Trigo e Loba Japonesa

Tradução: Virtual Core


Volume 2

Capítulo 2

As colinas acabaram, substituídas por ondulações na paisagem que mal se faziam sentir, o que tornava uma viajem fácil.

Lawrence ainda não tinha se recuperado dos efeitos do vinho da noite anterior, portanto a estrada fácil lhe servia bem.

Com uma companheira para partilhar bom vinho e comida, ele exagerou. Se tivesse que atravessar uma trilha de montanha em seu estado atual, provavelmente cairia direto para o fundo do vale.

Mas aqui, não havia nada além de um rio, então era seguro Lawrence deixar o cavalo simplesmente seguir a estrada.

Ocasionalmente ele cochilava por um breve momento, e na carroça Holo dormia profundamente, roncando sem nenhuma preocupação com o mundo. Toda vez que Lawrence despertava, ele agradecia a Deus por tempos tão pacíficos.

Depois de passar muitas horas tranquilas dessa forma, Holo finalmente acordou logo após o meio-dia. Ela esfregou os olhos, seu rosto claramente ainda carregava as marcas do que quer que ela tenha dormido por cima.

Ela se arrastou até o banco da frente e bebeu um pouco de água de um cantil, uma expressão vazia no rosto. Felizmente, ela não parecia ter ressaca. Caso tivesse, Lawrence poderia precisar parar a carroça — caso contrário, ela poderia acabar vomitando na carroça, um resultado que ele não suportava nem pensar.

“Tá um tempo bom hoje,” disse Holo.

“Está.”

Os dois trocaram gentilezas preguiçosas, então ambos deram grandes bocejos.

A estrada em que estavam era uma das principais rotas comerciais do norte, portanto encontraram muitos outros viajantes enquanto prosseguiam. Entre eles estavam bandeiras mercantis esvoaçantes de países tão distantes que Lawrence só sabia deles através de recibos de importação. Holo viu as bandeiras e pareceu pensar que elas simplesmente anunciavam o país dos mercadores, mas geralmente as pequenas bandeiras eram expostas para que mercadores da mesma nação pudessem identificar um conterrâneo pelo qual passassem. Geralmente tais encontros acabariam em trocas de notícias do velho país. Chegando em uma terra estrangeira, onde a língua, comida e vestimentas eram todas diferentes, pode levar até mesmo um mercador constantemente viajando a ter saudades de casa.

Lawrence explicou isso para Holo, que então olhou para as pequenas bandeiras dos mercadores que passavam, imersa em pensamentos.

Holo havia deixado sua terra natal centenas de anos atrás, e seu desejo de falar com alguém de seu lugar de origem era mais forte do que a saudade de qualquer mercador viajante.

“Ah, bem, eu voltarei em breve, eh?” ela declarou com um sorriso, mas havia um toque de solidão nele.

Parecia para Lawrence que ele deveria responder de alguma forma, mas nada veio à mente, e enquanto guiava o cavalo ao longo da estrada, o sol da tarde afastou o pensamento.

Não havia nada melhor do que os calorosos raios de sol na estação fria.

Mas a quietude logo foi quebrada.

Assim que Lawrence e Holo começaram a cochilar no banco da carroça, Holo falou abruptamente.

“Ei.”

“...Mm?”

“Tem um grupo de pessoas.”

“O que disse?” Lawrence perguntou enquanto se esforçava para agarrar as rédeas, sua sonolência desapareceu em um instante. Ele estreitou os olhos e fitou ao longe.

Apesar das pequenas ondulações na estrada, o terreno geralmente liso oferecia uma boa visão adiante.

Mas Lawrence não viu nada. Ele olhou para Holo, que agora estava erguida, olhando para a frente atentamente.

“Eles certamente estão lá. Me pergunto o que aconteceu.”

“Eles carregam armas?”

Havia apenas poucas formas de explicar um grupo de pessoas em uma estrada de comércio. Lawrence esperava ser uma grande caravana de mercadores, um grupo de peregrinos visitando o mesmo destino, ou membros da nobreza visitando um país estrangeiro.

Mas havia outras, possibilidades bem menos agradáveis.

Poderiam ser bandidos, malandros, soldados famintos voltando para casa, ou mercenários. Encontrar soldados ou mercenários poderia significar abrir mão de tudo o que possuía — se tivesse sorte. Sua vida poderia muito bem ser perdida.

O que aconteceria com sua companheira fêmea não precisava ser dito.

“Eu...eu não vejo nenhuma arma. Eles não parecem nem um pouco com soldados irritantes.”

“Você já encontrou soldados?” perguntou Lawrence, um pouco surpreso.

“Eles tinham lanças longas e afiadas, o que os tornava em um certo incômodo. Embora não pudessem acompanhar minha destreza,” Holo disse tão orgulhosamente que Lawrence não se aventurou a perguntar o que tinha acontecido com os mercenários azarados.

“Não tem... ninguém por perto, certo?” Holo olhou ao redor rapidamente, em seguida puxou seu capuz para trás, e expôs suas orelhas de lobo.

Suas orelhas pontudas eram do mesmo marrom que a sua cauda, e como esta, elas expressavam seu humor de forma tão eficaz que eles eram uma boa maneira de dizer quando ela (por exemplo) mentia.

Essas mesmas orelhas estavam erguidas atentamente.

A atitude de Holo era exatamente a de um lobo procurando sua presa.

Lawrence já tinha encontrado um lobo assim.

Era uma noite escura e ventosa. Lawrence vinha seguindo uma estrada através da planície, e no momento em que ouviu o primeiro uivo, ele já estava no território dos lobos. Uivos soaram de todas as direções na hora que percebeu que estava cercado, e o cavalo que puxava a carroça estava enlouquecido de medo.

Só então, Lawrence avistou um único lobo.

Sua postura era destemida enquanto olhava diretamente para Lawrence, suas orelhas tão intensamente fixas nele que tinha certeza de que ele podia ouvi-lo respirar. Ele sabia que forçar seu caminho através da armadilha dos lobos seria impossível, então pegou imediatamente um saco de couro e, certificando-se que o lobo pudesse ver, jogou toda a carne, pão e outras provisões que tinha no chão. Então ele fez o cavalo correr adiante, o lobo o observando o tempo todo.

