Um Alquimista Preguiçoso Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


Volume 1

Capítulo 133: Diferença entre Reinos

Depois de superar a emboscada que havia sido armada por seus colegas, resistir a todos os ataques e ainda dominar a batalha, não existia outra palavra para melhor descrever o Patriarca Enlai do que: implacável!

Sem muito esforço, o líder dos Xiaos sobrepujou dois dos grandes cultivadores de sua organização, deixando-os impotentes perante seu poder esmagador. E quando teve a chance de finalizar essa emboscada covarde, ele atacou.

Xiao Dewei podia ser um orgulhoso Espiritualista de 6ª Camada, mas bastou uma pequena amostra de seu honrado comandante para que suas esperanças fossem esmagadas e arremessadas para longe do campo de batalha.

Assim que um de seus oponentes foi derrotado, Enlai, que estava muito preocupado com a situação do resto da Família, avançou contra o último inimigo, pronto para cumprir a promessa feita no início do embate. Ele esticou o braço e conseguiu sentir o calor do rosto de Xiao Dong tocando a ponta de seus dedos.

O 1º Ancião sequer teve tempo de reagir ou entender o que estava acontecendo. Quando seu antagonista surgiu em sua frente, seu corpo velho não foi rápido o bastante para processar a informação. Aquele parecia o fim de uma tentativa fracassada e seu cérebro nem ao menos pôde entender o que tinha causado aquilo.

Mas então, estrondos ensurdecedores surgiram de algum ponto próximo da Montanha Ancestral de Jade e reverberaram para muito além dos limites mais extremos da Floresta das Mil Perdições. Logo após, uma luz verde cortou as nuvens escuras e como se estivesse mirando naquele alvo em específico, um raio dotado de ferocidade caiu.

Enlai sentiu o fenômeno mergulhando em sua direção, buscando empalá-lo com sua Energia avassaladora. Assim sendo, embora frustrado, ele desistiu do ataque e saltou para o lado de qualquer jeito.

Em contrapartida, talvez tenha sido pelo susto de quase acabar morto antes de conseguir concretizar seu plano ou talvez tenha sido a surpresa por perceber que seu inimigo estava recuando apesar de ter a vantagem, mas Xiao Dong pulou para trás antes de sequer compreender qual era o perigo.

Ainda caído no chão e usando os cotovelos e joelhos para se escorar, o Patriarca olhou para a destruição causada pelo raio e se surpreendeu. O mesmo podia ser dito do velho de cabelo e barba longa, que permaneceu boquiaberto por alguns instantes, espantado com a própria sorte.

― Parece que os Deuses estão do meu lado. ― Embora estivesse tentando disfarçar, notava-se pela expressão alarmada de Xiao Dong que chegar perto da morte duas vezes não estava em seus planos.

― Os Deuses não apoiam demônios! ― Preservando uma calma admirável, a despeito do semblante rigoroso, Enlai se ergueu enquanto mantinha a atenção focada no oponente.

― Parece que você é mais complicado do que eu imaginava ― confessou o 1º Ancião, olhando de esguelha para o local em que seu aliado foi jogado. ― Não se cansou nada apesar de nossas tentativas.

― Esse é seu jeito de admitir que está arrependido?

Hunf! ― bufou o velho, agitando o bigode branco. ― Eu preferia resolver esse assunto com minhas próprias mãos, mas desse jeito... será complicado ― suspirou, reflexivo.

― Já chega! ― ralhou o Patriarca, mudando de postura. ― Agora é muito tarde para se arrepender.

― Eu não estou arrependido ― retrucou Xiao Dong, permanecendo firme. ― Estou falando que não queria pedir ajuda. ― Ele olhou para cima. ― Venha!  É a sua vez de assumir.

Enlai seguiu a linha traçada pelos olhos do homem que durante muito tempo cultivou um ódio profundo por sua pessoa. Num primeiro momento, não enxergou nada e muito menos sentiu qualquer presença. Mas pouco tempo depois uma figura surgiu em meio a escuridão.

