Um Alquimista Preguiçoso Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.

Revisão: Dante


Volume 1

Capítulo 50: Reunião ao anoitecer

Após deixarem o campo de cinamomos, Xiao Ning e Xiao Shui tentaram cruzar o prado o mais rápido possível. Em breve anoiteceria e estavam bem próximos da Floresta das Mil Perdições, de modo que conseguiam enxergar a copa das árvores volumosas, não muito distantes dos cinamomos e logo atrás, uma extensão da cadeia montanhosa pertencente a cordilheira se fazia parcialmente visível.

Enquanto atravessavam a relva, Xiao Ning escutou um conjunto de grasnados familiares e estridentes vindos do céu. Levantou a cabeça, procurando pela origem do barulho e viu uma revoada de pássaros atravessar o lusco-fusco, rumo a Montanha Ancestral de Jade.

Os pássaros que compunham o bando possuíam uma longa cauda amarronzada, quase laranja, em formato de “V”. A pluma que cobria a parte inferior das aves em questão era de um branco puro e felpudo. E as penas que forravam suas costas, assim como as asas, eram dotadas de um amarelo vibrante, com pequenas bolinhas alaranjadas espalhadas aqui e ali.

É claro, de onde estavam, não conseguiam ver muitos desses detalhes com precisão, mas Ning não precisava disso para formar uma imagem precisa da criatura.

Quando avistou o bando sobrevoar sua cabeça, ele soltou um suspiro desanimado, deixando os ombros caírem. Aquelas eram as Andorinhas do Entardecer, um dos ingredientes necessários para fazer sua Pílula da Borboleta Monarca. Infelizmente, estavam altas demais para conseguir alcançar e ele não havia preparado nenhuma armadilha.

Em busca de alguma ajuda, olhou para Xiao Shui com as sobrancelhas franzidas e indagou:

― Você por um acaso consegue alcançá-las? ― apontou para as Andorinhas.

Ahn, está achando que eu tenho asas ou algo do tipo? ― retrucou Xiao Shui, com uma voz esganiçada.

Recebendo uma resposta negativa, ele olhou para trás, para uma região parcialmente bloqueada por troncos esparsos, com um semblante ponderador, como se estivesse pensando em algo. Porém, logo desistiu. Essa ideia também parecia pouco provável de ter sucessor. As aves estavam muito altas.

Desistindo de pegar os pássaros ― ao menos no dia de hoje ―, Xiao Ning cruzou o campo gramado, com Shui logo atrás. Seguindo o mesmo caminho de antes, atravessaram o riacho e subiram o vale íngreme. Quando, enfim, se viram mais uma vez nos longos prados da base da montanha, assomados por declives ocasionais, um terreno que não lhes era nem um pouco estranho, o sol já havia quase desaparecido do outro lado no horizonte. A leste, a lua já fazia sua entrada. E a oeste, a única luz restante do gigante incandescente era alguns ínfimos raios fulgurantes atrasados em sua queda.

Na Montanha Ancestral de Jade, uma sombra traiçoeira espalhava seus tentáculos pela gigante imprevisível, mergulhando o que antes já era perigoso em um mar de trevas.

Imersa naquela escuridão isolada, Xiao Shui parecia ansiosa. Andava na frente, tentando acelerar o ritmo da caminhada, enquanto vez ou outra olhava para trás, para o preguiçoso que arrastava o corpo sem muita pressa.

Depois de deixar as partes mais afastadas e perigosas, Xiao Ning já não via necessidade em correr. Andava passo a passo, admirando um cenário que nunca havia vislumbrado sob tais condições e com tamanha proximidade. Não era a mesma coisa olhar para a montanha escura sob a segurança do território dos Xiaos.

Além do mais, não via a menor necessidade de temer a aparição de uma Besta Demoníaca, pois mesmo que uma surgisse, não acreditava estarem em real perigo.

Mantendo o passo acelerado, Xiao Shui olhou para trás e ralhou com uma voz áspera:

― Poderia andar mais rápido? Eu não quero ficar de castigo de novo.

― Relaxa, daqui a pouco a gente chega. ― retrucou ele, parecendo despreocupado.

― Se você não tivesse feito a gente sair tão tarde, não teríamos que correr. ― exasperou Xiao Shui, irritada com a maneira desleixada de ele agir.

― Mas sair cedo é tão... tão cedo. ― Xiao Ning tentou se justificar, mas a única coisa que conseguiu foi reforçar ainda mais sua preguiça e pouca vontade de fazer qualquer coisa pela manhã.

