Volume 3
Prólogo
Dezembro começou e está lentamente chegando ao fim, e o outono acabou antes de eu usar as roupas que comprei três vezes.
As férias de inverno estão próximas, e a única coisa em meu caminho são as provas finais.
“Ser fashion por todas as quatro estações no Japão é divertido, já que cada estação possui sua própria variação de cor e estilo. Mas parece que a cada ano que se passa, meu guarda-roupas está cada vez mais cheio, por exemplo aquele conjunto La Variation, eu usei por exatamente três meses. E quando penso nisso com calma, sinto que não sei o que estou fazendo.”
“Hm. Bom, eu gosto da sua aptidão por roupas.”
Aya, que estava sentada do outro lado da mesa, responde aos meus murmúrios indiferentemente enquanto observa o exterior pela janela. O sol logo irá se pôr, né?
Não importa, de qualquer forma, se eu fosse obrigada a usar ‘a mesma pelagem’ todos os anos como cães e gatos, eu não suportaria.
Na volta para minha casa, eu faço uma breve visita a casa da Aya. Seu quarto possui um ótimo e confortável aquecedor, então seria desperdício ir direto para casa.
(Nossa, está congelando lá fora.)
Enquanto estico as pernas, eu olho para o gabarito nitidamente colocado no meu lado da mesa.
O número 89 brilha intensamente próximo ao nome ‘Sakakibara’. Considerando o fato de que a pontuação média desse ano em matemática foi 63, estou bastante orgulhosa desta nota.
Eu adoro a escola, e sempre estou tentando melhorar minhas notas. Atualmente, meus estudos vão bem, e meu reconhecimento no colégio continua alto como de costume.
Isso acontece porque eu sou uma garota que consegue lidar bem com tudo isso!
Porém…
Tem outra prova na mesa com o nome “Fuwa Aya” escrito.
Eu queria rir da cara da Aya, mas aquela nota me deu um choque de realidade.
Uma pontuação de 89 e uma perfeita estão apenas a 11 pontos de distância. No entanto, se você só responder 89 questões de 100, claro você ganha 89 pontos. Mas para conseguir inteiros 100 pontos, você precisa responder todas as 100, 120, ou até 200 questões corretamente. Não há espaço para erro algum.
Essa enorme disparidade de habilidade… Eu perdi, completamente…
Por outro lado, há uma certa pessoa sentada do outro lado com um rosto que parece dizer, “Apenas estou fazendo o que normalmente faço”, provando que ela não tem apenas um belo rosto, um corpo perfeito, é boa nos esportes, boa em artes marciais, mas também possui um cérebro genial.
Esta garota é Fuwa Aya.
Seu cabelo, iluminado pelo sol vespertino, parece quente e gentil, como se fosse feito dos próprios raios solares vindos da janela. Olhos de esmeralda que sempre parecem sonolentos, parecem carregar uma tristeza anônima bem no fundo. A atmosfera ao redor da Aya é sempre doce e colorida.
Olhando com mais atenção, várias partes de seu corpo se assemelham aos de uma boneca, tão lindas que ninguém imaginaria que uma pessoa assim poderia existir e se mover como um humano. Acho que a razão disso está em seus olhos.
Digo, se ela pudesse converter todo esse talento em seu próprio charme, ela não seria invencível? Não é um pouco injusto? Não seria melhor se você me desse um ou outro pedaço? Especialmente a habilidade acadêmica.
A altura de Aya é algo em torno de 1,63m. Um outro dia, eu perguntei qual era o seu peso e ela me disse que era um pouco mais pesada que eu. Mas nessa idade, não faz sentido algum adicionar ou subtrair desses números…
O corpo de Aya é esbelto, suave e muscular. Sua cintura é mais fina que a minha, e seus seios são maiores. Aah, sério, eu não aguento mais, como eu sou idiota.
Eu levanto minhas mãos em rendição.
“Tá, tá bom, eu admito! Eu perdi, está bem!?”
“Você aceitando ou não, perder é perder.”
“Sim, mas! Bom, talvez não!”
Aya sorri para mim, provavelmente pensando em como me provocar novamente. Ela desliza seus dedos finos por seus lábios, isso me deixa nervosa, mesmo nós duas sendo garotas.
Os lábios rosa pêssego de Aya não são assim por conta do batom, eles são assim mesmo. Se você tem um segredo, por favor conte-me… Ou você secretamente vendeu sua alma para uma bruxa?
“No total, eu pontuei 474 em cinco matérias. E você?”
“421.”
“Quem fez melhor?”
“A baritachi sádica sentada na minha frente!”
Aya sorri alegremente, droga.
“Muito bem, boa menina. Você é bem esperta, hein? Na minha sala, acho que sua pontuação fica em segundo lugar. Bom trabalho.”