Apesar de não poder ver seu rosto enquanto fazia sua grandiosa entrada, o Patriarca tinha um bom palpite sobre a quem pertencia aquela silhueta. Na verdade, estava se perguntando por que ele ainda não havia aparecido.

Seja como for, o homem não teve pressa ao descer. Seu cabelo, preso em um característico rabo de cavalo fino, ondulava descontroladamente por causa do vento forte. Em suas costas, drapejando feito uma bandeira imperialista, notava-se a presença de uma suntuosa capa marfim brilhante com a estampa de um elaborado Penjing. Mesmo distante, percebia-se nobreza em seu ser, do tipo que não se pode ser aprendida.

Seu cultivo estava sendo mantido oculto por caprichos desconhecidos, mas sua força, sem a menor dúvida, era a de um notável Soberano do Despertar da 2ª Camada. Seu corpo esbelto, braços finos e rosto delicado em nada poderia ser relacionado ao seu verdadeiro poder, pois em todo o Império Dourado aquela pessoa seria considerada um monstro entre os homens.

Aquele que atendia pela alcunha de Coo, pousou ao lado de Dong em uma graciosa demonstração de leveza. Havia um sorriso discreto em seu rosto, do tipo encontrado em pessoas experientes em fingir empatia.

― Sinto muito por seu plano ter falhado ― disse ele com uma voz sentimental. ― Pensei que ia funcionar ― acrescentou.

― Meu plano ainda não acabou ― resmungou o 1º Ancião.

― Eu entendo. ― Coo mantinha a postura digna, livre de emoções ou julgamentos. Mas seu tom exibia uma modéstia falsa. ― Se vocês já terminaram de... “lutar”, agora eu irei assumir. ― Com o tórax estufado e o olhar afiado, ele deu um passo para frente.

Enlai não recuou, porém aguçou ainda mais os sentidos. Não demonstrava sinal de fraqueza, mas reconhecia o poder do novo inimigo.

― Se o papel de dar continuidade a essa disputa cabe a nós, o mínimo que podemos fazer é nos apresentar... ― Tratando-se da confiança ou da habilidade de se impor, o Patriarca não perdia em nada para o oponente. ― Embora acredito que minha identidade e origem já não seja um segredo.

― Achei que você seria capaz de julgar minha linhagem apenas olhando para meu manto ― argumentou o sujeito de rosto alongado e queixo fino.

― Talvez seja presunção da minha parte presumir isto, mas duvido que você seja um membro da Seita Jiã ― confrontou Enlai. ― Não tem vergonha de se esconder atrás de uma organização menor?

Coo empinou ligeiramente a cabeça para cima e empinou o nariz enquanto estreitava os olhos. Seu sorriso fraquejou por um instante, dando espaço a um semblante desgostoso. Entretanto, ele logo se recompôs e com uma voz calma falou:

― Revelar segredos aos mortos é tão útil quanto contar piadas para as árvores.

A resposta fez Enlai se calar. Seus músculos ficaram rígidos e seus punhos foram envolvidos por uma discreta aura avermelhada que aos poucos se tornou mais intensa.

― Você não deveria nos subestimar dessa maneira. Nós podemos acabar te surpreendendo.

A aura ao redor de seu punho aumentou e se estendeu ao longo de todo o seu antebraço. O Patriarca abaixou a cintura e assumiu uma pose ofensiva. Estava pronto para lançar o primeiro ataque.

Entretanto, o que aconteceu em seguida deixou até mesmo aquele lutador experiente impressionado. Sem dar nenhuma pista de que havia se preparado para o confronto, Coo avançou com uma velocidade explosiva de modo que quase desapareceu do olhar atento do oponente e quando reapareceu, estava de frente para Enlai.

O Patriarca se mexeu na esperança de se defender, mas o inimigo agarrou seus pulsos e abriu seus braços, mantendo a aura recém-condensada afastada.

― A diferença é grande ― falou o sujeito cujo rabo de cavalo ondulava com graça e leveza a cada movimento.

E foi após tais palavras que um chute impiedoso foi desferido contra o abdômen do líder dos Xiaos.