Ele pôde sentir o olhar da fera em suas costas por algum tempo, mas eventualmente os uivos pareceram se agrupar em torno da comida que deixou, e ele escapou ileso.

Lawrence nunca esqueceria aquele lobo. E neste momento, Holo estava exatamente como ele.

“Hmm... parece que é algum tipo de alvoroço,” disse Holo, tirando Lawrence de seu devaneio; ele sacudiu a cabeça para clarear a mente.

“Existe algum mercado do qual me esqueci?” disse Lawrence. Reuniões às margens de estradas para trocar informações e antecipar negócios não eram raras.

“Imagino. Mas não parece uma luta. Tenho certeza.”

Holo puxou o capuz de volta sobre a cabeça e se sentou.

Lawrence estava preocupado com a carroça enquanto ela o olhava com uma expressão que dizia, “Então, o que devemos fazer?”

O comerciante estava imerso em pensamentos enquanto visualizava um mapa da área.

Lawrence sabia que tinha que levar as armas em sua carroça para a cidade de Ruvinheigen, sede da Igreja. Para todos os efeitos, ele havia assinado um contrato com uma companhia em Ruvinheigen. Se tomasse um desvio agora, teria que retroceder por uma rota muito distante — as únicas outras estradas eram tão pobres a ponto de serem transitáveis somente a pé.

“Você não farejou nenhum sangue, não é?” perguntou Lawrence.

Holo balançou a cabeça de forma decisiva.

“Então vamos prosseguir. O desvio é um pouco distante demais.”

“E mesmo se forem mercenários, você tem a mim,” disse Holo, pegando a bolsa de couro cheia de trigo que pendia no pescoço. Uma escolta melhor não existia.

Lawrence sorriu confiante enquanto dirigia o cavalo pela estrada.

 

“Então, desviar por aqui e pegar o caminho de São Lyne?”

“Não, certamente é mais rápido pegar a estrada que atravessa as planícies para Mitzheim.”

“De qualquer forma, aquela conversa sobre o bando de mercenário é verdade?”

“Compre este tecido, pode ser? Eu aceito sal em troca.”

“Alguém aqui fala Parcian? Acho que este sujeito está com um problema!”

Lawrence e Holo escutavam pedaços de conversa enquanto se aproximavam da multidão.

Algumas das pessoas paradas na estrada eram reconhecíveis à primeira vista como mercadores. Outros eram artesãos de diferentes terras em peregrinação para melhorar suas habilidades.

Alguns a pé; outros viajavam em carroças ou carruagens. Alguns conduziam burros carregados com fardos de palha. Havia conversas por toda parte, e aqueles que não partilhavam uma mesma língua gesticulavam nervosamente em esforços para serem entendidos.

Se meter um confronto por causa de uma barreira linguística é uma experiência terrivelmente inesquecível — ainda mais quando acontece de você estar carregando toda a sua fortuna.

Infelizmente, Lawrence também não entendia o homem. Ele sentiu empatia, mas não havia nada que pudesse fazer, e de qualquer forma ele não sabia precisamente qual era o problema.

Lawrence olhou para Holo — um sinal de que ela deveria ficar quieta sentada no banco — e pulou para fora da carroça, saudando um mercador próximo.

“Com licença,” ele disse.

“Hm? Oh, um colega viajante. Você acabou de chegar?”

“Sim, de Poroson. Mas o que está acontecendo aqui? Certamente o conde local não decidiu abrir um mercado aqui.”

“Hah! Nada, se fosse isso, todos teríamos tapetes espalhados no chão e gastaríamos o dia negociando. Na verdade, há rumores sobre um bando de mercenários seguindo a estrada para Ruvinheigen. Então, estamos todos aqui parados.”

O mercador usava um turbante e calças soltas e largas. O homem tinha um manto pesado enrolado em volta do pescoço e uma grande mochila pendurada sobre suas costas. A julgar por suas roupas pesadas, o mercador frequentava o coração das terras do norte.

A poeira da estrada permanecia em seu rosto queimado pela neve. As muitas rugas e sua pele ao tom de couro pálido eram a prova de uma longa vida como mercador viajante.

“Um bando de mercenário? Sei que o grupo do General Rastuille patrulha essas áreas.”

“Não, eles estavam usando bandeiras vermelhas com o símbolo de um falcão.”

Lawrence franziu testa. “O bando de mercenários Heinzberg?”

“Oh ho. Vejo que já viajou pelas terras do norte. De fato, eles dizem que são os Falcões de Heinzberg — prefiro enfrentar bandidos do que eles ao transportar toda uma carga de produtos.”

Dizia-se que os Falcões de Heinzberg eram tão famintos por riquezas que onde quer que passavam, nem uma única folha de nabo seria deixada para trás se achassem que pudesse ser vendida. Eles fizeram seu nome nas terras do norte, e se estivessem na estrada em frente, tentar passar seria suicídio.

Os mercenários Heinzberg tinham a fama de detectar suas presas mais rápido do que um falcão no céu. Eles estariam em cima de um preguiçoso mercador viajante em um instante, isso é certo.

No entanto — mercenários agiam puramente por interesse próprio, e nesse sentido, eles não eram muito diferentes de mercadores. Basicamente, quando eles se comportavam de forma estranha, era comum que algo similarmente inesperado estivesse ocorrendo no mercado.

Por exemplo, uma alta ou queda repentina no preço das mercadorias.

Sendo um comerciante, Lawrence era naturalmente pessimista, mas o pessimismo não o levaria a lugar nenhum, ele sabia — ele já estava na estrada, carregado de bens. Tudo que importava agora era como chegaria a Ruvinheigen.

“Então parece que pegar um longo desvio é o único jeito,” disse Lawrence.

“Provavelmente. Aparentemente há um novo caminho para a Ruvinheigen que parte da estrada de Kaslata, mas ouvi dizer que vem sendo uma rota insegura ultimamente.”

Lawrence não esteve nesta região por meio ano, por isso, esta era a primeira vez que ouvia falar de uma nova estrada. Ele pareceu se lembrar que no lado norte das planícies que se estendiam, havia uma estranha floresta que era fonte constante de rumores desagradáveis.

