Um Alquimista Preguiçoso Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.

Revisão: Dante


Volume 1

Capítulo 63: Fera incandescente

Após Tu extinguir a fumaça que ofuscava a visão e poluía seus pulmões, procurou em volta por algum vestígio deixado por Ning. Contudo, não havia qualquer sinal de pegadas ou rastros apontando para uma direção. Mais à frente, o cenário era um pouco diferente daquele que foi maculado pelo fogo; o chão não estava coberto por fuligem e os bambus ainda cresciam verdes e flexíveis, apenas algumas pontas pareciam terem sido afetadas, deixando o resto tão verdejante e vigoroso quanto antes.

Ao que parece, o fogo havia avançado com mais violência na direção tomada por ele e To durante a perseguição e isso acabou preservando parte da floresta de bambu, pois muito embora as chamas também estivessem começando a se alastrar por aquelas bandas, o avanço foi mais lento e após a Espiral Ascendente, que extinguiu os lumes mais tímidos, a queimada cessou quase por completo.

E Tu tinha a impressão de que era para aquela direção que Xiao Ning continuava avançando, usando o amontoado de bambus para se ocultar, conforme se afastava.

Por outro lado, as áreas mais afetadas pelo fogo, apesar de ter diminuído o ritmo, continuavam a queimar, lançando fumaça para o alto e abafando qualquer ruído com crepitar e explosões ocasionadas pelo bambu estourando. Após a ventania passar, as chamas tornaram a ganhar força e se alastrar para os lados. À medida que crescia, uma bruma branca acinzentada voltou a ganhar vida, propagando-se pela região abaixo e cobrindo o céu acima feito uma cortina espessa.

E para piorar a situação, as cinzas e fuligem que foram atiradas para cima através da técnica de Tu, começaram a cair, tornando toda a cena ainda mais caótica.

Ele procurou ao redor por qualquer traço de Ning e cada vez que falhava em encontrar um vestígio ficava mais irritado. Não conseguia acreditar em sua própria incompetência, ser ludibriado por um garoto no Reino Mundano era algo além do vergonhoso, ainda mais por estar nesta empreitada junto de um Virtuoso. Que tipo de punição receberiam quando voltassem de mãos vazias e sem um motivo plausível para a falha?

Ele correu até as bordas da parte da floresta de bambu que havia sido pouco afetado pelo fogo e tentou encontrar um indício de passagem recente, como um galho quebrado, marca de pegada ou um pedaço de tecido rasgado durante a fuga, porém o pó preto e a cinza cobrindo o chão e o caule das plantas mascaravam qualquer evidência. Mas não podia desistir, dessa forma, tentou a sorte do outro lado e enquanto procurava, ouviu a voz de To ecoar entre as plantas ― ao que parece, o Virtuoso já havia entrado mais fundo na floresta.

― Por aqui! ― gritou To, cuja voz soou distante e abafada.

Mas foi o suficiente para Tu localizar a origem e assim disparar em uma corrida frenética. Contornou uma moita de bambu e seguiu correndo, de longe avistou uma perturbação que não era do vento, fazendo as varas dobrarem e até mesmo quebrando algumas, era como se To estivesse avisando para seguir por ali e dessa forma fez.

Conforme se aproximava, conseguiu aos poucos vislumbrar as costas do parceiro driblando os bambus ao mesmo tempo em que mantinha a cabeça focada num ponto ao lado. Tu seguiu a linha traçada e encontrou Xiao Ning, o qual também olhava para o Virtuoso. O garoto mais uma vez invocou suas chamas vermelhas, que luziam um fulgor traiçoeiro. Estava se preparando para incendiar tudo outra vez.

Ah, não, desta vez não! ― praguejou Tu, dispondo-se a frustrar a tentativa de fuga. Ele balançou o braço direito com ímpeto e rugiu ferozmente. ― Bagas Avernais!

Como se a chuva tivesse sido profanada pela vontade diabólica de uma criatura abominável, gotas enegrecidas começaram a cair do céu, mirando Xiao Ning, seguindo seus passos. As primeiras bagas atingiram o topo do bambu, corrompendo a madeira, apodrecendo a planta de fora para dentro; parecia até que uma praga havia se instaurado nas folhas e se alastrado para o resto da haste, deteriorando o gramíneo a uma velocidade visível aos olhos.