― Se eu receber uma punição de novo por sua causa, farei questão de mantê-lo dentro de casa, enquanto eu estiver de castigo.

― Por mim tudo bem, é lá que a cama está. Ahaha! ― Xiao Ning deixou escapar um sorriso divertido. Não conseguia ver como poderia ser ruim ficar dentro de casa, ao lado de uma cama macia e uma sombra fresca para tirar os cochilos da tarde.

― Maldito vagabundo. ― praguejou Xiao Shui, que falhou em sua investida. Mas logo fez outro ataque. ― Eu esconderei seu Caldeirão Encantado.

― Você não faria! ― exclamou Xiao Ning, parecendo chocado.

― Veja só se não faço. ― ganhando alguma reação, ela continuou. ― Irei escondê-lo em um buraco tão fundo que você não irá encontrá-lo nunca mais.

Ela não tinha certeza se a reação dele era legítima ou apenas uma encenação, mas finalmente parecia ter ganhado alguma atenção. Aproveitando o momento, ameaçou tirar aquilo que parecia ser seu bem mais precioso. Talvez, se fizesse isso, conseguiria convencê-lo a andar mais rápido.

No entanto, antes que conseguisse alcançar qualquer vantagem, algo aconteceu. Da penumbra cada vez mais notória, duas sombras ganharam formas humanóides à distância.

Devido a escuridão cada vez mais profunda, o que pôde ser visto à distância foram os traços de duas silhuetas, vagando lentamente, indo de encontro a eles. A figura da esquerda, que estava mais atrás, parecia ter os ombros arqueados, caídos em uma postura desarranjada. Enquanto o desenho sombreado da direita, dotava de um porte firme e resoluto, com a cabeça empinada e o peito estufado.

Quando viu os dois se aproximando, Xiao Shui, que possuía pressa em voltar para casa, subitamente diminuiu o passo e ficou ao lado de Xiao Ning. Embora não soubesse quem eram, cautela era importante neste lugar traiçoeiro. Ning, por outro lado, com sua maneira relaxada de sempre, colocou a mão sobre a testa, como se faz quando o sol está batendo sobre o rosto e apertou os olhos, tentando dar uma espiada e usando seu Sentido Espiritual, sondou os estranhos que se aproximavam. No primeiro momento, não sentiu nada de espetacular, mas quando se focou um pouco mais, foi pego de surpresa ao descobrir a identidade de um deles. A pessoa da direita era Xiao Bai.

Ao identificar uma das figuras, Xiao Ning ficou mais atento. Imaginou se o Jovem Nobre estava ali para um segundo duelo, afinal, na última luta, ficara evidente que não havia conseguido esbravejar toda sua frustração.

Entretanto, o que aconteceu em seguida foi inesperado para ambos.

Quando notou se tratar do Jovem Nobre Bai, de imediato, Xiao Shui levou sua mão ao punho da espada. Ela não gostava dele e o sentimento parecia ser recíproco.

― Fico feliz em enfim encontrá-lo. ― começou Xiao Bai, no instante que parou de frente aos dois. Apesar de suas palavras denotarem um cumprimento amigável, a carranca desagradável em seu rosto e o tom de voz seco, indicava outra coisa. ― Fiquei sabendo que estava por esse lado da montanha e vim a sua procura, mas infelizmente levei algum tempo para encontrá-lo. ― proferiu, tentando manter a cordialidade.

À medida que narrava sua busca, Xiao Bai deixou seus olhos escorregarem para o lado, fitando o homem que lhe fazia companhia. Parecia incomodado com a presença daquela pessoa.

Falando no homem, ele possuía cabelo escuro e curto. Sua aparência era simplória e expunha sem muito segredo rugas abaixo dos olhos, marcadas pela idade. Entretanto, ainda assim, detinha uma Energia Espiritual mais densa que a de Bai. Aparentava estar nas partes mais avançadas do Reino do Despertar; talvez na 4ª ou 5ª Camada.

― Procurando por mim? ― indagou Xiao Ning, com estranheza. ― Está querendo lutar de novo? Porque se for, eu... ― coçou a cabeça de uma maneira preguiçosa ― eu prefiro não fazer isso.

