Volume 1 – Arco 1
Capítulo 7: Antítese
【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】
Aoi se senta em um sofá vermelho de pelagem, numa sala reservada para os três logo após de ter apostado todo seu crédito em uma jogada maluca sugerida por Oinari. Segurando um controle, liga a Tv de teto no meio do local, com o jogo de beisebol sendo transmitido, enquanto apoia suas pernas na pequena mesinha de centro.
— Muito bem, se sintam confortáveis, ninguém irá ouvir nada nesse quarto.
— O que raios é essa sala? — pergunta Erisu, curvando sua postura ainda de pé.
— Ah, existem várias dessas por aqui, são usadas para conversas privadas; jogos de poker com valor muito alto; ou até mesmo para encontros. Eu mesmo reservo esse lugar as vezes para momentos como esse.
— Vocês são estranhos, puta merda. — Exclama Erisu, sentando-se no sofá frente a Aoi.
— Okay, antes de tudo, quer me explicar esse interesse repentino pela SEIDAI?
— Lembra do velhote que você tinha me dito que havia um Filho perdido? — Oinari senta-se ao lado de Erisu, cruzando as pernas — Ele realmente tinha.
— Tinha?
— Nós pegamos dele.
— Ah, agora já entendi tudo... roubaram a SEIDAI e agora eles estão atrás de vocês.
— Estão atrás da gente? — diz Oinari levando a mão até seu queixo, fechando seus olhos — Acho que você não entendeu, nós que estamos atrás deles.
— Eles eram um bando de fracotes, acabei com todos eles facilmente. — Conclui Erisu, se esticando no sofá. — Oh, isso para mim é uma surpresa. — Aoi aponta o dedo indicador para Oinari — mas se estão lidando bem com eles, por que quer tanto mais informações?
— Eles sequestraram a Himeno...
— Himeno? Sua amiga humana né?... — Aoi leva a mão ao seu queixo, pensativo — Por que não estou impressionado? você já deveria ter esperado por isso.
Oinari abaixa a cabeça, mordendo seus lábios enquanto fecha os punhos com irritação, Erisu ao perceber o que Aoi havia falado, se ergue rapidamente, batendo na mesa com força, olhando com raiva para ele.
— Ei, escute aqui seu merda, não acha que deveria ter mais empatia com isso?
— Empatia? Ela já deveria saber que isso iria acontecer uma hora ou outra.
— Como caralhos ela iria saber disso?! — grita Erisu, com raiva.
— Porque é isso que ocorre quando um Numen e um humano tem algum tipo de relacionamento. — Aoi o encara de maneira séria — Numens são poderosos e matam humanos; humanos caçam numens, essa é a realidade.
— Isso não é uma regra universal! Nunca machucaríamos a Himeno!
— Mas machucaram.
— O-o que?
— Veja, vocês acabam de me dizer que a SEIDAI sequestrou a amiga de vocês, isso não teria acontecido se vocês não fossem numens e ela uma humana.
— Ela foi sequestrada por nossa culpa! Eu sei disso! Mas não tem nada a ver com sermos numens!
— Errado! — Aoi tira os pés da mesa, pendendo seu corpo para frente, olhando nos olhos de Erisu — No mundo existe uma linha que liga todas as esquisitices desse mundo. Essa linha liga o divino ao sobrenatural, nós numens estamos ligados a essa linha e o preço para um humano querer romper ela, é a desgraça.
— Espera mesmo que eu acredite nessa sua fantasia seu merda!
— Risu! Se acalma — diz Oinari, colocando a mão no ombro de seu amigo. — Não viemos para discutir sobre isso... Aoi, diga tudo que sabe por favor.
— Tudo bem... Ei Erisu, desculpe por isso! Vamos esquecer o que falamos e continuar sendo amigos, okay? — diz Aoi mostrando um grande sorriso.
— Ora seu... desembucha logo!
— Okay, okay, por onde posso começar...
— Comece dizendo o que eles são. — diz Oinari, descruzando as pernas.
— Ah, muito bem, a SEIDAI se iniciou a alguns anos atrás como um grupo religioso, que depois viria a se tornar uma seita, que por fim com sua influência se tornou um culto criminoso. Sendo um dos maiores atualmente.
— Como raios a polícia ou o governo não acabam com eles? — pergunta Erisu.
— Sobre isso, existem dois motivos plausíveis, primeiro; sua localização, segundo; seus fiéis.
— Localização?
— Isso mesmo. — Aoi sorri, aumentando o volume da tv, focando seus olhos no jogo — Você sabe por que o principal domínio da SEIDAI fica no Distrito Independente?
— Sei lá! O que isso importa?
