Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Alma Imaculada

Capítulo 47: A Caçada

 

 

Misa Hordrik, a encarregada de diversas funções na mansão Nidrik, em seus primeiros meses de trabalho ela apresentou grande maestria na sua função que inicialmente era apenas cuidar dos membros da guilda que eram gravemente feridos após as missões, porém a mesma conquistou a confiança de Nidrik com sua ótima competência e com isso ficou encarregada de grande parte da papelada como contas, negócios e projetos de pesquisa.

— Em outras palavras, esse lugar sempre esteve em minhas mãos. — Foi o que murmurou Misa Hordrik com um olhar frio.

O sangue carmesim escorria sob o traje de couro escuro dela, cadáveres decapitados estavam abaixo das solas de suas botas longas e com Zíperes dourados.

“Mesmo que eu estivesse com todos sob a palma da minha mão algo assim foi capaz de acontecer, que lástima.”, ela mordeu o lábio em uma efêmera frustração.

As paredes da Dungeon eram rachadas e cinzentas. Na sala onde ela estava uma pequena horda de lobos e Goblins havia surgido, porém a mulher mal teve dificuldades em fatiá-los com o poder dos seus fios de metal, um Vitalis mortal.

Passos. Passos.

Os cabelos dela balançaram levemente no que a mesma continuou andando em direção a uma escadaria.

“Os fios do meu Vitalis perderam o controle de todos os cadáveres das pessoas que matei na mansão também.”, Misa Hordrik viajou as pupilas azuladas pelos degraus acima, perdida em pensamentos.

— Uma reencarnação de Dungeon. Fenômenos assim são raros, mas será que... — O sussurro pensativo dela parou.

Ela sabia muito bem que, uma vez que Incis Katulis, a atual líder da primeira divisão da guilda R.O.U.N.D.S estivesse presente na mansão, problemas viriam.

Porém isso era totalmente fora dos cálculos dela, toda a mansão ser engolida por uma reencarnação de Dungeon era o imprevisto.

As botas negras de cano longo tocaram sob cada um dos degraus calmamente enquanto a face de Misa Hordrik, suja com sangue permanecia praticamente congelada na mesma expressão.

Foi então que os degraus acabaram e um novo cenário se revelou.

Hm. Que interessante. — Pensou ela em voz alta ao vislumbrar o chão xadrez juntamente de grandes pilares luminosos.

Linhas brilhantes viajavam sob as superfícies desgastadas de concreto dos pilares, na mente de Misa Hordrik uma lembrança veio a tona.

“Essas linhas reluzentes... É como aquela barreira, foi uma ótima estratégia em Leycrid, se não fosse a explosão acho que a guilda R.O.U.N.D.S já teria sido apagada do mapa.”, analisou ela.

— Enfim, passado é passado.

Deixando as recordações de lado a robusta assassina continuou a caminhada.

Em meio a uma Dungeon aparentemente tão grande, ela sabia que a morte era um destino quase certo, talvez o fato de Incis Katulis ter vindo a mansão não fosse tão ruim visto que a mesma ficaria presa nessa reencarnação de Dungeon.

Corta!

Um fio prateado perfurou o ar atrás de Misa Hordrik.

Hmph. Parece que ainda tenho muito a aturar nesse lugar. — Ela olhou por cima do ombro, o corpo perfurado do ser que ela acabara de matar. — Skill On: Sensus Dei.

Um brilho azul marinho envolveu o seu corpo esbelto quando suas pupilas também reluziram diante da criatura caída no piso.

[Analisando Alvo...]

[Análise completa!]

[Alvo único: Daemoniun Corpus]

Misa Hordrik levantou as sobrancelhas em interesse. Seus olhos de cor ametista lentamente percorreram as informações sobre as características visuais da criatura que ela eliminou.

O corpo cinzento e desgastado tinha uma forma humana, porém seus olhos eram fundos e as pupilas cinzentas repletas de rachaduras, sem contar nas olheiras gigantes.

“Que falta de beleza em um só corpo.”, julgou ela ao se apoiar em um dos joelhos perto do cadáver.

— Apenas um ataque foi o suficiente pra matá-lo, mas eu quase não percebi a presença desse monstro atrás de mim. — Murmurou Misa Hodrik ao levar a ponta do dedo em direção a bochecha funda do monstro.

Não teria como uma coisa de aparência tão insignificante ter chegado perto de uma assassina profissional que dominava não só o seu Vitalis, mas também os seus 5 sentidos e várias artes marciais.

