Alma Imaculada
Capítulo 80: Lumakina
[Incis]
O sangue em minhas veias esquentando como água fervendo, os sentidos ficando afiados, audição, visão e até mesmo respirar era melhor.
O modo Sanguis Virium, minha real face, o lado vampírico do meu coração cheio de virtudes e fraquezas... sim, o sangue era minha fraqueza a sede por algo fora da compreensão humana, sede por sangue.
— Tarde demais! — A voz de Grim retornou em minha direção com o som dos ventos se distorcendo.
Antes que minha língua pudesse saborear o gosto pútrido de ferrugem vindo do sangue eu engoli completamente o dedo decapitado de Zakio pra no fim lançar meu cotovelo contra o fio afiado da Katana.
O impacto agudo que lançou vibrações pelos ossos do meu braço direito.
Grim me olhou nos olhos com uma face de nojo. — Sua piranha! É deplorável que tenha chegado a esse ponto, devorando o próprio companheiro, — Ele deslizou sua espada para baixo fazendo algumas faíscas irem ao ar quando puxei meu braço como resposta. — um monstro como você realmente tem a pele de aço assim ou isso é algum Buff do seu traje de flexível?
A carne fresca desceu minha garganta lentamente em conjunto ao gosto de ferrugem e um ardor estranho, meu estômago embrulhou por um segundo quando cambaleei levemente para frente antes de erguer minha face em direção de Grim.
— Não importa. Nada mais importa, você só tem que destruir a aberração na sua frente ou então... — Respirei fundo ao lamber o resto de sangue nos meus lábios e completar: — será devorado também.
Ventania!
A silhueta de Grim se distorceu em um borrão negro enquanto apenas o rastro de um dos seus olhos verdes foi deixado.
Os ventos ao meu redor foram quebrados e se afunilaram de forma brusca, o espadachim começou a correr ao meu redor quase formando um redemoinho.
“Vamos, use a sua habilidade, o Autosave que usou pra matar um dos meus companheiros e trair todos a 8 anos atrás.”, sussurrava mentalmente já tomada pela selvageria e sede por sangue.
Em questão de segundos uma chuva de cortes aleatórios começou se formar ao meu redor, o som estridente da lâmina longa de Grim perfurando o vazio diversas vezes consecutivas, os borrões cinzentos reluzindo sob a luz da arvore carmesim colossal no centro da sala.
Ele não entoou a ativação da Skill antes, será mesmo que...
Meus olhos se arregalaram.
— Autosave!
A voz frívola e imponente do espadachim bramiu pelos arredores se distorcendo em meio aos golpes enquanto um peso caiu sob meus ombros com um impacto brilhante pelo ar.
Quando pisquei meus olhos ele estava parado novamente, estávamos distantes um do outro e mesmo assim o som de sua espada sendo enterrada dentro da bainha prateada rugiu até o fundo de minha alma.
Zink!
— Agora, Incis Katulis, tudo o que te resta é a morte. Assim como uma besta deve ser enjaulada eu fiz uma gaiola de cortes invisíveis ao seu redor, no momento em que eu puxar essa espada novamente, — Ele descansou a mão sob o punho de sua espada embainhada. — será reduzida a pedacinhos de carne, os mesmos que você devorou no passado pra conseguir suprir a sua existência repugnante.
Meus punhos se selaram em um ódio fumegante.
Fixei meus olhos no homem diante de mim como se ele fosse o ser mais pecaminoso e vil que esse mundo já pudera dar vida.
Foi então que seu corpo começou a tremer levemente, mais especificamente seus ombros. — Kukuku! Kukukuku!
A garganta dele começou a pigarrear segurando uma risada baixa de escárnio.
Exclamei de volta em um tom sério: — Eu não tive escolha se não fazer aquilo, diferente do senhor que traiu a confiança dos que tinham firmeza em suas virtudes falsas.
— Kahahahaha-ahahahaha!
Grim levantou a face para cima rindo sem parar, seus lábios pela primeira vez curvados em algo que demonstrasse sentimentos.
Uma gargalhada compulsiva e descontrolada, fina. Algo ridículo de se ouvir, porém ao mesmo tempo horripilante.
— Você é doente.
— O que há com essas pupilas com cores diferentes? O sangue não não lhe consumiu por completa? Ah! Esqueci que na verdade você consome o sangue! É um parasita repugnante, uma raça inferior que acha ter direito de proteger os mais fracos, os pobres e miseráveis. Tudo o que fez até agora foi trazer regresso para esse mundo! Já chega de brincadeirinha Incis Katulis!
Gritando em insanidade na minha direção Grim jogou sua mão no punho da Katana em sua cintura pra finalmente... puxá-la.
— Load!
— Bom trabalho... Katulis. — Disse um deles, como se Incis tivesse feito tudo aquilo e na verdade ela tinha feito.
