Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Volume 1

Capítulo 12: Despertar Do Abismo

 

— Sou o seu Alter Ego. Sua segunda face. — afirmou o ser ao sorrir de maneira sádica em minha direção.

— A-Alter Ego?! — dei dois passos para trás em confusão, ele apenas ficou congelado na minha frente abrindo seus lábios lentamente.

— Sim.... Eu sou você.

Uma única resposta foi o suficiente pra fazer meu corpo, não, minha alma oscilar com tudo o que havia visto e sentido até agora, dúvidas e respostas, desconforto e medo, tudo se misturou fazendo minha mente simplesmente se fragmentar.

“Como assim? Eu... sou ele? Com esse sorriso? Esse cara? É impossível, eu não sou assim, nunca fui!”, minha mente começou a virar um caos enquanto meus olhos encaravam o sorriso perverso diante deles.

— Shishi! Parece que realmente te assustei com isso... — Riu o ser misterioso com seus olhos reluzentes cravados no fundo de minha alma.

Meu coração apertou e nesse mesmo instante eu me virei desesperadamente para começar a correr.

As minhas pernas a se moverem em pânico fazendo um movimento repetitivo que fez minhas articulações doerem.

Pela primeira vez eu me arrependi por não ter consumido muito cálcio.

Uma corrida cansada e solitária no meio do abismo tingido pelo carmesim. Eu só não sabia pra onde fugir, queria sair e ficar longe dessa coisa o quanto antes, longe do meu próprio passado.

Passos! Passos! Passos! Passos! Passos!

Mesmo que eu tentasse meu corpo estava ficando pesado e cansado, meu eu peito ardia enquanto o ar era inspirado e expirado.

Cada passo dado era como se eu estivesse mais e mais perto de mim mesmo, próximo do meu Alter Ego.

— Você é um imbecil, não entendeu a situação ainda pelo jeito.

A voz destorcida se espalhou por todos os cantos e quando percebi, era ele de novo, frente a frente comigo, como uma sombra que perseguia seu dono.

Eu pude ver tudo.

Sua face se revelou como um espelho refletindo a minha própria imagem, eu mesmo, porém esse sorriso não combinava comigo.

 Eu nunca sorria independente do que acontecesse, por isso senti um desconforto perturbador quanto a isso. Meu corpo apenas fraquejou despencando de bunda sobre o chão molhado de sangue. 

— Q-que porra é essa?! Sai! Sai de perto de mim! — Me arrastei pra trás levando meu braço sobre o rosto na esperança de defender-me.

— Pretende continuar patético desse jeito até quando? — disse a criatura ao se aproximar de mim com um sorriso malicioso.

— C-cala a boca.

Hmph! Você parece uma garotinha indefesa, deixa eu por uma coisinha nessa sua cabeça! — Ele arrogantemente agarrou meu pulso e inclinou seu corpo para aproximar sua face da minha.

Você precisa voltar, precisa inibir a dor e transformar ela no seu ponto chave!

O sorriso zombeteiro se estendeu de uma bochecha a outra enquanto e seus olhos se arregalaram dizendo isso num tom firme e frívolo.

Suas palavras impiedosas eram como uma lâmina prestes a retalhar meu rosto.  Eu senti cada célula do meu corpo gritar em terror perante a presença dessa coisa que se intitulava ser eu.

“Como diabos essa coisa é eu!? Voltar? Transformar a dor em arma?”, minha mente assustada não saía do lugar.

— Eu não sou uma “coisa” porra! Meu nome é Abyssus, o abismo que reside dentro do seu coraçãozinho de bosta aí, juntos nós somos um só, o ódio gerado pela angústia e a dor. — disse ele cravando suas unhas no meu pulso, — Nada de bom nos espera daqui pra frente, por isso use o tempo que tem pra destruir tudo que odeia, todos que te fizeram sangrar e sofrer! — completou o tal Abyssus aproximando seus olhos brilhantes da minha face.

Suas olheiras cinzentas eram iluminadas pelos dois olhos tão brilhantes quanto ouro que eu por um momento, pensei terem me engolido.

— Ghn! Tá doendo! P-Para! — Eu rangi meus dentes em agonia debatendo meu braço.

— Essa dor é apenas mental, estamos dentro do seu subconsciente, mas não temos tanto tempo sabe? Se puder parar de agir como um merdinha eu te agradeço.

Terminando suas palavras o tal Abyssus soltou meu braço e se levantou com um olhar frio sobre mim.

Meu corpo começando a tremer, minhas vestes molhadas de sangue e os olhos reluzentes encarando até o fundo da minha alma. Cada segundo diante dessa coisa bizarra parecia uma eternidade, eternidade essa cheia de medo e tristeza... eu não conseguia entender por que esse cara me trazia um desconforto tão grande assim.

— Por que e-eu deveria confiar nisso tudo? V-Você é pelo menos real?! — indaguei olhando para o ser de olhos brilhantes na minha frente.  