Passo.

Ela se levantou com os olhos fixados sob o cadáver flácido.

“Não recebi Ranking points.”, ponderou por um instante. “Que tipo de monstro é esse?”

[Monstro do tipo Aether-Bio, é extremamente vulnerável a ataques cortantes, físicos e perfurantes, mas pode apresentar misteriosas reações quando expostos a energia Aether ou Vitalis. Não pode ser bom deixá-lo tocar sob qualquer parte do seu corpo.]

Ploft! Puft! Paft! Vulpt!

Foi então que corpos do mesmo tipo começaram a cair do teto no que um som quebradiço veio de cima.

Os cadáveres apodrecidos batiam contra o chão se retorcendo de forma perturbadora, enquanto outros desciam pelos pilares como animais da floresta.

— Seja lá o que for isso, não é hora de perder tempo. — exclamou ela para si mesma ao levantar suas mãos em postura de batalha.

A silhueta da assassina se distorceu entre os pilares, uma sombra mortal!

Uma rasteira, um pulo para a direita e a ponta dos dedos de Misa Hordrik viajou o vazio quase como uma lança.

Guooooorgh!

A garganta de um dos monstros foi retorcida sendo rasgada com um impacto.

Mas espera! Não foi só um dos monstros que foi eliminado nesse instante.

Zush!

Os olhos da assassina deixaram um rastro brilhante pelo meio do percurso que traçou ao balançar seu braço direito como uma lâmina.

Um, dois, três.

Três cadáveres pútridos foram perfurados, e por fim eclodiram com a força do impacto das pontas desses dedos delicados.

Misa Hordrik pulou para trás suavemente. Antes de se lançar como uma bala no resto dos monstros, ela começou a dar leves pulinhos no mesmo lugar.

Passo! Passo! Passo!

O cabelo liso e grande dela dançou no que suas pernas flexíveis se dobraram nos curtos pulinhos.

[Agilidade focada com sucesso!]

[Skill passiva foi ativada: Agi Agro]

Quando os painéis piscaram na frente da assassina, a mesma já havia disparado contra os seus oponentes.

[+25 de agilidade passiva.]

O cabelo escuro a balançar com a corrida voraz.

Os braços dela partiram o ar em um formato de X, para no fim mais monstros serem eclodidos por uma força bizarra de impactos.

Um golpe atrás do outro e ela nem mesmo derramou uma gota de suor, entretanto os cadáveres se retorceram com os órgãos cecos a amostra.

“Eles resistiram aos golpes de Lunge-Hei?!”, os olhos dela se arregalaram quando das partes podres dos cadáveres destruídos, novas formas surgiram.

— Se multiplicando quando nem mesmo conseguem me atacar? Que perda de tempo. — Exclamou a assassina de olhos azuis ao dar um giro no ar.

Um dos monstros passou reto ao se jogar com garradas sobre Misa Hordrik.

O pulo ágil dela se igualava ao de um lobo feroz.

Por um miléssimo de segundo, ainda no ar o corpo dela girou de cabeça para baixo, nesse impasse Misa Hordrik empurrou a palma de sua mão contra o vazio na sua frente.

Brooom!

Vibrações abruptas percorreram não só pelos músculos do braço que ela usou, mas pelo trajeto que a mão dela percorreu.

O vazio a se estremecer e os monstros sendo jogados para trás com um impacto avassalador que estourou todos em pedaços nojentos de carne podre.

Um projétil sonoro que quebrou cada uma das moléculas de ar a sua frente.

Essa era uma das várias técnicas mortais da arte marcial que Misa Hordrik mais dominava, Lunge-Hei. Sem usar nem um pouco do seu Vitalis tudo havia se acalmado.

“Tudo limpo, monstros que negam energia Vitalis ou Aether nunca serão um obstáculo. Acho que vai demorar um tempo até eles voltarem a se multiplicar de novo.”, concluiu a assassina de olhos azuis ao aterrissar no chão novamente.

Quem diria que no fim, seu passado destorcido por falta de amor e compreensão, nesse momento teria levado ela a tal patamar. O medo era algo que foi esquecido por essa mulher, ela teve dia após dia o gosto do sofrimento e desespero.

Sua mãe a imperadora Nazaya Hozarik, uma mulher que ruiu o destino de toda a sua nação com o único desejo de ganhar o poder que Zykron oferecia.

Quem diria que a própria mãe iria trair não só a sua família, mas também seu país inteiro.

Passos. Passos.