Em um instante, a área ao redor começou a se putrefazer e os bambus ruíram, decompondo-se em farelos e lascas, que se espalharam pelo chão.

Quando sentiu a Energia Espiritual distorcer logo acima de sua cabeça, Xiao Ning imediatamente mudou a trajetória de seu ataque. Em um ato ligeiro, balançou o braço para o alto, desenhando um arco ardente sanguinário, que se espalhou feito um domo, abrindo um leque incandescente, protegendo-o da intempérie enegrecida.

Ele olhou para trás e viu Tu se aproximar com um olhar sanguinário, por outro lado, To seguia flanqueando-o pelo lado direito, apenas assistindo a disputa, sem interferir. E essa atitude fez um sorriso se abrir no rosto de Ning.

Cultivadores são criaturas egoístas.

Quando enfrentou Xiao Chu e sua trupe na Montanha Ancestral de Jade, Xiao Ning se surpreendeu com a forma sincronizada que eles se moviam. Sempre que um falhava no ataque, o outro aparecia logo em seguida, cobrindo o erro e mantendo o ritmo da investida. Se o primeiro golpe era feito mirando o tronco e a parte superior do corpo, o segundo focava nas possíveis rotas que poderiam ser usadas para desviar, impedindo assim, a fuga do inimigo.

Algo parecido aconteceu no Evento de Seleção. Cultivadores no geral são muito confiantes em suas técnicas. Quando confrontado por alguém inferior em Energia Espiritual, eles pouco se preocupam em encontrar o melhor momento ou criar uma oportunidade mais apropriada para atacar, pois tem a convicção de que apenas a força por trás de suas técnicas são o suficiente para sobrepujar o inimigo.

A certeza de que a pessoa mais forte é aquela que possui o maior nível de Energia Espiritual acaba cegando a maioria dos cultivadores e eles se limitam a utilizar apenas essa Energia e nada mais, mesmo a verdade estando longe de ser tão simplista.

No entanto, durante o Evento de Seleção, muitos apresentaram estratégias, que apesar de terem sido aplicadas de maneira inexperiente e muitas vezes precipitada, foi o suficiente para provar a Xiao Ning que os jovens cultivadores da Família Xiao possuem algo a mais. Não eram tão negligentes a ponto de apenas balançar o braço e acreditar que isso era o suficiente para derrotar o adversário. Eles corriam atrás, pressionavam, buscavam a saída mais inteligente e segura para obter a vitória.

A maior referência quando Xiao Ning pensava nesses detalhes era Xiao Guo. Apesar dele possuir um cultivo superior ao de Ning, durante o evento, seus ataques eram precisos e sempre mirando quebrar a guarda do inimigo. Não agia por imprudência ou arrogância, confiante demais na superioridade da Energia Espiritual, cada golpe era dado pensando no seguinte. Por causa disso a luta entre os dois acabou sendo acirrada.

Obviamente, essa não é uma regra que se aplica a todos, ainda mais se tratando de um cultivador que usa Técnicas de Fortalecimento Corporal, mas a maioria acredita que somente ter a Energia Espiritual mais forte é o suficiente para garantir a vitória.

Ao que parece, To e Tu eram desse tipo ― confiantes demais na superioridade do “Reino”. Eles eram arrogantes e individualistas, não sabiam trabalhar em conjunto, apenas faziam companhia um ao outro, mas não interferiam na disputa do parceiro, sobretudo quando o lado adversário é inferior em todos os aspectos.

E era justamente tal pensamento leviano que permitiria a Xiao Ning escapar. Assim que Tu atacou, ele percebeu que To recuou, o cultivador do Reino Virtuoso se contentou em assistir o desfecho à distância, uma vez que o parceiro parecia tão determinado. Se os dois decidissem atacar em conjunto, não teria chance de escapar, mas se agissem cada um por si, talvez, conseguiria criar uma brecha ou distração.

