Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Alma Imaculada

Capítulo 46: Chamas Da Verdade

 

A passagem se abriu no que a minha adaga despencou no chão após ativar o mecanismo.

O som do concreto seco a se arrastar sob os tijolos de pedra.

— A estátua está se abrindo ao meio! — Renard gritou indo em direção a estátua da deusa Afradia.

Zakio se desencostou do pilar e bateu em meu ombro. — Ótimo trabalho.

Meus olhos desconfiados se guiaram para a abertura que partiu a deusa Afradia ao meio em uma linha vertical, como uma porta dupla de algum filme Si-Fi se abrindo.

“Consegui...”, um suspiro fugiu de mim antes da voz de Zakio ressoar em minha direção.

— Não se esqueça disso, não vai querer lutar de mãos nuas moleque. — Ele chutou a adaga que bruscamente deslizou pelo chão até bater em meus sapatos.

— S-Sim.

Sem muitas delongas eu apanhei a Moon Blade enquanto Renard e Zakio adentraram na passagem secreta que foi revelada pela estátua.

Dando um passo afrente e guardando a minha lâmina no inventário eu senti um suor de nervosismo descer pela minha pele. O que poderia nos aguardar nessa câmara secreta?

Passos. Passos. Passos.

O som dos meus sapatos permeou pelos arredores e rapidamente foi isolado quando passei pela passagem secreta, dentro dessa nova sala a primeira coisa que vi foi sangue, sangue seco e um chão sujo.

Renard ao se agachar tocou o dedo sob as manchas carmesins.

— Não parece ser recente, esse sangue já tá seco, capitão.

— Entendo, de qualquer modo fiquem atentos. Vamos continuar avançando.

Minha atenção foi totalmente tirada da ordem de Zakio quando um painel brilhante se conjurou diante de mim.

[O perímetro atual é de perigo Tier 1]

Meus olhos se fixaram no fim da mensagem.

Tier 1... Isso seria muito perigoso ou de boa?”, minhas sobrancelhas levantaram com essa dúvida em mente.

Tier 1... Mesmo que isso seja o perigo mínimo devemos continuar cautelosos, temos o moleque no grupo afinal. — disse o capitão de cabelo espetado.

“Entendo, então acho que vou deixar minha adaga no inventário por enquanto.”, concluí internamente.

Nós continuamos andando em linha reta pela sala que até agora não tinha nada demais, apenas um rastro de sangue seco no chão e poeira, estávamos justamente seguindo esse rastro.

O som do vazio abafado era tenso e eu podia escutar meus batimentos a cada passo dado.

Zakio estava na minha frente enquanto Renard se encontrava uns 3 metros mais adiante, se um ataque surpresa fosse feito ele seria com certeza em mim... Nada bom.

“Eu não quero, não quero morrer.”, sussurrei mentalmente no que minha respiração ficou pesada.

Meu coração a acelerar, o sangue a bombear frio por cada veia e o suor escorrendo.

Definitivamente tinha algo de errado nessa sala.

Passos. Passos. Passos. Passos.

— Mas que merda, não tem nada aqui mesmo? Tá escuro.

— Continue avançando Renard, moleque, passe na minha frente, eu fico com a retaguarda.

Sush!

Foi então que ruído irrompeu pelos arredores e simplesmente fez um arrepio subir pela minha espinha.

Todos nós congelamos e Zakio já estava com seu espadão na mão quando olhamos na direção do som e avistamos... Uma chama.

— L-Luz!

— Não... Não é qualquer luz, é uma tocha. — Zakio levantou sua lâmina gigante em postura de defesa. — E sabe bem o que isso significa.

Meus olho se arregalaram.

Sush! Sush! Sush! Sush!

Um amontoado de chamas foram nascendo uma após a outra, tochas que rodeavam as paredes da câmara, assim revelando diversas tendas desgastadas ao nosso redor.

O local atual se tornou mais nítidos de uma hora pra outra. Ossadas de criaturas desconhecidas, amontoados de membros podres jogados pelos cantos e teias de aranha, era tudo o que preenchia a câmara repleta de pequeninas cabanas.

— Um acampamento de Goblins. — Sussurrou Zakio tomado por tensão.

— G-Goblins. — Consegui impedir meu grito levando a mão para a boca em meio ao meu cochicho.

Essas criaturinhas eram bem conhecidas e comuns em jogos, filmes ou animes com temática medieval e eu sabia bem do que eles eram capazes, entretanto o que me assustou não foi o fato de serem Goblins, mas sim... terem tantos reunidos em um só lugar.

Eu não pude contar, mas apenas viajando o olhar ao nosso redor lentamente, já dava pra ver que eram mais de 50 tendas e em cada uma com certeza tinha mais de um homenzinho verde escondido.

“Merda, merda, merda!”, rangi os dentes com o corpo tremendo.

— C-Capitão, tem alguém ali na frente.

