Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 27: Coragem É Seguir Em Frente Mesmo Com Medo

Dez criaturas à minha frente e eu aqui…

O ambiente que estou agora é um pouco menor que o anterior. As luzes gigantescas estão espalhadas pela sala, dificultando que eu alcance-as. Isso vai ser problemático.

Uma das criaturas está se aproximando. Com ela vem as outras, a acompanhando. Essas coisas sentem o meu cheiro ou coisa do tipo?

Rhá! Quem eu quero enganar. O tanto de barulho que eu fiz ao drenar essas lâmpadas… Eles seriam idiotas se não tivessem ouvido. 

Aponto o braço em direção a uma delas e solto um raio que atinge o seu peito. A criatura atingida cai de joelhos no chão com leves espasmos, mas se levanta em seguida. 

Esses caras aqui são mais fortes que os anteriores. Acho que um golpe só não vai ser suficiente para acabar com eles. Nesse caso, vou precisar de uma arma.

Olho ao redor em busca de algo que posso usar como arma e acho. É um pedaço de corrimão enferrujado, já solto no chão. 

Assim que o pego noto que a sua ponta está afiada, o que só torna as coisas ainda mais interessantes. Tomara que esse negócio não quebre com uma única estacada. 

Salto em direção aos monstros e, antes que eu possa acertar algum deles, sou jogado para longe com um golpe poderoso.

Caio de costas no chão. Tenho dificuldade para levantar. Que merda, esses caras são fortes pra porra. Eles me arremessaram uma pedra e quase me atingiram. Dou um salto para trás.

Limpo o sangue no canto da minha boca com a manga da camisa. Que problemático. Não quero continuar me machucando desse jeito. Dreno uma das lâmpadas e me recupero. Não vou dar mole dessa vez. 

Seguro meu pedaço de metal com firmeza e parto em direção às criaturas. Uma tenta novamente me golpear, porém desvio e finco a ponta de metal na cabeça dele. Antes de tombar ouço o seu rugido e por fim seu corpo amolecendo. 

Já foi um, restam nove. O próximo se aproxima para um golpe. Vejo as fibras dos seus músculos negros. Não consigo retirar o metal do rosto da criatura caída a tempo e sou arremessado outra vez para trás. 

Fico na beirada de um precipício. É uma pequena fenda no chão que não parece ter fundo. Eu não quero cair aqui. 

Me levanto rápido e assim que me viro já sou surpreendido com outra criatura me esperando. Ela me dá um golpe de cima a baixo no topo da cabeça, me fazendo dar de cara contra o chão.

 

❧ AMOR ☙

 

Amor era uma garota ruiva e bastante intensa. Ao menos era assim que as pessoas diziam que ela era. A sua primeira aparição, ou no caso, o seu primeiro feito que a fez ganhar alguns minutos de fama, foi quando confrontou o grupo de Ermo, dizendo umas verdades na cara do rapaz do Distrito 5.

Verdades essas que eram obviedades que todos gostariam de dizer, como o fato dele ser insuportável, arrogante e um grande, em suas palavras, “babaca”. Muitos compartilhavam dessa opinião, então os insultos nada mais eram do que constatações factíveis da personalidade de Ermo. 

Constatações essas que ninguém tinha coragem de falar, exceto Amor. Pois ela era exatamente assim, falava o que ninguém tinha coragem de dizer.

Ela, que não era boba nem nada, passou a vida inteira arranjando confusão, mas de uma forma positiva, se é que isso era possível. Se fosse para resumir suas atitudes, talvez a definição “confusão” fosse incorreta. A palavra “revolução” era a que ela preferia usar.

Militante, empoderada e implacável, Amor era o estilo de menina que adorava desafiar as autoridades e o pensamento comum. Por ser uma recruta da classe S, agora sentia que tinha a obrigação de caçar defeito em tudo e apresentar resoluções democráticas; afinal a democracia era seu estilo de governo favorito, com exceção do socialismo que tinha um espaço especial em seu coração.

Naquele instante, Amor estava completamente insatisfeita com a maneira como as coisas estavam acontecendo. Achava tudo desorganizado demais, pois como uma boa progressista, adorava a ideia de que tudo poderia ficar ainda melhor. 

Para reorganizar o que para ela era desorganizado, precisaria de uma revolução. Ao menos era o que gostava de pensar. E como ela bem sabia, toda boa revolução geralmente ocorre por meio de uma revolta trabalhista. Ou apenas uma revolta.

Assim que todos voltaram para o dormitório, Amor foi conversar com as suas amigas sobre como a primeira fase do torneio tinha sido um completo fiasco. Enquanto conversava com suas amigas, ela reparou em Vida, a menina de cabelos rosas amiga de um condutor, que estava chorando.

Amor sentiu raiva por terem submetido ela aquele tipo de situação. Afinal, se era uma recruta significava que tinha boas qualidades e com certeza não precisaria provar suas habilidades físicas em combate, pois isso notoriamente fazia mal a moça de cabelos rosas.

Irritada com a situação, Amor foi até Vida para que as duas pudessem conversar. E de fato conversaram. No meio disso, Amor descobriu que era do mesmo distrito que aquela garota.

