoço, caminhando em direção da mulher, a ouvindo.
— Eu aceito vocês me matarem, eu aceito morrer, mas por favor... me deixe ver minha filha somente mais uma vez! — A mulher diz em lagrimas em seu rosto encarando seu algoz nos olhos — você pode vir comigo, por favor, eu lhe imploro.
A mente de Daidairo entra em confusão, tendo memorias de um passado nem tão distante, cobrindo um de seus olhos com sua mão livre.
— Como posso confiar em você?
— Eu não espero que confie, mas eu aceito qualquer coisa, arranque meus braços, minhas pernas! Faça tudo que quiser comigo! Só me deixe ver ela mais uma vez — A mulher se engasga em suas lagrimas constantes.
Daidairo sente algo em seu coração, começando a se curvar em direção a mulher, com os lábios trêmulos.
— Tudo bem, vamos até sua...
Antes de concluir sua frase, um som estrondoso igualmente a de um trovão é ouvido de trás dele, a sua frente então o choque, um buraco grande de bala perfurado na testa da mulher que cai já sem vida no chão.
— O que pensa que está fazendo Inspetor?! — questiona Kaori, caminhando em direção a seu aprendiz.
Os olhos de Daidairo tremiam em choque, lembrando ainda mais de lembranças de seu passado, ele volta a se erguer olhando para seu superior com olhos profundos.
— Ela disse... que tinha uma filha.
— Então foi isso... — Kaori segura o ombro dele — entenda, ela estava mentindo.
— Como pode ter tanta certeza? — questiona Daidairo mordendo seus próprios lábios.
— Não é obvio? Ela é uma Numen, demônios que se vestem nossa pele e emulam nossos sentimentos para nos manipular, eles não têm coração meu jovem — Kaori sorri levemente — além disso, você acha mesmo que se ela tivesse uma filha realmente, iria querer que nós chegássemos perto dela? Nossa função é exterminar Numens, não importa a idade, lembre-se disso.
Kaori se vira dando alguns tapinhas nas costas de Daidairo, voltando para encontrar Nohi, Daidairo suspira aceitando a probabilidade, sentindo um alívio em seu peito, então com um sorriso no rosto segue seu superior no caminho de volta.
“Numens não sentem amor”
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