Volume 2

Prólogo

"Não, mas não mesmo. Namoro entre garotas, é impossível!"

Droga. Eu tampei minha boca assim que disse aquilo.

Mas não, nunca, não podemos. Isso é culpa da Aya. Qualquer pessoa reagiria como eu se ouvisse o que ela falou.

Porque.

"Você me perguntou algo como “Tudo bem se contarmos pra todo mundo que estamos namorando?” Isso é claramente impossível. Negativo."

Eu fecho meu mangá e olho para ela com uma expressão de fadiga. É começo de tarde de um feriado, estamos no quarto da Aya.

As férias de verão acabaram, mas existe uma nítida diferença entre o período antes das férias, e depois. Que seria a minha relação com a Aya, e o nosso espaço pessoal.

Fuwa Aya é uma estudante de segundo ano do ensino médio, e minha colega de sala. Sua beleza é do nível de ganhar primeiro lugar num ranking de [Eu quero ser bonita assim].

Qualquer uma tem inveja de sua linda pele, seus cabelos suaves, e aquele grande par de olhos. Mesmo sua aparência sendo algo cobiçado por muitas mulheres, a pessoa em questão não se dá conta de seu esplendor, nem um poucoー ーE essa Fuwa Aya, é minha namorada.

Muita coisa aconteceu depois da Golden Week (NT: feriado japonês que ocorre entre final de abril e início de maio.), e que fizeram nossa relação ficar melhor do que antes. Umm, para ser honesta, foi bem diferente do 'ficarmos mais íntimas' comum...o que foi mesmo? Uma relação onde eu fui envenenada por suas presas em apenas 100 dias, eu acho?

Ao ouvir minha firme rejeição, Aya, que estava sentada bem na minha frente, parece mal-humorada. Ela está me olhando como alguém que está de dieta e sua parceira pede tranquilamente um parfait, bem desse jeito.

"Essa é sua palavra favorita, né? [Impossível]"

"...É porque, você de repente..."

"É tão estranho assim? Eu não entendo as razões para você ter essa atitude."

Ouvir o tom dela, como se dissesse que eu estava sendo cuidadosa demais, ativou um gatilho dentro de mim.

Hah, escuta aqui, sua...

"Você não entende mesmo, não é? Eu só tô pedindo pra você entender!"

Você quer anunciar oficialmente que estamos namorando? Na frente de todo mundo?

Mesmo nós duas sendo garotas? Além disso, nós duas somos o centro das atenções da nossa sala, não?

"Não vai dar bom, nossa sala vai voltar para a era glacial se começarmos a ficar grudadinhas desse jeito!"

"Razões."

Ela tá falando sério?

Não, espera, eu entendi. Eu tenho que explicar bem isso pra ela.

"Você trabalha num bar de lésbicas, então talvez não esteja familiarizada com um mundo estreito como a escola. Você pode ter diversas visões diferentes das coisas quando passa o tempo na escola, comparada às outras alunas."

"Sei."

A cara dela parece dizer 'isso é coisa que até criança do primário sabe'. Se você sabe disso, você não vai insistir, vai?

"Em primeiro lugar, nós não sabemos quais tipos de reações as pessoas teriam se anunciássemos que estamos namorando, certo? Pode ser desde olhares estranhos como se fossemos um par de pandas, até rumores bizarros, esse tipo de coisa é um problema, não acha?"

"Mas se ignorarmos isso, vai dar tudo certo."

"Se preocupe com a sua relação social!!"

Eu desconto minha raiva no carpete abaixo de mim.

É fato que eu namoro ela, e que também a amo.

A-amo...é, amo. É vergonhoso demais dizer isso diretamente, mas...eu amo ela. Sim. Eu consigo ser honesta dentro da minha cabeça.

Porém, Aya é bem desatenta quando se trata de algo assim. De agora em diante, tenho certeza de que vamos ter muitas diferenças como essa, vai ser cansativo.

O clima dentro do quarto fica frio, mesmo a poucos momentos atrás estar bem quentinho.

Por quê eu namoro ela mesmo...? Mesmo tendo valores totalmente diferentes sobre algo assim.

Enquanto torturo meu cérebro frustrantemente, Aya vem para o meu lado. Como se estivesse abraçando um travesseiro, ela colocou seus braços ao redor da minha cintura. O que ela tá fazendo?

