Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 4: Sequestro Relâmpago, Mas Sem Medo Da Eletricidade

ϟ DISTRITO 1 - Light City - Setor S ϟ

Solares estava deitada em sua cama, de cabeça para cima, os cabelos brancos e longos espalhados pelo travesseiro. Os olhos vermelhos fixos no cubo mágico que jogava para cima, até quase tocar no teto de metal, enquanto esperava alguma coisa acontecer. 

Seu quarto estava organizado como sempre. Nenhuma roupa fora de lugar, nenhuma tarefa procrastinada em seu computador. Havia acabado de estudar todo o material que fora lhe passado após ter sido promovida para a classe SS.

Seria dureza, ela sabia disso. Negra já lhe alertou das provas que aconteceriam ao ser admitida. Embora não tenha dito quais seriam as provas — e nem poderia, afinal eram secretas —  estava treinando para conseguir fazer todas sem enfrentar muitos problemas. 

Se conseguisse passar pelos testes finais, se tornaria das forças especiais, classe S, e finalmente iria atrás de seu objetivo: Neutralizar todos os Condutores.

 

CREC

 

Sentiu algo em sua mão quebrar. Quando olhou viu que se tratava do cubo mágico. Solares apertou o objeto com tanta força que alguns quadrados se soltaram. Ela suspirou, arrependida por ter deixado suas emoções falarem mais alto, colocou os pés no chão e sentada na cama se pôs a tentar concertar o objeto.

“Ainda tenho que dar um jeito nesse temperamento”, pensou ela. “Não posso deixar as emoções me controlarem na hora dos testes.” 

Finalmente terminou de consertar o cubo, mas sabia que jamais seria o mesmo. As peças soltas, embora agora presas, estavam mais bambas. 

Enquanto analisava o estrago e tentava se convencer que sentir raiva não era bom, acabou por se irritar com o proprio pensamento e arremessou o objeto na parede de metal do quarto, fazendo os cubos se espalharem para todos os lados. 

Ela se levantou da cama, furiosa, e soltou um gemido alto de frustação, bagunçando um pouco os cabelos. No segundo seguinte a porta de seu quarto deslizou para cima e a Comandante Negra entrou. Apenas com um olhar a comandante reconheceu o problema. 

— Controle a raiva, Solares — disse.

— Eu sei, só que... Urgh! — Ela fechou os punhos e rangeu os dentes. — Eu tentei me acalmar, mas quando eu pensei que devia me acalmar para não perder o controle eu fiquei com raiva por não conseguir me controlar...! 

— Respire, Solares — disse mais uma vez a comandante, apoiando uma de suas mãos no ombro da moça e com a outra fazendo movimentos que imitavam a sua respiração. Para cima e para baixo. — Respire, inspire. Isso, assim mesmo. Está melhor? 

— Sim — respondeu com franqueza. Agora poderia ficar frustrada por ter de receber ajuda para ficar calma, mas conseguiu deixar o pensamento de lado quando perguntou: — E o que a senhora veio fazer aqui? Pensei que só iria lhe ver amanhã. 

Negra não respondeu de imediato. Colocou as mãos para trás e rodeou o quarto, analisando. Viu que estava tudo no lugar, incluindo a mesa de estudos com os papéis, formando uma pilha ordenada por seção de estudo. A comandante deu um suspiro.

— Solares, — ela se virou em direção a jovem — você acha que está mesmo pronta?

— M-mas é claro! — Ela notou que cometeu um erro quando sua voz deu uma leve afinada de desespero. Talvez suas emoções estivessem sendo testadas. Nesse caso, teria de responder com mais firmeza, como um soldado. — Quer dizer... Eu espero esse momento desde pequena. Quero minha vingança. 

— Vingança? É isso que quer?

— Claro! — Aumentou o tom. — Olha só o que eles fizeram com minha familia. — Balançou a cabeça. —  Quer dizer… Desculpe. Olha, eu sou grata por tudo que a senhora fez por mim. De verdade. Mas eles não mereciam morrer. Eu queria eles comigo. E isso não aconteceu por culpa daquelas... Coisas. Não quero mais ninguém passando por isso. 

