Um Alquimista Preguiçoso Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


Volume 2

Capítulo 186: Liberdade

Quando deixou o quarto, Corina não esperava que acabaria conhecendo todas as garotas da casa. Kali era muito amigável e popular. Antes de deixarem o dormitório feminino, a exótica mulher, decorada com joias exuberantes, passou em todos os quartos, apresentando a nova hóspede para as demais residentes.

Como já havia percebido antes, as mulheres que compunham o harém do Xogum eram extremamente belas e jovens. Na maioria dos casos, elas dividiam o quarto, de modo que em alguns aposentos era possível encontrar até quatro garotas ocupando o mesmo espaço. O que não era uma reunião tão insalubre quanto possa parecer, já que os recintos, sem exceção, eram espaçosos e luxuosos. Por outro lado, aquelas consideradas as favoritas do grande líder, dispunham de um lugar exclusivo, repleto de presentes. Era o caso de Kali. A bela de pele acobreada desfrutava de um ambiente decorado por obras de arte, joias e acessórios.

Não foi surpresa nenhuma para Corina constatar que haviam mais de trinta mulheres vivendo no dormitório feminino. Afinal, já tinha reparado nisso. No entanto, o estranho foi perceber que nenhuma delas eram cultivadoras. No Império Dourado, não importa para onde se vá, sempre há praticantes em todos os cantos. Mas no Reino da Lua Verde isso parecia ser diferente.

Depois de uma breve introdução às residentes, as duas deixaram o local e foram explorar o resto do castelo. Kali estava ali a tanto tempo que conhecia o lugar como a palma da mão. Ela apresentou a Corina os seus lugares favoritos e até ensinou os locais que usa para se esconder quando deseja ficar sozinha.

O castelo, apesar de ser bastante extravagante devido às suas pinturas, não era tão grande assim. Então, não demorou muito para elas andarem por todos os lugares permitidos. E, no fim, foram parar na cozinha ― localizada no 1º andar ― que, a essa hora, se encontrava movimentada.

Quando chegou no recinto tomado por mulheres e homens trajados com roupas azul-marinho, Corina se surpreendeu ao ver a intensa movimentação. Pelo que ela pôde escutar ainda na porta, estavam todos preparando uma enorme refeição. O cheiro nauseante de peixe invadiu seu nariz, deixando-a um tanto desajeitada por um segundo. Mas além de frutos do mar, também era possível ver a preparação de massas de diversos tipos, molhos de cor forte e uma pasta verde.

A Despertada de 1ª Camada olhou para aquilo com grande curiosidade. O ambiente estava tomado por uma dinâmica tão intensa que por um instante achou melhor dar meia volta e se afastar, pois não queria correr o risco de acabar atrapalhando. Mas Kali não pensava igual. Segurando-a pelo braço, a bela mulher arrastou a nova colega para dentro do caos.

Enquanto passava pelos balcões, não teve vergonha nenhuma e saiu “beliscando” as comidas. De fato, era uma pessoa tão espontânea que, ao notar a insegurança da acompanhante, pegou um pedaço de um bolinho recheado com algo doce e colocou em sua boca. Agia como se fossem grandes amigas que dispunham de uma intimidade de anos.

Ah! Aí está ela ― disse a bela decorada com cordões de ouro ao ver uma mulher de meia idade, usando um avental azul. ― Eu sabia que já estaria aqui.

Com sua barriga avantajada, cabelo curto e bochechas rosadas devido ao excesso de maquiagem, a desconhecida de baixa estatura colocou a cenoura que estava descascando sobre uma travessa, limpou as mãos em um pano de prato e se adiantou para receber as garotas.

― Kali, o que está fazendo aqui? ― perguntou, exibindo um grande sorriso.

― Eu fiquei sabendo que já estavam preparando o jantar, então vim ver o que vai ter de bom ― respondeu enquanto se abaixava para abraçar a mulher. Em seguida, ergueu-se, colocou a mão sobre o ombro da companheira de cabelo dourado e falou: ― Esta é Corina. Ela chegou hoje aqui. E essa é Kaede, a melhor cozinheira de todo o reino.

Ah! Para com isso, sua boba ― disse Kaede, balançando a mão direita de uma maneira inocente. ― Eu sou só uma ajudante.

― O que é um verdadeiro crime ― exasperou Kali, colocando as mãos na cintura e bufando alto. ― Você é muito melhor do que aquele chato de cartola.