“Insegura?” ele perguntou. “Insegura como?”

“Bem, sempre houveram lobos nas planícies, mas tem sido especialmente difícil ultimamente, dizem. Há uma história circulando de que uma caravana inteira foi destruída duas semanas atrás — e os lobos foram invocados por um feiticeiro pagão.”

Lawrence então se lembrou de que os rumores desagradáveis eram em grande parte sobre lobos. Ele percebeu que Holo provavelmente estava escutando essa conversa e deu uma olhada para ela. Um sorriso dançou em torno dos cantos da boca da garota.

“Como se chega a esta nova estrada?”

“Hah, você vai tentar? Você é bem corajoso. Pegue esta estrada direto, então vire à direita na bifurcação. Continue seguindo por um bom tempo, então ela vai se dividir novamente, e você vira à esquerda. Levaria apenas cinco minutos para confirmar se os mercenários de fato estão na estrada adiante, mas no momento em que os visse, seria tarde demais. Não tenho problema gastar pacificamente dois ou três dias aqui. No entanto, os mercadores com peixe ou carne terão que ir para uma cidade diferente. Não é o meu caso, vou optar pelo mais seguro.”

Lawrence assentiu e olhou para trás para o conteúdo de sua própria carroça. Felizmente, sua carga não estava em perigo de estragar, mas ele ainda queria vendê-la em Ruvinheigen.

Ele ponderou em silêncio por um momento, em seguida, deu seus agradecimentos ao outro mercador e voltou para a carroça.

Holo tinha se comportado, mas uma vez que Lawrence se sentou no banco, ela começou a rir. “Invocados, hein?”

“Então, o que Holo, a Sábia Loba vai fazer sobre isso?”

“Hm?”

“Os lobos nas planícies,” Lawrence esclareceu enquanto tomava as rédeas e refletia sobre a questão em mãos — ir ou não ir.

“Mm,” fungou Holo, preguiçosamente mordendo a unha do dedo mindinho com uma presa afiada. “Acho que eles seriam mais interessantes do que humanos. Pelo menos, seremos capazes de conversar.”

Era uma boa piada.

“Então está decidido.” Lawrence balançou as rédeas e girou a carroça, descendo a estrada e se afastando dos comerciantes tagarelas.

Alguns deles os viram e levantaram suas vozes em surpresa, mas a maioria simplesmente tirou seus chapéus ou capas e acenaram.

“Boa sorte,” seus gestos diziam.

Não havia mercador que desistiria de uma ponte perigosa — se através daquela ponte perigosa conseguisse um lucro maior.

A notícia de um bando de mercenários viajando pelas estradas se espalhava mais rápido do que uma praga. Tal era a ameaça que representavam.

Mas para um mercador, tempo era uma ferramenta indispensável. Desperdiçá-lo sempre levava ao prejuízo.

É por isso que Lawrence decidiu que com Holo ao seu lado, ele correria o risco de viajar nas planícies, apesar dos rumores dos lobos.

Os rumores de um bando de mercenários nas proximidades certamente teriam um impacto sobre o mercado de Ruvinheigen, e Lawrence pretendia tirar proveito disso para embolsar umas moedas a mais. De início, ele imediatamente assumiu que as coisas tivessem tomado um rumo para pior, mas, na realidade, era exatamente o oposto.

E em todo caso, os desenvolvimentos inesperados eram parte da vida de um mercador viajante — era isso que a fazia divertida.

“Você certamente parece feliz,” mencionou uma Holo perplexa.

“Suponho que sim,” foi a curta resposta de Lawrence.

A estrada adiante leva ao lucro, o lema do mercador viajante.

 

Eles chegaram às tais planícies antes do meio-dia do dia seguinte.

Havia momentos em que novas rotas de comércio surgiam naturalmente, e momentos em que questões de força maior as criavam. Às vezes, a grama era removida para fazer a estrada, mas em casos extremos, cascalho seria colocado e então coberto com tábuas de madeira, permitindo que as carroças atravessassem o terreno em velocidades relativamente altas.

Tais estradas não saiam barato, é claro, e os pedágios cobrados para usá-las eram caros, mas como ladrões ao longo destas estradas eram tratados com severidade, o preço era um bom valor em termos de tempo e segurança.

O caminho pela frente, com seus rumores de aparições lobo, estava em algum ponto entre os dois tipos de estrada.

Uma placa havia sido erguida, indicando o destino da estrada que agora se ramificava. Na bifurcação havia uma pilha tábuas destruídas pelo clima, como se algum dia tivessem planejado construir algo nesta junção. Talvez os construtores tivessem a intenção de construir um pedágio para manter a estrada em bom estado, mas agora tudo o que restava era uma placa solitária.

A junção estava no topo de uma pequena colina, e de lá se podia ver a estrada até onde interessava. Este parecia ser um bom local para o almoço. Apesar do inverno se aproximando, a grama ainda estava muito verde, e Lawrence podia que esta era uma planície que usaria para pastar suas ovelhas caso fosse um pastor.

Tudo o que restava da estrada que atravessava a planície era um par de rastros de carroça, a maior parte coberta de grama. Naturalmente, não havia outros viajantes.

De acordo com o mapa mental de Lawrence, a floresta ao norte dessa estrada era o local mais adequado para os lobos fazerem seu lar, mas dificilmente era verdade que todos os lobos viviam em florestas. Ao longe estavam trechos de grama alta, e isto se parecia mais e mais com uma planície ideal para lobos.

Lawrence podia imaginar até esse ponto sem perguntar a Holo, mas ele foi em frente e a consultou de qualquer modo.

“O que você acha? Algum lobo por perto?”

Holo, que estava no processo de devorar um pedaço de carneiro seco, deu a Lawrence um olhar exasperado. “Nós lobos dificilmente somos tão tolos a ponto de ser visto em um lugar com uma vantagem tão óbvia,” ela disse, fungando em desdém. Suas presas ocasionalmente apareciam enquanto mastigava a carne, revelando a sua natureza não humana.