“Mesmo que eu fosse a penúltima, eu só queria ganhar de você!”
Enquanto eu grito loucamente, Aya se aproxima de mim e acaricia minha cabeça.
“Ugh… Na Tailândia, você não deve acariciar a cabeça de uma criança sem necessidade.”
“Isso é o que costuma estar escrito em livros, mas desde que você não as bata sem razão, as pessoas não se importam.”
Aya ganha de mim até nesse tipo de conhecimento. Não há mais nada em que eu possa competir com ela… Eu quero virar um mexilhão e flutuar no mar da derrota.
“Está tudo bem.”
Quando me viro em sua direção, com um rosto que parece o de alguém prestes a esmurrar o outro, eu tomo um leve susto ao ver o rosto de Aya tão próximo do meu, com seu lindo nariz formando uma ponte com minha bochecha.
Eu me afastei por impulso, mas Aya rapidamente diminui a distância entre nós para zero, e no mesmo instante meus lábios sentem aquela sensação macia e doce como de um cupcake. Eu nem tive tempo de fechar os olhos.
Quando Aya me beijou, ela estreitou seus olhos e sorriu.
“Porque você é a garota mais fofa que existe, Marika.”
Fuwa Aya é uma estudante de segundo ano do ensino médio extremamente perfeita, e…
–Estamos juntas há quatro meses, ela é minha namorada.
“Isso é trapaça…”
“Isso o quê?”
“Tudo”, eu disse ao desviar o olhar. Não é justo, como a Aya pode mudar o clima num piscar de olhos com apenas uma palavra. Se eu reclamar e delirar ainda mais, vou parecer uma criança.
“IdiotAya…”
“Mas eu estudo melhor que qualquer pessoa.”
“Eu já sei disso, por que você continua repetindo…?”
Eu a encaro com um beicinho. Aya não diz nada e apenas envolve minhas mãos com as dela. Parece uma massagem, e rapidamente amolece meu coração, que estava acanhado pela derrota. Poxa…
Por isso que uma donzela apaixonada é tão simples. Se continuar assim, eu provavelmente começarei a exclamar, “Minha namorada é tão incrível! Por favor, me abrace!”. Eu começarei a aceitar a perfeição de Aya como algo rotineiro, mas ainda estou longe de chegar nesse ponto. Minha mente não é tão simples para aceitar facilmente a verdade, embora ela tenha me derrotado nos resultados das provas.
Digo, Aya também não é perfeita. Não é como se ela conseguisse fazer tudo desde que nasceu. Aliás, desde quando a conheci, ela é extremamente desajeitada, mas conseguiu chegar aonde está agora depois de muita dor e sufoco.
Mesmo agora, eu acho que precisarei me esforçar muito para poder competir com ela. A prova são os mangás Yuri que comprei estarem se acumulando lentamente… Eu ainda acho que estou fazendo um bom trabalho, então não deve ser tão ruim.
“Tome isso!”
Como uma pequena vingança, eu faço cócegas nos pés de Aya.
“Você não sente cócegas?”
“Na verdade, não. E você?”
“Ah, espe-, espera, eu sou fraca aí, não!”
Aya rapidamente coloca suas mãos em meus quadris, fazendo o meu corpo se contorcer com as cócegas.
Hah, hah, hah… Mas o que… Que tipo de situação suspeita é essa, com duas garotas brincando e vestindo uniformes de marinheira?
Como se tivesse acabado de dar algumas voltas num campo, eu fico sem fôlego.
“De alguma forma, você conhece todas as minhas fraquezas… Me conte alguma sua…”
“Fraqueza… As lágrimas da Marika?”
“Não é disso que eu estou falando…”
Se ela tivesse continuado por mais três minutos, eu teria chorado, sem brincadeira. Mas eu não ficaria surpresa se Aya se curvasse e pedisse desculpas.
“Haa…”
Eu caio sobre a mesa com meus braços esticados. Eu traço um círculo na folha de prova próxima ao meu rosto com o dedo. Me pergunto se ela pode desaparecer se eu esfregar. Se pelo menos eu tivesse feito 90 pontos…
Aya sente pena de mim por meus esforços inúteis, e me diz para parar com isso.
“Certo, Marika, está na hora de cumprir sua promessa, vamos começar o jogo de punição.”
“Por que você achou que poderia vencer!? O que eu tinha feito!?”
Porque… Mesmo que eu não possa vencer, eu ainda quero tentar. Pois se eu desistir, meu coração ficará à total mercê da Aya. Fala sério!
Então, escolho um número? Não, dessa vez não há espaço para escolhas. Eu me sento na cama da Aya, segurando a bainha da minha saia com as duas mãos, como se estivesse protegendo minha virgindade. E na minha frente está Aya, dessa vez sem um caderninho mágico contendo punições monstruosas, mas sim… uma câmera portátil.