― Não é uma “cartola”, é um chapéu tradicional que só os grandes chefes podem usar ― argumentou Kaede, demonstrando certo deboche em sua fala. ― Agora vão embora daqui ― abanou as mãos, tocando as intrusas para outro lugar. ― Você sabe que o chefe não gosta de outras pessoas na cozinha. Aqui! Pegue esses mochi e vão. ― A assistente de cozinha entregou uma pequena bandeja contendo alguns bolinhos cor de rosa para as garotas e, mais uma vez, fez um sinal para que deixassem o local.

E embora estivesse sendo expulsa, Kali não pareceu nem um pouco desapontada, pois exibiu um sorriso sapeca, deu uma piscadela para Corina enquanto mostrava a bandeja e falou:

― Quando estiver com fome, é só vir aqui que ela vai te dar algo para comer.

Após isso, as duas deram mais algumas voltas pelo lugar, antes de voltar para o segundo andar.

Embora Corina não fosse uma garota tímida, quando foi arrastada para fora do quarto, acabou parecendo uma pessoa tímida, pois não disse muita coisa no começo. Mas à medida que Kali a levava de um canto para o outro, tratando-a com grande intimidade, o estranhamento inicial passou e ela se tornou mais comunicativa. Suas falas saiam em alto e bom tom, sem nenhum comedimento. E um sorriso raro e espontâneo, quase nunca mostrado para seus colegas do Império Dourado, tomou conta de seu rosto.

Estava se divertindo ouvindo as piadas da nova amiga, cujas falas soavam rudes, mas eram dotadas da mais pura sinceridade e, às vezes, de uma descarada obscenidade.

Enquanto vagavam sem muita pressa pelo segundo andar do castelo, um lugar em que a ordem e disciplina se faziam absolutas, as duas gargalharam alto, quebrando a monotonia do ambiente. Exceto por um guarda ou outro, os corredores estavam vazios. E isso permitiu que ambas se sentissem mais à vontade.

Elas estavam dando a volta pelo local, indo em direção ao dormitório feminino. Para Corina, foi uma surpresa a liberdade que estavam tendo para andarem pela luxuosa residência. Mesmo estando agora na área reservada para uso do Xogum, ninguém parou para impedi-las de avançar ou questionar o que faziam ali. Quando viam Kali, mesmo que alguns olhassem de cara feia, nenhum soldado ou empregada as repreendeu por estarem invadindo o ambiente de descanso do líder máximo. E foi durante a passagem delas por aquele pedaço do castelo que alguém inesperado apareceu.

Enquanto estava na metade do caminho para o dormitório feminino, Xiao Ning apareceu de repente, saindo de um corredor lateral. Em uma de suas mãos, ele segurava um frasco de vidro fino e alongado e um objeto de madeira.

― Quem diria que você sabe ser tão escandalosa ― comentou o Grã-alquimista em tom de brincadeira. Ele conseguiu escutar de longe a voz e risada de Corina. ― A gente acabou de chegar e você já fez uma amiguinha, hein.

― Não fale como se eu fosse uma criança ― protestou a praticante, franzindo a testa. ― O que você está fazendo aqui?

― Estou indo ver o Xogum ― respondeu ele. ― Eu queria deixar isso para mais tarde, mas acho que quanto antes terminar de fazer os exames, mais cedo podemos ir embora. Ah! O que é isso? ― Sua atenção foi chamada pela bandeja na mão de Kali. ― É um doce? ― perguntou, antes de pegar o penúltimo mochi.

― Não seja mal-educado! ― repreendeu a nova integrante do grupo. ― Pelo menos, peça primeiro ― disse ela, que a despeito da bronca, decidiu entregar o último doce para o chefe, já que ele enfiou o primeiro na boca de uma só vez.

― Nossa... é muito macio ― comentou ele à medida que mastigava.

― Quem é esse, Corina? ― perguntou Kali, olhando para o rapaz com uma expressão curiosa. ― É o tal Grã-alquimista?

Ah, sim! Ning, essa é Kali. Ela mora aqui no castelo. ― A Jovem praticante fez as apresentações. ― E este é Xiao Ning. Ele veio avaliar o estado do Xogum.

― Mas que nome exótico ― comentou o preguiçoso que sempre encontrava uma desculpa para não continuar cultivando. ― Combina com você ― exibiu um sorriso bajulador. E, em resposta, Corina revirou os olhos e soltou um suspiro. ― Bem, garotas ― continuou ele ―, eu preciso ir agora. Tenho um trabalho para fazer. Divirtam-se.

Xiao Ning contornou as duas e retomou seu trajeto.