— É sério? — perguntou Amor, animada. — E por que não veio falar comigo, menina? A gente podia ter combinado nosso visual juntas.

Aquilo fez Vida rir, pelo simples fato de que as duas já combinavam o estilo de vestimenta: Preto. Era só essa cor que disponibilizavam para os recrutas.

— É que eu não tive coragem de ir falar com você — respondeu ela timidamente. — Sabe, é que você está sempre rodeada de amigas, então nunca pensei em chegar perto para incomodar.

— Incomodar? Imagina, querida. Você não me incomoda em momento nenhum. Mas ficar com esse rostinho de choro… Isso sim me incomoda. Vem cá, me fala o que aconteceu? Você está chateada com o que alguém te falou? Será se não foi aquele seu amigo condutor que acabou te magoando?

Suas perguntas tinham um toque bobo e ingênuo, porém havia segundas intenções. Ela queria ser jornalista quando mais nova, mas quando descobriu que poderia fazer muito mais, preferiu seguir a carreira de classe S. 

Ou seja, suas perguntas eram instigadoras. Ela queria saber mais sobre o condutor. Na verdade, todos queriam. Logo, se ela soubesse primeiro, antes de todo mundo, poderia usar aquela informação para suas tramas pessoais.

Não que ela tivesse muita esperança na informação. Estava de fato curiosa e uma de suas amigas não parava de dizer o quanto ele era bonito. Mas se ela soubesse o quanto aquelas informações seriam valiosas… É provável que Amor teria perguntado elas antes.

Vida, que não entendera as segundas intenções por trás das perguntas, respondeu tudo da forma mais reveladora possível. Falou estar chateada com a situação do torneio, pois não queria agredir ninguém. Também falou que seus amigos a apoiavam e que Kaike, o condutor, era uma pessoa que também concordava com aquela opinião.

“Então ele concorda com isso?”, pensou ela, se indagando. Fez uma nova serie de perguntas a respeito dos pensamentos de Kaike a respeito do torneio para Vida. A garota de cabelos rosas ficou surpresa pela súbita mudança de interesse, porém resolveu falar mais sobre o tal garoto.

— Ele também não gosta muito da maneira como está acontecendo os treinamentos… Ele até confrontou a Chefe Solares um dia desses por conta disso e sinceramente não sei se foi boa ideia. Ele acabou recebendo um castigo por isso.

Castigo por se rebelar contra o sistema. Sinceramente, Amor estava começando a achar Kaike uma pessoa e tanto. Continuou fazendo mais perguntas e escalou com algumas perguntas pessoais. No final, conseguiu todo o material que precisava. E um pouquinho mais.

Fazer Vida relembrar da luta que teve fez a garota chorar novamente. Isso foi o estopim para que Amor fizesse a sua revolução. Ela iria usar as armas que tinha a disposição para mudar o sistema.

Um condutor insatisfeito com as coisas que estavam acontecendo ali dentro. Quem diria? Isso era uma bomba e tanto. E com toda certeza iria render uma revolução bem interessante.

Enquanto confortava novamente Vida, Amor viu Solares entrando pela porta do dormitório e indo em direção ao seu beliche. Foi aí que resolveu agir.

Ela colocaria seu plano em prática usando o nome de Kaike.

 

ϟ KAIKE ϟ

 

Sinto dor por todo o meu corpo. Golpes de todos os lados. Vejo estrelinhas e depois um mundo turvo, como se estivesse tudo derretendo diante dos meus olhos.

Um outro golpe na minha cabeça me desperta. Vejo que estava sendo espancado pelo grupo de criaturas bizarras. Lanço diversos raios para o ar e afasto todos de perto de mim. Me levanto e então enfrento as criaturas à moda antiga; com os punhos.

Dou rasteiras em algumas que caem no chão com um baque forte por conta de seu peso. Aproveito que alguns estão desabilitados do combate por enquanto e me concentro nos outros.

Socos, pontapés e eletricidade não parecem adiantar muito. Ficam atordoados por um tempo, porém não parecem que vão morrer só com isso. Droga, tenho que pensar em alguma coisa.

Vou em direção ao meu pedaço de metal que ficou no chão, pego e agora é hora de ensinar uma lição para essas criaturas bizarras. 

Enfio a ponta da pequena lança nas partes dos corpos mais sensíveis. Ao menos o que eu penso ser mais sensível e mortal. O problema é que eu esqueci que estas criaturas não estão vivas de verdade. Logo, um golpe no coração não adiantaria de muita coisa.

Tento uma nova abordagem. Consigo me desviar do golpe de uma criatura, chutar seu peito e pegar impulso para saltar por cima de outra, acertando a sua cabeça com a ponta afiada do metal.

Vejo a criatura ainda de pé, porém logo em seguida tombar no chão, morto. Dou um viva de alegria que dura pouco tempo. Recebo um golpe no meu peito. Por pouco não consigo me defender com o metal que tenho em mãos. Mesmo assim ainda sou arrastado alguns metros para trás, para perto do abismo.