"Mesmo que faça isso, não vai me fazer mudar de ideia."

"Uh, não, eu só quero te tocar."

"Sei..."

Apenas sendo ela mesma, né.

Isso mesmo. Essa garota, ela realmente não se importa com seus arredores.

Enquanto ela toca todo meu corpo, eu me sinto exausta e solto um grande suspiro. Aya não se importa comigo e continua seguindo seus próprios desejos.

Dos meus quadris, ela moveu sua mão para as partes baixas e acariciou devagar. Sua outra mão está apalpando minhas coxas. Mesmo nós duas sendo garotas, esse nível de contato corporal não é algo normal entre amigas.

Caramba, ela tá mesmo fazendo o que bem quer. Mesmo eu não estando no clima pra algo assim… Então, eu devo mostrar que não quero...? Mas… Os toques da Aya são suaves, e fazem o meu corpo inteiro reagir. Estou sendo bem cautelosa para não demonstrar nenhuma reação, mas isso só faz seus movimentos serem mais estimulantes.

Mas, bom, considerando que estou usando uma minissaia e minha camiseta frágil favorita, eu tenho que admitir que essas roupas são um pouco provocantes.

Será que, nesse momento, ela se enganou sobre a minha intenção como de costume?

Eu tenho que deixar isso claro.

"Deixe-me dizer uma coisa."

"Uhum."

"Eu não estou vestida assim pra te provocar."

"É sério?"

Ouvir sua voz doce induzida, só me deixa mais brava.

"Mas é claro! Isso é parte do meu hobby, como eu me visto, meu estilo!"

"Ei, já parou pra pensar que frutas são meio incríveis?"

Como assim, Fuwa Aya?

Frutas. Ela está se referindo a essas maçãs e laranjas?

"Elas não crescem porque querem ser comidas por humanos, mas para os humanos, elas são deliciosas. Por isso as frutas são incríveis."

"...Existe alguma correlação entre o meu estilo e isso?"

"Acho que não?"

Ela faz um sorriso gracioso. Ela está insinuando que eu cresci e fui bem cuidada só para ela me devorar? Sério isso, Fuwa Aya?

"Você realmente...haa, eu tô exausta."

Assim como a troca de um filtro de câmera, as expressões da Aya também mudam rapidamente.

Ela se inclina para perto com aquela inquietação em seus olhos e olhando para mim.

"...Você me odeia agora?"

Uuu…

Não, isso, ninguém disse isso, sabe.

"Não odeio, mas..."

Em um instante, ela me puxou para os seus braços e aquele aborrecimento que sentia desapareceu.

"Então, você me ama?"

"...Olha, existe um enorme espaço chamado [tanto faz] entre amor e ódio."

"Então, ama?"

Grrr.

Ela me olha com aqueles olhos arregalados, então ela quer ser mimada.

"Eu...tô inclinada pro lado do amor..."

"De novo."

Isso aqui não é teletubbies não, sabia?

"Aaah, caramba. Eu te amo! Pronto, falei! É isso! Chega!"

"Nn, eu também te amo, Marika."

"Poxa..."

Ela segura minha mão e a massageia devagar. Ela também descansou sua cabeça no meu ombro, e então beijou minha nuca suavemente.

Sim sim, que nem uma gatinha, fofo, que fofo.

Hoje eu só vim porque eu queria ler mangá, mas acabamos fazendo essas coisas... Mas enfim, não é como se eu odiasse.

"Você não vai concordar de jeito nenhum?"

Nn...? Por um momento, fiquei perdida.

Aaah, sobre anunciarmos nossa relação. Achei que esse assunto já tinha morrido.

"Existe algum mérito em fazer isso, por acaso?"

"Existe sim."

Enquanto alisa meu cabelo gentilmente, ela estufa seus grandes peitos.

"Isso vai garantir que todo mundo saiba que você é minha."

"Não...isso...não tem importância, tem?"

Ela disse algo tão estúpido que eu perdi a chance de replicar e dizer que eu não sou dela.

"De agora em diante, teremos muitos eventos como o festival cultural, ou a viagem escolar. Aposto que você também vai viajar quando se formar, não vai?"

"Isso mesmo. Com a Yume e a Chisaki, provavelmente."

