Volume 1
Capítulo 16: Novos Vislumbres
Foi uma verdadeira chuva de informações que fizeram minha cabeça doer, mas resumidamente, eu fui mandado para a mansão Blazeworth, um casebre de uma família rica que por algum motivo tem laços com toda a guilda R.O.U.N.D.S.
Misa Hordrik a mulher que me acordou é uma das criadas dessa família que por ventura, tem talento na área medicinal e até domina algumas Skills de cura.
Durante dois dias eu apenas fiquei trancado nesse quarto deitado na cama, já que mal podia me mexer sem sentir dores em todo o corpo.
Clink!
E pela milésima vez o som da tampa de seu isqueiro negro se selando incomodou meus ouvidos.
“Qual é a pira dela com cigarros?”, eu pensava olhando para fumaça subindo do cigarro de Misa Hordrik.
Seus lábios perfeitos ao redor da bituca eram como uma gigantesca contradição, como algo tão belo poderia estar em contato com essa porra que dá doenças respiratórias?!
— Parece incomodado com algo. — Ela baforou a fumaça olhando para mim.
— N-não é nada. — desviei meu olhar em desconforto.
É sério, tinham se passado apenas alguns minutos e esse já era o sexto ou sétimo cigarro dela, Misa Hordrik realmente gostava muito de fumar pelo que percebi... Bom, não é como se eu gostasse disso, nunca fumei e nem pretendia... Até por que eu tinha outras “obsessões”.
Meu olhar de desconfortável foi lentamente se guiando até as pernas cruzadas dela, que estava sentada na cadeira ao lado da cama.
As duas coxas grossas e pálidas cruzadas, apertadas pela aquela saia de couro... Puta merda, eu realmente não sabia o que dizer ou como agir, mesmo depois dela me explicar tudo eu ainda não conseguia saber.
“Que caralhos, foco! Preciso de informações!”, me praguejei em pensamentos, mas mesmo assim não conseguia desfocar meus olhos de lá.
— Então... — a voz firme e fria da fumante quebrou minha distração, — quantos anos você tinha mesmo Jack? 15? — ela puxou assunto balançando seu pé de maneira relaxada.
— Não, e-eu tenho 16.
— Hmmm... — ela fez um som misterioso ao levantar as sobrancelhas numa tentativa falha de demonstrar interesse com seus olhos de peixe morto.
— Bem novo de fato, eu tenho 27. — Acrescentou Misa Hordrik ao tirar o cigarro da boca.
“27?! Isso é sério?”, comecei a suar com meus pensamentos de culpa.
— Pode me fazer um favor garoto?
— D-depende, mas acho que sim.
Ela tirou o seu cigarro dos lábios e expulsou tranquilamente a fumaça pelas suas narinas antes de me responder: — Pare de olhar para as minhas coxas, isso é nojento moleque.
Um olhar frio e assassino, eu quase senti que essa empregada não era uma empregada, mas sim um psicopata prestes a me apunhalar com qualquer coisa cortante por perto... Tá isso foi específico, mas porra a culpa não era minha era?
Foi bem perturbador ver ela me olhar dessa forma.
De qualquer modo, esse não era foco caramba!
Hoje era o dia em que iríamos fazer um Tour pela mansão e eu também iria me encontrar com Incis mais tarde, pelo jeito ela estava bem apesar de tudo aquilo que aconteceu em Leycrid.
— Bom, vejo que já está bem recuperado, você até que caiu bem nessas roupas que o senhor Nidrik providenciou.
Senti um leve constrangimento com o elogiou e rapidamente desviei meu olhar para as roupas que eu trajava.
Uma camisa de cor branca com um tecido suave somada de uma calça preta que continha dois bolsos com zíperes dourados, meus sapatos eram simples, totalmente de couro e bem confortáveis, eu basicamente fiquei tipo um camponês Super-Dripado.
“Eu estou... Bem nessas roupas?”, minhas bochechas coraram um pouco.
Ser elogiado tão de repente me deixou um pouco sem jeito de fato, mas essa sensação sumiu logo em seguida com o comentário da empregada na minha frente.