— É por estar distante do Distrito Zero — responde Oinari, olhando para Erisu — Quanto mais distante de lá, ou de regiões nobres, mais difícil é o controle da polícia, e principalmente...
— Dos Abutres! — conclui Aoi, na frase de Oinari — Somado a isso, junto a uma multidão iludida pelo líder carismático da SEIDAI que é dito ter poderes divinos, sendo um profeta dos céus, torna o trabalho ainda mais difícil para o governo.
— Mas não existem provas o suficiente para incriminar eles? — pergunta Erisu.
— Existem, mas aí que está o problema, todas as provas dos crimes que eles cometeram, são os fiéis que assumem a responsabilidade. Muito inteligente da parte do líder deles.
— Você havia dito sobre poderes divinos... isso quer dizer que o líder deles é um Numen certo? — pergunta Oinari.
— Tenho quase total certeza que sim.
— Qual é o nome dele?
Aoi abre a boca para responder, no entanto, com uma voz grave vindo da Tv, ele é interrompido pelo locutor da partida que diz — Home-Run dos RedFoxys! —, o fazendo arregalar os olhos de surpresa.
— Caramba! Olha só! Será que foi sorte?
— Aoi! Responda, como se chama o líder deles?
— Ah, desculpa, me desconcentrei por um instante — Aoi volta sua atenção para Oinari, com um sorriso — Eu não sei o nome dele ao certo, apenas que todos o chamam de Avô.
— Outro velhote... — diz Erisu, reclamando.
— Tem mais alguma coisa que sabe sobre a SEIDAI? Qualquer coisa que possa nós ajudar? — pergunta Oinari, fechando seus olhos.
— Depende, o que pretendem fazer?
— Não é obvio? Vamos trazer a Himeno, nem que para isso precise matar esse cara.
— Wow! Primeira vez que a vejo falando dessa maneira. Eu diria que isso seria impossível logo de cara, no entanto você disse com tanta determinação que estou questionando que realmente consigam.
— Nós vamos conseguir! Eu garanto! — diz Erisu, mostrando seus dentes pontudos.
— Pois bem... tenho algumas dicas e conselhos para passar, talvez ajude.
— E quais são elas?
— Primeiramente, a mais obvia de todas, se querem derrubar a SEIDAI, precisam derrubar o líder deles, mas isso é extremamente difícil, então outro conselho que dou é tomarem cuidado com os Cães Divinos.
— Espera? Cães? Cachorros mesmo? — pergunta Erisu, com dúvida.
— Não exatamente, Cães Divinos são um título dado pelo próprio Avô para seu conselho de segurança, eles são assassinos extremamente perigosos de alto escalão no culto, não preciso nem dizer que são numens, não é?
— Eles são quantos? — pergunta Oinari.
— Ao todo oito — responde Aoi, olhando para Tv novamente — Caramba! Mais um Home-Run seguido! Como isso é possível?
— Acha que dá conta? — diz Oinari, sorrindo para Erisu.
— Ainda tem dúvidas disso? Claro que dou! Eu sou o mais forte! — responde Erisu.
— Aoi, me diga onde podemos encontrar o líder deles.
— Sinto muito, mas isso nem mesmo eu sei.
Oinari morde levemente a ponta de seu dedo, pensando em algum plano.
— Entretanto... a amiga de vocês foi levada certo? Acho que tenho uma ideia de onde provavelmente a levaram.
— E onde seria?
— A muitos anos atrás, os humanos criaram em um momento de caos, uma passagem onde ligasse todo o país, mais precisamente um labirinto eu acho... atualmente é utilizado por numens para se esconderem, no entanto existe um detalhe pelo qual eu acredito que sua amiga deva estar lá. — Aoi coça seu rosto, enquanto completa — Por alguma razão existem grades e prisões feitas pelos humanos naquele tempo, logo ouvi detalhes que a SEIDAI usava essas grades para capturarem pessoas que se opõem a seus desejos.
— Tá, tá, não to a fim de aula de história, apenas diga como podemos entrar — diz Erisu, cruzando os braços.
— De maneira simples, existem muitas maneiras de entrar nos tuneis, da mesma maneira que existem muitas formas de se perder, mas ouvi detalhes que a SEIDAI usa o sistema de esgoto das docas do Distrito Urbano para carregamento de contrabandos entre os distritos, talvez se forem rápidos consigam ter um horizonte se seguirem por lá.
— Porra, isso foi específico para caralho, como sabe de tudo isso?
— Não é obvio? Eu trabalho para eles as vezes, por isso sei de tudo isso.
Erisu surpreso, cerra os punhos, enquanto vê sua amiga se erguendo com o mesmo sorriso tímido de sempre, o estendendo a mão.