— Eu entendo. 

Negra andou em direção a porta de saida, dando as costas para a moça. Quando estava quase saindo, se virou mais uma vez. A comandante parecia mais alta, altiva, poderosa. Ao menos essa era a impressão que Solares tinha dela.

— Vim aqui só para informar que agora a pouco conseguimos identificar uma canalização. Achei que merecia saber.

— M-mesmo? É um... é mais um Condutor? — Gaguejou enquanto andava em direção a mulher. 

— Se acalme, Solares. Ainda não sabemos dos detalhes, nem mesmo sabemos qual é o tipo de Condutor que vamos enfrentar, isso se enfrentarmos um mesmo. Não se preocupe, enviei Vega e sua equipe. Se tivermos sorte, conseguiremos salvar o maior número de pessoas. 

— Finalmente! — disse com firmeza. — Tomara que esse podre morra... Quer dizer, seja neutralizado logo. O senhor Vega vai dar uma lição nele, tenho certeza.

— Para você, o senhor Vega já é capitão Vega. 

— Sim, sim, é verdade — falou sem prestar muita atenção no que Negra dizia. — E onde é que esse Condutor está?

 

ϟ DISTRITO 2 - Hydro City - Setor C ϟ
ϟ ALGUNS MINUTOS DEPOIS DA EXPLOSÃO ϟ

 

Uma explosão, três soldados tentam me matar e agora um cara sem um dos braços e com um tapa-olho, com a maior cara de satisfação, segurando uma arma muito grande.

Assim que avanço para cima dele, recebo um tiro no peito que me arremessa para trás com força. Eu fico sem entender o que me atingiu.

— Há! Então é um Condutor de eletricidade? — Ele anda devagar em minha direção. 

— Um o quê? — Esse cara não parece que veio aqui para me parabenizar pela bagunça. Me levanto também, me limpando do chão imundo.

— Não precisa fingir. Se entregue agora….

É agora. Tento pega-lo desprevenido e mais uma vez corro em direção a ele, saltando com um enorme estrondo me acompanhando, como um trovão. 

Assim que chego a centímetros de lhe acertar com meu taco de metal, ele puxa a escopeta e me dá um tiro no peito a queima roupa. O impacto dói e sou jogado para trás. Rolo pelo chão até bater nas beiradas da cratera.

Dessa vez o tiro foi muito mais forte que o anterior. Sem fôlego, me levanto usando o bastão como o apoio e dizendo quase que de um jeito espremido: 

— Que porra é essa... — Meu peito quase explodiu. 

— Olha só, aguentou duas balas — diz ele de longe, se aproximando num ritmo lento. — Que bom. Você vai ser meu boneco de teste.

— Seu filho da...

Antes que eu consiga pensar em finalizar a frase, ele dá um salto rápido para frente, parando muito perto de mim. Ele dá um novo tiro, mas consigo desviar por pouco. Sinto o impacto da bala atrás de mim, atingindo as bordas da cratera.

Corro o mais rápido que posso para o lado. Vejo ele carregando a escopeta. Ela só tem duas balas e pelo visto não são de verdade. Ao menos é o que acho. Já teria morrido a muito tempo se fosse uma de verdade. Mas pensando bem, já teria desmaiado a mais tempo ainda com as balas elétricas. De qualquer forma, essas balas definitivamente não me fazem bem.

Quando termina de carregar, salta novamente para frente, me pega distraído e dá um novo tiro. Dessa vez ele está um pouco longe, então consigo ir mais para trás. Mesmo assim tenho de me defender com o meu bastão. O impacto me joga para cima, onde disparo em direção ao céu rodando. 

Caio no meio de escombros de uma casa. Quando me recomponho, noto que estou fora da cratera onde estava. Essa é minha chance de dar o fora daqui. Corro o mais rapido que posso para qualquer direção.  Não é tão fácil, fora da cratera, do que sobrou do setor C, está uma zona.