— O único problema é esse cabelo, parece um tufo de lã sabia? — Debochou ela ao levar seu cigarro aos lábios novamente.
— N-não é como se fosse um incomodo pra mim...
Apesar de dar tal resposta, eu muitas vezes sentia desconforto com meu cabelo grande e bagunçado, principalmente no calor.
“É mesmo, eu tinha visto um tipo de robô e casas modernas quando cheguei nesse mundo... Será que também há cabeleireiros no estilo mais moderno?”
Passos. Passos.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som do salto-alto de Misa Hordrik tocando sobre o chão de mármore.
— Vamos. — Ela abriu a porta do quarto elegantemente.
— Ok.
Eu passei pela porta primeiro e ela veio logo atrás fechando-a.
Um grande corredor com um lindo piso de cor opaca se revelou quando pude por meus pés pra fora do quarto pela primeira vez.
— Aqui é o terceiro andar, é onde os nossos hóspedes costumam ficar, é por isso que há várias portas pelo corredor como está vendo. — Explicou friamente a empregada ao passar por mim e olhar para as portas que se estendiam até o fim do corredor.
— E-entendo, é realmente bem espaçoso aqui.
A luz do sol passava pelas gigantes janelas de vidro do lado direito do corredor.
Misa Hordrik começou a andar abruptamente.
— E-ei! — Eu avancei na direção dela para acompanhá-la.
Passos. Passos. Passos.
— Recomendo não falar muito alto, os hospedes são membros da guilda que sofreram ferimentos ou se encontram em estado crítico, temos muitas baixas quase toda missão.
Ela me disse isso com um tom tranquilo e sem nenhum pingo de empatia, sinceramente me deu leves arrepios.
Como diabos ela sabia que haviam várias pessoas quase morrendo em cada um desses quartos e sequer esboçava aflição?
— V-você não é a única que cuida dos hóspedes então? — perguntei.
— Claro que não, são 12 quartos, acha que tenho o Vitalis da clonagem?
“Ela é tão fria que chega a ser ignorante”, foi o que pensei.
Passando pelas colossais janelas translúcidas eu pude ver o lado de fora que era repleto de um vívido jardim verde com fontes de cores azuladas.
Alguns arranha céus se misturavam entre postes de luz apagados por trás dos altos muros que rodeavam o jardim, um cenário totalmente diferente do primeiro que me deparei, um deserto fétido pela seca.
Além disso havia o fato de que mais uma vez a estética meio medieval se misturava com a moderna, essa mansão tinha tudo pra ser o casebre de um nobre da antiguidade, mas haviam cercas elétricas no topo dos muros além dos prédios que eu via por trás deles.
Sem contar que a “criada” ao meu lado vestia uma roupa chique se igualando a alguma advogada ou secretária.
— Aqui é uma das partes mais simples se for comparar com o jardim, mas o foco agora não é esse, vamos para o segundo andar agora. — disse Misa Hordrik ao virar na esquina junto comigo.
Uma longa escadaria com degraus da cor vinho descia até o segundo andar, eu me senti sem fôlego só de olhar.
— P-por que tudo é tão extenso aqui? Só esse corredor já deu uns 2 minutos andando.
Ela apenas desceu os degraus sem se importar com meu comentário.
“Será que ela faz isso por que não gostou de mim logo de primeira? Ah... Merda, eu nunca me dou bem com nenhuma mulher...”, meus pensamentos cabisbaixos foram cortados pela imagem de Incis que piscou em minha mente.
Apesar de tudo, ela era a única garota que eu realmente conheci ao chegar nesse estranho mundo, talvez a única pessoa que eu realmente conhecia até agora. Apesar de tudo, eu não podia evitar de me sentir acuado perto de mulheres bonitas como Incis e Misa Hordrik, talvez eu só fosse um Nerd tímido de merda? Bom, sim, mas era difícil aceitar isso.
— Tanto faz... — murmurei e com um leve suspiro desci os degraus.