O primeiro golpe afundou os músculos do praticante Espirituoso e arrancou seus pés do chão em uma demonstração espantosa de força. Seu rosto assumiu uma tonalidade vermelha à medida que o ar dos pulmões era expelido à força. O impacto foi tremendo, mas Coo segurou firme o rival. Ao menos até desferir o segundo ataque.

Ao ser atingido pela segunda vez, Enlai se viu sendo arremessado, sem qualquer controle do próprio corpo ou das próprias ações. Tudo aconteceu tão rápido que foi como se tivesse levado um susto capaz de perturbar suas memórias ― em um minuto estava aqui, no outro não.

Ele rolou por alguns metros, até parar caído de frente, com o rosto colado na grama. Porém não permaneceu deitado por muito tempo e logo tratou de tentar se levantar.

O Patriarca se apoiou usando os cotovelos, ergueu o tronco e...

“Puff!”

Coo desferiu outro chute brutal, mas desta vez acertou a cabeça do oponente, resultando em uma pancada grave ao mesmo tempo em que o forçava a ficar deitado.

Enlai rolou algumas vezes e parou de cara no chão. Um corte foi aberto no canto de sua testa, dando vasão a uma linha de sangue que desceu contornando os traços salientes do maxilar e manchando sua bochecha. Ofegante, ele girou e se deitou de barriga para cima. Seus olhos miraram o alto sem qualquer propósito, quase como se estivesse mirando uma lembrança distante na mais pura e genuína calma. Livre do medo da derrota ou da morte.

― Isso não vai ser fácil ― murmurou enquanto suspirava.

― Eu poderia ser benevolente ― comentou Coo, sempre de cabeça erguida. ― Mas sua sobrevivência é inútil para meus objetivos. ― Assumindo um tom mais agressivo, ele chutou o chão e avançou com o punho cerrado.

Sua movimentação passava uma graça admirável ao mesmo tempo em que escondia um perigo mortal. Seus pés tocavam o chão com suavidade de modo que nenhum ruído era provocado. Mesmo cobrindo a curta distância que existia entre as duas partes, seu manto drapejava feito um estandarte real enquanto o cabelo ondulava igual a um bigode de Long acariciado pelo frescor vespertino.

Tão impressionante quanto a leveza explícita em sua movimentação era a velocidade escondida em sua delicadeza. Num instante ele se encontrava a poucos metros de distância, no outro estava parado de frente a cabeça do inimigo caído e pronto para desferir o próximo golpe.

Mas quando agiu, o corpo do Patriarca foi tomado por uma aura densa e volátil, que explodiu feito um farol lançando sua luz para orientar barcos aéreos.

Coo conseguiu evitar de ser engolido pelo contra-ataque repentino, porém não pôde evitar de ser atingido. O toque superficial infligido pelo lampejo o obrigou a retroceder todos os passos que deu em sua investida, mas sem a elegância e sutileza de antes. Quando parou, estava ajoelhado, encarando a grama e se apoiando na terra. Seu cabelo comprido se arrastava pelo chão e o manto apresentava os primeiros sinais de sujeira.

Entretanto, apesar do susto que levou, os danos que recebeu foram mínimos e logo ele se levantou. Mas quando ergueu a cabeça, foi surpreendido pela aparição de seu oponente cujas mãos se achavam enluvadas por fluidos vermelho-sangue.

Assim que se posicionou, Enlai desferiu dois socos em sequência ― primeiro usando a mão direita e depois a esquerda. Contudo, foi facilmente bloqueado pela outra parte. Aquilo bastou para mostrá-lo que ações simples não conseguiriam pressionar o invasor. Então, ao dar continuidade com a mão direita, um jato carregado de periculosidade foi disparado.

O ato surtiu efeito, pois Coo não tentou parar a Energia concentrada e inclinou o ombro direito de lado a fim de evitar o dano. Seu sucesso foi impressionante, mas também um fracasso, já que o quarto soco o atingiu em seguida.