O ataque de Tu foi feito sem a intenção de causar grandes ferimentos em Xiao Ning, apenas por esse motivo é que ele conseguiu se defender usando o Bafo do Dragão, mas, ainda assim, aquela era uma técnica utilizada por um cultivador no ápice do Reino do Despertar e Ning, com sua Energia Espiritual Mundana, era incapaz de freá-la em sua totalidade.

No instante em que a Língua de Fogo se chocou contra as Bagas Avernais, um vapor profano subiu, empesteando o ar circundante, porém as gotas enegrecidas continuaram caindo, apagando o leque de fogo que se abriu sobre a cabeça do Alquimista. Se fosse atingido por aquilo, mesmo não sendo um ataque mortal, suas chances de escapar reduziriam de maneira significativa.

Percebendo que seu golpe defensivo não resistiria por muito tempo, Xiao Ning, ainda correndo, flexionou os joelhos e saltou o mais distante que podia saltar sem pegar o impulso adequado. Contudo, foi preciso fazer a ação de maneira tão repentina que quando aterrissou, suas pernas se embolaram umas nas outras e ele rolou pelo chão desajeitado. Mas conseguiu se esquivar bem a tempo, pois logo após, as gotas caíram, putrefazendo o solo.

Xiao Ning não perdeu tempo, no segundo em que seu corpo parou de rolar, levantou-se de qualquer jeito e saiu correndo, tropeçando e chutando as folhas caídas, tentando recuperar o equilíbrio enquanto movia as pernas a toda velocidade.

Agora que enfim conseguiu se aproximar um pouco mais, Tu não o deixaria escapar. O cultivador da 7° Camada do Reino do Despertar se preparou para fazer sua investida e capturar o rato fujão... Foi então que Xiao Ning se virou.

Ele mal havia dado dez passos no que girou o corpo e rugiu, balançando os braços contra seu perseguidor.

― Esfera Escaldante!

Uma bola vermelha incandescente voou contra Tu.

Ele, que já havia presenciado essa técnica, não hesitou sequer por um segundo quando bufou de volta:

― Espiral Ascendente Menor!

O ar ao redor mudou no instante em que o vento começou a ganhar força, girando e rodopiando, dando origem a um pequeno ciclone, que tragou a bola de fogo, devorando a massa ardente e abafando o calor.

Com um segundo movimento, o ciclone, que agora apresentava um aspecto incandescente, soltando rajadas de vento mesclado com fogo vermelho, rodopiou e subiu, levando a bolo carmesim para longe, protegendo-o de qualquer dano.

Entretanto, assim que a primeira foi bloqueada, a segunda esfera surgiu, tomada de fúria e poder destrutivo. Mas, desta vez, a Esfera Escaldante não estava voltada diretamente para Tu. Em uma ação astuta, Xiao Ning mirou seu ataque numa moita de bambu, logo à frente de seu agressor.

A bola de fogo atingiu o amontoado verde e no mesmo instante queimou as folhas secas, caídas ao redor. Não demorou muito e uma cortina de fumaça se ergueu, conforme o fogo mais uma vez se alastrou.

― Maldito! ― amaldiçoou Tu, com uma voz carregada de desprezo.

Xiao Ning não perdeu tempo e fugiu a passos largos. Sabia que apenas isso não era o suficiente para pará-lo, mas ao menos atrasaria o avanço dele e lhe daria a chance de se afastar um pouco mais.

Mas, To, que até então havia assistido de lado, não era um iniciante ingênuo. Compreendeu muito bem as intenções do garoto. Mesmo a floresta de bambu obstruindo sua visão, incapacitando-o de olhar muito além, notou que a cada passo dado, eles se aproximavam mais do interior do território dos Xiaos. Logo, toda aquela confusão ― fumaça, bolas de fogo e ciclones ― começaria a ser notada pelas pessoas e as chances de concretizar a missão diminuiriam a uma proporção considerável. Precisava pôr um fim nisso, agora.

Seguindo Xiao Ning, flanqueando-o sem dá-lo a oportunidade de se afastar, To resolveu fazer seu movimento e encerrar essa perseguição infrutífera.