“Marika. Levante sua saia, com calma.”
“Para, para, para!”
Eu grito e estico meus braços para frente, tentando me esconder da visão da câmera.
“Eu não estou acompanhando! O que pensa que está fazendo!? Por que você já tem uma câmera em mãos!?”
“Porque eu sabia que venceria.”
“Então o que você vai filmar!?”
“Marika.”
“Nua?!”
Aya está sendo muito séria e abaixou o ângulo da câmera o mais baixo possível. Embora seu rosto agora possa parecer normal para outras pessoas, para mim é a prova genuína de que ela é uma completa pervertida. Essa garota… é a minha namorada…
“Digo, é esse tipo de jogo de punição que você estava falando…? Que merda é essa?”
“Marika, suas palavras serão censuradas.”
“Quem é que merece ser censurada!?”
Aya se aproxima de mim e exala uma aura opressiva, eu sinto um sério perigo sobre meu corpo.
Com um leve empurrão no ombro, eu caí na cama logo atrás de mim. Aya coloca seu joelho entre minhas pernas e se inclina sobre mim. Com a câmera de prontidão, ela usa sua mão livre para mover seus dedos do meu pescoço, até minha barriga, depois cintura e finalmente na bainha da minha saia.
“…”
Meus olhos estão fixos nos de Aya, que se assemelham a lentes, e não consigo me mexer.
Como é um jogo de punição, eu não tenho o direito de recusar. Vídeo… ah… Não sei se isso é moralmente aceitável, mas se ela continuar com esse clima, provavelmente me deixarei levar.
Não é que eu não tenha pensado nisso com cuidado. Mas a culpa também é minha por me apaixonar por uma pervertida.
Aya acaricia minha bochecha suavemente, a luz na minha frente de repente escurece, pois seu corpo a bloqueia. Eu timidamente viro meu rosto para o lado, todo o meu corpo está queimando. Ah, poxa… por que eu amo tanto esse rosto…?
Com minhas mãos em meus seios, eu olho para Aya.
Eu já sou uma segundanista de ensino médio. Nunca é tarde demais, acho que sou madura o suficiente para tomar minhas próprias decisões. Por isso.
“E-está bem, não como se eu estivesse… fazendo o que você quer… Mas, mesmo que você queira fazer uma loucura… como é você, Aya, então tudo bem.”
Eu nunca pensei que diria essa frase para uma garota, e em seu próprio quarto. Mas estamos falando da Aya, eu tenho certeza que ela está pensando em algo que eu nunca entenderia.
Mesmo que isso aconteça, se a outra pessoa é a Aya… tenho certeza de que nunca me arrependerei. Mas eu ouvi dizer que a primeira vez é dolorosa, então estou com um pouco de medo…!
“Assim não dá.”
“Eh?”
Ela rejeita minha oferta com uma voz pesada, como o de duas pedras colidindo.
Essa frase foi completamente inesperada, então tudo que eu faço é olhar para Aya espantada. Ela abaixa a câmera e me olha com olhos raivosos. P-por quê?
“Marika, um, você deve se dar mais valor.”
“Eu não quero parecer rude, mas…?”
Eu ia fazer uma observação sarcástica sobre o fato da Aya ter sido quem começou com o assunto de filmagem pornográfica. Mas talvez por se sentir pressionada de alguma forma, as palavras não são ditas. Parece que há um pouco de culpa misturada nelas.
Porque ela disse isso tão firmemente? Embora, a culpa por ter me arrastado para este pântano safado seja 1000% dela.
“De qualquer forma, isso não é bom.”
“Ah, certo. Mas, mesmo que eu perca a virgindade com meus dedos…”
“Não.”
Eu pauso por um momento e então aceno, acho que ela também tem suas razões. Não sei porquê, mas eu me sinto como uma criança que não ganhou um doce…
E então, Aya começa a entrar em pânico.
“Ah… Porque…”
“?”
Aya engoliu sua saliva e apontou seu dedo para mim com uma expressão preocupada.
“Você não pode apenas flertar com um cara qualquer e tentar arranjar alguma experiência, de jeito nenhum!”
Mas do que diabos ela está falando?
Por um momento, eu fiquei estupefata. Não é como se eu quisesse jogar minha virgindade pela janela sem motivo, sabia? Mas o rosto da garota na minha frente está todo avermelhado, e seus olhos são como os de uma mãe que é contra o casamento da filha. Se estava tão preocupada com isso, por que não a tirou de mim? Eu tenho certeza que ela sabe o que eu estou pensando.
Fazia um tempo que não via Aya tão agitada.
Eu rio e acaricio sua cabeça.