― Não vim em busca de uma segunda partida. ― rufou Xiao Bai, com uma voz cortante, assegurando não estar a procura de vingança ou algo do tipo. Muito embora, seus olhos faiscaram um perigo latente. ― Mas meus assuntos com você de fato estão relacionados às nossas desavenças.

Antes de continuar, o Jovem Nobre fez uma pausa cerimoniosa. Pigarreou algumas vezes, como se um sapo difícil de engolir estivesse sendo empurrado por sua goela a baixo. E com alguma dificuldade deu seguimento:

― Em nosso último encontro... fui um pouco grosseiro e imaturo. ― admitiu, apesar de dizer cada palavra como se estivesse rasgando sua garganta. ― Sou mais velho e não deveria ter me deixado levar por minhas emoções. Além do mais, alguns de meus amigos o trataram com desrespeito. E é por isso que... eu vim... me desculpar. ― cuspiu as palavras como se fossem amaldiçoadas. ― Queria que perdoasse a mim e meus companheiros por nossas ações condenáveis.

― Desculpar? ― Xiao Shui de repente questionou, parecendo duvidar do que tinha acabado de ouvir.

Xiao Ning franziu o cenho. Também estranhava esse pedido de desculpas repentino. Em sua cabeça, tentou encontrar o que motivava aquela atitude totalmente oposta à personalidade arrogante apresentada durante o Evento de Seleção. Aquele Bai, orgulhoso Jovem Nobre, não parecia o tipo de pessoa disposta a se desculpar, mesmo quando confrontado pelos próprios erros. Algo havia acontecido para ele agir daquele modo?

Ignorando a pergunta de Shui, Xiao Bai continuou:

― Meu avô... ― parou no meio da frase e pigarreou uma vez, corrigindo-se. ― O 1° Ancião me aconselhou a vir até aqui e me redimir pelos meus atos... ― Ele fez uma segunda pausa e começou a tatear a cintura, procurando por algo. E então, após encontrar o que buscava, ergueu o braço e abriu a mão, expondo uma Bolsa de Armazenamento. ― Esse é um pequeno presente, uma forma de compensar pelos meus atos. Espero que aceite. E também, o 1° Ancião gostaria de se desculpar em pessoa pelo ocorrido e o compensar de alguma forma. Ele o espera em nossa casa.

Toda a fala de Xiao Bai parecia ter sido dita com extremo desgosto. Cada palavra era pronunciada com uma voz seca e áspera, distante do sentimento de arrependimento que deveria passar. No entanto, a última sentença foi dada como uma ordem, em um tom que pouco aceitava ser contradito.

Xiao Shui, quando viu o odioso Jovem Nobre da Família levar a mão na cintura, apertou com força o cabo de sua espada, pronta para sacá-la e entrar numa batalha, caso fosse preciso. Mas ao ouvir o convite final, não pôde deixar de bufar, mostrando sua oposição.

― Guarde suas bajulações. ― ralhou com rispidez. ― Temos que voltar para casa e ele não irá ver o 1° Ancião.

Xiao Shui não fazia ideia das verdadeiras intenções do Jovem Nobre e seu avô. Porém, uma coisa era certa, não deixaria Ning ir se encontrar com aquele velho, que tanto maltratou seu pai. Essa era uma coisa que não podia acontecer por diversos motivos.

Xiao Bai, que estava ignorando a existência de Shui até então, olhou para ela com um olhar severo e rufou:

― Este não é um assunto seu ou do tolo de seu pai.

De repente, os olhos de Xiao Shui faiscaram uma intensão furiosa. Não suportava ouvir pessoas falando mal de sua família. No Evento de Seleção não fez nada, pois seu pai já havia lhe alertado sobre seu comportamento no passado e não queria envergonhá-lo perante toda Família, mas ouvir Xiao Bai expelir aquelas ofensas pela segunda vez, sem fazer nada, não era de seu feitio. Mesmo sendo muito mais fraca do que ele, já poderia se sentir vingada caso conseguisse acertar ao menos um golpe.

― É melhor retirar o que falou do meu pai! ― bufou ela, num tom enraivecido. A mão segurando o punho da espada começou a levantar, desembainhando a lâmina.

Contudo, antes que fizesse qualquer movimento, foi surpreendida pelas palavras de Xiao Ning.

― Isso mesmo, pequena Shui. ― falou, com sua costumeira voz relaxada. ― Se ele quer me dar um presente, não vejo por que recusar.

Xiao Ning se adiantou e com um movimento grosseiro arrancou a Bolsa de Armazenamento das mãos de Bai.