A sensação de ter seu punho pressionando contra as costelas do rival inspirou o robusto líder dos Xiaos, que se empenhou ainda mais ao lançar a próxima sequência. Os dois golpes posteriores foram grandes acertos, que mesmo não causando um dano substancial, bastou para fazer o sujeito esguio recuar.

Mas não demorou muito para Coo se acostumar e ao mesmo tempo revidar. Assim que cinco jatos foram disparados quase no mesmo segundo, numa demonstração espantosa de reflexo e concentração apurada, ele usou as costas das mãos para defletir o ato inimigo. Uma brecha foi criada depois de uma sucessão de fracassos e sem hesitar, o invasor anônimo atingiu o estômago de seu parceiro hostil.

O golpe arrancou uma careta dolorosa do Patriarca, mas não foi isso que o derrubou. Aquilo que de fato o colocou de joelhos foram às três pancadas subsequentes, responsáveis por fazer seu interior estremecer.

Ele caiu apertando a barriga ao passo que se segurava para não expor nenhuma fraqueza. Precisava manter a postura e, mais importante, sabia que não poderia ficar um único segundo naquela posição vulnerável. Mas quando levantou a cabeça, preparando-se para se colocar de pé, foi surpreendido pela perna do adversário envolvida por uma Energia verde-prateada.

A batida foi tão forte que fez seu corpo dobrar de formas estranhas enquanto era arremessado para longe. O destemido líder rolou e bateu no chão várias vezes, provocando um ligeiro rastro de destruição por onde passou.

Embora feito com simplicidade, o ataque resultou em uma demonstração opressiva. A submissão de um Espirituoso no ápice por si só poderia ser considerada um grande feito, porém o mais impressionante era a leveza e elegância que o homem esguio exibia apesar dos golpes consecutivos recebidos. O sorriso nobre permanecia e o queixo continuava tão elevado quanto no começo.

No instante em que parou de rolar, Enlai se ergueu num sobressalto e assumiu uma postura defensiva com os braços erguidos na altura do rosto e os músculos rígidos da parte superior se destacando. O chute que recebeu abriu um corte profundo em sua testa, levando a uma quantidade exagerada de sangue percorrer ao longo de seu rosto endurecido. Seu abdômen havia sido tomado por marcas fortes no local atingido e seus pulsos carregavam sinais de feridas das vezes em que foi bloqueado.

Entretanto, nada disso bastou para tirar o semblante determinado de seu rosto ou abalar a firmeza de seu corpo. Ele estava pronto para dar continuidade ao confronto e o líquido espesso escorrendo entre seus olhos não era o suficiente para tirar sua concentração.

― Se você fosse um praticante qualquer, eu diria que estou impressionado, até mesmo assustado, por ter resistido até agora ― comentou Coo cujo tom de voz apresentava uma calma notável. ― Contudo, por se tratar do cabeça da Família, acredito que seja o esperado. ― Sua expressão era a de um homem satisfeito por encontrar tudo aquilo pelo qual aguardava.

― Parece que eu vou precisar me esforçar um pouco mais. ― Essa foi a resposta dada pelo Patriarca.

Naquele instante, seu corpo foi envolvido pela característica aura vermelho-sangue que balançava igual a uma bolha de óleo presa dentro de uma garrafa d’água lacrada. Porém, diferente das ocasiões anteriores, a Energia não ficou satisfeita em meramente assumir uma forma incompleta. Aos poucos uma figura estranha passou a ganhar detalhes, como uma longa cauda e pés não condizentes com o tamanho.

Enlai estava sendo embrulhado por algo cujo aspecto se tornava mais evidente a cada segundo. Tratava-se de uma existência comprida, redonda feito um cilindro e protegida pelo que aparentavam ser escamas ou couro muito resistente. A imponência de sua manifestação ganhava mais destaque a cada nova revelação, fazendo o ar em volta pesar perante o presságio de perigo.

Percebendo a mudança extraordinária no ambiente, Coo decidiu abrir a boca:

― Eu estava assistindo sua luta e você fez certo em finalizar seu oponente antes da coisa ficar séria.