“Está tudo bem, eu não farei isso. E claro que também não estou com pressa. Poxa, você é tão fofa, Aya.”
“…”
Ah, ela está envergonhada por ter sido tão prematura, e fica deprimida para esconder isso.
O-o que é isso? Tão fofa… Aya, você é tão fofa!
“Você está mesmo tão preocupada assim comigo, Aya? Hehe, você me ama tanto assim? Hmm, é mesmo?”
Eu continuo acariciando sua cabeça. Ela parece um bichinho de pelúcia, e ela está à minha mercê. Aah, ela é tão adorável. Eu quero provocá-la. Eu quero fazer com ela aqui e agora!
“Aya-chan também fica com ciúme, né? Aya-chan sempre finge estar calma, mas na verdade, ela me ama tanto que nem consegue descrever. Tão fofa~!”
É uma sensação boa! Estou fazendo o que ela costuma fazer comigo. Mas não acho que seja o suficiente. A forma como eu trato Aya como uma menininha tanto me diverte, quanto me excita.
Bem quando eu pensei, “Vou pressioná-la um pouco mais…” Aya recupera sua compostura. Certo, bater em retirada. Não insista demais em morrer, reconheça seus limites. Eu sou uma garota que sabe estudar e compreender o clima!
(Apesar de estar em segundo lugar.)
Então, Aya limpou sua garganta, arrumou seu cabelo e preparou novamente a câmera.
“Muito bem, vamos começar.”
“Tá~”
E então, a atmosfera ao redor de Aya começou a mudar. Sua voz parece a de uma verdadeira atriz.
“Certo, Marika. Isso é apenas uma gravação. Está nervosa? Não se preocupe, apenas relaxe. Eu serei gentil.”
Eh, eu já escutei essa frase em algum lugar… Ah, foi no primeiro pornô que eu assisti…
Não me diga que não será uma simples brincadeira. Será que ela quer ir mais além?
“Uhm… Isso também é parte da punição?”
Aya responde com uma voz muito séria.
“A atmosfera também é importante.”
Eu quero respeitar a opinião da pessoa que amo, mas eu não consigo.
“Entendo… Aya, você não pretende ser uma diretora de filme pornô no futuro, pretende?”
Qualquer outra profissão serve, mas eu não gosto dessa ideia, porque combina até demais com a Aya. Mas quando perguntei isso, ela parou por um momento e pensou.
E então, ela olha para mim.
“Só se… Marika se tornar uma atriz pornô.”
“NEM FERRANDO!”
Eu gritei tão alto que talvez até a casa vizinha tenha escutado.
Depois disso, a gravação acabou sem problemas.
Sem problemas? Vamos esclarecer os fatos. Bom, pode-se dizer que acabou em segurança. Continuamos até… Aya ficar satisfeita. Eu fui arrastada pelos meus sentimentos, e acabei chegando em outro nível de vergonha! (entre outras coisas)....
Porém, Aya sabe criar uma atmosfera melhor do que eu pensava. E ela diz coisas como, “Você é tão linda” e “Você é tão fofa” para mim como se fosse sua gatinha…
Aliás, que tipo de garota não sentiria seu coração palpitar ao ser elogiada por quem ama…?
Eu acidentalmente gastei muita energia hoje… ou melhor, estou esgotada. E quando percebi, eu adormeci nua na cama da Aya.
Logo quando abri os olhos, também notei que já estava bem tarde e escuro lá fora.
Fiquei um pouco surpresa, mas a sonolência é muito maior. A sensação de delírio em meu peito, mais a exaustão que faz meu corpo se tornar imóvel, me fazem querer abraçar o braço de Aya e dormir ao seu lado para sempre.
Aya está lendo mangá em seu celular com uma mão, enquanto a outra está em minha cabeça. Seu rosto, iluminado pela fraca luz da tela, emerge na escuridão. Talvez tenha sido assim que ela ficou acordada esse tempo todo. Ocasionalmente acariciando minha cabeça enquanto eu dormia.
Ahh, eu não sei porquê…
(Eu te amo tanto.)
Eu não falei em voz alta, apenas sussurrei em meu coração.
Estou tão feliz agora.
De repente, nossos olhos se encontram. Os olhos de Aya pareciam estar se perguntando se eu queria dizer algo, mas ela não diz nada. Eu fico alarmada, então imediatamente me levanto, e querendo quebrar o silêncio, eu bocejo.
“Ah… Eu tenho que ir pra casa.”
“Está bem.”
Aya está apenas com roupas íntimas. Se eu soubesse disso antes, eu teria enrolado minhas pernas e braços ao redor dela. Eu adoro a sensação das minhas coxas tocando a pele suave da Aya. Eu tento entrelaçar nossas pernas, mas então percebo que isso talvez não seja uma boa ideia, já que estou nua no momento.