Por isso eu preciso trabalhar duro no meu emprego de meio período, era o que eu queria dizer mas eu tive o pressentimento de que ela diria, sorrindo, que iria pagar tudo, então fiquei quieta.

No último mês, eu rejeitei seu um milhão de ienes quando ela quase me deu. Afinal, é o resultado do trabalho dela, o dinheiro que ela economizou aos poucos durante um ano inteiro.

Aya está com uma expressão séria a um tempinho, então eu observo aquele rosto de lado. Eu posso ver seus cílios longos, parecem macios. Seus olhos parecem observar algo distante.

"Eu só estava pensando que talvez me sinta sozinha se você for se divertir com suas amigas sem me ter do seu lado."

"Uuu...isso..."

Mesmo ambas sendo da mesma sala. Ela disse isso baixinho. Eu entendo seus sentimentos, de verdade, mas… Mesmo vendo essa expressão abatida, eu ainda não vou mudar de ideia.

"Espera. Se for esse o caso, não precisamos anunciar nosso relacionamento, não é? Apenas sermos boas amigas na sala já é bom o bastante, não acha?"

Aya de repente me olha como se estivesse com pena. O que foi?

"É que, Marika, você é uma tentadora passiva, e fácil de lidar. Eu não consigo me acalmar a não ser que eu ponha uma coleira em você pro caso de alguém resolver te passar a perna e cruzar uma certa linha."

"Ei, mocinha!"

Eu soltei toda a minha frustração nesse grito. Ela falou isso como se estivesse fazendo um discurso em cima de um carro eleitoral. Eu não posso aceitar isso!

"Então voltamos a esse assunto de novo! Eu não me importo com a parte tentadora passiva, mas como assim fácil de lidar!? Eu não caio no papo de outra pessoa fácil desse jeito, sabia!? Eu nunca fiz ménage antes! Quem tem mais potencial de trair aqui é você!"

"Eu não farei algo assim de novo, eu já tenho uma namorada, afinal. Mas Marika, é que você...tipo, tem esse feromônio específico que atrai lésbicas..."

"Eu não tenho nada disso!"

"Tem sim. Eu tenho certeza."

Quando eu vejo aquele olhar firme, eu começo a considerar a verdade em suas palavras. Hm, é mesmo? Sério? Existe mesmo algo assim? Ha! Não posso! Senão eu vou cair no papo dela e ela vai dizer que sou fácil de lidar. Seja firme, Sakakibara Marika!

"Escute, mesmo que você me taxe como alguém fácil de lidar, um, eu...sou sua namorada, tá bom? Você confia em mim, não confia?"

"É claro que confio."

Ela abraça meu braço e coloca sua cabeça em meu ombro, seu cabelo está encostando no meu nariz. Eu posso sentir seu cheiro, este que ocupa todo o meu pensamento.

"Eu só fico preocupada de alguém se apaixonar por você. Porque você é fofa."

"Uuu..."

A Aya angustiada, essa não é a primeira vez. A ideia dela de me comprar por um milhão de ienes foi o que ativou esse lado dela, afinal.

"Mas não é como se eu fosse tão fofa como você diz..."

Logo depois de dizer isso, eu me toquei.

"Espera, não! Isso não foi uma isca pra fazer você me elogiar e mimar mais ainda não, tá?"

"Você é fofa."

"Não foi isso que quis dizer!"

"Você é muito fofa. A mais adorável. Do topo da sua cabeça, até as pontas dos pés, tudo em você é lindo. Não há o que dispensar no seu corpo, até as suas células são perfeitas."

"...Eu não tô entendendo nada."

Ela me abraça por trás, eu posso sentir seu coração bater. Ela me banhou com seus sentimentos e isso afetou os meus suavemente.

...Mas, ela está fazendo isso para me passar a perna depois, né? Bom, tanto faz.

"P-por enquanto, vamos focar em fazer amigas antes de sermos abertas sobre a nossa relação."

Eu dou um tapa nas mãos delas que estavam se divertindo com meus peitos no meio da confusão. Eu quero interromper isso antes que vire outra coisa.

Se continuarmos nos enfrentando, certeza que vou acabar na palma da mão dela, então antes que algo aconteça, vamos manter um estado neutro.

