Alma Imaculada
Capítulo 78: Engrenagens Do Tempo
— Suspeito detectado nas proximidades do bloco B!
— Os sinais estão aumentando, ele tem uma energia Vitalis abundante, capturem-no não importa o que aconteça!
Vozes chiavam aos ouvidos de Kaylleon que era nada mais nada menos que apenas um vulto negro pulando de candelabro em candelabro dentro do gigantesco salão dourado.
Vupt! Vupt! Vupt!
Um pulo preciso para a direita e logo em seguida um giro ao erguer um dos braços no ar.
— Eles ainda estão atrás do senhor, capitão! É a nossa última chance! — Soou a voz jovial de Zakio aos tímpanos do capitão que apenas balançou no ar ao atirar um pequeno gancho de sua pistola em um letreiro gigante.
Os ventos oscilaram ao redor de Kaylleon fazendo sua longa capa negra ondular aos ares quando o mesmo soltou seu gancho e se balançou para aterrissar no segundo andar do edifício reluzente.
Uma marca de suas botas ficara no tapete avermelhado quando derrapou pousando perfeitamente.
As luzes douradas que vinham dos lustres que usara para se locomover, a mascara que ocultava seu nariz e boca úmida pela respiração pesada.
— Ali está ele!
— Capturem-no!
4 guardas vieram dos dois corredores adiante, tanto direita quanto esquerda, eles levantaram seus fuzis alimentados por energia Vyer.
— C-Capitão Kaylleon! Eles estão pedindo cada vez mais reforços! Não vamos conseguir segurar por muito tempo.
Diante dos guardas Kaylleon apenas abriu um longo sorriso confiante que ficou marcando em sua máscara e passou a mão entre seus fios de cabelo brancos.
— Estão se esquecendo que eu sou o capitão aqui!
Bang! Bang! Bang!
Uma chuva de disparos reluziu rasgando o vazio em direção de Kaylleon.
A luz fumegante das balas de energia reluziu pelas paredes douradas e as gigantescas janelas de vidro.
Chutando o chão abaixo de si Kaylleon voou como um meteoro as alturas e dando um mortal caiu com seu punho afundando sob o piso frágil de vidro.
— Uooooh!
— Aaaaargh!
Gritos de dor e desespero ressoando das gargantas dos guardas no que o vidro abaixo deles rachou fragmentando-se em estilhaços.
O som dos pedaços de vidro bramindo pelos arredores.
— Capitão Kaylleon, Osmoldt falando, estamos em nossas posições!
— Afirmativo. — Kaylleon pousou no andar abaixo ao rolar suavemente no chão, uma sombra de guardas se projetou atrás dele.
Passos! Passos! Passos!
O vulto negro se esquivou de cada uma das balas correndo e pulando em uma velocidade inimaginável enquanto apenas dois rastros dourados eram deixados no ar, seus dois olhos.
Faíscas e sons de destruição se alastravam pelo grande corredor com paredes e um piso dourado.
Os milhares de quadros e relíquias antigas em exibição eram destruídos pelos disparos.
Kaylleon cessou seus passos ao bater os olhos em uma longa parede de vidro que dava uma visão ampla de todos os 3 distritos de Zykron.
Uma cidade repleta de arranha-céus e luzes, a metrópole que todos sonhavam em viver, a tal utopia de Mythland.
Era o fim da linha.
Os soldados com armaduras negras e armas letais corriam até o fim do corredor onde Kaylleon estava.
“Vamos começar essa guerra, império. Vou roubar tudo o que tiraram de mim.”, Sorriu Kaylleon com essa frase permeando sua mente.
A quantidade massiva de soldados preencheu o cômodo e o som das armas engatilhadas sendo miradas sob o fugitivo.
— Querem me pegar? — Kaylleon levantou a voz virando-se para os soldados. — Então devolvam tudo o que tiraram de mim, vermes de merda.
Crack!
O som quebradiço, a janela extensa sendo despedaçada.
Jogando-se para trás como se estivesse se suicidando Kaylleon sentiu os ventos assobiaram pelos seus ouvidos e tudo dentro de seu corpo revirou com a força gravitacional o empurrado das alturas.
Um plano arriscado, muito arriscado, porém isso tudo valia o esforço. Explodir o edifício principal da sede governamental e o museu de Zykron era uma ótima declaração de guerra, apenas o início do seu contra-ataque contra a injustiça que o império lhe fizera.
Um brilho esverdeado eclodiu em uma das milhares de janelas abaixo no que uma longa espada girou nos ares em direção de Kaylleon.
— É agora. — Kaylleon sorriu para a lâmina.
Foi então que a espada eclodiu na mesma luz esverdeada de antes e foi dividida em milhares de partículas reluzentes se deslocando pelo ar como uma estrela cadente.
Zuuush!
Braços irradiantes agarraram Kaylleon no que as brilhosas partículas se moldaram no corpo de Zakio.
Distante dali o céu escuro da noite estrelada consolava as 3 figuras no topo de outro prédio.
— Chegou a hora, mostra do que você é capaz! — Osmoldt segurou o ombro de Incis que suava com um rifle quase maior que ela em suas mãos.
— Sei que é algo absurdo pra uma criança como você fazer, senhorita Incis, mas o seu pai é meio pirado e nós somos cumplices dele.
A voz que consolava a garota vinha da retaguarda e era de Ika que conjurava uma barreira de Aether ao seu redor enquanto mantinha suas energias concentradas em uma única frase no painel brilhante a sua frente.
