Trauma Longínquo
Capítulo 100: Prisioneiros da Realidade
[Jack Hartseer]
Um silêncio perturbador tomou conta do momento em que minha oponente finalmente derrotada caiu para trás.
O som oco do seu corpo resistente e esbelto batendo contra o chão sujo levantando poeira, essa sensação era estranha, eu consegui.
[Eliminou Melize Hozarik.]
[Recebeu 350.000 Ranking Points!]
[Perícia em (Lâminas) aumentou para o nível 10!]
[Perícia em (Vitalis) aumentou para o nível 10!]
Meus sentidos ficaram entorpecidos pela luz ofuscante dos painéis surgindo diante do meu rosto.
O zumbido em meus ouvidos me deu vontade de vomitar enquanto minha visão aparentou escurecer forçando-me a cair de joelhos.
“Deu certo, eu... realmente consegui, eu consegui ser útil, consegui proteger todos.”, meus olhos marejaram em meio a tais pensamentos no que meus ombros subiam e desciam pesadamente por causa da minha respiração.
No fim só se tratava de enfrentar minha própria dor, por mais doloroso que fosse aprendi que talvez isso fosse a coisa certa, eu poderia ser especial pra alguém e fazer jus a isso.
— Pe-Pessoal eu consegui! — Levantei a voz olhando os arredores de forma empolgada apenas pra perceber um caos completo ao meu redor.
Zakio meio longe se levantou com um pouco de dificuldade, sua face incrédula e sua voz mais ainda: — Mo-Moleque... você...
— Capitão Jack!
Outro dos meus companheiros levantou sua entonação, outro amigo, a garota chamada Akira que me ajudou durante aquela luta na provação dos Goblins, entretanto o tom de suas vozes e suas faces não transmitiam nada como empolgação, felicidade ou até mesmo uma surpresa boa.
Todos pareciam angustiados.
“Mas o que? Por que estão todos tão pra baixo? Eu consegui! Nós conseguimos.”, minha única pupila tremeu.
Reparando melhor uma pessoa estava nos braços de Akira, os longos cabelos negros e os trajes da guilda R.O.U.N.D.S já diziam tudo, era Incis e ela aparentemente carecia de consciência.
[A Dungeon foi concluída com sucesso!]
[A reencarnação de Dungeon foi destruída!]
— Espera, o-onde está o Renard? — Minha voz ficou rouca enquanto a dor excruciante corroeu meu corpo fazendo minha visão ficar turva. — Urghn! O-onde ele está? — O desespero crescente em minha voz.
Os arredores da Dungeon e seus pilares obstruídos pela câmara espaçosa começaram a se desmanchar em cinzas e estranhas brasas reluzentes.
— Me respondam! O que está havendo?! Por que a Incis está desmaiada e onde está o capitão Renard?!
Uma mão suave tocou meu ombro enquanto lágrimas de desespero escorreram dos meu único olho que ainda restava.
— Senhor Jack. — A voz entristecida da pessoa que tocou meu ombro fez meu olhar de forma instintiva se fixar nela para vislumbrar seus dois olhos carmesins e seu jaleco branco sujo de sangue. — O s-seu companheiro. Bom, ele... está ali. — A garota de jaleco branco apontou para um canto um pouco difícil de se enxergar com apenas um dos meus olhos, porém havia um corpo caído no chão sujo e totalmente imóvel.
Minha íris se dilatando em uma cor vazia.
— Você tá brincando... a-aquilo é o Renard? — Minhas palavras foram abafadas pelo som profundo da câmara ao nosso redor se desfazendo e voltando a sua antiga forma, a mansão Blazeworth.
Paredes com cores cor de creme, o chão feito de cerâmicas lisas e brilhosas, os lustres no teto somados a grande escadaria atrás de nós que levava ao segundo andar.
Foi uma visão irônica de que apesar das coisas terem voltado aparentemente ao normal ainda sobraram cicatrizes de tudo o que houve nesse lugar e uma dessas cicatrizes era o homem caído no chão a poucos metros de mim.