Aya fica surpresa depois de ouvir seu novo dever de casa. A luz do sol vindo da janela faz o seu cabelo suave cintilar.

"Amigas."

Ela diz isso como se fosse um E.T. com zero conhecimento.

E então, essa linda E.T. gruda sua bochecha na minha.

"O que eu devo fazer para ter amigas?"

"Vamos começar desse ponto? Sério?"

"Eu tenho minha própria resposta, mas você parece ter mais propriedade nesse assunto."

Será? É, talvez seja verdade...? Mas, não tenho certeza.

"Muito bem, eu acho que será melhor se começarmos pela Yume e a Chisaki... Se você conseguir se dar bem com elas, teremos mais liberdade e poderemos ir a viagem de formatura juntas. E também, nosso tempo juntas na escola aumentaria."

"Nn."

"Por isso, primeiramente, vamos começar pela aparência...quer dizer...nessa parte você passa."

Mais uma vez, eu observo ela do topo de sua cabeça até as pontas dos pés.

Eu não sei onde ela comprou essas roupas, mas aposto que são de uma loja refinada. Hoje ela está usando uma camiseta com uma saia culotte com babados. Ela coordenou suas roupas como as de uma estudante universitária...mas elas também passam um estilo adulto.

Aya é sempre tão linda e legal. Eu invejo ela.

"Honestamente, vai ser bem trabalhoso e chato já que somos um grupo de garotas... Eu irei te ajudar, mas o resultado depende de você."

"Entendi."

Ela acena.

Dentro do quarto, ela declara sua determinação em voz baixa.

"Farei o meu melhor."

"...Fuun."

Eu viro o meu corpo para encará-la, eu não consigo deixar de provocar essa expressão séria dela que parece a de uma estudante se preparando para as provas de admissão.

"Mesmo você tendo dito que escola é um lugar para estudar."

"Esse sentimento não mudou."

Ela fortalece seu abraço e salpica minha nuca com beijos. Faz cócegas. Se ela continuar fazendo isso, nem eu vou conseguir resistir.

Mas o que ela disse depois disso, até que me deixou feliz.

"Na escola, eu posso me encontrar com você. E também, eu quero tentar gostar das mesmas coisas que você, afinal."

"Eh?..... Essa é a razão? E-entendo..."

Quando recebi seu sentimento direto, eu não pude me conter e deixei minhas expressões fluírem.

De alguma forma...isso me deixa bem...não...me deixa muito...muito feliz.

Eu gosto da escola, e mesmo sabendo que Aya não se interessa, eu não me importo nem um pouco, mas...Aya acha que ela precisa mudar. Assim como eu mudei depois que a conheci e meu mundo expandiu.

Eu tento imaginar o nosso grupo, só que com Aya junto. Tenho certeza que teremos muitos obstáculos se quisermos fazer isso acontecer… Mas, quando conseguirmos, eu sei que meus dias serão ainda mais proveitosos. Eu já me divirto com minhas atividades escolares atuais, mas com ela, aposto que serão ainda mais divertidas.

Sim, eu estou mesmo feliz.

Eu dou leves tapinhas na cabeça de Aya, que está se esforçando pelo meu bem.

"O que é isso? Sedução?"

"Negativo!"

Ela sempre leva as coisas pro lado erótico, não importa quando. Que garota sem salvação.

"Então, por favor, faça o seu melhor para se dar bem com o meu grupo pelos próximos 100 dias. Eu vou te apoiar."

Ao ouvir minhas palavras, ela riu.

"Eu não preciso de 100 dias."

Ela me dá um selinho. Olhando para aquele sorriso brilhante, minhas bochechas esquentam.

"Afinal, eu tenho você comigo, 30 dias são o suficiente."

E com isso, eu ainda acho que a declaração dela foi um pouco forçada, mesmo sendo a Aya.

Não importa o quão maravilhosa ela seja, a escola é como uma sociedade a qual ela não é familiarizada. Considerando que ela se afastou de todo mundo desde o ginasial, é um pouco difícil para ela alcançar um grupo de classe mais alta.

Bom, mas é isso que eu chamo de desafio. Com isso, ela irá entender o quão incrível eu sou. Então eu escolho começar com esse otimismo.

Mas considerando o que acontecerá depois, parece que eu ainda não entendi a verdadeira natureza da minha amada, Fuwa Aya.



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