Tem várias estruturas caídas e pessoas no chão, desmaiadas. Estão todas assim. Vão ficar bem, sinto isso, mas ainda estão desacordadas. Não tenho tempo para cuidar dos que conheço. Tem um maníaco de escopeta atrás de mim. Continuo correndo. 

— Te achei!

Ouço o som de um tiro do meu lado, mas quando viro, imediatamente fico cego. Tem uma fumaça tão espessa atrapalhando a minha visão que só vejo o preto. Depois sinto mais um tiro no meio do meu peito, me arremessando para trás. Quando me levanto, vejo aquele cara estranho carregando a escopeta dele com uma bala de cor diferente. Ele aponta para mim e atira.

Por instinto, rolo para o lado, e ainda bem que faço isso. A bala fez uma pequena cratera em forma de cone no chão. Se tivesse me pegado, eu certamente teria perdido um membro. 

Olho mais uma vez para o sujeito que está tentando me matar de todo o jeito, e ele está calmamente recarregando sua escopeta.

Quando tento sair, ele se aproxima de mim em um instante e atira no meu peito, de cima para baixo. Caio no chão e não tenho como sair daqui.

— Vamos lá, garoto. Já vi que é novato. Então, me diz para quem você trabalha. Assim podemos fazer uma negociação. 

— Para quem eu trabalho? — Minha voz quase não sai. — Eu sou só um entregador. 

— Um entregador que solta raios pelas mãos e luta como você? Difícil de acreditar. — Ele aponta a escopeta para a minha cara. — Última chance, garoto... 

Curiosamente esse comentário me deixa mais feliz do que desesperado. É um elogio. Ele acha que sou muito bom para ser quem eu sou. Está obviamente me superestimando, ou subestimando a depender do ponto de vista. 

Seja como for, da forma como os eventos estão se desenrolando, parece que vou morrer aqui mesmo. Isso é uma pena. Gostaria de poder provar que sou inocente. Que tenho uma irmã doente para cuidar e um irmão idiota para endireitar. Parece que vou ter que deixar tudo nas mãos de Caio. 

— Kaike! — fala o senhor Houston, o homem que eu vendo as baterias da minha bicicleta. É um velho e está imundo por conta dos destroços. Ele está tão período que segura uma bateria de bicicleta na mão com força. Fico tão surpreso que esteja acordado que mal acredito no que vejo. — Pelo Rei! O que aconteceu aqui! Quem é esse homem? Ei! O que você quer com o Kaike?  

— Você conhece esse Condutor? — Ele aponta a escopeta para a cara do seu Houston. 

— S-sim... Quer dizer... — Ele levanta as mãos em rendição. — É o Kaike. Todo mundo conhece ele… 

— Conhece, é?

— É, é que ele é muito rápido com as entregas…

— Seu Houston — interrompo com uma voz sofrida. — Isso é só um mau-entendido… — O homem da escopeta aperta meu peito contra o chão com sua perna. — Calma aí! Eu posso provar tudo isso. Ele é meu comprador de bateria.  

— É isso mesmo, eu compro a energia que ele produz. — Ele tira de sua bolsa uma bateria de bicicleta. Não é a minha, mas é só para exemplificar. 

— A energia que ele produz? — Ele aperta ainda mais forte o meu peito contra o chão. 

As coisas só estão piorando para o meu lado. Melhor me livrar logo disso. Olho para a bateria que Houston está segurando.

— Seu Houston... A bateria... — falo sem folego. 

— O quê? — Diz ele, ainda com a escopeta na cara. 

— Joga a bateria! 

Ainda com segundos de hesitação, Houston joga. Eu pego. Com uma das mãos na bateria e com a outra puxando o braço de metal do meu agressor, eu começo a absorver a energia da bateria enquanto jogo de volta com toda a força para o braço dele. 

Eu grito por sentir a energia rasgando meu corpo, passando de um lado para o outro, e o estranho homem de tapa-olho grita por estar sendo fritado. Coloco toda a minha energia nisso, até finalmente não restar mais nada. 

Entretanto, o homem ainda sendo eletrocutado aponta o cano da escopeta bem na minha cara e…

P

 O

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