De repente duas lanças verde-prateadas compostas de Energia Espiritual foram disparadas em alta velocidade. A primeira atravessou o ombro esquerdo do Patriarca e transformou a aparição da criatura num espetáculo luminoso. A segunda penetrou o canto esquerdo de seu abdômen, levando-o a se ajoelhar em extrema agonia.

Ambos os ataques desapareceram logo após atingirem o alvo e deixaram um sinal claro de que haviam infligido uma lesão substancial. Entretanto, apesar da dor evidente que passou por seu corpo, ele não teve tempo de sentir. Quando caiu, Coo se aproveitou da oportunidade para se aproximar e sem hesitar acertou seu peito usando a sola do elegante sapato que calçava.

O impacto foi tão profundo que fez Enlai dobrar as pernas e bater as costas no chão. A queda amassou o chão e arrancou o ar de seus pulmões. Mas o pior aconteceu quando o invasor anônimo flutuou sobre seu corpo caído e lançou o que pareceu ser uma sequência interminável de ataques compostos de pura Energia Espiritual.

Os primeiros golpes despencaram do céu como gotas de aço carregando dezenas de quilos ao longo de sua trajetória. Mesmo assim, o resistente líder dos Xiaos conseguiu se proteger com sua técnica única que cobriu toda a área ao seu redor, absorvendo o impacto. Mas aos poucos a ofensiva se tornou mais consistente e as gotas se transformaram em granitos gigantes.

A proteção armada por Enlai passou a apresentar falhas e ceder. Centímetro por centímetro, seu corpo foi afundado no chão e a destruição a sua volta aumentou. O chão tremia e nacos de grama e terra eram arrancados à medida que o homem de estatura elevada desaparecia.

Ele sabia que não poderia permanecer daquele jeito, então decidiu agir.

Antes que fosse enterrado ainda vivo, duas nuvens densas de aura foram atiradas para o alto, resultando em uma destruição imparcial nos ataques do inimigo. Embora não tão veloz, a contramedida se mostrou bastante eficaz ao abrir caminho e colocar fim nas tentativas adversárias. Mas outra vez, Coo conseguiu se afastar antes de ser atingido.

― Eu falei ― comentou o invasor, pousando próximo do 1º Ancião, que apesar de tentar disfarçar, parecia satisfeito com o que estava vendo. ― A diferença entre nós é grande.

O Patriarca se ergueu e logo tratou de se afastar da cratera e do perigo. Sua respiração estava ofegante, o semblante abatido e a postura desgastada. Depois de tantos machucados, metade de seu rosto já tinha sido manchado de sangue, sangue esse que escorreu ao longo de seu pescoço e manchou seu tórax, deixando-o com uma aparência pavorosa.

Era como seu adversário falou. A diferença entre eles é grande.

Aquele não era um oponente que estava a uma mera Camada de Poder de distância ou até mesmo um Reino inteiro. Apesar de estar ocultando sua força, Coo já havia ultrapassado o segundo Despertar e isso é algo assustador.

Avançar de um Reino para o outro é uma coisa que poucos conseguem fazer. Mesmo entre Famílias e Seitas não é incomum um cultivador passar o resto da vida preso no Reino Mundano, pois o progresso é custoso.

Ser capaz de evoluir é algo que, entre milhões, apenas alguns são capazes de fazer. E por isso praticantes Espirituosos são celebrados, pois sua existência é um fenômeno impressionante. Mas quando se trata de se tornar um Soberano do Despertar, somente os mais extraordinários são talentosos o bastante para quebrar essa barreira. Mesmo em todo o Império Dourado, o número de praticantes em tal estágio é extremamente baixo.

Mas não é apenas isso que torna aquele inimigo desconhecido tão assustador.

Embora seja extraordinário um iniciante conseguir superar a diferença imposta de uma Camada para a outra e em algumas ocasiões um Reino inteiro, nenhuma canção ou conto será escrito em sua homenagem. O primeiro Despertar proporciona uma diferença de três e até quatro vezes maior do que as demais evoluções, mas que grande diferença isso faz quando esse é ainda somente o começo do cultivo?