Quem falou isso foi o lanceiro, Renard, ele tentou ao máximo falar em um tom baixo enquanto seu dedo apontava para uma sombra destorcida no chão.

O fogo de uma das tochas fazia a sombra oscilar de forma estranha, mas tinha algo importante que eu rapidamente captei na cena.

— O rastro de sangue está indo até a sombra.

Os dois me olharam desconfiados, mas apenas acenaram um pro outro em afirmação.

Passos. Passos.

Zakio e Renard avançaram com passos leves em direção a silhueta negra balançando, o rastro de sangue abaixo dos nossos sapatos era sempre visível.

Gh... Uhgh... — A figura misteriosa soltou grunhidos quando diminuímos a distância, por fim chegando perto o suficiente para identificarmos o que era.

— Identifique-se. — Zakio se abaixou perto do homem de cabelo azul marinho que grunhia coberto de sangue.

— N-Neth... Sou Neth Hadokina.

Observando melhor o pobre coitado, ele estava trajando um jaleco branco, apesar de estar ensopado de sangue ainda era um belo traje.

“Um pesquisador.”, ponderei ao me aproximar melhor.

H-Hm? — O homem fixou um olhar inquieto em mim. — Ei, você não... Ngh... Não é aquele garoto que estava no laboratório com a senhorita Hordrik?

Dei um passo para trás. — E-Eu... Bom, sim.

O sangue escorrendo pela boca dele não deixou meus olhos se ficarem sob sua face pálida.

— Você esteve um bom tempo sob os cuidados daquela mulher, deve ter sido um grande choque. — Renard levou a mão ao meu ombro.

“Sim, eu realmente fiquei chocado, mas a senhorita Hordrik sempre foi estranha... No fim acho que somos parecidos nesse quesito.”

A voz rouca do pesquisador cortou meus pensamentos.

— Eu só estava fazendo algumas pesquisas q-quando em um piscar de olhos eu estava aqui, preso nessa sala com milhares de Goblins. — ele respirou fundo antes de tossir um pouco. — Por favor, m-me ajudem, eu não quero morrer.

— Não se preocupe, Neth, somos da guilda R.o.u.n.d.s. — Zakio o encorajou.

Neth fez uma face de alívio, porém tão serena que me deu arrepios, talvez ele estivesse perto demais da morte pra conseguir sequer fazer uma expressão facial.

Renard ajudou Zakio a recostar o pesquisador sob um amontoado de pedras com musgo próximos de onde o encontramos, eu apenas continuei junto deles tentando não entrar em pânico.

— Pronto, isso deve resolver. Os ferimentos não foram fatais, mas as lacerações nos nervos dos pés e braços vão precisar de Skills de cura pra uma cicatrização.

O lanceiro de olhos prateados entregou para Zakio o pequeno recipiente de vidro que deu para Neth tomar.

— Merda, estamos gastando poções medicinais demais aqui. — Ouvi Zakio murmurar ao se sentar atrás das pedras com musgo.

A grande lâmina prateada do espadachim ruivo sempre estava ao seu lado, e dessa vez não foi diferente quando o mesmo encostou-a contra os entulhos de pedra para fazer algumas perguntas pro pesquisador.

Eu só continuei observando as chamas dançantes iluminando as paredes e o chão da câmara secreta.

Tendas sujas, restos de carniça e o completo silêncio.

“Eu lembro de ter visto em algum lugar que Goblins tem uma ótima audição, apesar de serem praticamente dementes.”, analisei ao morder o lábio em tensão.

Qualquer deslize e centenas, não, talvez dezenas de Goblins se juntariam para nos massacrar da pior forma possível.

Me perguntei até o que iriam fazer com esse pesquisador, já que todos os seus nervos tanto dos braços, pernas e dobras dos joelhos estavam danificados.

— Sim, eu auxiliei a senhorita Katulis na investigação sobre o paradeiro do mestre da guilda. Foi complicado, não tivemos tanto tempo, mas nessa noite reuni informações realmente validas.

A voz fina de Neth era engraçada enquanto o mesmo tentava cochichar com medo dos Goblins.

Os cabelos azulados desgrenhados e suas pupilas da mesma cor se destacavam entre a luz oscilante e fraca das tochas.

— Então tem pelo menos alguma pista sobre onde ele pode estar agora? — Renard indagou para no fim receber um aceno de Neth.

— Sim, aparentemente o desparecimento de Kaylleon Katulis, o mestre da guilda... — Pausou ele levando o punho aos lábios para conter uma tosse. — e-está atrelado inteiramente a Zykron, o governo mundial.

“Zykron, não era aquele reino que Kaylleon disse pra mim?”, minha atenção foi roubada.

— Também confirmei que M-Misa Hordrik é uma assassina profissional que foi mandada aqui por ordens diretas de Zykron. — Continuou Neth.



Comentários