A declaração de Holo e suas presas trouxeram sua natureza básica de lobo para a mente de Lawrence, e ele considerou algumas complicações.

Caso se encontrassem com lobos, a situação seria problemática.

“Mas devemos ficar bem. Mesmo se acontecer de encontrarmos uma matilha, vamos jogar um pouco de carne para eles. Afinal nós lobos não entrarmos em brigas sem sentido.”

Lawrence assentiu e agarrou as rédeas para começar a cruzar as planícies; a brisa suave cheirava levemente a animais selvagens. Lawrence murmurou uma prece silenciosa por viagens seguras.

 

“Um faram de prata.”

“Nops. É uma marinne falsificada.”

“Espere, a marinne falsificada não era essa aqui?”

“Não, essa é a última versão da moeda de prata do bispo Radeon.”

“...”

Holo ficou em silêncio, segurando várias moedas de prata na mão.

Lawrence estava tentando ensinar ela os nomes de várias moedas como forma de combater o tédio, mas mesmo Holo, a Sábia Loba, se debatia com moedas cujo tamanho e modelo eram tão similares.”

“Bem, você vai aprender na medida que for usando, sem dúvidas,” disse Lawrence.

Holo estava tão séria que Lawrence tinha medo de provocá-la, mas seu esforço para ser atencioso só parecia machucar ainda mais o orgulho dela. Ela o encarou, suas orelhas se agitando raivosamente sob seu capuz.

“Mais uma vez!” ela falou.

“Tudo bem, desde o começo.”

“Mm.”

Trenni de prata, phiring de prata, ryut de prata, marinne de prata falsificada, faram de prata, moeda do rei careca de Landbard de prata, moeda do templo Mitzfing de prata, moeda do templo Mitzfing de prata falsificada, moeda do São Mitzfing de prata, moeda Mitzfingnatal de prata, e esta é...”

“...E-espere.”

“Hm?”

Lawrence tirou os olhos da palma de Holo, onde esteve apontando para as várias moedas. A expressão dela era complicada — parecia ser raiva e prestes a cair em lágrimas.

“V-você está zombando de mim, não está?” ela disse.

Lawrence se lembrou de ter acusando seu próprio professor da mesma coisa, quando ele teve que aprender os nomes de todas as diferentes moedas — assim, sem pensar, ele riu.

“Rrrrrr.”

Holo rosnou e mostrou suas presas, e Lawrence rapidamente se recompôs. “A diocese Mitzfing em particular emite várias moedas. Não estou zombando você, de verdade.”

“Então não ria,” Holo resmungou, olhando de volta para as moedas. Lawrence não pode deixar de sorrir.

“De qualquer forma,” Holo continuou, “por que existem tantas moedas? Parece um grande incômodo.”

“Elas são feitas quando uma nova nação é estabelecida — ou entra em colapso. Um poderoso senhor da região ou igreja podem emitir moeda e, é claro, não há limites para a falsificação. Mesmo a ryut de prata começou como uma moeda trenni falsa, mas foi tão amplamente utilizada que se tornou uma moeda independente.”

“Mas quando peles eram utilizadas, você sempre sabia com o que estava lidando,” disse Holo, farejando e finalmente suspirando de irritação. Ela poderia ser capaz discernir as moedas pelo cheiro, mas Lawrence não sabia o quão sério ela estava levando isso.

“Ainda assim, é uma boa maneira de matar o tempo, não é?” ele propôs.

Sem muito além de um sorriso, Holo empurrou a coleção de moedas de volta para as mãos de Lawrence. “Hmph. Basta. Tá na hora de tirar um cochilo.”

Holo se levantou, ignorando o sorriso sofrido de Lawrence. Ele falou enquanto ela ia até o leito da carroça.

“Mesmo dormindo, você vai saber se os lobos se aproximarem?”

“É claro que sim.”

“Vai ser inconveniente se formos cercados.”

Ser encurralado por mercenários ou bandidos era, obviamente, preocupante, mas pelo menos poderia argumentar com eles. Lobos, por outro lado, pouco se importava com palavras humanas. Nunca se sabe o que poderia levá-los a atacar.

Mesmo com Holo ao seu lado, Lawrence estava inquieto.

“Você se preocupa excessivamente,” disse Holo, se virando com um sorriso, talvez sentindo sua ansiedade. “A maioria dos animais são bastante conscientes, estejam eles dormindo ou não. Apenas os humanos são indefesos durante o sono.”

“Você seria mais convincente se roncasse menos.”

O rosto de Holo endureceu com as palavras de Lawrence. “Eu não ronco!”

“...Bem, não é muito alto, eu acho,” Lawrence admitiu. Ele achava o ronco dela bastante charmoso, mas as rugas na testa de Holo franziram ainda mais.

“Eu não ronco.”

“Tudo bem, tudo bem,” disse Lawrence, rindo, mas Holo voltou para o banco e se inclinou perto dele.

Não ronco.”

“Tudo bem! Entendi!”

Holo parecia considerar isto uma questão de honra, e Lawrence achou sua expressão penetrante irritante. Ela constantemente conseguia sair por cima desde que se conheceram, e ele percebeu que estava acostumado com esse tratamento.

Ela não parecia ter mais nada a dizer; com uma expressão azeda, ela deu as costas para Lawrence sem a menor cerimônia.

“Ainda assim, realmente não parece ter ninguém por perto,” Lawrence murmurou casualmente, sorrindo para si mesmo das artimanhas de Holo.

De fato, não havia uma única alma na extensa planície, até onde os olhos podem ver.

Mesmo levando em conta os rumores de lobos, Lawrence esperava pelo menos algumas pessoas estarem pegando o atalho para Ruvinheigen, mas quando ele olhou para trás, não havia ninguém à vista.

“Rumores são uma força poderosa,” disse Holo.

Mesmo quando suas costas se viravam vagarosamente, sua maneira de continuar a conversa era divertida, e Lawrence riu de si mesmo. “É verdade,” disse ele com um aceno de cabeça.

“Embora não seja bem verdade que não tenha ninguém por perto,” disse Holo, seu tom um pouco diferente e a cauda debaixo de seu manto balançava inquieta.

Então ela suspirou, aborrecida.