Quanto mais alto é o Reino, mais difícil é o progresso e maior é a distância entre os cultivos. Um Praticante Mundano de 4ª Camada derrotar outro de 7ª não é a mesma coisa que um Espirituoso de 5ª Camada derrotar outro de 6ª, pois o espaço entre essas duas forças sequer pode ser comparado.

Assistir um jovem superar o primeiro estágio de um Despertado é admirável, um feito que será comentado por semanas. No entanto, um Espirituoso se sobressair a um Soberano do Despertar é uma conquista citada poucas vezes em livros.

À medida que o cultivo aumenta, maior é a distância entre as forças, mesmo de níveis semelhantes. Muitas vezes, quem começou primeiro é aquele que detém a maior vantagem e isso não pode ser mudado.

O Patriarca sabia disso tudo. Ele não teria apenas que superar o abismo existente entre um Reino, mas sim ultrapassar um Soberano de 2ª Camada. E isso era uma façanha que parecia impossível.

Ainda assim, Enlai se preparou para continuar o embate. Seu corpo sangrava e a desvantagem era humilhante. Suas chances de vencer poderiam não ser as melhores, mas era seu dever continuar buscando a vitória independentemente das consequências.

Do outro lado, Coo ignorou a expressão presunçosa no rosto do aliado velho e avançou um passo.

― Pois bem, está na hora de cumprir minha parte no...

Contudo, antes que conseguisse completar sua ameaça, algo o interrompeu.

Um estrondo, abafado e distante, surgiu do nada e reverberou por centenas de metros, fazendo o ar vibrar de uma maneira peculiar, como se uma explosão tivesse ocorrido em algum lugar da vizinhança. Todos olharam na direção do barulho, porém nada de anormal foi detectado num primeiro momento ― o céu estava tão limpo quanto o que era de se esperar em uma noite caótica. Mas então, outro estrondo ecoou, mais perto do que o anterior. O impacto foi tremendo e lançou ondas de choque que puderam ser sentidas pelos três homens. E pouco depois, um terceiro estrondo, mais perto e feroz.

Algo estava se aproximando em alta velocidade e julgando pelo efeito causado por seu deslocamento, tratava-se de uma criatura poderosa, digna de receber a atenção dos presentes.

Enlai se permitiu dividir o foco entre o inimigo e a inesperada ocorrência. O 1º Ancião, por outro lado, perdeu completamente a concentração enquanto lançava um olhar temeroso na direção das ondas de choque que se tornavam mais sonoras e próximas a cada segundo. Já o perigoso invasor pela primeira vez mudou o semblante. Sua confiança se transformou numa ligeira severidade, acentuada pela sobrancelha franzida.

A sensação de uma batalha iminente diminuiu, mas o clima hostil aumentou. Estavam todos aguardando pelo surgimento da pessoa responsável por causar tamanha perturbação. Foi quando, no horizonte distante, uma figura surgiu acima das colinas, atravessando o céu tempestuoso em meio aos raios mortais que caiam a todo instante queimando a terra abaixo.

Seu rosto se mostrou uma verdadeira incógnita à princípio, mas não foi preciso muita informação para deduzir sua verdadeira origem. Enquanto chutava o ar criando poderosas ondas de choque, os fios de seu cabelo flamejante ondulavam livres, criando uma dança hipnótica. Mesmo à distância, notava-se que seu vestido elegante, responsável por encantar numerosos corações durante o Festival da Geração do Caos, achava-se queimado até a altura dos joelhos, dando a ela uma liberdade selvagem para se mover com os pés descalços.

― Você ainda tá vivo, Enlai?! ― A 2ª Anciã Ah-kum gritou e seu urro ecoou para muito além dos trovões. ― Não se preocupe, princesa! Eu vim para te salvar! Ah! Ah! Ah!

Sua risada indomável conquistou o céu conforme chutava o ar e mergulhava em direção ao chão feito um cometa escarlate. Ela estava indo atrás de sua presa.

 


Niveis do Cultivo: Mundano; Despertar; Virtuoso; Espirituoso; Soberano do Despertar; Monarca Místico; Santo Místico; Sábio Místico; Erudito Místico.

 


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