Oh, tem algumas Ervas Espirituais. ― exclamou animado. Com um rápido exame, usando seu Sentido Espiritual, constatou que dentro do Artefato havia uma quantidade considerável de Ervas, além de algumas Jades Elementais. ― Eu aceito sim suas desculpas. Mas me diga uma coisa: a bolsa faz parte do presente?

― Claro, pode ficar. ― disse Xiao Bai, usando um tom seco.

Ahaha! Veja, pequena Shui. ― Xiao Ning deu um sorriso alegre e balançou a Bolsa de Armazenamento no alto, igual a uma criança tentando provocar inveja no amigo. ― Se eu soubesse que era tão fácil ganhar uma dessas, não teria participado daquela maldita competição. Perdi minhas unhas para nada.

― Se você aceitou, então... ― pensando ter tido sucesso em sua empreitada, o Jovem Nobre se adiantou, deixando uma comemoração transparecer em sua voz.

Porém, Xiao Ning logo o parou.

― Eu aceito o presente... ― disse ele, prendendo a Bolsa de Armazenamento na cintura, mostrando que não iria devolver. ― Mas não tenho a menor intenção de ir me encontrar com aquele velhote.

Xiao Shui, que estava prestes a dar um de seus puxões de orelha, parou de repente quando viu aquele vagabundo guardar de modo descarado o “presente”, que na verdade não passava de suborno, e recusar o convite. Por um momento, pensou que teria de trazê-lo de volta à lucidez fazendo uso da força bruta. Contudo, mais uma vez, ele demonstrou ser um grande sem-vergonha. De certa forma, achou um pouco de graça em vê-lo usurpar a propina sem demonstrar o menor remorso.

― Seu... ― A voz de Xiao Bai se tornou afiada e hostil. Parecia pronto para dar uma surra naquele descarado. Mas, tomando as rédeas de suas emoções, controlou-se. Ter um Alquimista do seu lado, faria os planos de seu avô sair com perfeição. Se ele fosse responsável por estragar essa chance, receberia a mais severa das punições. ― Se você está ocupado hoje, eu entendo. ― tornou a falar com sua voz impassível. ― Deixarei seguir seu rumo. Nos veremos outro dia. ― enfatizou a possibilidade de um reencontro.

Dizendo isso, Xiao Bai se virou e começou a se afastar e o homem que lhe fazia companhia foi junto.

― Ele não vai desistir. ― comentou Xiao Shui com desgosto, após os dois se afastarem, desaparecendo na escuridão, que a essa altura já se fazia presente em sua magnitude. ― Mas o que o 1° Ancião quer com você?

― Eu acho que sei o motivo pelo qual o velhote do 1° Ancião deseja me encontrar. ― No primeiro momento, Xiao Ning estranhou o pedido de desculpas repentino. Como se já não fosse estranho alguém tão orgulhoso estar disposto a se redimir, era ainda mais esquisito o Jovem Nobre ter se dado ao trabalho de segui-lo até a montanha apenas para expressar seu arrependimento, quando poderia fazer isso enquanto ainda estavam no território da Família Xiao. Contudo, ao descobrir que o Ancião Dong desejava vê-lo, começou a entender o verdadeiro motivo por trás daquela abordagem surpresa. De fato, estava acontecendo exatamente o que o Patriarca havia previsto. Um Alquimista era uma existência cobiçada... ― Aposto que foi aquele velhote que obrigou o neto a fazer isso. Mas não entendo porque alguém tão arrogante aceitou se desculpar. Deve ter sido humilhante.

― Você sabe o que o 1° Ancião Dong quer? ― indagou Xiao Shui, surpresa. Tentou descobrir o motivo dessa emboscada e do convite inesperado, mas não conseguiu pensar em nada que parecesse possível. Porém, Ning não respondeu sua pergunta, apenas deu de ombro, como quem dizia não ter certeza. Então, acrescentou. ― Xiao Bai não deve ter tido escolha. Se recusasse a seguir uma ordem do 1° Ancião, ele poderia ser espancado, como da última vez.

― Aquele velhote espancaria o próprio neto? ― questionou Xiao Ning, demonstrando alguma surpresa.

Sentindo-se menos alerta, Xiao Shui relaxou a mão sobre o punho da espada e retomou a caminhada de volta para casa, enquanto falava.