“Ele... tá vivo né? Ninguém se machucou certo? Eu consegui, eu fiz de tudo, eu protegi todos não foi?!”, um mar de negatividade começou a afogar minha mente.
Nesse instante uma correnteza de dor percorreu meu abdômen fazendo me botar pra fora um líquido avermelhado.
— Urghn... — O sangue que vomitei manchou minha capa rasgada e o chão em que meus joelhos estavam.
A voz de Renard ecoou os confins das minhas memórias.
“Minha irmã mais nova, era a única pessoa da minha família que ainda estava viva. No fim ela já estava no seu leito de morte, sabe? Era uma garotinha ainda, foi melhor pra ela que seu sofrimento terminasse, a síndrome de Tenebris iria consumi-la por completo.”
Ele fez tudo isso desde o início por causa de sua irmã, não, ele não poderia estar morto, não agora que conseguimos sair dessa situação, ele ainda não havia conquistado o mundo ideal para sua irmã mais nova.
Bam!
Um som forte ecoou pela mansão e a porta de entrada foi aberta com um impacto brusco, assim a luz das luas douradas banhou a cerâmica e tingiu o corpo de Renard dando-me finalmente a angustiante e injusta confirmação de que ele estava morto, um orifício profundo no centro de sua testa escorrendo sangue.
Passos! Passos! Passos! Passos!
Meu olho se fechou quando meu corpo caiu em completa exaustão, uma cacofonia perturbadora de vários e vários passos tomaram conta dos arredores enquanto eu permaneci afundando em um vazio de inconsciência.
[Zakio Sperr]
— Mas que diabos?!
— Senhor parece que temos feridos!
— Unidades reconhecidas!
— Chequem toda a mansão agora mesmo, o pelotão principal ficara aqui no salão de entrada.
Vozes agitadas e figuras revestidas por trajes negros com placas de metal brancas tomaram conta do ambiente enquanto meus olhos permaneceram congelados no homem jogado no chão, meu companheiro mais fiel junto de Incis.
Uma poça de puro carmesim escorreu entre as pequenas linhas que dividiam os blocos de cerâmica do piso refinado que descansava a cabeça de Renard.
Um grito descontrolado saiu de mim ao me levantar com todas as minhas forças e correr na direção de Renard. — S-SEUS FILHOS DA PUTA! NÃO TOQUEM NELE!
— Ei!
— Segurem ele!
Os soldados com trajes negros agarraram meus braços e ombros barrando-me por completo quando me debati em pura fúria.
Quem eram esses imbecis afinal?! Renard estava ferido, ele precisava da minha ajuda, da ajuda de todos! Mas os filhos da puta simplesmente pareciam ignorar.
— Ca-Capitão Renard! — A entonação de Akira ressoou entre as vozes em comoção dos soldados tapando minha visão e me empurrando para trás.
— Porra! Ele é um dos nossos, somos da mesma guilda seus imbecis! — Protestei.
De forma repentina a atmosfera na sala espaçosa foi engolida pela presença de um homem que adentrou as portas com um caminhado calmo.
Passo. Passo. Passo.
O cabelo longo e escuro somado ao seu tapa olho de mesma cor me fez congelar por um instante de tal forma que ele levantou sua entonação.
— Então foi isso... foram vítimas de uma trágica reencarnação de Dungeon, justo o pelotão principal de toda a guilda presos neste pesadelo que não parecia ter um fim. — Ele me olhou de longe por cima dos ombros dos soldados, suas mãos relaxadas atrás das costas. — Zakio Sperr, vocês realmente se superaram hoje.
[Incis Katulis]
— Incis, que bom, que bom que você ainda tá bem. — A voz dele era suave e me confortou no momento em que me abraçou.
Por algum motivo o silêncio total e o vazio se transformaram nisso, numa imagem estranha e meio fragmentada de quando ele me salvou.