― Decadência de Espírito!

Uma luz arroxeada, dotada de decaimento e melancolia, tingiu a região ao redor, manchando os bambus, antes verdes e vivos, com frieza e letargia. As folhas enrugaram e começaram a cair, conforme as hastes resilientes dobraram de lado, como se estivessem perdendo a vida.

Xiao Ning viu a luz se aproximar, deixando um rastro de tristeza para trás. A técnica exercida por To era ampla, de modo que cobria uma vasta área, dando pouco espaço para escapar. Na tentativa desesperada de fugir, ele apertou o passo, fazendo suas pernas arderem por não conseguirem acompanhar o ritmo acelerado. Uma sensação de queimação se espalhou por suas coxas até as panturrilhas. Os músculos começaram a travar, cedendo à pressão, recusando-se a seguir em frente.

A luz arroxeada avançou, espalhando sua melancolia pela região. Apenas contando com sua força física, Xiao Ning não conseguiria escapar. Então, quando faltava pouco mais de um metro para atingi-lo, seu corpo começou a soltar faíscas azuladas, que piscaram e se transformaram em fios de eletricidade.

Ele projetou o tronco para frente e, no instante seguinte, acelerou, deixando nada mais do que um vestígio de presença para trás. A aceleração repentina foi tamanha que o corpo já fatigado de Ning não resistiu e suas pernas travaram, por um segundo, no meio do caminho. Ao perder o equilíbrio, caiu de peito no chão, deslizando pelo solo, revolvendo a terra úmida e as folhas secas.

Por muito pouco conseguiu evitar ser atingido.

O Passo Relâmpago é uma técnica de movimento instantâneo. Não pode ser usada para percorrer longas distâncias, muito menos correr por tempo prolongado. Mas o acréscimo de velocidade, usado no último segundo, permitiu a Ning se esquivar com sucesso do ataque de To.

Caído no chão, ele não perdeu tempo e foi logo rolando para o lado, preparando-se para levantar e dar continuidade à fuga. Porém, Tu, que havia sido bloqueado pela cortina de fumaça e o fogo, retornou, furioso, determinado a subjugar aquele pirralho maldito.

Tu perdeu completamente a calma quando se viu mais uma vez sendo obstruído pelo incêndio criado pelo garoto que deveriam capturar. Disposto a pôr um fim naquela brincadeira ali mesmo, ele saltou, desenhando um arco no ar, evitando assim o fogo e a fumaça.

Por ser apenas um Despertado, não conseguia voar igual a um cultivador no Reino Espirituoso. No entanto, impelido pela fúria, deu um magnífico salto, atingindo incríveis metros de altura. Conforme cruzava o céu, seu corpo foi traçando uma parábola que ia além de Xiao Ning.

Ainda no alto, ele fez um movimento e o ar ao redor começou a se distorcer, a Energia Espiritual foi se acumulando, expelindo uma intenção mortífera, pouco relacionada ao objetivo de capturar o alvo.

Ei, ei, pensei que queriam me sequestrar! ― grasnou Xiao Ning, sentindo aquela Energia carregada de más intenções se acumular ao redor de Tu. Se fosse atingido por aquilo, talvez, com muita sorte, não morreria, mas ficaria gravemente incapacitado.

A situação parecia perdida. Sabia que não conseguiria escapar daquilo. Foi então que aconteceu...

Xiao Ning foi o primeiro a sentir. De repente, uma Energia Espiritual massiva e arrebatadora varreu sob o céu, inundando a floresta de bambu com uma aura selvagem e dominante. A segunda pessoa a notar a chegada foi To. Seu Sentido Espiritual não se provou tão preciso, mas os olhos eram perspicazes. Logo que apareceu, conseguiu ver à distância um ponto se aproximando a uma velocidade assustadora.

― Cuidado! ―  alertou o Virtuoso, elevando a voz, tentando avisar o parceiro.

