Volume 1
Capítulo 34: De Quem é... Esse Sangue?
[Incis Katulis]
Meus pensamentos se misturando com a dor ardente percorrendo pelo meu corpo.
“Por que eu usei uma habilidade tão forte como aquela? Foi desnecessário.”, me praguejei em pensamentos por tal deslize.
Com uma respiração ríspida eu me encontrei em cima da cama desarrumada do meu quarto que por ventura estava totalmente obstruído pelos rastros da batalha que aconteceu anteriormente.
— Os corpos não estão mais aqui, senhorita Katulis. Há mais algum pedido? — Uma voz destemida e de tom confiante adentrou o quarto no que eu abri os olhos em direção a ela.
Akira, ainda possuída pela Magatama de sua espada, Kritias, a rainha das espadas, caminhou em direção a beirada da cama.
Os tribais brilhando sob sua pele iluminavam os arredores com uma cor carmesim tão linda quanto uma joia, mesmo assim eu não pude deixar de sentir sua aura opressora emanando, como se meu corpo quisesse começar a tremer tentando suportá-la a qualquer custo.
“Ela certamente tem uma pressão Vitálica bem elevada...”, concluí internamente quando Akira finalmente chegou perto o suficiente para me fazer levantar a voz fraca em minha garganta.
— Obrigada, Kritias. De qualquer modo, — pausei em uma tosse seca. — precisamos... nos apressar, Zakio e os outros devem estar no andar superior junto de Jack.
Akira acenou com seus olhos — ambos de cores divergentes — descendo sob minha face, uma pupila purpura e outra negra.
— Eu compreendo. Cogito que a minha portadora admira muito vossa senhoria, portanto eu acho que posso usar isso.
— I-Isso o que?
Logo após minha pergunta Akira estendeu sua mão virando a palma para cima e assim partículas brilhantes se concentraram sob ela, dando forma a um pequenino recipiente de vidro.
Ventania!
Os ventos solitários passando pela cortina rasgada, os cabelos de Akira balançando em conjunto enquanto o objeto se materializou em sua mão finalmente caindo sobre ela.
— Oh, então era isso. — suspirei em alívio visualizando a pequena garrafa com um líquido reluzente de cor avermelhada.
[Vitae Bottle]
[Um líquido com propriedades Vitalis condensadas capaz de prover ao que consumidor o status (Regeneração Vitalis) por 20 segundos.]
— Aqui, pode tomar até a última gota senhorita Katulis, considere isso um agrado de minha portadora, Akira. — sorriu Akira com uma face convencida, ela definitivamente nunca diria algo assim, ainda mais com uma expressão tão confiante.
— E-Entendo, obrigada.
Sem mais nem menos eu peguei a pequenina garrafa e retirei a tampa cristalizada levando a boca do recipiente até meus lábios.
No mesmo instante que o líquido percorreu minha garganta senti um calor envolver meu corpo e logo, um brilho me rodeou.
[O Status (Regeneração Vitalis) foi adicionado!]
[20% de regeneração de HP por 1 minuto.]
Os painéis flutuantes subindo sob meus olhos foram tão acolhedores quanto a sensação de tomar a Vitae Bottle.
— Mais uma vez, obrigada.
— Não há necessidade de formalidades, — Akira se virou andando calmamente até a saída do quarto. — teremos que sair, é de suma importância que eu escolte-a até o senhor Nidrik. — Completou.
“É verdade, eu ainda quero respostas... mesmo que seja difícil manter a compostura depois de tudo isso.”, comprimi meus lábios em desconforto, apenas por lembrar do corpo de Beatrice decepado.
No fim eu fui tola suficiente pra sacrificá-la e ainda me deixar ser dominada pelo pânico no combate contra dois ao mesmo tempo.
— Merda. — sussurrei mordendo o lábio e botei a pequena garrafa de cristal sob a prateleira ao lado da cama.
Eu não queria que isso acontecesse, queria ajudar todos a terem uma vida pacífica, queria proteger as vidas inocentes, mas agora eu havia acabado de sacrificar uma das vidas que jurei a mim mesma proteger, só isso já poderia ser o início, ou melhor, uma repetição do que aconteceu a 12 anos atrás... com o meu irmãozinho.
Fechei meu punho firmemente afundando as unhas em minha palma, tentando suprimir a culpa dentro de mim.
“Eu sou... realmente inútil?”, foi a única coisa que preencheu minha mente.
Passos. Passos. Passos.
O som de Akira se aproximando novamente do quarto ressoou pelo corredor do outro lado da saída.
— E então, podemos? — perguntou ela adentrando o quarto com seus cabelos curtos e prateados balançando no ritmo de seu caminhar.
— Sim. Eu já estou bem. — Me levantei da cama dando um suspiro para acalmar os nervos.
[Jack Hartseer]
“Puta merda!”, gritei preso em minha mente com uma expressão estática e embasbacada.