— Iktno... v-você veio, eles fizeram tantas coisas ruins comigo e me machucaram tanto, eu fiz coisas horríveis também. — Naquela época minha voz estava fraca, tão fraca quanto eu fiquei depois de tudo o que ocorreu, como se uma parte de mim tivesse sido arrancada de forma abrupta.
“O que significa tudo isso? Eu estou morta?”
Minha mente cultivava essa dúvida com mais e mais dessas estranhas memórias retorcidas pelo tempo, sinal de que talvez o meu cérebro ainda tivesse sérios problemas depois daquela lavagem cerebral que sofri no experimento do império.
Luzes começaram a ofuscar as imagens que começaram a ondular como ondas na água e um ruído ensurdecedor penetrou meus tímpanos de forma agressiva.
Tudo ao meu redor se transformou num grande espaço em branco, assustadoramente espaçoso, mas terrivelmente vazio.
— Incis, seja forte e cuide do pai pra mim, eu vou voltar na hora que você precisar.
A voz longínqua de Iktno ressoou pelo vazio branco me deixando completamente sozinha novamente.
Conjunto a isso uma rachadura negra nasceu no meio desse abismo branco e aos poucos o partiu ao meio quebrando-o como um muro de pedra e por fim me derrubando junto com ele de volta para a realidade.
A respiração pesada, o suor descendo pela pele... espera, não é suor, estou com o corpo enxarcado.
Meio zonza e com um gosto de ferrugem na boca olhei os arredores apenas pra ver uma série de pessoas vestidas com armaduras negras da nossa guilda e tudo isso em meio a um jardim obstruído.
“Espera... esse lugar é onde eu e Akira vimos Layaka despertar.”, minha mente acompanhou meus olhos se adaptando a uma luz suave banhando tudo ao nosso redor.
Sentada na grama molhada e com as costas dolorosamente recostadas numa parede ríspida pude ver que estava de noite e as 3 luas reluziam mais do que nunca no céu como se fosse um sinal de que alguma coisa importante estaria acontecendo.
Uma chuva forte caía do céu estrelado fazendo gotas translúcidas e geladas escorrerem por cima das minhas pálpebras pingando dos meus cílios.
Foi então que uma voz familiar me acolheu em meio ao chiado da chuva molhando a grama: — C-Capitã Katulis, você está viva! Que bom, que bom que você está viva.
— Ugh... — Virei meu pescoço de forma dolorida.
Uma garota estava sentada ao meu lado, os seus olhos negros estavam escorrendo muito mais do que gotas de chuva, eram lágrimas.
— Akira, o-o que houve?
— Eu achei que você tinha morrido e o capitão Jack, ele... deu tudo de si. Eu fiz de tudo só que ele... ele... — Akira começou a chorar sem parar ao enterrar seu rosto em meu peito.
A confusão somada a desespero começou a aflorar quando olhei para os pulsos de Akira e vi grandes grilhões de metal prendendo-os, assim como os meus pulsos também estavam revestidos por esses mesmos grilhões frios e pesados.
— Espera! Akira, acalme-se e-está tudo bem. — Menti ainda confusa com a situação.
Um grande número de soldados com trajes escuros estavam a alguns metros de distância de nós, meus olhos estavam levemente arregalados diante desse impasse.
“Droga! O que está havendo e por que estamos com esses grilhões para prisioneiros?!”, minha mente congelou quando um barulho veio da minha direita fazendo-me perceber que estávamos logo ao lado da entrada da mansão Blazeworth.
Passos. Passos. Passos.
Meus olhos se arregalando.
As gotas de água ficaram lentas por um mero segundo quando varri minha atenção para a pessoa saindo de dentro da mansão e caminhando pro jardim, Zakio com seus pulsos também revestidos pelos mesmos grilhões em nossos pulsos estava sendo empurrado por um guarda de preto como se fosse um hediondo criminoso.
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