― Você vai conseguir curá-lo? ― perguntou Kali, antes de ele se afastar.

― Não sei. Ainda é cedo para dizer ― afirmou o médico desleixado com sinceridade. ― Até mais! ― despediu-se.

A bela mulher adornada com colares de ouro esperou por um instante para ver se ele tinha algo mais para falar. Mas quando percebeu que o rapaz de cabelo desgrenhado estava indo embora, segurou Corina pelo braço e a arrastou em direção ao último lugar que desejava mostrá-la.

***

Por ter acabado de chegar no castelo, Xiao Ning não sabia muito bem para onde estava indo, mas decidiu fazer o mesmo caminho de quando encontrou o Xogum pela primeira vez. No entanto, ao chegar na mesma sala de antes, ficou sabendo que o dono do casarão já havia se movido para outro lugar. Então, ele decidiu informar que precisava fazer novos exames. Dessa forma, um dos soldados guardando o local decidiu guiá-lo até que alguém pudesse oferecer algum auxílio real.

O médico de tenra idade foi conduzido até uma sala no primeiro andar. E lá, precisou esperar do lado de fora por alguns minutos. Pouco tempo depois, alguém veio recebê-lo. Mas como era de se esperar, não foi o grandioso líder.

― Grã-alquimista?! ― proferiu Raijin com certo espanto ao ver o rapaz. ― Pensei que esperaria até conseguirmos o restante dos itens solicitados.

― Como comentei antes, já consigo fazer os exames preliminares com o que tenho. No entanto, eu preciso de mais uma coisa e que seja trazida o quanto antes, junto dos demais materiais. Uma Erva Espiritual e medicinal bastante comum. Eu preciso de pelo menos cinco Damas Clementes e uma Falsa Prata. Se tiverem sido ressecadas, melhor ainda.

― Creio que não será problema conseguir nada disso. Mais alguma coisa?

― Preciso ver o seu irmão.

Ah, sim. É claro. ― Raijin apontou para um corredor e falou: ― Por aqui, por favor.

Ning foi levado até o lado de fora do castelo. Ele avançou pela varanda externa que circundava toda a construção e, pouco depois, chegou ao mesmo lago que encantou Xiao Shui.

O Xogum estava deitado sobre um futon que se achava posicionado bem na entrada de um cômodo adjacente. Ele olhava contemplativo para a paisagem, admirando a vista em sua frente em todo o seu esplendor.

― Xogum, o Grã-alquimista está aqui para te ver ― anunciou Raijin ao se aproximar, curvando-se ligeiramente para frente em sinal de respeito. Um gesto que foi copiado por Ning, que se manteve um pouco mais afastado, aguardando permissão para chegar perto.

A informação fez o homem de estatura elevada se mover. O sujeito de ombros largos tentou se levantar. Fez um esforço tremendo ao apoiar os cotovelos no chão e erguer o tronco, de modo que seu rosto ficou ainda mais pálido por um segundo. Mas, ainda assim, parecia que teria sucesso em sua tentativa. Foi então que uma tosse descontrolada o atacou e seu corpo desabou.

No mesmo instante, alguns serviçais que estavam parados, próximos de Taishi, adiantaram-se e o apoiaram, até que ele parasse de tossir e sua respiração voltasse ao normal.

― Eu sinto muito por isso ― se desculpou. ― Às vezes meu corpo não obedece. ― Sentado, com as costas curvadas e os braços jogados sobre as pernas, ele olhou para o jovem médico e falou: ― Eu achei que demoraria um pouco mais para nos vermos de novo. Aconteceu alguma coisa?

Ainda parado no mesmo lugar, com a cabeça curvada, Xiao Ning respondeu:

― Seu irmão conseguiu alguns dos itens que eu pedi, então pensei em prosseguir com os exames.

― Vocês acabaram de chegar. Deveria descansar um pouco ― aconselhou Raijin, cuja voz denunciou certa ansiedade.

― Tenho certeza que os outros estão fazendo isso ― disse Ning, mantendo o tom respeitoso. ― Mas esta doença já afetou o Xogum por tempo demais. Acredito que esteja ansioso para se livrar dela.

― Sim, eu estou ― confirmou. ― Vamos. Aproxime-se! Não precisa ficar parado aí.

Ning se adiantou, indicando que havia aceitado o convite. Mas no meio do caminho parou e olhou para Raijin.

― Poderia me conseguir uma seringa?

O irmão mais novo afirmou que não seria problema encontrar o item solicitado e logo partiu.