— Muito obrigado Aoi, não temos mais tempo a perder, então vamos o mais rápido possível! Certo Risu?
— Claro, está certo. — Erisu segura a mão dela, levantando-se rapidamente.
Ambos dois, abrem a porta giratória da sala, se dirigindo para fora, até que Aoi estende sua mão os chamando com um assobio.
— Ei, Oinari, boa sorte nesse seu resgate e foi um imenso prazer em te conhecer Risu, espero que continuemos as nós ver!
— Eu torço para que não. — Responde ele com olhar de desprezo.
— Valeu mesmo, aproveite o jogo.
— Apenas não esqueça, caso tenha sucesso, vou lhe dar um último conselho, se afaste dessa humana para o bem dela.
— Aoi... foi um bom conselho, mas fique sabendo — diz Oinari, abrindo seus olhos o encarando com uma expressão séria — somente eu que decido o que faço com minha humana.
Aoi sente um arrepio e um tremendo vazio vindo do olhar dela, quase como se todos seus instintos alertassem perigo ao mesmo tempo, um grande desespero batia em seu peito, o fazendo soar frio.
Ambos os dois saem correndo em direção a saída do cassino, deixando a porta aberta, Aoi leva a mão até seu peito ainda com aquele sentimento percorrendo seu corpo, o fazendo sorrir com o nervosismo.
— Caramba, isso foi extremamente chocante — ele suspira, se aconchegando no sofá tentando se acalmar — seu humano é? Eu realmente amo seu lado assustador Oinari...
Ao fim, o som da Tv novamente ecoa pela sala informando um resultado, mais um home-run dos RedFoxys, somando três seguidos, terminando a partida com uma vitória de lavada. Fazendo com que Aoi mais calmo, não acreditasse no que via.
— Eu realmente preciso descobrir como ela consegue... tomem cuidado pequenos... vão precisar.
Ele sai da sala, com o bilhete premiado em suas mãos, caminhando em direção a atendente de apostas novamente.
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Enquanto isso, já fora do cassino, correndo entre a multidão de pessoas que havia nas ruas, Erisu e Oinari tentam chegar ao seu destino o mais rápido possível. No entanto, em sua mente cresceu uma dúvida, ele ouviu que Aoi disse sobre ter trabalhado junto a SEIDAI, isso fez com que tivesse uma pulga atrás da orelha.
— Oinari, realmente podemos confiar nesse seu amigo?
— Por que a pergunta?
— Ele trabalha com a SEIDAI, não acha que isso pode ser uma armadilha também?
— O Aoi é estranho, estravagante, e um pouco cruel as vezes, mas se tem algo que eu sei dele, é que ele jamais deixaria de ver algo que o excitasse em troca de dinheiro. — Oinari sorri apontando para ela mesma — Nós estarmos indo contra a SEIDAI deve ser extremamente divertido para ele.
— Entendo...
Uma hora depois de corrida constante, Erisu já pode ver o mar cheio de barcos entre as docas e o trapiche, mesmo correndo por todo esse tempo, nenhum dos dois aparenta estar cansado, isso é uma das vantagens de ser um Numen, sua energia não esgota facilmente.
Ao descerem a beira mar, ambos procuram o tal sistema de esgoto do qual Aoi havia dito, já é por volta das três da tarde a esse ponto. Sem muita dificuldade Oinari vê sendo despejado no mar a água suja do esgoto por um grande tubo de concreto, por seu tamanho facilmente cabe quatro pessoa uma do lado da outra, tornando fácil acesso a aquele lugar.
Em compensação, ao se aproximarem, os olhos de Erisu lacrimejam com o cheiro indescritivelmente ruim vindo daquele lugar, seu nariz é sensível, o fazendo ficar com ânsia antes mesmo de entrar pelo tubo.
— Mas que porra é essa? Parece que cagaram no meu nariz!
— Isso é um esgoto Risu, esperava o que? Flores?
— Sua raposa de merda! Vou vomitar em você se continuar com essas brincadeiras!
— Haha! Vamos logo Risu! Me ajude a subir.
Erisu entrelaça seus dedos, fazendo ela colocar os pés em sua mão, a erguendo para que subisse no tubo sem problemas. Em seguida ela se curva um pouco estendendo a mão para baixo, fazendo assim Erisu saltar usando como apoio a parede, segurando a mão de sua amiga, que o puxa para cima.
— Tá! Vamos logo entrar nesse fim do mundo!
— Espere Risu... tem algo estranho, não está ouvindo?
— Ouvindo o que? O mar?
— Não... — Oinari aponta para dentro do esgoto — há alguém chorando lá dentro.
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