Sendo alertado, Tu procurou no alto o motivo do pânico expressado através da voz do companheiro. Não foi preciso uma busca detalhada ou um olhar atento para encontrar a causa do alarme. Voando em sua direção, havia uma figura de cabelos incandescentes, cujos fios esvoaçantes dançavam ao vento, enquanto seu vestido flamulava feito às ondas de um lago sendo assolado por uma tempestade.

A mulher tinha um sorriso selvagem, encarando Tu direto nos olhos. Quando enfim sentiu sua Energia Espiritual, murmurou, tão assustado quanto seu colega, muito embora não precisasse de uma confirmação para saber seu nível:

― Reino Espirituoso!

Ao sentir aquele perigo insano se aproximar, Tu não perdeu tempo, não hesitou, não pensou. Esquecendo-se de Xiao Ning por completo, mudou a direção de seu ataque e exerceu todo o poder que conseguia naquela única técnica.

― Torrente de Oceanuns! ― Ele, diferente da mulher, não podia voar, o máximo que conseguia fazer era atrasar seu avanço feroz enquanto torcia para aterrissar logo e assim, fugir. Nunca, uma queda pareceu tão lenta.

Um corpo d’água maciço, com fluxos avermelhados, atirou-se na direção da 2ª Anciã Ah-kum. Era uma técnica feroz e tempestuosa. A massa de água rompia e trovejava, criando correntezas em torno de si mesma, impulsionando-se para frente e ganhando velocidade à medida que avançava.

Tu atingiu o auge de sua ascendência e começou a cair. Seus olhos fixaram no chão abaixo, ansiando a aterrissagem. Podia sentir os pés tocando a terra e depois, correndo tão rápido quanto as pernas poderiam aguentar. Eles haviam falhado na missão, precisavam aceitar isso se quisessem conseguir escapar dali vivos.

Mas, o chão, naquele momento, parecia tão longe. Enquanto caia, olhou para o lado e viu sua técnica se aproximar da mulher. Sabia que aquilo não seria capaz de matar uma cultivadora no Reino Espirituoso, porém, ali estava toda sua força, iria atrasá-la por pelo menos alguns segundos.

Contudo, aquela era uma adversária muito mais aterradora do que se poderia imaginar. A 2ª Anciã não era considerada por muitos como a pessoa mais poderosa da Família Xiao sem razão.

Quando viu a massa de água berrando e estrondeando em sua direção, Xiao Ah-kum deixou escapar um meio sorriso no que, sem sequer titubear, chutou o ar como se esse fosse o solo. Seu impulso feroz reverberou, criando uma onda de choque impetuosa. A investida foi tão poderosa que criou estrondos e trovoadas conforme seu corpo se deslocou.

A 2ª Anciã não desviou ou tentou evitar o corpo d’água, chocou-se diretamente contra a Torrente de Oceanuns, que explodiu jogando água para todos os lados. Porém, seu ímpeto não parou por aí. Ela chutou o ar mais uma vez e, no instante seguinte, surgiu diante de Tu, caindo, impotente.

O cultivador do Reino do Despertar, em um último ato de tentar se safar, começou a se mover, mas era muito lento se comparado àquela fera implacável. Xiao Ah-kum fechou o punho e deu um soco, simples, sem grandes extravagâncias, porém, a força por trás era aterradora e o indefeso Tu sentiu isso, incapaz de fazer qualquer coisa para se proteger.

No segundo em que viu o punho dela se movendo em sua direção, Tu tentou erguer os braços em frente ao peito para se defender, mas mesmo essa ação se mostrou em vão, pois a força de Xiao Ah-kum era avassaladora de tal forma que ao ser atingido, seus membros se curvaram em um ângulo estranho, deixando escapar uma série de estalos agonizantes, de fazer os pelos de qualquer um se arrepiarem.

Vendo-se golpeado por tamanha força, sem nada para se apoiar, o corpo de Tu foi atirado para longe, não dando tempo nem mesmo para gritar, diante da dor que sentiu. Ele voou descontrolado, mergulhando na direção oposta, quebrando alguns poucos bambus que ainda não haviam sido atingidos pelo incêndio e desaparecendo no meio da fumaça, a qual se alastrava por todos os lados.