No escuro, eu procuro por minha calcinha e a visto. Os lençóis fazem barulho por conta dos meus movimentos repentinos, mas pouco me importa. Eu me sento, sentindo como se tivesse escapado do perigo por um fio. Mas ainda há um empecilho, que é encontrar meu sutiã que está perdido em algum canto. Aya acenderá as luzes a qualquer momento, então preciso ser rápida.
Ser vista nua em um local bem iluminado é uma rotina (ou se tornou uma). Mas isso não quer dizer que me acostumei! Tenho certeza que me sentiria mais confiante se eu fosse tão magra e estilosa quanto Aya…
Bom, vamos parar de imaginar um futuro que nunca acontecerá!
Quando terminei de vestir minhas roupas íntimas, Aya acendeu a luz. O brilho da luz fluorescente incomoda meus olhos, me fazendo piscar algumas vezes para conseguir enxergar claramente. Eu visto meu uniforme, enrolo um cachecol ao redor do pescoço e coloco meu casaco no braço. Certo, estou pronta.
Ao mesmo tempo, Aya também veste seu uniforme.
“Irei acompanhá-la até a estação.”
“Ah… O-obrigada.”
Eu pego minha mochila e saio do quarto, seguindo Aya. Ugh, está frio no corredor. Acho melhor eu vestir meu casaco.
O corredor estava limpo como sempre, nenhum grão de poeira no chão. Porém, eu nunca vi outra pessoa na casa da Aya, mesmo ficando até bem tarde com frequência.
Não sei se há alguma razão por trás disso, mas eu decidi classificar isso como 'tudo bem não saber'.
Se houvesse, então Aya teria me dito. Tenho certeza que ela me dirá quando a hora certa chegar.
“O que foi?”
“Nada, vamos.”
Aya parou e olhou para mim com preocupação.
Por que você não demonstra essa amabilidade para mim quando transamos? Tudo que você faz é me provocar e fazer coisas que não quero…
Mas Aya insiste que, “é porque você gosta dessas coisas, Marika”. Essa afirmação está inexplicavelmente errada! Eu fico feliz da Aya fazer isso por mim, mas… Ah! Mas eu não sou uma Maso.
“É engraçado como a sua expressão muda de uma hora para outra.”
“Eh? I-isso não é verdade.”
Eu passo pela Aya, que está rindo enquanto cobre sua boca, e vou até a porta. Deve estar ainda mais frio lá fora, então eu enrolo meu cachecol no pescoço e coloco meus protetores de ouvido para me manter aquecida. Aya, por outro lado, está apenas com um cachecol fino em seu pescoço. Quem ela pensa que é? Jack Frost?
“Eu não gosto do inverno… Mas Aya, você está bem seja no calor ou no frio, né? Você é um robô? Minhas lágrimas são a única coisa que te dão energia?”
“Na verdade, o que você faria se eu dissesse, “Eu vim do futuro para te salvar, Marika”?”
“Do que você estaria me salvando?”
“Vejamos, talvez de um mulherengo, de uma outra lésbica, ou talvez de outra pessoa que te queira?”
“Pra começo de conversa, não foi você quem fez eu me apaixonar por uma garota…?”
Apenas os sapatos de Aya estão na entrada. Ela abre a porta enquanto eu continuo tentando não perguntar sobre sua família. O ar do lado de fora invade e congela minhas bochechas.
Mas para minha surpresa, eu não me sinto tão desconfortável quanto esperava, talvez por minha temperatura corporal estar relativamente alta. Como eu estava abraçando a Aya há poucos instantes, seu calor corporal parece estar me protegendo.
“Agora você parece feliz.”
“... Não observe demais as expressões das pessoas. Eu não gosto…”
“Estava pensando em mim?”
Eu encaro seus olhos maliciosos. Minhas mãos, agora nos bolsos do meu casaco, ficam trêmulas enquanto eu procuro por uma resposta.
“Bom, isso sim.”
“Mas, eu estou bem aqui, do seu lado.”
Aya aninha sua mão dentro de meu bolso. Meu corpo sente um leve arrepio quando minha mão direita é coberta por sua mão fria.
“Aya! Não estamos dentro de casa.”
“Está tudo bem. A razão pela qual estou com a mão em seu bolso é porque estou com frio. Eu tenho uma boa razão, então não me importo se as pessoas verem. Afinal, ninguém suspeitará de nada, não é ilegal.”
Essa última palavra soou um pouco estranha, mas eu decidi ignorar e aceno, “Tá…”
Me pergunto se algum dia, eu poderei entrelaçar nossas mãos juntas com orgulho…
Este inverno será… Hmm, talvez eu não odeie tanto quanto os outros.
“Você parece feliz de novo. Você é tão fofa, Marika.”