Eram olhos perversos por trás daquela máscara negra com uma fina ponta em cima de seu nariz, que fizeram ela perceber quem foi o causador daquele massacre.
Um pesadelo, ela estava afundando em um pesadelo horrível onde fizera uma chacina na sua terra natal, porém de uma hora pra outra um grande impulso de energia percorreu o corpo da pobre garotinha fazendo-a sentir a dor de mais de mil agulhadas sob sua carne de dentro para fora.
— Aaaargh! — Incis gritou com sua voz arranhando a garganta que ardia enquanto seus olhos se abriram com pequenas veias amostra.
A respiração pesada o corpo suado e a pele dormente, sua cabeça doía como se alguém tivesse batido com um instrumento de borracha rígida.
O ambiente estava levemente abafado com algumas luzes brancas se estendendo teto acima.
"Que lugar é esse?”, ponderou ela, mas sua cabeça latejou logo em seguida com uma quantidade massiva de memórias desorganizadas.
Um jovem careca sendo cortado ao meio, o sangue escorrendo entre os sapatos de uma figura misteriosa e engravatada.
“Incis!”, A voz familiar de uma garota com cabelos azulados.
Incis estendeu um dos braços dormentes para frente e lentamente pousou a palma de sua mão na superfície gélida de cerâmicas prateadas do piso.
— Ughn.... uh...
A garotinha só conseguia fazer sons de desconforto com o seu corpo jogado sob o chão frio, seu corpo sendo banhado pela luz branca.
Passos. Passos. Passos.
O cérebro dela pulsou em uma dor aguda quando o som abrupto de pisadas permeou ecoando pelos arredores.
As pobres pupilas douradas de Incis só puderam ver duas botas escuras de cano longo que cessaram os passos depois de caminhar em sua direção calmamente.
— Então você foi uma das únicas.
Uma voz foi abafada pelos tímpanos desnorteados dela que tremia no piso gelado com uma dor ardente no estômago, quanto tempo ela ficara desacordada e a quanto tempo não se alimentara?
A voz misteriosa soou novamente: — Está bem magra também, mas essa foi a primeira parte do teste, foi uma das poucas que sobreviveu só a essa primeira seleção.
Uma criança de 10 anos como ela deveria sempre manter uma boa alimentação ou então bastaria um vacilo para que acabasse em um estado tão crítico como esse.
A entonação era calma e feminina, porém parecia sarcástica e cruel.
Incis tentou olhar para cima, mas gemeu em agonia quando seus olhos arderam tentando alcançar a face da figura diante dela. Todos os músculos do seu corpo se contraíram.
A menina sentiu as paredes de seu estômago sendo consumidas, a carne parecia estar sendo corroída por milhares de vermes enquanto a dor escorria pelas suas veias.
Foi então que a pessoa diante dela agarrou os seus braços e suavemente ergueu seu frágil corpo até que ficassem cara a cara.
As pupilas de Incis encolheram e se dilataram tentando se adaptar a luz banhando todo o piso prateado pra no fim finalmente visualizar o rosto da figura segurando-a.
— É um prazer, pequenina. Eu sou a rainha de Zykron e você agora pertence a mim.
Uma voz sarcástica em um tom cruel, grandes pupilas carmesins somadas a um cabelo negro e curto, sem contar a pele pálida como a neve e aquele sorriso assustadoramente grande.
Incis nunca se esqueceria dessa mulher, a pessoa responsável por toda e qualquer desgraça que os mais fracos passavam em Mythland estava nesse instante presente diante das suas pequenas pupilas douradas.
Os lábios da jovem tremeram tentando dizer alguma coisa só que lágrimas começaram a escorrer dos seus olhos, escorrendo pelas bochechas rosadas e sujas.
— Não se preocupe, pequenina. Vou cuidar de você ou melhor dizendo, de vocês pequeninos.
Clack! Clack! Clack Clack!
O som de estalos bramiu pelo local quando a luz iluminando o piso prateado se tornou muito mais agressiva aos olhos, mais e mais luzes se ascendendo com os estalos e revelando os cantos mais escuros do lugar. A partir daquele momento essa sala espaçosa abrigara não apenas Incis, mas um amontoado de crianças do mesmo tamanho e provavelmente mesma idade.
O sorriso perturbador nos lábios avermelhados da mulher segurando Incis, o nariz arrebitado e pálido dela como se estivesse gritando por atenção.
Uma voz cacofônica repleta de chiados tomou conta da espaçosa sala branca, parecia vir de algum autofalante e dizia: — A partir de agora vocês crianças farão parte do projeto Vermiculus Lunae, o processo de seleção foi inteiramente formulado pela nossa própria rainha de Zykron, Lumakina. Ela está presente aqui hoje pra avaliar os que sobreviveram.