O velho cultivador do Reino Virtuoso, virou a cabeça, assistindo seu parceiro cortar o céu impotente. Abriu a boca para gritar seu nome, mas nada saiu, o assombro diante da situação desesperadora que se encontrava acabou por roubar suas palavras.

To estava pronto para fugir, mas não poderia perder a 2ª Anciã de vista e acabar sendo pego com a guarda baixa. Ergueu a cabeça para encará-la, mas quando o fez, ela já havia desaparecido.

― O seu amiguinho ainda está vivo. ― Uma voz feminina, dotada de um timbre selvagem, soou de alguma parte mais abaixo.

To seguiu o som da voz apenas para encontrar Xiao Ah-kum parada em frente a Xiao Ning. Com seu cabelo incandescente, retribuiu o olhar alarmado do Virtuoso dando um sorriso vitorioso.

― Você também viverá, afinal, não posso perguntar aos mortos por que estão atacando os jovens membros da minha Família. ― sibilou em um tom ameaçador.

Experiente como era, ele sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Algo lhe dizia; “fuja, ela é perigosa!”.

Intimidado, ele deu um salto para trás, preparando-se para fugir. Entretanto, no momento em que recuou, a Anciã também se moveu. Demonstrando uma graciosidade desajeitada, como se não fosse de seu feitio se mover com elegância, ela ergueu uma perna e se deslocou, cobrindo a distância entre os dois num piscar de olhos.

Sem ao menos dar tempo do Virtuoso pensar em se defender, ela chutou. Seu pé direito atingiu em cheio o peito de To, que sentiu o corpo dobrar para frente, conforme vomitava um líquido espesso e vermelho-escuro. Vindo de dentro de seu corpo, pôde-se ouvir um estalo agudo, seguido de um som pungente, enquanto o ar dos pulmões lhe escapava entre os dentes.

Da mesma forma que seu parceiro, ele foi arremessado para trás. Seu corpo bateu no chão repetidas vezes enquanto adentrava a selva de bambu, deixando um rastro de destruição por onde passou.

Em um instante, sem sequer se esforçar, a 2ª Ancião da Família, Xiao Ah-kum, subjugou dois cultivadores, um no ápice do Reino do Despertar e outro na 6° Camada do Reino Virtuoso. Seus corpos, incapazes de resistir a um vislumbre de seu poder, foram arremessados para longe, resultando em alguns ossos quebrados.

Ufa, essa foi por pouco! ― exprimiu Xiao Ning, sentindo-se aliviado pela chegada da Anciã.

― Você está bem? ― perguntou Xiao Ah-kum, voltando-se para ele.

― Agora que você chegou para me salvar, tenho certeza de que tudo ficará bem. ― Abriu um sorriso cativante.

― Sinto muito por isso. Hoje deveria ser meu dia de te proteger, mas não achei que alguém tentaria algo dentro de nossa casa. ― desculpou-se Xiao Ah-kum, arrependida pela própria imprudência.

Ora, se está tão arrependida, porque não me leva para jantar? ― sugeriu Xiao Ning, em um tom insinuante, sentindo que não poderia perder a oportunidade. ― Você paga. ― acrescentou.

― Garoto, você não aprende nunca, ahn? ― ralhou a 2ª Anciã Ah-kum, deixando escapar um sorriso brando, feliz por não ter chegado tarde demais. ― Espere aqui. Vou capturar esses caras e depois a gente pode voltar... ― Ela parou no meio da frase e lançou um olhar estranho na direção em que havia enviado voando os dois invasores. ― Hunf! Pelo visto, eles são muito bons em fugir. Acho que peguei muito leve.

O rastro de To e Tu havia desaparecido, sem deixar qualquer vestígio para trás, apontando o caminho usado para a fuga. Sem falar que, o fogo e a fumaça se alastrando cada vez mais não ajudava muito.

Os dois invasores, de alguma forma, apesar dos ossos quebrados, conseguiram escapar.

 


Niveis do Cultivo: Mundano; Despertar; Virtuoso; Espirituoso; Soberano do Despertar; Monarca Místico; Santo Místico; Sábio Místico; Erudito Místico.

 


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