Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 54: Gentileza Gera Gentileza

Tudo bem, nós dois nos demos muito mal agora. Eu e Solares somos enviados para o local de saneamento, onde iremos passar boas horas limpando toda a sujeira da instalação. Quem nos deu a sentença foi o próprio Vega, dizendo que uma briga não seria tolerada. 

Fiquei preocupado de início com o cargo da Solares, porém me lembrei que mesmo sendo a chefe, ainda é uma recruta e está passando pelas mesmas disciplinas que os outros. A única diferença é que ela tem uma sala para ela, que pouco a vejo usar. 

Enquanto eu me apronto para começar meus afazeres dentro do local, Solares me acompanha. Ela não tem muita ideia de por onde começar então dou para ela algumas instruções. Em silêncio e parecendo meio aborrecida ela obedece sem questionar. 

Passamos um bom tempo assim. Ela faz algo, depois volta até mim quando termina e pede mais instruções. Esperava que ela conhecesse tudo isso daqui, porém não é o caso. Ela nunca veio para cá antes. Não debocho dela nem por um segundo e continuo dizendo com paciência o que ela tem de fazer. 

Sendo bem sincero, estou surpreso com a maneira como ela faz o trabalho aqui. Vai rápido até o local que precisa, ajeita tudo o que tem que ajeitar, limpa o que tem de limpar e sem reclamar volta pedindo mais instruções. Ela chega até a fazer um trabalho maior, fazendo mais do que foi pedido a ela. 

Solares é rápida e muito boa em tudo que faz. Já eu tenho a minha lerdeza para fazer as coisas. Fico imaginando o que ela deve estar pensando agora.

Em determinado momento ela se aproxima de mim e vê que não estou fazendo um serviço bem feito em comparação ao dela, no que se refere a consertar um cano quebrado que está espalhando desejos para todos os lados. Fico esperando ela reclamar, porém ela me surpreende dizendo:

— Precisa de ajuda? 

Aquilo realmente é incomum. 

— Não, não precisa. Eu dou conta. Mas obrigado por perguntar. 

Ela se afasta, ainda parecendo um pouco irritada. Só um pouquinho. Mas será que está mesmo? Ela acabou de me perguntar algo na educação, primeira vez que isso ocorre entre nós dois. O que será que ela está pensando de verdade?

Chega um momento que não aguento mais, a curiosidade em minha cabeça é mais forte e decido tentar puxar assunto. 

— Ei, Sol… — Olho em seu rosto para ver se ela se aborrece por chamá-la assim. Porém ela continua com a mesma irritação, nem mais e nem menos. — Bom, eu queria me desculpar pela luta…

— Se desculpar? — ela pergunta, sua voz adotando uma oitava mais fina. Parece que peguei em um ponto interessante. — Fui eu que comecei a briga, não você. 

Então ela pensa que as desculpas tem que vir dela. Bom, isso é de fato verdade analisando tecnicamente. Uma pessoa que começa a briga geralmente é a que merece ser punida. Porém eu não estava esperando essa resposta, ela diz mais sobre Solares do que imaginava saber. 

Agora sei que embora Solares seja uma pessoa muito irritada e que adora a ordem, ela não é injusta. Sabe que estava errada e aceita a punição de estar aqui comigo. 

— Não importa — digo. — A verdade é que eu venho te irritando a muito tempo. Às vezes até de propósito. Mas acho que isso passou a ideia errada de quem eu sou para você. 

— Como assim de propósito? — pergunta enquanto atira o pano sujo da mão direto em um balde. O movimento não é lá muito brusco, porém já fica subentendido que está ficando com raiva. — Você realmente queria me provocar esse tempo todo? 

— Para ser sincero, sim. Mas não pelo motivo que você pode estar pensando.

— E que motivo é o que você está pensando?

Suspiro. Isso está ficando mais esquisito do que imaginei. Vou me aproximando dela lentamente enquanto falo.