Quando me dei conta, a barra de ferro em minha mão se quebrou. A ponta já está completamente deteriorada devido ao uso constante. Por mais frágeis que sejam o crânio desses Estertores, ainda é osso e é lógico que vai desgastar a minha arma improvisada.

Jogo o que sobrou da arma no abismo e ouço ele caindo, batendo nas paredes, sem nunca atingir o fundo. Aqui deve ser fundo mesmo. É daí que me vem uma ideia.

Bom, dois já foram. Faltam oito. Isso se nenhum outro fizer o favor de aparecer e tomara que isso de fato não aconteça.

Todos se aproximam de mim com velocidade. Fico na beirada da fenda o máximo que posso. Se ficar mais do que isso, posso acabar caindo lá dentro. As criaturas pulam em minha direção, ao menos algumas delas.

Desvio da primeira. Ela bate com tudo do outro lado da borda, tenta se agarrar porém escorrega e cai no abismo. Ótimo, mais um. 

A próxima criatura também se joga, porém dessa vez eu não tenho como desviar tão bem assim. Resolvo me abaixar bem na hora. Essa cai direto no abismo. Faltam só mais 6.

A próxima não é boba, para no exato momento, porém seus freios são precários, está deslizando até mim, as garras cravadas no chão. Eu aproveito e dou um raio nela a fazendo ter espasmos, a fazendo não conseguir frear e por conseguinte cai no abismo. Essa foi uma morte bem ridícula.

Agora faltam só… 4? Onde está a…? 

Uma forte pancada nas minhas costas me faz cair no chão novamente. Uma das criaturas deu a volta e pulou nas minhas costas. Desse jeito ela vai me levar para o abismo junto com ela.

As outras criaturas também querem fazer parte do banquete e pulam em minha direção. Não aguento o peso delas e nós caímos, porém eu consigo me segurar na beirada do precipício. 

Elas tentam subir pela minha perna, me arranhando todo. Droga, se eu perder minha perna não sei se vou conseguir recuperar. Chuto elas e depois lanço mais raios. Assim, as criaturas que tentavam subir umas em cima das outras me largam e caem.

Subo para o terreno firme e tenho uma nova surpresa. Uma das criaturas estava me esperando aqui em cima. Ela enfia suas garras em minhas costas e me arrasta para cima. 

Ela abre sua bocarra, os dentes pontiagudos e a visão do interior de sua boca me revira o estômago. 

— Só gostaria de avisar que todos os Estertores são mais frágeis por dentro do que por fora — fala Remi, com a voz mais calma e simpática que se pode imaginar.

— Bom saber. — Enfio meu braço, o que tem a pulseira, dentro da garganta da criatura. — Morre, porra!

Solto o maior número de raios com a maior descarga que consigo. A criatura frita por dentro, grita e se balança toda, mas vejo que é incapaz de me soltar.

Quando finalmente a minha fúria passa e eu paro de descarregar minha raiva nela, a criatura tomba no chão fedendo a queimado e eu estou livre. 

— Precisava mesmo usar esse braço? — pergunta Remi. — Que desagradável.

— Claro que…

BOOMMmm…

O chão treme. Sinto a vibração da caverna. Olho para o canto de onde vem o barulho de pisada. É um local escuro, uma passagem, da qual eu não vim e nem gostaria de ir.

Da minha pulseira sai um pequeno laser analisando a escuridão, como se tivesse alguma criatura viva lá. Na verdade, eu sei que tem. Eu sei que está vindo alguma coisa. Consigo sentir a energia…

 

ϟ [STATUS] ϟ

[NOME: Estertor Robusto (Mutação)]

[ORIGEM: Bioquímica]

[NÍVEL: 30]

[SAÚDE: Verde]

[Esse Estertor Robusto é uma mutação do original. Seu exterior é mais forte e ele é mais poderoso. Apenas armas especiais são capazes de derrotá-lo.]

[Fuja.]

 

Ah! Eu gostaria de fugir, sim. Olhar o tamanho da criatura me deixa tonto. É quase o triplo do meu tamanho. Os seus braços são longos e fortes, que nem uma árvore, chegam a encostar no chão. Suas pernas são mais curtas, mas isso nem de longe é motivo de piada.

De sua boca saem presas que são visíveis daqui. Afiadas como… como… Eu sei lá. Essa porra vai me matar se me morder. E para piorar ele tem olhos. Ao menos os outros não tinham. Diversos olhos na cabeça.

Em volta do corpo existe uma proteção, como se fosse rocha. Apenas alguns pontos estão expondo a sua pele musculosa. Nem fudendo eu vou conseguir ferir essa merda com um pedaço de metal.

Ela me olha e bufa para mim. Por sorte eu estou longe dela. Só não sei até quando a gente vai ficar tão distante assim um do outro. 

No instante seguinte ela começa a correr em minha direção, de quatro, usando principalmente os braços da frente como apoio. Cada passo que ela dá em minha direção faz a caverna dar uma mexida. Jogar esse troço no abismo não vai dar certo, a fenda não é tão profunda. 

O que eu faço? O que eu faço?

— Kaike. Sugiro que corra — fala Remi.

— É… Boa ideia.

E saio correndo com essa coisa gigante atrás de mim.



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