Até agora, Holo escovou sua cauda sem alarmar os mercadores pelos quais passavam na estrada. Quando Lawrence viu Holo esconder sua cauda deliberadamente, ele se perguntou por que — e logo teve sua resposta.

“Farejo ovelhas. Haverá um pastor à frente — odeio tanto pastores.”

Se houvesse ovelhas nas planícies à frente, haveria pastores também. Os pastores eram lendários por sua capacidade de detectar lobos, e Holo devia saber isso.

Seu pequeno nariz torceu quando falou deles, fazendo seu desgosto inteiramente evidente.

Pastores e lobos eram inimigos naturais.

Mas como mercadores e lobos também eram basicamente opostos, Lawrence ficou quieto sobre este ponto.

“Devemos desviar?”

“Nem, são eles que devem fugir de nós. Não há nenhuma necessidade para nós mudarmos o curso.”

Lawrence percebeu que estava rindo do desagrado de Holo. Ela o encarou, mas ele fingiu não perceber e olhou para outro lugar.

“Bem, se você diz, vamos manter o curso. Os campos se ajustam à nossa carroça muito bem.”

Holo assentiu em silêncio enquanto Lawrence tomava as rédeas.

A carroça viajou ao longo da estreita estrada através das planícies e, por fim, pontos brancos que poderiam ser ovelhas se tornaram visíveis à distância. A expressão irritada de Holo permanecia.

Lawrence percebeu quando lançou um a olhar, e a garota lobo de olhos afiados pareceu notar.

Ela falou, torcendo o lábio. “Tenho odiado pastores antes mesmo de você nascer. Conviver com eles agora é impossível,” ela disse, suspirando enquanto olhava para baixo. “Tem toda essa carne deliciosa simplesmente vagando por aí, mas imagine poder penas olhar para ela, nunca saborear — você os odiaria também, não?”

Seu tom sombrio era divertido, mas estava claro que ela estava de fato muito séria, então Lawrence fez um esforço para manter uma cara séria enquanto olhava para a frente.

Eles agora tinham se aproximado o suficiente do rebanho de ovelhas que Lawrence pudesse distinguir uma da outra.

As ovelhas estavam agrupadas bem próximas umas das outras, por isso era difícil ter certeza do número exato que vagavam preguiçosamente sobre a grama, mastigando calmamente.

Claro, nem tudo eram ovelhas nas planícies. A nêmese de Holo, o pastor, também estava lá, acompanhada por um cão pastor.

O pastor usava uma túnica cor de capim seco, e ele tinha uma corneta fixada na cintura com uma faixa cinza-névoa. Ele também carregava um cajado que era maior que sua altura, com um sino do tamanho da palma da mão fixado na parte superior.

Um cão pastor de pelo preto corria para lá e para cá em volta de seu mestre, como que mantendo guarda. Seu pelo longo o fazia parecer um lampejo de fogo negro enquanto corria através das planícies.

Dizia-se que havia duas coisas que os viajantes precisavam ter cuidado quando se deparassem com um pastor em suas viagens.

A primeira era não ofender o pastor. A segunda era se certificar que nas vestes pastor não se escondia um demônio.

Os pastores, que vagavam pelas vastas planícies com nada além de cães pastores como companhia, invocavam tais avisos estranhos porque suas vidas eram ainda mais solitárias do que a dos mercadores viajantes — frequentemente eram vistos quase como inumanos.

Liderando seus rebanhos pelas planícies sozinho, controlando os animais com nada mais do que um cajado e uma corneta na mão — era fácil imaginar pastores como uma espécie de feiticeiros pagãos.

Alguns diziam que encontrar um pastor enquanto viajava garantia proteção contra acidentes durante uma semana, graças aos espíritos da terra — outros diziam que os pastores eram demônios disfarçados, e se você baixasse a guarda, eles prenderiam sua alma dentro de uma das ovelhas que eles cuidavam.

Da sua parte, Lawrence não achava estranho essas crenças. Pastores eram misteriosos o suficiente para justificar tais ideias.

Ele ergueu a mão e acenou três vezes na forma que se tornou um rito de saudação para os pastores, e ele ficou aliviado ao ver o pastor levantar e abaixar seu cajado quatro vezes na forma tradicional. No mínimo, este pastor não era um fantasma.

Esta primeira barreira tinha sido ultrapassada, mas o verdadeiro teste viria quando chegasse mais perto e confirmasse que o pastor não era um demônio disfarçado.

“Eu sou Lawrence, um mercador viajante. Esta é minha companheira, Holo,” declarou Lawrence como forma de introdução, uma vez que ele chegou perto o suficiente ver a costura no manto do pastor e fez seu cavalo parar. O pastor era bastante pequeno de estatura, apenas um pouco mais alto do que Holo. Enquanto Lawrence falava, o cão que tinha juntado as ovelhas veio trotando até seu mestre, sentando ao lado do pastor como um cavaleiro fiel.

Olhos cinzentos tingidos de azul constantemente avaliavam Lawrence e Holo.

O pastor estava em silêncio.

“Eu vim por esta estrada e encontrei você pela graça de Deus, e se você é um bom pastor e sincero, será um bom encontro.”

Um verdadeiro pastor seria capaz de provar a si mesmo com o hino e dança tradicionais de sua espécie.

O pastor assentiu lentamente e plantou seu cajado diretamente na frente dele.

Lawrence se viu surpreendido com a pequena mão fina do pastor, mas ele ficou ainda mais surpreso com o que veio em seguida.

“Pela bênção de Deus que está no céu...”

A voz que entoou o hino do pastor era a de uma jovem garota.

“Pela proteção dos espíritos da terra...”

Movendo seu cajado com habilidade, a pastora desenhou uma seta no chão com facilidade e, em seguida, a partir da ponta da seta, fez um círculo em torno de si mesma no sentido anti-horário.

“A palavra de Deus é levada pelo vento, e as bênçãos dos espíritos da terra habita a própria grama comida pelo cordeiro.”

Uma vez que seu círculo alcançou a ponta da flecha, ela começou a bater os pés na terra.

“Os cordeiros são guiados pelo pastor, e o pastor por Deus.”