— No fim nada sobrou pra mim, mas pelo menos... Eu me tornei forte o suficiente, mãe.

Misa Hordrik se lembrara dos olhos púrpuros e cabelos longos da sua figura materna no dia que foi mandada para Zykron a força.

“Assim como seu pai, seu irmão e todos nesse país, ninguém entende o real sentido da ascensão completa, portanto eu vou forçar todos a evoluírem suas mentes e corpos. Se perecerem diante disso então sua alma e corpo nunca poderão coexistir em um mundo onde a ascensão existirá, Melize Hozarik, você é a minha última esperança.”

Essas palavras e aquele sorriso que escondia a ambição corrompida, a Misa Hordrik de agora, ou melhor, a Melize Hozarik de agora era o resultado de toda essa loucura.

Naquela época Melize Hozarik nunca compreenderia isso já que era apenas uma garotinha normal.

“Eu deveria ter tido uma vida normal, agora é tarde pra ficar presa no passado.”, era o que a assassina queria dizer a si mesma em voz alta, mas isso ficou apenas dentro de sua mente.

Os lábios selados, a face sempre calma e postura forte sem nenhum tipo de abertura ou linguagem corporal de insegurança.

Seu coração de gelo estava congelando quaisquer sentimentos que o passado pudesse espinhar de volta em sua mente.

 

[Jack Hartseer]

 

— Melize Hozarik, ela é fria como uma gaiola de gelo e assim aprisiona seus sentimentos junto de qualquer um que se opõe a ela, a sexta assassina da Noct, uma organização de assassinos criada secretamente por Zykron. — Neth terminou sua explicação com uma face tensa.

— A-Assassina. — Meus punhos se fecharam tremendo.

— Então aquela tal de Misa Hordrik era uma espiã de Zykron, puta merda. — Zakio olhou em direção as cabanas dos Goblins dormindo. — Não esperava que o buraco fosse tão em baixo assim.

O tom de voz dele era também de tensão. De uma hora pra outra o clima ficou ainda mais pesado, principalmente pra mim.

“Misa Hordrik era um nome falso, e-ela é Melize, uma assassina, eu estive sob os cuidados de uma assassina!”, minha mente se transtornou.

A respiração pesando, o corpo suando e o desconforto me dominando.

“Eu poderia ter morrido, a qualquer momento, cada instante... Ela planejava isso!”, tentando controlar os meus pensamentos eu olhei para minhas mãos tremendo. “Ela, Melize matou pessoas, provavelmente várias. Talvez eu poderia ser mais uma de suas vítimas.”

Tum! Tum! Tum!

Os batimentos acelerando.

No fim eu sai do controle de novo, estava surtando, tudo ao meu redor parecia pulsar e se distorcer com riscos e borrões escuros.

— Ei, Jack. — Uma voz me soltou da perturbação. — Está tudo bem? — Renard me olhou desconfiado.

— E-eu, eu estou bem.

Quando parei pra perceber todos estavam olhando pra mim com faces de estranhamento. Eu sou tão escandaloso assim?

— Acho melhor arranjarmos um local seguro pra nos abrigarmos.

A voz forte, mas ao mesmo tempo hesitante de Zakio foi a que sugeriu isso. Provavelmente ele percebeu que eu estava prestes a explodir por um breve segundo.

“Porra, qual é o meu problema?”, me praguejei internamente.

— Pega leve, não se esqueça que eu e Zakio somos membros da guilda, somos duros na queda garoto.

Renard levou sua mão ao meu ombro com esse comentário somado a uma face amigável, suas pupilas prateadas me deixaram desconfortável.

Não era isso, esse não era o problema aqui, eu estive dias vivendo ao lado de uma psicopata doente!

Isso era macabro pra caralho por si só, mas tinha outra coisa que me deixava ainda mais de estômago embrulhado.

Passo. Passo.

Zakio ergueu o corpo de Neth pelo ombro, sua face séria fixada em Renard. — Se Melize Hozarik é uma assassina de Zykron provavelmente deve ser poderosa, uma Dungeon como essa não seria capaz de derrubá-la.

— O-O que quer dizer com isso, capitão?

Os olhos carmesins do nosso capitão ruivo reluziram.

— Significa que ela ainda está viva por aí e deve estar procurando um jeito de saber se estamos vivos, para nos eliminar de vez e cumprir sua missão.

Um calafrio correu pela minha espinha.

A real ameaça não era a Dungeon nem os monstros que residiam nela, mas sim outra. A caçada havia começado.



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