“Poxa, já deu!”
Nós estamos a caminho da estação, a qual está decorada com iluminação por todos os lados, de vários jeitos. Eu olho para o lado, Aya respira e solta um ar branco com a boca levemente aberta, ela é extremamente linda.
“Ah, é mesmo. Nós teremos uma festa de Natal no bar.”
“Ah, naquele bar?”
“Sim.”
Aya tem um emprego de meio período em um bar lésbico em Shinjuku.
Qualquer um que ouça isso, pode pensar em algo suspeito, mas para uma cliente regular como eu, aquele bar é um lugar casual e confortável.
Independente do seu gosto, pelo menos é um bar, então uma festa lá será mais especial do que em outros lugares, mal posso esperar! Mas quando olho para Aya, bem ao meu lado, há um resquício de tristeza em seu rosto por alguma razão, o que houve…?
“Você planejou passar esse tempo comigo, Aya?”
“Hmm, bom… Na verdade, não.”
Toda a empolgação sumiu num instante. Eh… é sério…?
Q-que triste…
“Se Marika tivesse planejado algo, eu me sentiria culpada. Mas esse é o nosso primeiro Natal juntas.”
“Eu não pensei em algo para o Natal. Ou melhor, eu não tive tempo para pensar nisso, porque eu estava ocupada… estudando para as provas.”
Mesmo assim, eu perdi… E além disso, meu momento mais vergonhoso foi gravado… Meus ombros encolhem num instante. Então, perguntei a Aya.
“Aya, um Natal assim está bom pra você?”
“Uhum.”
Ela acena a cabeça sem hesitar. Eu sei que o bar é um lugar importante para Aya. Eu entendo muito bem. Eu sou uma namorada compreensiva, e-então não vou ficar de mau humor por causa disso… está tudo bem. Mas… talvez eu sinta sua falta… um pouco…
“Ah, não, não. Digo…”
Aya, que parecia ter notado algo, começa a se explicar. Mas parece uma boa ideia fazer uma festa com a Karen-san e suas amigas, pois soa muito divertido.
Eu estava prestes a dizer algo, mas ela estava me olhando de forma tão apaixonada que eu soube na hora que ela queria me falar algo importante, então decidi esperar em silêncio.
Eu não quero apressá-la ou zombar dela. Não há necessidade disso. Aya pode ser desajeitada, mas ela escolhe as palavras com cuidado e as transmite para mim.
“Não se trata do Natal.”
Foi uma confissão séria. O coração de Aya se contorce, como o meu quando disse que a amava pela primeira vez.
“Eu não acho que o Natal seja o único momento no qual eu preciso pensar com cuidado, pois eu quero estar com você todos os 365 dias do ano.”
O rosto de Aya fica vermelho ao dizer isso.
“Para mim, todos os dias que estou com você são especiais, Marika.”
As palavras de Aya são poderosas demais. O interior do meu casaco de repente esquenta.
Eu fico envergonhada e minha mão começa a suar. Mas eu deixo como está pois seria mal entendida se eu soltasse a mão dela agora.
Até mesmo dias normais como este são especiais para Aya, né?
“Aya… É muito injusto mostrar esse lado seu de repente.”
“Sério? Mas sabe, lá atrás, a Karen-san me disse para falar essas coisas adequadamente.”
Parece algo de muito tempo atrás, mas Aya e eu éramos rivais. Não conseguíamos enxergar o coração uma da outra. E nos preocupávamos.
Se tivéssemos cometido um erro em algum momento do passado, não teríamos o futuro de agora, e provavelmente ainda estaríamos brigando. Sim, é até fácil imaginar um futuro assim.
Por isso…
“Sim, fico contente, Aya. Obrigada.”
“Você me acha… um fardo ou incômodo?"
“O quê? Não. O que é que tem ser envenenada pelo amor adulto? Na verdade, você já sabia disso quando me comprou por 1 milhão de ienes. É tarde demais pra isso.”
Quando o rosto de Aya começa a ficar sombrio, eu rio com uma voz leve.
“Não acho que seja ruim alguém me amar tanto assim. Você não gosta de ser taxada como um incômodo, mas não liga de ser tratada como uma pervertida?”
“Sim, porque você está sempre feliz, Marika. E você também gosta de rope play…”
“Sim, eu sou feliz… mas discordo da última parte…”
Minha voz se torna um sussurro. Eu sinto uma estranha culpa por não poder honestamente admitir que estou envolvida em um relacionamento nesse ponto da minha vida.
“É por isso que você não me liga muito e só me envia mensagens quando acordo e quando vou dormir?”
“Isso é… parcialmente verdade… eu acho.”
Eu acho que Aya não consegue transmitir bem suas emoções por texto.