O impacto que ressoou por todos os cômodos da mansão como um trovão rasgando os céus veio da ponta do gigante machado nas mãos de Renard, que a segundos atrás era apenas uma lança estranha.
Essa era a verdadeira carta na manga da tal habilidade Arma Link.
Eles foram capazes de fundirem o espadão com a lança, a ponta metálica com duas lâminas havia se divido em duas lâminas afiadas de um machado mortalmente grande.
Os relevos dourados esculpidos ao longo do cabo fez o machado parecer ainda mais letal.
Quebra! Quebra! Quebra!
Faíscas estouraram no que o machado partiu milhares de fios dourados que haviam se estendido no caminho de Renard, um segundo em falso e ele seria decapitado pela parede de fios prateados.
— Hmph! — Misa Hordrik deu um pulo para trás puxando suas mãos como garras, provavelmente trazendo os fios cortados para si.
O rastro metálico passou por um fio por ela para no fim afundar sobre o chão de cerâmica destruindo-o com um estrondo.
A poeira subiu e um tremor percorreu sob o piso.
Impacto! Quebra! Ventania!
O tintalhar da luta feroz que se sucedeu no meio da nuvem de poeira engoliu o corredor revestido pelas camadas reluzentes de cor carmesim. O que essas camadas brilhantes faziam afinal?
“O Renard tá lutando com aquele trambolho gigante e ainda no meio da poeira?!”
Zakio estando a alguns metros adiante de mim virou seu olhar por cima do ombro e então levantou sua voz.
— Você gritou aquilo pra ele hein? Odeio admitir, mas seus reflexos foram bem rápidos. — ele materializou um item em sua mão e voltando sua atenção para a nuvem de fumaça no final do corredor completou: — Tome isso, seus ferimentos não são tão graves, mas como seu físico é fraco vai precisar.
Terminando suas palavras, Zakio tacou um objeto em minha direção que apenas bateu sob meu peito antes de despencar sob meus braços desesperados que tentaram me defender.
— M-Mas o que...
Ao bater os olhos vi que era uma pedra estranha com uma gravura esculpida.
Um brilho em um tom esverdeado reluzia da gravura.
[Vitae Elixir]
[Um fragmento petrificado de energia Vitalis e Aether condensados, pode ser facilmente quebrado apertando-o com a mão, quando feito você terá seu HP e PA restaurados por completo!]
“Isso não seria um item super raro?!”, ponderei com um rosto surpreso antes mesmo de descer o olhar a um pequenino aviso em baixo do item.
[Aviso: Status negativos ou maldições não são curados usando este item.]
Vuuush!
Zakio arrancou na direção das duas figuras trocando golpes mortais enquanto eu permaneci ali sem entender nada.
O metal colidindo com metal, a adrenalina percorrendo meu corpo mesmo que eu não estivesse de fato lutando.
— Por que eu precisaria disso afinal? — murmurei com um rosto de desconforto ao apertar a pequena pedra em minha mão.
Não é como se eu pudesse ajudar eles nessa luta, eu havia acabado de quase morrer pra porra de uma empregada usando uma simples faca de cozinha.
A pedra se rachou com o simples aperto e então se desfez quebrando-se em partículas luminosas que foram capazes de envolver meu corpo trazendo-me conforto e um calor relaxante.
Minha respiração ficando estável novamente, meus batimentos normalizando e minha mente que parecia estar sendo varrida pela tranquilidade.
[Seu HP foi totalmente restaurado!]
[240/240]
Olhando os números piscando em vermelho voltarem a sua cor verde esmeralda bem clarinha fez um leve alívio cair sob mim, mas não durou muito, não mesmo...
[Vitalis]
[Tipagem de Vitalis: ???]
[Lista de Skills]
[Manipu Laminae: Manipule sob o ar quaisquer lâminas num raio de 2 metros de distância ou copie os dados de alguma lâmina que você já equipou e conjure-a temporariamente.]
Minhas pupilas dilataram no mesmo momento em que toda minha atenção foi roubada pela habilidade misteriosa exposta na lista de habilidades azulada.
— Então... foi essa habilidade que eu usei naquela hora. — pensei em voz alta enquanto tudo ao meu redor ficou escuro.
O som abafou e um calor estranho começou a percorrer pela minha pele.
“Lâminas, eu posso... manipular lâminas.”, uma imagem foi se montando dentro da minha mente que agora era um quadro em branco.
— Essa lâmina suja de sangue, de quem é... esse sangue? — uma voz destorcida ressoou pelo cenário em branco que se moldou ao meu redor como uma cortina.
Eu permaneci congelado, suando e aos poucos começando a tremer, meu corpo ficou pesado como chumbo.
Uma voz perversa.
A pura maldade, o meu lado mais obscuro e assustador. Ele estava de volta.