— Não é o que estou pensando, é o que é. A verdade é que você se irrita muito fácil, eu já notei. E você definitivamente não gosta de mim. Então a melhor maneira de te irritar às vezes é só ficar perto de ti. 

— Não fico irritada com você perto de mim — ela diz com tom áspero. — Você que faz questão de me chamar pelo nome errado e ainda me desmoralizar na frente dos outros. 

 — Sim, e desculpe por isso. Por isso, entendeu? Eu não quero ficar com o seu posto. Nunca quis, sinceramente. Ser Chefe é a coisa mais trabalhosa que tem. 

— Então porque decidiu treinar os recrutas mesmo sem a minha autorização? 

— Porque você não estava treinando eles da maneira certa. Você estava treinando eles a decorar movimentos. Eles não precisam decorar movimentos e sim aprender a se defender e atacar. E cada pessoa tem um ritmo diferente e uma maneira de aprender diferente.

Ela faz uma cara confusa. Então pondera sobre o que eu falei por um segundo e no instante seguinte tenta me contrapor:

— E como você tem tanta certeza do que é bom para eles? É só um treinamento para ver quem vai enfrentar o teste final com as melhores armas. Mas independente de armas, se você é fisicamente capaz, vai conseguir passar.

Paro de me aproximar e analisar o que ela disse. Solares sabe o que é o teste final? Não, eu acho que não. Está supondo que vai ser algum teste normal, que simplesmente vai testar os limites de todos. 

Mas eu sei que não se trata disso. Os Recrutas vão ter que enfrentar aquelas coisas esquisitas adormecidas no Porão. E sinceramente, até agora não sei se uma arma vai resolver muita coisa. 

— O Vega disse que quem não ganhasse os pontos necessários iria morrer — digo. 

— E você acreditou nisso?

— E você não?

Ela se cala e já não me encara com raiva. Pelo visto não sabe do que realmente vai ser o teste. Provavelmente estava mesmo em dúvida se Vega estava falando sério ou não. 

Eu tenho a certeza de que ele estava, porque vi e experimentei o teste físico final. Já Solares não tem essa informação. Não podia ter nada além de dúvidas e suposições.

Me aproximo e estendo a mão. Quero sossego e paz, não continuar brigando com ela. 

— Podemos recomeçar se você quiser — digo. — Dessa vez, sem você querendo me odiar por eu ser um Condutor e eu não te irritando. 

Ela demora um segundo, mas aperta a minha mão depois de um tempo. Aproveito para dizer:

— Prazer, me chamo Kaike. Sou do Distrito 2, classe E, e sem querer eu ganhei poderes de raios.

Acho que ela sorri, então larga minha mão e volta a fazer o que estava fazendo. 

Nós continuamos por um tempo, até que finalmente nosso castigo acaba e voltamos para o dormitório. Está de noite, ao menos acho que esteja já é mais ou menos a essa hora que eles deixam as luzes bem baixinhas.

Quando entramos no dormitório, várias pessoas se levantam de suas camas e vem direto até nós. Uma barulheira sem fim começa, nos rodeando com perguntas. 

— Como foi a briga? Vocês se machucaram?

— Receberam alguma punição?

— Vocês foram expulsos?

Enquanto fazem perguntas, olho para Solares e vejo que ela está muito surpresa com toda aquela gente em volta dela. Pelo visto nunca esperou na vida receber tanta atenção assim. Bom, vou deixar esse momento como presente para ela. 

Consigo me desvencilhar da multidão com certa facilidade e vou para fora do dormitório, deixando que façam perguntas a ela e a encham de admiração. Afinal de contas, ela lutou muito bem contra um Condutor, não foi? 

Ando pelos corredores em busca de matar o tempo, pensando sobre o próximo passo que deveria seguir. Quero que as pessoas admirem Solares, não apenas a mim. Ter atenção inteira para si é muito trabalhoso.  

Enquanto estou perdido em pensamentos e novos planos, sinto uma mão segurando meu ombro. Quando me viro, vejo Tomas.

— Acho que consegui algo — diz ele. 

Finalmente, minha ida para casa.


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