“Quando eu ouço sua voz, ou vejo suas mensagens, eu fico tão excitada que não consigo me concentrar em mais nada.”
“Como pode dizer isso com um sorriso desses, sua pervertida!”
Eu solto minha mão da de Aya raivosamente. Ela parece desapontada e isso quase amolece meu coração, mas a razão volta a mim e me diz para ficar longe dessa pessoa imediatamente. Esta é a sua punição, por ser grosseira.
Se eu não parar agora, eu não sei até onde vai chegar. Você acidentalmente pisou num campo minado, Aya, mas apenas com um pé!
“Mas, sim… Eu entendi. Estou ansiosa pela festa de Natal. E também, obrigada por me falar como se sente, Aya. Me deixa muito feliz…”
“Uhum…”
Continuamos andando lado a lado. A estação está logo à nossa frente. Meu momento especial com a Aya está chegando ao fim. Eu sussurro para ela, expressando minha frustração.
“Eu adoro passar meu tempo com você, Aya. É claro que também gosto de estar com outras pessoas. Mas com você, eu fico muito mais feliz…”
“Você é muito dócil, Marika…”
“Hmm, eu sou?”
Aya é quem tem a língua afiada aqui, ela vive me abusando verbalmente.
“É sim, eu sempre tenho que forçar a cabeça para pensar no que dizer ou não. Mas você sempre consegue falar o que é importante, não importa a situação… e isso me deixa um pouco nervosa.”
“Acho que é verdade, hehe… Eu fico muito feliz quando você me elogia. Então irei garantir que seu coração palpite ainda mais forte, ouviu?”
Me deixei levar um pouco pelo clima e pisquei para Aya de uma forma um tanto boba. Mas parece que surtiu efeito. Afinal, ela é fraca contra gestos sedutores. Ela virou o rosto, suas orelhas e pescoço ficaram vermelhos. Ver isso também me deixou um pouco nervosa.
Aya retorna devagar e fica quieta por um tempo. Sério, ela é tão fofa! Não há criatura alguma mais adorável que ela. Não posso dizer isso em voz alta, mas acho que é um milagre namorar uma garota tão fofa.
Eu decidi que, não importa como, preciso ir para aquela festa de Natal. Enquanto isso, Aya, que tenta se mover para frente de uma forma desajeitada, está organizando as palavras que deve ou não dizer.
De repente, ela diz algo ultrajante.
“Fico aliviada de saber que você virá. Pois eu não posso tirar folga no Natal. Que por coincidência, também é meu aniversário.”
“Hee… Sei… Hm?”
Impressão minha, ou eu acabei de escutar algo muito importante?
“Aniversário?”
“Uhum.”
“De quem?”
“Meu.”
Espera, ainda não entendi.
“Aya, quando é seu aniversário?”
“25 de Dezembro.”
É o quê!? Eu rugi como uma tigresa, Aya me olha com os olhos arregalados em choque.
“Impossível!”
“Eh?”
Aya fica afobada ao ouvir a palavra segura de repente. Eu agarro seus ombros e grito.
“Por que não me disse antes!?”
Mesmo me ouvindo gritar, Aya, ainda confusa, pergunta, “Era tão importante assim…?” Eu não acredito.
O aniversário da minha namorada está chegando e ela não queria que eu desse presente algum?
Eu não entendo a cabeça dela!
***
“Inacreditável! Escute, mãe!”
Assim que cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi agarrar minha mãe, que estava serena e sentada na sala de jantar, e fazer um escândalo. Tanto minha mãe quanto meu pai trabalham fora. Então o jantar de hoje são duas marmitas que ela comprou no caminho de casa.
“Você não ficaria zangada se uma pessoa não dissesse quando é o próprio aniversário?”
Minha mãe, apesar da idade, possui uma aparência jovem e fofa. Com seu cabelo elegante e vestindo um terno, ela passa a sensação de que faz um ótimo trabalho e é ponderada.
Ela costuma sair com as amigas nos dias de folga e também me levar para comer em restaurantes chiques, então talvez meu temperamento tenha sido influenciado um pouco por ela. Eu achava que minha mãe era muito parecida comigo. Mas…
Você também devia estar zangada, mãe! Poxa!
“Digo, desse jeito eu não consigo dar um presente!”
“Por isso está zangada?”
“Eh?”
Minha mãe fala como se já tivesse entendido tudo e começa a mexer no celular.
“Eu entendo que você tem boas intenções, Marika. Mas elas não podem ser unilaterais. Porque talvez a outra pessoa não queria que você soubesse, e por isso não falou.”
“Como assim? Quer dizer que sou um incômodo pra ela?”
Eu franzi as sobrancelhas. Na conversa com Aya mais cedo, eu disse à ela que não a acho um incômodo, mas será que ela pensa isso de mim?
