Volume 1 – Arco 2
Capítulo 23: Milagre
【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】
A semana prossegue normalmente para todos, exceto para Erisu que desde aquele dia, Arias não vai mais a escola, muito menos tentou contato, o sentimento de medo e vergonha é muito maior do que a vontade dele em encontrar seu amigo.
Desde então, ele não consegue nem mesmo olhar para o espelho, sem sentir seu estômago embrulhar, junto a uma ânsia intensa de vômito.
Sua mãe tentou de tudo ao longo dos dias para animá-lo, mas sua rotina havia se tornado monótona dentro de seu quarto, junto a um ar pesado de arrependimento.
Quando uma semana se completa, Erisu permanece isolado em silencio até mesmo dentro da sala de aula, até que ele sente um toque leve em sua cabeça.
— Está tudo bem pequeno? — diz a voz calma e gentil de Osara, que acaricia seus cabelos.
Ele somente concorda com a cabeça de maneira afirmativa, cruzando os braços por cima da mesa voltando a esconder seu rosto sobre eles.
O sinal toca como qualquer outro dia e todos os alunos saem da sala de aula como sempre fazem, Erisu se ergue de sua carteira, pegando sua mochila sem conseguir erguer seu olhar para frente, em seu rosto já há indícios de olheiras.
Ele caminha até a saída, mas para sua surpresa, Osara tranca a porta com a chave fazendo Erisu ouvir o som da tranca, virando seu olhar para frente do quadro.
— Só tem nós dois aqui, pode falar — exclama ela, voltando até sua mesa, centralizada no meio da sala.
— Eu não tenho nada para falar.
Ela sorri, sentando-se em cima de sua mesa, cruzando suas pernas pendendo seu corpo para trás.
— Sabe, quando eu tinha sua idade eu odiava ir para escola, então durante muitos e muitos dias eu matei aula, para brincar nos campos e esgotos do meu antigo distrito, eu era uma garotinha muito energética.
— Está falando como uma velha... — diz Erisu, deixando sua mochila ao chão.
— Ei! Fique você sabendo que eu nem mesmo passei dos vinte e quatro! — responde Osara mostrando uma expressão irritada por alguns instantes, para em seguida apoiar seu cotovelo em sua coxa, encostando seu queixo na palma de sua mão — Mas saiba, não é esse o ponto, apenas estou dizendo que em sua idade, você não deveria ter olheiras.
— Não ando dormindo muito bem. — Afirma, enquanto fecha seus punhos com raiva.
— Isso tem haver com o pequeno Arias presumo.
— Isso importa?
— Claro que importa, afinal você é meu amado aluno.
Erisu abaixa a cabeça, mordendo a parte inferior de seus lábios enquanto sua professora o encara de maneira precisa.
— O que eu deveria ter feito? — grita Erisu, erguendo seu olhar para os olhos de Osara.
— Como?
— Eu não fiz nada, eu ouvi os gritos, eu não fiz nada, eu estava lá! Eu podia ter ajudado!
— Quer me explicar melhor o que aconteceu?
— O pai dele é tão assustador..., eu não conseguia me mexer, eu os ouvi brigarem por minha culpa. A dona Shijuko está errada, eu não sou forte! — Algumas gotas de lagrimas se acumulam nos olhos de Erisu — Desde então, o Arias não vem mais pro colégio...
— Escute, não se culpe por isso, ele é um homem adulto, o que você poderia ter feito?
— Eu não sei! — grita Erisu, a encarando — eu só sei que esses gritos não saem, se eu tivesse força...
Osara mostra um pequeno sorriso, se levantando de sua mesa para caminhar até Erisu, levando sua mão entorno de sua nuca o puxando em um abraço.
— Você queria ajudar seu amigo, não é? — sussurra Osara, falando bem perto de seu ouvido.
Erisu concorda com a cabeça sentindo o abraço, com uma confusão crescente em sua mente.
— Você se sente culpado, não é? Deve ter sido pesado carregar isso tudo sozinho.
Os olhos de Erisu lacrimejam ainda mais, começando a soluçar, — Não... não é tanto assim.
Ela gargalha levemente, segurando o rosto de Erisu beijando sua testa para em seguida voltar abraçá-lo.
— Dói muito, não? Se sentir incapaz, dói muito.
As lagrimas de Erisu caem, fazendo-o retribuir o seu abraço, — Sim... — o choro dele se intensifica ainda mais, o peso de seus ombros se alivia um pouco, em seus lamentos ele pode encontrar um conforto.
Após alguns segundos em silêncio, o choro dele se acalma enquanto Osara enxuga suas lágrimas em seu abraço.
— Se sente melhor?
— Um pouco...
— Haha! Bem agora preciso que me escute, okay? — diz ela, enquanto gargalha timidamente.
— Está bem — Erisu se afasta um pouco, respirando fundo, escutando atentamente sua professora.
— Você vai sair daqui e ir direto na casa de seu amigo tá?
— O que? Mas professora eu não...
— Não vai ser por sua escolha — Ela sorri, pegando uma folha de papel de sua mesa — Se perguntarem, fale que fui eu que mandei entregar a prova para ele fazer em casa!