[Conexão de voz ativada.]
[Conexão estável.]
As vozes de todos chegavam aos ouvidos de Kaylleon por essa simples habilidade, que com certeza fazia toda a diferença em tal operação.
— N-Não posso errar... não posso errar.
Incis sussurrava para si mesma ao fechar seus olhos e respirar fundo.
As roupas escuras com placas de metal que ela trajava a fazia suar até mesmo nas situações mais calmas.
Incis focou um dos seus olhos dourados na luneta de sua arma.
“Ela realmente está levando a sério, é maldade pensar que não faz diferença se ela acertar ou não já que o detonador tá comigo, Kaylleon é um pai muito radical quando se trata de educar os filhos.”, Osmoldt franziu as sobrancelhas vendo a garotinha dar um longo suspiro com a arma estremecendo sob seus dedos delicados.
Bang!
Um estrondo somado a um Flash de luz. Incis foi jogada para trás pela força do disparo que sua arma soltou.
A primeira a gritar foi Ika correndo na direção da garotinha de cabelos negros em pura preocupação.
— Incis!
Após alguns segundos um estrondo eclodiu no topo do prédio a alguns quarteirões dali, uma nuvem negra em conjunto de fogo e brasas surgiu do edifício mais alto do distrito.
— E-Ela acertou o tiro?! — Os olhos carmesins de Osmoldt se arregalaram com o reflexo da explosão reluzindo longinquamente.
[Incis]
Os músculos doloridos, o coração batendo de forma fraca e a consciência por um fio.
Com passos cansados e esquivas desleixadas pude desviar de mais alguns golpes da Katana de Grim, mas não é como se eu ainda não estivesse comprometida.
— Ugh.... — Derrapei pra trás segurando meu braço que havia sofrido um grande corte na região do tríceps.
O ar ficando denso enquanto os passos de Grim foram se tornando a única coisa que meus tímpanos podiam captar.
— Não me force a usar o Autosave quando nem respirar consegues. — Disse ele balançando sua Katana no ar para limpar o sangue na lâmina. — Mesmo que ainda consiga se lembrar daquela época onde o usei na primeira operação ele está refinado ao seu limite agora, não vou usá-lo em uma raça inferior como você.
Meus olhos viajaram lentamente pelo solo sujo e foram até Zakio que desmaiado no chão com certeza seria a próxima vítima de Grim, só que... algo em minha mente se tornou claro, como uma pequena faísca que dá vida a um incêndio.
“Uma raça inferior.”, Comprimi os lábios em meio aos pensamentos.
Esse seria o golpe final dele, o cabelo longo e esses olhos esverdeados, ele nunca cederia sua habilidade em alguém tão incapaz como eu nesse momento.
No fim Grim era o traidor era ele naquele dia a 8 anos atrás, mesmo depois disso conseguiu permanecer na guilda sem levantar suspeitas enquanto minhas memórias sobre ele estavam sendo controladas por causa do DNA vampírico.
Uma verdadeira cobra.
Dando um passo dolorido adiante eu ergui minha voz dizendo: — Essa guilda nunca vai ser a mesma sem o meu pai e sem a mim, não vai ganhar nada me matando. No fim ninguém sabe se ele realmente está vivo sem contar que eu nem sou mais humana como antes.
— De fato, porém não vê que faço tudo isso pelo bem da guilda e pelo bem desse mundo? Vocês são terroristas que estão destruindo a harmonia que Mythland deveria ter, foi por causa daquela maldita operação que tive de fazer o que fiz e faço agora. Seu pai era tolo e eu vou tomar o lugar dele pra criar uma nova era em conjunto de Zykron.
Dei um passo sorrateiro para mais perto de Zakio enquanto escutava o discurso efêmero de Grim que estreitou seus olhos diante de mim.
A longa lâmina de sua espada refletiu o brilho carmesim da gigantesca arvore atrás de mim.
— Então no fim era parte do seu plano. — Lambi o sangue em meus lábios. — se não fosse por mim, você deu sorte capitão traidor.
Ventania!
Os ventos foram rasgados na minha direção em um piscar de olhos.
O rastro acinzentado da lâmina mortal pronta para cortar minha garganta.
“Funcionou!”, rangi os dentes jogando todo o meu peso para baixo agachando-me bruscamente.
Lançando minha mão no pulso de Zakio eu o puxei na direção do corte que em segundos partiu o vazio deixando apenas um fio brilhante.
O sangue fresco espirrou sob minha face no que meus olhos cansados fixaram-se no dedo mindinho de Zakio que foi separado de sua mão.
— Não importa, a Incis que você quer matar já morreu a muito tempo. Nada mais importa pra mim!
Ignorando tudo o que Grim disse, tudo o que eu pensava, tudo o que eu havia passado!
“Agora eu não passo de um monstro e é por isso que vou proteger o que me restou! É isso que significa ser membro dessa merda de guilda.”, rugi de dentro a minha mente enquanto uma sede fumegante de sangue emergiu em meu coração.
Assim eu abocanhei o dedo decapitado do meu companheiro inconsciente, cravando meus dentes afiados na pele ainda quente.
O passado foi apenas uma engrenagem cruel pra me transformar nisso.
[A sede de sangue eminente domina seu coração acorrentado!]
[Uma ativação forçada do modo (Viris Sanguinum) foi feita com sucesso!]
[Modo (Viris Sanguinum) foi 50% ativado]