Minha mãe olha para cima e faz um sorriso irônico.
“Não é bem isso. Eu quero dizer que nem toda garota é do tipo, ‘meu aniversário é hoje, me dê um presente’. Você entende, não é, Marika? Bom, eu mesma também não entendo direito.”
“Não fale com sua filha sobre algo que nem você sabe…”
Eu sinto que sou igual a minha mãe nessa questão de ter cabeça avoada no fim do dia.
Tipo, Aya se esqueceu de me contar sobre seu aniversário simplesmente porque ela não se importa, só isso. Acho que essa explicação faz sentido.
Aya diz que eu sou muito importante para ela, mas ela não tem ciência de que eu a amo tanto quanto ela me ama.
Por isso que toda vez que eu faço algo por ela, ela fica surpresa e extremamente feliz. Acho que é isso que Aya pensa inconscientemente o tempo todo.
Eu pego uma das marmitas do saco plástico, parece que o jantar de hoje é frango frito. Depois de ir ao meu quarto e trocar de roupa, eu volto para a sala de jantar e me sento à mesa. Enquanto isso, minha mãe, que está sentada do outro lado, estava com as mãos na cintura com uma expressão dolorosa.
“O que foi? Sente dor nas costas?”
“Na verdade, não, mas me sinto um pouco cansada.”
“Deveria ir ao hospital e fazer um exame.”
“Tá bom, tá bom. Irei na minha próxima folga.”
“Mas que trabalhadora compulsiva…”
Eu tirei uma foto do jantar e enviei no grupo da família no LINE. Quando minha mãe e eu falamos, “Itadakimasu”, nossos celulares vibram ao mesmo tempo. É o meu pai. Ele enviou uma foto de um gyudon. Minha mãe rapidamente envia uma figurinha de vegetal e digita, [Lembre-se de comer vegetais também.]
[Pai, você virá para casa nesse final do ano?]
[Não sei… As coisas estão corridas.]
[Entendo…]
Meu pai, que trabalha em uma companhia de TI, está morando em Hokkaido já faz dois anos. Quando não está muito ocupado, ele nos visita toda semana. Então nem parece que ele trabalha longe.
A ideia de termos o hábito de enviar fotos no grupo logo antes de todo jantar foi minha. Embora não façamos com tanta frequência.
“Em algum lugar, sob esse vasto céu, seu pai também está jantando…”
“Do que está falando, mãe?”
Meus pais têm um ótimo relacionamento. Assim como eu também tenho um ótimo relacionamento com eles. Imagino que isso os deixa felizes. Ao ouvir o que minha mãe disse, também me lembrei da pessoa que amo, provavelmente jantando agora, sozinha, sob o vasto céu…
Por algum motivo, eu me senti sozinha de repente, então enviei uma foto da minha marmita para Aya.
Ela responde de imediato. Honestamente, eu esperava que o jantar dela fosse algo deslumbrante. Mas são… brócolis num prato de papel, provavelmente congelado.
“Mas que jantar…”
A vida pessoal de Aya é um mistério e tanto, além de ser aleatória… É engraçado…
“Por que está sorrindo?”
“Eeh? Eu estava?”
Quando olho para minha mãe, ela está com o queixo apoiado e sorrindo para mim.
“Pode sair com o seu namorado se quiser. Mas não ultrapasse o toque de recolher, ouviu? É perigoso para uma garota andar pelas ruas à noite. Mas tudo bem, se for muito tarde, eu te pego na estação.”
“...Bom, não é esse o caso… Mas é raro ver uma casa com toque de recolher hoje em dia, sabe… Aliás, não é como se essa região fosse tão perigosa, então não tem problema eu chegar tarde…”
Eu rapidamente mudo de assunto. Porque atualmente, eu não acho que estou pronta para falar sobre amor com a minha mãe sem hesitar. Na verdade, é diferente… pois Aya não é meu namorado, e sim namorada…
Porém, apesar de eu ter negado, minha mãe responde com “Hmm… Interessante…”. Ugh.
“Ah~ Eu mal posso esperar para falar sobre amor com a minha filha… Ela é igual a mim, sua popularidade não tem limites…”
“Ugh… Você devia ser popular… alguns milênios atrás…”
Minha mãe ri e diz, “Bom, acho que só a Cleópatra me supera.”
É verdade que não há cura para o amor adulto…
Até então, eu pensava que minha vida normal duraria para sempre.
Enquanto aproveitava o sentimento de liberdade logo depois das provas, um monte de coisas divertidas começam a pipocar na minha cabeça, como as férias de inverno, o Natal, e o que mais me deixa ansiosa, o aniversário da Aya.
De verdade… Eu nunca imaginei que algo fosse mudar a minha vida rotineira…