― Não seria a primeira vez. ― comentou ela, relembrando de um evento chocante do passado. ― Há alguns anos, o 1° Ancião Dong deu uma surra tão grande em Xiao Bai que ele teve de ficar sob os cuidados do Dr. Wen por um mês e meio. ― virando-se para encarar Ning, questionou. ― Como você não sabe dessas coisas? Isso aconteceu na frente de toda a Família. O Patriarca até precisou interferir, antes de algo mais grave acontecer.

― Isso foi há muito tempo. Não tem como eu me lembrar de tudo. ― Xiao Ning coçou a cabeça, admitindo a deterioração de uma mente velha. ― Cinco mil anos faz isso com a pessoa. Mas por que ele faria algo do tipo? Não gosta do neto por um acaso?

― Não! ― respondeu Xiao Shui, de maneira enfática, ignorando o comentário de “cinco mil anos”. ― Acho que ele nem o considera um neto. Afinal, Xiao Bai é o filho bastardo de Xiao Cheung, o filho do 1° Ancião.

― Sério? ― perguntou Ning, parecendo mais interessado na história. Quem não gosta de uma boa fofoca, certo?

― Você realmente faz parte dessa Família? ― disse Xiao Shui, que não conseguia deixar de se espantar com a falta de conhecimento dele a respeito da própria Família. ― Xiao Cheung se casou jovem, em um casamento arranjado pelo 1° Ancião, mas estava apaixonado por outra garota. Então, bem... você sabe. ― Xiao Shui ficou um pouco envergonhada, tentando explicar o que havia acontecido. ― Eles se encontravam escondidos e tiveram o Xiao Bai em segredo, fora do casamento.

oh, então foi isso que aconteceu! ― exclamou Xiao Ning, animado com a intriga. ― E depois?

― Bem, quando descobriu, dizem que o 1° Ancião ficou irado. Ouvi dizer que ele quase matou a moça, mas Xiao Cheung interferiu e no final, o Ancião Dong enviou a amante do filho para uma das Famílias Secundárias e iria fazer o mesmo com Xiao Bai. No entanto, não muito tempo depois, durante uma viagem para a capital, Cheung e a esposa foram atacados por uma Besta Demoníaca e ambos morreram, antes de dar um neto legítimo ao 1° Ancião.

― Por isso que Xiao Bai se desculpou. Ele deve fazer qualquer coisa que o avô mandar. ― concluiu Xiao Ning.

― Exato. ― confirmou Xiao Shui.

Enquanto voltavam para casa, Ning quis saber um pouco mais sobre a relação do neto e do avô. E assim, conversando de um modo bastante descontraído, eles rumaram em direção às luzes amarelas que aos poucos começaram a ganhar vida à distância.

Quando alcançaram o vasto pátio da entrada do casarão pertencente ao 9° Ancião da Família, os dois logo perceberam que as luzes do salão de reunião ao lado da casa estavam acesas e da porta de entrada era possível ver sombras se movimentando na parte de dentro. Ao que parece, o tio Chang estava recebendo visitas.

Curioso e intrometido como era, Xiao Ning resolveu se aproximar e Xiao Shui não teve escolha a não ser segui-lo, para impedi-lo de fazer qualquer besteira. Quando chegaram mais perto, conseguiram escutar a voz do tio Chang, que escapou através da porta entreaberta em um tom abalado:

― Se continuarmos assim, enfrentaremos uma crise muito em breve.

Ao que uma segunda voz, muito familiar, respondeu:

― Precisamos encontrar uma renda substituta rápido. Estamos nos afundando em dívidas.

Pelo tom das vozes, parecia estar havendo uma conversa séria do lado de dentro. Xiao Shui não queria interromper, pois já havia chegado em casa atrasada e se atrapalhasse a reunião apenas complicaria as coisas. Porém, antes que se desse conta, Ning já estava entrando pela porta, com um sorriso descontraído e anunciando sua presença.

Ora, estão todos aqui. Parece que algo animado está acontecendo, ahn...

Do lado de dentro do salão de reuniões, Xiao Chang estava sentado ao lado do Patriarca, dividindo o mesmo sofá. Em frente a eles, ocupando outro assento, encontravam-se duas mulheres, com uma delas sendo a 2ª Ancião Ah-kum. A outra, no entanto, era desconhecida.

― Posso participar? ― convidou-se, enquanto ia entrando, antes de ao menos receber uma resposta.