Estando agora sozinho com o Xogum ― bem, não exatamente sozinho, já que seus ajudantes continuavam parados ali perto ―, o médico subiu no tablado que separava a varanda do jardim, colocou os itens que carregava sobre o piso de madeira e fez uma última reverência, antes de iniciar os testes.

― Eu gostaria de ouvir a respiração do Xogum mais uma vez ― pediu.

― É claro... Fique à vontade ― Taishi deu seu consentimento.

Xiao Ning deixou o frasco de vidro no chão, pegou o estetoscópio e se aproximou do sujeito debilitado. Ajoelhou-se em sua frente e, antes de continuar, pediu:

― Posso levantar sua camisa?

― Vá em frente.

Apresentando uma delicadeza e sutileza que não fazia parte de seu eu usual, o Grã-alquimista ergueu a roupa do Xogum, expondo uma cicatriz grotesca de queimado no lado esquerdo de seu tronco. A despeito da deformidade que se destacava, o médico dedicou apenas um segundo para espiar a marca, antes de se concentrar no que precisava fazer.

Com a ajuda de um dos servos, que segurou a camisa para que essa não voltasse a cair, Ning encostou uma das pontas do antigo estetoscópio no peito do homem de corpo largo e falou:

― Respire fundo, por favor... agora solte... repita. É, tem um chiado. ― Ao concluir isso, ele se levantou e se deslocou para as costas do paciente, a fim de prosseguir com os exames.

O Xogum, por sua vez, continuou imóvel, tentando manter a coluna ereta. Seu esgotamento era evidente, de modo que sempre deixava os ombros caírem. Estava cansado demais para se manter firme. Mesmo assim, seus olhos miravam o horizonte, revelando grande fascínio.

― Essa é uma bela vista, não é? ― comentou, expondo sua admiração. ― Não importa quanto tempo passe, eu sempre me impressiono. Como pode existir um lugar tão belo? ― disse em um tom reflexivo.

― De fato, é uma bela vista ― afirmou Ning, que se permitiu desviar o olhar por um segundo e contemplar a bacia em forma de meia lua ao longe por um segundo.

― Sabe, já estou cansado de ouvir um médico depois do outro me dizer sempre as mesmas coisas. Às vezes, parece que é mais fácil desistir e deixar essa doença me levar. Mas meu irmão está certo. Enquanto me restar forças, preciso continuar resistindo. ― O Xogum parou de falar e começou a tossir de maneira descontrolada, de modo que outro dos serviçais foi obrigado a correr em seu auxílio. Demorou algum tempo para que conseguisse se controlar. E quando enfim parou de tossir, respirou fundo e voltou a abrir a boca: ― Este lugar... este reino, foi feito para mim e eu não poderia viver em nenhum outro, mesmo que fosse o outro mundo. Eu nasci para estar aqui, para governar este reino, estas pessoas. É meu dever estar ao lado dos meus súditos, ajudá-los. Principalmente em um momento tão difícil.

― É um objetivo muito nobre ― comentou Ning. ― Não deve ser fácil comandar em meio a uma... guerra civil ― hesitou por um instante, antes de abordar um assunto aparentemente delicado.

― Guerra civil? Hunf! ― exaltou-se Taishi, batendo a mão direita contra o piso de madeira, fazendo ecoar um som oco. ― Não passa de uma rebelião liderada por traidores ― protestou. E então, entrou em profundo silêncio.

Mesmo que não estivesse dizendo nada, notava-se o desconforto do Xogum. Por algum tempo, nenhuma das partes abriu a boca. O que permitiu que algo desagradável tomasse conta do ambiente. Mas de novo, o líder doente voltou a se manifestar:

― Eu não entendo o que fiz de errado ― confessou. Seu tom era de tristeza. ― Eles nos atacaram... do nada. Sem nenhum motivo, além de ambição por poder. ― À medida que falava, uma sombra incerta se apoderou de seu rosto. ― Tantos morreram. E, por quê?

― Talvez estivessem insatisfeitos com algo ― Ning decidiu se arriscar. Sem conhecer a personalidade do Xogum, poderia ser um grande erro falar qualquer coisa a respeito de tal questão sem a devida sensibilidade e acabar correndo o risco de ser mal interpretado. Mesmo assim, ele quis seguir em frente.