Finalmente, ela segurou o cajado erguido, alinhado com a ponta da seta na terra.

“Pela graça de Deus, o pastor segue o caminho dos justos.”

Não importa o país, o hino do pastor era sempre o mesmo. Não era hábito de pastores de se associarem como fazem os artesãos ou comerciantes, mas não era nenhum exagero dizer que seu hino e dança eram universais.

Era o suficiente para dar credibilidade à ideia de que os pastores poderiam conversar através de grandes distâncias, enviando suas palavras ao vento.

“Minhas desculpas por duvidar. Você certamente é uma pastora,” disse Lawrence quando descia da carroça. A boca da garota se curvou em um sorriso. O capuz ainda obscurecia muito seu rosto, por isso era difícil ter certeza, mas com base no que era visível, ela era bonita.

Mesmo enquanto se mantinha como um cavalheiro, Lawrence estava cheio de curiosidade.

Mulheres mercadoras eram raras, mas pastoras eram ainda mais raras. Levando em conta que ela também era uma jovem moça, um mercador curioso não poderia deixar de estar interessado.

No entanto, mercadores são completamente desajeitados em qualquer coisa fora do mundo mercantil.

Lawrence era um bom exemplo disso. Incapaz de puxar um assunto além do seu encontro na estrada, ele suprimiu sua curiosidade e se prendeu apenas à saudação mais padrão.

“Tendo encontrado você pela graça de Deus, eu gostaria que você orasse por nossas viagens seguras, pastora.”

“Com prazer.”

Ao som da voz da garota, calma como as ovelhas pastando, a curiosidade de Lawrence cresceu mais que uma nuvem de verão. Ele não demonstrava, mas foi só com o esforço que manteve sua curiosidade escondida. Não era de sua natureza perguntar descaradamente questões pessoais — tampouco era de sua natureza lhe conceder qualquer talento para galantear. Ao se aproximar da pastora para receber sua oração, ele lembrou de Weiz, o cambista em Pazzio, e invejou sua facilidade em lidar com mulheres.

Além disso havia Holo que estava sentada na carroça — Holo que odiava todos os pastores.

De alguma forma, esse último fato foi o maior motivo para sufocar sua curiosidade.

Enquanto Lawrence considerava isto, a pastora segurou alto seu cajado para fazer a oração por uma viagem segura de que havia sido solicitada.

Palti, mis, tuero. Le, spinzio, tiratto, cul.

As antigas palavras da escritura, usadas por pastores em todos os países independente da língua, mantinham sua misteriosa qualidade, não importa quantas vezes Lawrence as ouvisse.

Pastores não sabiam o verdadeiro significado das palavras, mas quando oravam por viagens seguras, eles sempre usavam as mesmas palavras como se fosse um antigo acordo.

A maneira como a pastora abaixou seu cajado e soprou uma longa nota em sua corneta também era tradição.

Lawrence deu seus agradecimentos pela a oração de segurança e entregou uma moeda de cobre marrom. Cobre, em vez de ouro ou prata, era costume como um símbolo de agradecimento por um pastor, e também era tradição o pastor não recusar tal símbolo. A garota estendeu a mão, que era apenas um pouco maior que a de Holo, e Lawrence a agradeceu novamente enquanto colocava a moeda na palma da mão dela.

Incapaz de encontrar qualquer razão para continuar sua conversa com ela, Lawrence relutantemente desistiu.

“Bem, então,” ele disse, se preparando para partir — embora seus pés demorassem para se mover enquanto tentava voltar para a carroça.

Inesperadamente, foi a pastora que falou em seguida.

“Er, por acaso seu destino é Ruvinheigen?”

Sua voz clara era diferente da de Holo, e era difícil imaginar que ela fazia parte daqueles que escolheram a dura vida de pastor. Lawrence espiou por cima do ombro para Holo, que desviou seu olhar para outra direção. Ela parecia bastante entediada.

“Sim, estamos indo para lá vindo de Poroson.”

“Como você chegou a saber sobre este caminho?”

“É a trilha de peregrinação de São Metrogius. Ouvimos a respeito dela faz pouco tempo.”

“Entendo... Er, então você já ouviu sobre os lobos?”

Com estas palavras, Lawrence entendeu por que a garota tinha se dado ao trabalho de iniciar uma conversa.

Ela, sem dúvida, pensou que Lawrence era um simples mercador que tinha escolhido esta estrada sem qualquer informação.

“De fato, ouvi,” ele respondeu. “Mas estou com pressa, então decidi correr o risco.”

Não havia necessidade de explicar sobre Holo. Por lucro suficiente, qualquer mercador se arriscaria em uma estrada infestada de lobos, então não havia motivo para suspeitas.

Mas a reação da pastora foi estranha.

Ela parecia quase desapontada.

“Entendo...,” ela murmurou baixinho, seus ombros caídos. Ela claramente esperava por algo — mas o quê?

Lawrence remoía a conversa — não havia muitas possibilidades.

Ou ela esperava que ele não soubesse sobre os lobos ou ela não tinha pressa.

Isso foi tudo o que pôde adivinhar a partir das breves palavras.

“Algum problema?” ele perguntou.

Se não perguntasse à garota quais eram seus problemas, ele estaria falhando, não como um mercador, mas como um homem. Ele se portou do modo mais cavalheiresco que conseguiu e sorriu de negócios para ela.

Atrás dele, Holo estava provavelmente, bastante irritada agora, mas ele afastou o pensamento.

“Er, bem, um... é que...”

“Pode ser qualquer coisa — há algo que você precisa?”

Quando se tratava de negócios, Lawrence estava em casa. Vender algo para ela o faria saber mais sobre essa rara pastora — até mesmo fadas eram mais comuns. É claro que, por trás de seu sorriso que ele estava tentando descobrir exatamente o que poderia vender para ela.

Mas suas próximas palavras fizeram tais pensamentos evaporaram.

“Bem, eu... eu estava pensando se você não poderia... me contratar.”

Confrontado por esta pastora que o olhava enquanto ela segurava, não, agarrava seu cajado, a mente de Lawrence disparou.

Quando um pastor pedia para ser contratado, era equivalente a ser perguntado se deixaria suas ovelhas sob o cuidado deles.