Mesmo com receio, Erisu estende um sorriso pegando a folha da mão de sua professora, — Tudo! Professora! Muito obrigado! —, com a energia, ele destranca a porta da sala, correndo com vontade para fora da escola em seguida, determinado em ver seu amigo novamente.
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O sol está quase se pondo, então ele partiu com todo seu fôlego em direção a casa de seu amigo, ele pode sentir o medo, mas a conversa com sua professora aliviou todo seu receio de alguma forma.
Chegando de frente para casa de Arias, ofegante ele estende seu punho batendo contra a porta, momentos em seguida ela é aberta por seu amigo.
— Já volto mãe!
Arias olha para trás enquanto abre a porta, tendo tempo suficiente para Erisu mudar sua expressão que antes era motivada, para uma de preocupação.
Os braços dele estão com curativos e lesões, sua bochecha está com um roxo grande, além de outros ferimentos pelo seu corpo.
Ao perceber quem está a sua frente, Arias encara surpreso. Na mente de Erisu passa mil pensamentos de como Arias iria lhe culpar por todos seus ferimentos, fazendo seu desespero crescer ainda mais.
Porém, para sua surpresa Arias o recebe com o mesmo sorriso radiante do qual sempre dá a ele, — Erisu-su!!!
No momento, Erisu não se conteve, abraçando seu amigo em seguida com urgência, Arias sabe que ele não é alguém que gosta de toques físicos, por isso aproveitou o abraço de seu amigo.
— Também senti sua falta! — diz Arias, dando tapinhas nas costas de seu amigo.
— Por que não está indo para o colégio?
— Bem... é complicado ir para o colégio dessa forma... iriam achar estranho...
— Você podia ter me avisado.
— Avisado? — Arias arregala seus olhos, afastando de seu amigo, aumentando ainda mais seu sorriso — Erisu! Eu tenho novidades! A minha mãe melhorou!!!
Erisu o encara espantado, até ser segurado por seu pulso e puxado por ele até a cozinha. Ao adentrar ele percebe uma linda moça cozinhando com um sorriso carinhoso em seu rosto.
— Oh! Pequeno Erisu, você veio nos visitar novamente? — exclama Shijuko, com seu semblante saudável.
Arias abraça sua mãe com alegria em seu rosto, Iko brinca com seus brinquedos sem preocupação alguma, Shijuko está saudável e forte, todo esse momento é processado em câmera lenta por Erisu, se sentindo um tolo por ter ficado tão preocupado.
Então por fim, Erisu acaba jantando com os três, o pai de Arias não deu nem mesmo sinal durante todas as horas do qual passou junto com eles.
O anoitecer chega e tudo está bem, terminando a noite com Erisu e Arias do lado de fora de sua casa, gargalhando enquanto observam as poucas estrelas no céu em meio a escuridão.
— Eu fiquei preocupado pra caramba...
— É eu sei disso — diz Arias, levando as mãos em sua nuca.
— Como assim você sabe? — questiona Erisu, olhando para seu amigo.
— Você é fechado e responde quase todo mundo com grosseria, mas eu conheço você de verdade — Arias sorri para ele — eu sei que você se preocupa muito mais com os outros do que você mesmo.
Erisu cora, olhando para as estrelas novamente, um breve silêncio percorre o local junto a um sentimento de conforto.
— Como sua mãe melhorou?
— Sobre isso, foi uma surpresa até para mim, uns homens vieram para cá, parece que eles trabalham pro distrito, então ofereceram uma vacina para ela melhorar.
— Seu pai ficou de boa com isso?
— Desde que a mamãe melhorou ele não apareceu mais, para falar a verdade espero que ele não volte! — diz Arias gargalhando.
— Coisa estranha de se dizer.
— Ei, para com isso! Não me julgue!
Erisu olha para o céu, com um olhar alegre, suspirando de alívio.
— Erisu-su, você tá com olheiras bem feias ein, não é saudável para nossa idade isso não!
— Da próxima vez me mande ao menos uma mensagem dizendo que está bem!
— Você sabe que eu não tenho telefone!!!
— Ah tá bem! Vou pedir para minha mãe comprar um novo para mim, aí te dou meu antigo.
Os olhos de Arias brilham, — Faria isso por mim?!
— Claro, a gente vai ser amigo para sempre não? Precisamos manter o contato.
Arias puxa o pescoço de Erisu, apoiando-se em seu ombro enquanto comemora.
Minutos depois, já é bem tarde, Erisu precisa voltar para sua casa, assim despedindo de seu amigo e sua família, ele parte rumo a sua casa.
No entanto, ao se distanciar um pouco da casa de seu amigo, ele percebe algo no canto de seus olhos, na parede de divisa daquele beco, atrás da casa de Arias, está algo familiar para Erisu.
Os mesmos símbolos que viu em outro beco, que também encontrou na sala do diretor de seu colégio, também está a frente da casa de seu amigo.
Erisu balança a cabeça de forma incrédula, continuando a caminhar de maneira alerta, assim de pouco a pouco descobre algo que o deixa com uma pulga atrás da orelha.
De rua em rua os mesmos símbolos estão espalhados por todos os lados, “Será que estou pensando nisso demais? Ou é um evento festivo?”, questiona Erisu em seus pensamentos.
Quando enfim chega em sua casa, seus olhos se arregalam, afinal no muro frente a sua casa, está aqueles símbolos também.
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