 


Nota do Autor

Eae, povo, como estão? Então, estou passando aqui pois tenho algumas coisas para falar sobre a história. Como chegamos ao capítulo 50 do que ainda é o 1° Volume, pensei ser um bom momento para falar sobre alguns pontos.

Abrirei este tópico indo direto ao assunto, primeiro, gostaria de falar que Um Alquimista Preguiçoso, a princípio, é uma história criada por um fã, portanto, não farei tanto mistério deixando vocês no escuro, óbvio, não darei Spoilers, mas eu gostaria de dar uma “luz”, indicando possíveis caminhos que pode tomar ― as confabulações ficam por sua conta. E irei falar sobre isso mais a frente.

Gostaria de falar que ― não entrarei em detalhes ― eu criei essa história por discordar e, até mesmo, não gostar de vários pontos e as formas com que são abordados em obras desse gênero. Mas como já falei, não entrarei em méritos e deméritos aqui.

O que vale destacar é que, devido as essas discordâncias, decidi criar Um Alquimista Preguiçoso para reescrever alguns tópicos que, do meu ponto de vista e gosto particular, acredito ficariam melhor tomando determinadas saídas. Por terem chegado até aqui, creio que já repararam nisso, mas ao longo da narrativa seguida até então, diversos clichês já foram apresentados, entretanto, seguindo um caminho diferente daqueles geralmente encontrados nesse tipo de gênero, envolvendo cultivo.

Pois bem, esses clichês não foram deslizes acidentais meus ou falta de inspiração, foram colocados lá com um propósito ― quanto a qual propósito, deixarei para vocês interpretarem. O que eu posso falar é que, nesse volume, 1, ainda aparecerão outros tão conhecidos no gênero, bem como, eventos comuns, porém, é claro, seguindo o meu ponto de vista como autor, escolhendo aquelas que acredito ser as melhores saídas, e esses “clichês”, de certa forma, servem para demonstrar o tipo de narrativa que a história pode seguir.

Agora, falando desse volume em si. Como já citei, não farei muito drama quanto ao que esperar. Sendo bem direto, preciso confessar que ele acabou se estendendo além dos meus planos iniciais, ganhando alguns capítulos a mais, no entanto, isso foi por um bom motivo e acredito que vocês talvez concordem.

A causa dessa extensão, não irei falar que é o mais importante, porém, esse volume em particular é, sem dúvida, a base de toda a história. O que eu quero dizer com isso é que, o volume 1, não apenas será o alicerce da novel, ele estará, até certo ponto, ligado a toda a narrativa que eu pretendo trazer envolvendo arcos futuros, incluindo o “Grande Final”, (pois sim, essa novel tem um final kkk). Talvez vocês não tenham percebido, ou tenham, e até, quem sabe, não deram muita atenção, mas até agora, eu já coloquei diversas pistas que estão direta e indiretamente ligadas ao que pretendo abordar nos volumes seguintes. Algumas são mais sutis, tipo uma palavra perdida aqui, outra citação ali, e outras são mais óbvias ― só não percebe quem não quer.

É claro, não estou falando que sou o “mestres das pistas”, mas acho legal colocar algumas coisas, que ao chegar lá na frente, ou durante uma releitura, a pessoa pare e pense: “Oh, então é isso ou aquilo!”. E diversas dessas “pistas” já foram abordadas ao longo dos capítulos já postados e muitos outras ainda serão apresentadas.

Agora, algo que muitos estão ansiosos para saber, incluindo eu, é quando haverá mais capítulos semanais. Infelizmente ainda não tenho uma data especifica para dar. Tenho me esforçado para escrever e terminar o que decidi começar, mas muitos problemas têm aparecido em meu caminho. Não entrarei em tais deméritos, mas saibam que também estou ansioso para retomar a frequência e, quem sabe, dar um passo além. Apenas peço que sejam pacientes, pois as recompensas no fim dessa espera serão grandes, acredito eu.

E falo isso com propriedade, já que, quando esse momento chegar, além da maior frequência de capítulos semanais, muitos outros projetos começarão a ser colocados em prática. Não darei Spoiler, porém, aguardem por surpresas.

Entretanto, como já falei, também sofro dessa ansiedade, então, decidi que, quando estivermos em um momento importante da história, enquanto a frequência não aumentar, irei postar um ou dois capítulos extras para não perder o Hype durante certos acontecimentos enquanto esperam pela “semana que vem”.

Bem, isso era tudo que eu tinha a dizer. Agora, me digam vocês, o que acham?



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