Mas Lawrence não tinha ovelhas. O que ele tinha era uma única loba inteligente, atrevida e gulosa.

“Ah, bem, como você pode ver, sou um mercador, e não trabalho negociando ovelhas. Sinto muito, mas...”

“Oh, não, não é isso —”

Confusa, a garota acenou as mãos apressadamente, então olhou de um lado para o outro como se para ganhar algum tempo.

Sua cabeça estava tão encoberta pelo capuz que seu olhar não era visível, mas estava claro que procurava alguma coisa.

Talvez alguma ferramenta que a ajudaria a explicar seu pedido.

Logo pareceu que ela tinha encontrado — por debaixo de seu capuz, ela de alguma forma comunicou uma sensação de alívio, quase como se tivesse orelhas expressivas escondidas lá embaixo, como Holo.

O que a garota pastora estava procurando estava sentado alerta ao seu lado, um retrato fiel de um cavaleiro de quatro patas de pelo preto — seu cão pastor.

“Eu sou uma pastora. Um, eu cuido do meu rebanho, mas também posso afastar lobos.”

Enquanto ela falava, acenou um pouco com a mão direita e o cão preto continuou atento.

“Se você me contratar, posso proteger você e sua companheira dos lobos. Poderia considerar isto?”

Como se para pontuar discurso de vendas desajeitado de sua mestra, o cão latiu uma vez e em seguida, correu para reunir o rebanho, que começava a dispersar.

Embora cavaleiros ou mercenários fossem muitas vezes contratados como proteção em estradas perigosas, Lawrence nunca tinha ouvido falar de contratar um pastor para expulsar os lobos, mas agora que pensava sobre isso, ter um pastor ao seu lado lhe daria um conjunto apurado de olhos e ouvidos. Ele nunca tinha ouvido falar de tal acordo apenas porque os pastores que propõem tal coisa eram inexistentes.

Lawrence olhou para o cão enquanto ele rodeava as ovelhas, como se treinando para possíveis ataques de lobos, e então se virou para a garota.

Vivendo a solitária vida de pastora, ela provavelmente nunca teve a oportunidade de dar um falso sorriso simpático. Sob o capuz, ela sorria desajeitada.

Lawrence pensou por um momento, então falou.

“Espere um momento, se puder. Vou conversar com minha companheira.”

“O-obrigado!”

Da sua parte, Lawrence estava pronto para contratar a garota sem exigir condições, mas contratar a pastora significava pagar ela com dinheiro, e sempre que o dinheiro estava envolvido, um mercador não conseguia pensar em nada além dos possíveis ganhos e perdas.

Lawrence voltou para carroça e levantou a voz para Holo que descansava ali, observando entediada. Se ele queria saber sobre a capacidade de um pastor para repelir os lobos, pensou que sua melhor aposta seria a perguntar para o lobo mais próximo.

“O que você acha dessa pastora?”

“Hm? Mm...” Holo esfregou os olhos preguiçosamente e olhou para a garota; Lawrence fez o mesmo. A pastora não devolveu seu olhar enquanto dava ordens para seu cão.

Ela não parecia estar tentando mostrar suas habilidades — estava apenas reunindo as ovelhas dispersas. Ovelhas, afinal, tendem a se dispersar quando param de pastar e chegam mais perto quando forçadas a andar.

Holo afastou seu olhar da garota e falou irritada. “Eu sou muito mais atraente.”

O cavalo relinchou, como se estivesse rindo.

“Isso não — quero dizer a respeito das habilidades dela.”

“Habilidades?”

“O que pode dizer dela, como uma pastora? Se ela for boa, pode valer a pena contratá-la. Você ouviu a nossa conversa, tenho certeza.”

Holo olhou para a garota, em seguida, devolveu um olhar amargo para Lawrence. “Você já tem a mim, não tem?”

“Claro que tenho. Mas nunca me ocorreu de contratar um pastor para expulsar os lobos. Poderia haver uma nova oportunidade de negócios nisso.”

Holo, a Sábia Loba, podia dizer quando uma pessoa estava mentindo. Apesar da verdade da afirmação de Lawrence, ela ainda o olhou com olhos desconfiados.

Lawrence logo entendeu o porquê.

“Não estou cego pelo charme dela. Você é mais atraente, no fim das contas,” ele disse, encolhendo os ombros como se ajudasse, “Okay?”

“Suponho que você passou no teste,” veio a resposta. Era um pouco duro ser classificado assim, mas Holo sorriu agradavelmente, então certamente era uma piada.

“Então, e as habilidades dela?” ele perguntou.

O rosto de Holo ficou instantaneamente tenso mais uma vez. “Não posso dizer com certeza sem vê-la em ação, mas acho que ela ficaria na metade mais hábil.”

“Pode ser um pouco mais concreta?”

“Eu poderia tomar uma das suas ovelhas. No entanto, ela conseguiria lidar com lobos normais, mesmo que atacassem juntos.”

Era uma avaliação inesperadamente elevada.

“O tratamento dela com as ovelhas é muito competente. Os piores pastores são os que têm cães inteligentes que sabem como cooperar com eles. Ela tem ambos, ouso dizer. Sua voz sugere que ela é jovem, o que a torna ainda pior. Antes que ela se torne ainda mais perigosa, não me importaria de —”

“Tudo bem, tudo bem. Obrigado.”

Lawrence não tinha certeza se Holo estava brincando ou não, mas o farfalhar de sua cauda sugeria que ela estava meio séria.

Era o suficiente para saber que a pastora era boa. Se ele a contratasse provisoriamente, ainda custaria dinheiro, que seria desperdiçado se ela fosse desajeitada. Lawrence se virou para falar com a garota, mas foi interrompido por Holo falando.

“Ei.”

“Sim?”

“Você vai realmente contratar aquilo?” A voz de Holo tinha um tom acusador.

Lawrence ouviu e lembrou que Holo não tinha nenhum apreço por pastores.

“Aah. Você a odeia tanto assim?”

“Bem, já que está perguntando, não, eu não ligo para os pastores, mas não é isso que quero dizer. Estou falando de você.”

Esta era a própria definição de ser pego desprevenido.