Eu não sabia como proceder novamente, talvez esse era meu pico de sanidade. Desde que eu havia pisado nessas terras minha saúde mental veio a calhar de pouco em pouco.

O vapor negro e crepitante se espalhou ao redor do garoto com um sorriso doentio, que por ventura, se intitulava ser eu, Abyssus.

— A verdade é que... eu de fato posso te ajudar, mas vai depender apenas da sua escolha, é como um trato. Você com certeza tem objetivos. — Argumentou ele com uma face perversa.

Eu engoli o seco antes de levantar minha voz como resposta.

— U-Um trato? — Um pequeno brilho de esperanças se ascendeu nos meus olhos vazios.

O ser sombrio e sorridente diante de mim hesitou antes de continuar, o brilho dourado de seus olhos se intensificou e por algum motivo tinham uma aura de interesse, sim, puro interesse.

Oh... sim, sim. Você vai poder continuar vivo, vai achar as respostas pro seu passado e talvez futuro também, Jack você se tornará forte e... útil.

Essa última palavra levantou uma nova remessa de determinação dentro de mim. Se tornar útil. Eu poderia ser importante, poderia realmente fazer a diferença assim como os protagonistas que eu tanto admirava.

A essa altura do campeonato apenas isso já me fez acreditar que... não era mentira, nada desse momento foi mentira, não era uma história de fantasia clichê onde o protagonista é forte e corajoso... eu estava frente a frente com a minha morte, diante de uma escolha extremamente perigosa.

Ele disse que era minha segunda face e que poderia dar as respostas que eu precisava, junto dessas palavras eu vi algo que veio do fundo da minha alma, apenas uma sensação pura de “isso é verdade”.

Abyssus não estava mentindo e eu consegui saber isso por mais bizarro que fosse, talvez só isso já era uma prova concreta de que ele era eu, o abismo que residia dentro de mim.

— Útil, Forte. Eu quero... quero ser assim, me ajude Abyssus... e-eu não quero... não quero morrer, não aqui. — Minha voz saiu atrofiada e meio insegura, mas foi o suficiente para o sorriso me responder com uma leve risadinha de satisfação e maldade.  

Shishi! Perfeito, então junte-se a mim agora e eu cuido do resto, quando retomar a consciência estará tudo resolvido. Use a dor de agora como sua arma. — Abyssus estendeu sua mão para mim com um olhar hipnotizante.

Meu coração batia forte e a insegurança ainda me dominava.

Eu não tinha certeza se isso era realmente a escolha certa, mas... eu tinha que me tornar útil! Eu queria ser forte, pelo menos enquanto eu ainda estava nesse mundo tão perigoso.

Mesmo que fosse ingenuidade confiar nessa coisa dentro do meu subconsciente, quem liga não é mesmo? Era apenas a minha escolha que faria a diferença.

Quando cheguei nesse mundo eu apenas dei trabalho pros outros, até mesmo consegui fazer uma das pessoas que mais me ajudou se sentir culpada, isso não saiu da minha cabeça nem por um segundo.

Eu sempre fui desprezado, minhas esperanças de uma vida normal foram arrancadas pelas pessoas de merda que me rodeavam, então por que eu deveria hesitar em usar essa mediocridade?

Talvez Abyssus tinha razão.

Pelo menos dessa vez eu poderia ter uma oportunidade de fazer a diferença?

Eu precisava saber se isso era verdade.

— E-entendo... então... é assim... — Eu lentamente ergui minha mão para o reflexo de mim mesmo, a entidade envolta de sombras que permeavam o mal e negatividade para todos os lados.

Nossas mãos se aproximaram lentamente.

— Sim... é assim que as coisas funcionam, Jack. — respondeu Abyssus ao tocar sobre minha mão puxando-me na sua direção.

Uma explosão de trevas me consumiu.

“Estou acabado.”, foi o que pensei quando senti meu coração pesando com sentimentos horríveis se misturando e oscilando.

Vuuush!

Minha alma parecia estar sendo arrancada com uma dor ardente que emergiu do meu peito e se expandiu para todos os meus músculos. Correntes de dor pesadas e intensas.

— Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaargh! — Eu gritei de agonia a ponto de romper minhas cordas vocais.

Por um segundo pensei que meu corpo estava envolto por espinhos flamejantes que queimavam minha pele a fazendo derreter como geleia. Milhares e milhares de lembranças ruins passaram por mim e raízes negras emergiram por baixo da minha pele rasgando-a como um suave tecido.

[O despertar forçado de Vitalis foi concluído!]

Um painel vermelho se ascendeu como a chama de uma tocha.

Aaaaaaaaaaaaaargh! — Meu grito foi consumido pelo tornado negro de sombras que eclodiu destruindo tudo ao seu redor.

A cortina de trevas foi embora descobrindo prédios, um céu carmesim e os gritos desesperados da balburdia, eu estava de volta em Leycrid, mas agora... diferente.

Shishi! Que dahora! — Foi a única coisa que consegui dizer.



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