― Insatisfeitos?! Hunf! Com o que poderiam estar insatisfeitos? ― resmungou o sujeito abatido. ― Quando meu pai morreu e eu tomei o poder, este lugar estava praticamente falido. Você sabia disso? É claro que não sabia! As pessoas esquecem rápido e nunca falam das coisas boas. A fome se espalhou como uma praga. Então eu dei barcos aos pescadores. Os criminosos haviam se tornado os novos reis, mas eu os tirei do poder ― sacudiu a cabeça com vigor. ― Olhe para lá, Alquimista. Quando eu me tornei Xogum, aquela cidade sequer existia. Não daquele jeito. Era só uma vila pequena e miserável. Então ordenei que os arquitetos construíssem casas. E no dia em que ficaram prontas, eu as dei para o povo. Responda-me: isso é tão errado assim? Ajudar os meus súditos é tão errado assim?

― Não, não é errado ― respondeu Ning. ― É, na verdade, uma atitude muito nobre. ― De fato, ele achava todas essas causas louváveis. No entanto, algo ainda o incomodava. ― Mas aquela mulher que me atacou, com certeza pensava diferente.

― Eu cometi muitos erros, no passado. Ela é um desses. Um fantasma que sempre volta para me assombrar. ― Após dizer isso, parecia que o Xogum iria voltar a ficar em silêncio. Entretanto, ele respirou fundo e acrescentou: ― Eu tenho muitos inimigos que desejam a minha morte. Mas enquanto eu permanecer neste lugar, estarei em paz. Aqui é onde sou livre.

― Liberdade, hm... ― contemplou o sujeito milenar. ― Isso é algo que muitos procuram. Mas, no final, só encontram ilusão.

Ao som dessas palavras, o impotente Taishi olhou sobre os ombros, observando com certa atenção o rapaz que o examinava.

― Eu soube que você veio da Cidade da Fronteira do Caos ― comentou. ― É uma cidade pequena e bastante isolada.

― Já esteve lá? ― perguntou Ning que, mais uma vez, voltou a se concentrar em seu dever.

― Não. Mas ouvi rumores. Um lugar cercado por uma floresta que é o berço de grandes monstros e uma montanha instável. É impressionante que um local assim consiga se manter de pé por tantos séculos. Por que vocês nunca se mudaram?

― Bem, é muito perigoso viver por lá. Contudo, depois do que vi no último festival, percebi que aquelas pessoas não viveriam à vontade em nenhuma outra região do mundo. Apesar do perigo, todos se sentem seguros.

― Eu entendo. Parece não ser diferente daqui. Mesmo que estejamos isolados do resto do mundo e cercados por um mar repleto de criaturas perigosas, essa terra é a nossa casa.

Após isso, a conversa seguiu um rumo mais amigável. Xiao Ning avançou com seu exame. E o Xogum, por seu lado, foi bastante paciente. Mesmo quando seu sangue foi tirado, não se mostrou incomodado ou coisa do tipo.

Ao mesmo tempo, em outro lugar da mansão, Kali e Corina se aproximavam do fim da exploração do castelo. Elas estavam agora paradas no último ponto em que a bela de pele acobreada queria mostrar para a nova amiga ― uma varanda próxima ao dormitório feminino que possuía uma vista ampla do Vazio cortando parte do Reino da Lua Verde.

― É lindo, não é? ― comentou a mulher, mirando a grande parede escura que devorava o céu e a terra.

― Você acha? ― disse Corina, exprimindo uma voz desconfortável. ― Para mim, parece assustador. É tão... misterioso.

― Exato! Isso mesmo! ― De repente, Kali se empolgou. Seus olhos brilharam, demonstrando um fascínio palpável e a expressão em seu rosto se abriu em um largo sorriso. ― É tão misterioso e, ao mesmo tempo, parece outro mundo. Eu me pergunto: será que existe mesmo um lugar diferente do outro lado? Têm pessoas como nós lá? Será que elas são felizes? Será que são... livres? Um dia, não importa quanto tempo leve, eu irei descobrir isso. Verei com meus próprios olhos?

Enquanto escutava a amiga falar de seus sonhos, Corina acabou sendo contagiada por sua empolgação e fascínio. Entretanto, o que despertou sua atenção não foram os mistérios ocultos presentes no Vazio. Havia tanta vida e esperança em Kali, que não conseguiu desviar os olhos para outro lugar.

 


Nota do Autor

Pois é, muito tempo parado. Eu sei. Mas está finalmente na hora de voltar a postar.

É isso aí! Um Alquimista Preguiçoso voltou! E com uma novidade importante. A partir de agora, os capítulos serão lançados nos fins de semana, toda semana.

 

INSTAGRAN: https://www.instagram.com/liberaoconto/



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