“...Como é que é?” perguntou Lawrence com toda a sinceridade, não tendo ideia do que Holo queria dizer. Holo suspirou em irritação e estreitou os olhos. Sua íris âmbar tingida de vermelho estava ansiosa, queimando com um fogo frio.

“Se você vai contratá-la, isso significa que ela vai viajar com a gente por um tempo. Estou perguntando a você se você não tem nenhum problema com isso.”

Os olhos de Holo fixaram em Lawrence com frieza.

Ela se sentou na parte de trás da carroça e então olhou com desprezo para ele.

Isto não era necessariamente o que aquilo significava, mas Lawrence não conseguia afastar a sensação de que ela estava muito zangada com ele.

Lawrence freneticamente pensou e remoeu sobre isso. Holo estava furiosa com ele porque iria contratar uma pastora. Se não fosse porque ela odiava pastores, não havia muitas outras possibilidades que pudesse imaginar. As opções desapareceram uma após a outra, deixando apenas uma.

Talvez Holo preferia viajar como um par, só os dois.

“Você não gosta disso?” ele perguntou.

“Eu não disse isso,” veio sua rápida e aborrecida resposta.

Meditando com carinho este lado rabugento da Holo, Lawrence sorriu levemente enquanto falava. “É cerca de dois dias até Ruvinheigen. É tão ruim assim?”

“...Eu também não disse isso,” ela falou, lhe atirando um olhar que não podia deixar de achar encantador.

“Bem, nesse caso, eu sinto muito, mas vou ter que me aproveitar da sua paciência,” ele disse. Ele sorriu abertamente, incapaz de resistir ao charme inesperado de Holo.

Holo franziu sua testa. “O que exatamente tenho que suportar?” ela perguntou.

“Mm, bem...,” disse Lawrence, hesitante. Ele não poderia sugerir descaradamente que ela estava com ciúmes. Uma vez despertada a contrariedade de Holo, sua oposição era incansável.

“Eu só gostaria de ver a eficácia de um pastor contra lobos. Você pode aguentar por dois dias, não pode?”

“...Não é impossível. Mas esta não é a questão.”

“Bem...,” Lawrence começou, preocupado com a pastora — mas Holo aproveitou a oportunidade para continuar.

“Se viajarmos descuidadamente com outra pessoa, eles podem descobrir a meu respeito, não podem? Eu posso lidar com os problemas, mas e você?”

Nessas palavras, Lawrence ouviu algo que o fez enrijecer. Não era sua imaginação, nem era uma coisa grandiosa, e até mesmo a pastora a uma certa distância inclinou a cabeça enquanto observava.

Claro. Era isso. Essa era a outra possibilidade. Como ele tinha esquecido disso? Ele desejava que o suor frio que repentinamente escorria pelo corpo levasse seu erro embora.

Pensar que Holo queria viajar sozinha com ele o havia distraído do óbvio. Ele tinha sido presunçoso.

O olhar de Holo se fazia sentir por trás da sua cabeça.

A mudança no comportamento de Lawrence era óbvia, mesmo à distância, a antiga loba sábia sentada ao lado dele certamente discerniu seus sentimentos internos.

“Oh ho. Agora entendi.”

Lawrence ficou vermelho.

“Você queria que eu dissesse algo assim, mm?”

Ele se virou lentamente para ela, de frente para a garota loba com uma expressão francamente desolada.

Holo colocou uma mão fechada sobre a boca e falou com um tom hesitante, modesto. “Eu...eu queria viajar apenas com você...”

Ela virou seu corpo para longe de forma atraente, desviando o olhar com timidez simulada, por fim o olhou de repente. Nesse breve intervalo, sua expressão mudou de reservada para fria enquanto desferia o golpe final.

“Que piada.”

Lawrence não tinha resposta, se ele estava frustrado ou embaraçado não importava, era questionável se ele sequer seria capaz de se manter de pé.

Querendo pôr uma distância entre ele e Holo de qualquer maneira, ele se virou e começou a caminhar antes que pudesse ser parado por seu chamado.

Lawrence olhou por cima do ombro, se perguntando se ela não tinha completado sua dose tormento, e viu Holo sorrindo lá na carroça.

Era uma espécie de sorriso exasperado.

Ele se sentiu melhor assim que o viu.

“Honestamente,” disse com um suspiro, a entregando um triste sorriso.

“Eu duvido que serei exposta em dois dias. Faça como quiser,” disse Holo com um bocejo e olhou para o lado, como se dissesse, “Essa conversa terminou.”

Lawrence assentiu, em seguida foi até a pastora.

Ele teve a sensação de que se tornou um pouco mais próximo de Holo.

“Desculpe a demora.”

“Oh, n-não, imagina. Então —”

“Como soa quarenta trie pela viagem até Ruvinheigen? Com um bônus se os lobos atacarem e nós escaparmos em segurança.”

Lawrence se perguntou se ela iria recusar, já que a conversa com Holo tinha gastado um certo tempo. A boca da pastora ficou aberta, por um momento, mas eventualmente, as palavras de Lawrence pareceram ter tido efeito e ela assentiu rapidamente.

“S-sim, por favor!”

“Negócio fechado, então,” disse Lawrence. Ele estava prestes a estender a mão, selando assim o contrato, quando percebeu que ainda não tinha perguntado à garota o nome dela.

“Posso perguntar seu nome, senhorita?”

“Oh, sim, minhas desculpas,” disse a garota. Ela parecia não ter notado que ainda usava o capuz, e agora ela se apressou a puxá-lo para trás.

Lawrence ultimamente gastava um bom tempo sendo humilhado na frente de Holo, e isto era um colírio para olhos cansados.

O rosto que emergiu era suave e dócil, não muito diferente das ovelhas que ela cuidava, com desbotado, e obviamente despenteados cabelos loiros, amarrados para trás em um rabo de cavalo. Ela estava um pouco suja e desnutrida, mas seus olhos eram de um belo castanho escuro, e em geral ela emanava uma impressão honrosamente empobrecida.

“É N-Norah. Norah Arendt.”

“Mais uma vez, eu sou Kraft Lawrence. Atendo por Lawrence a trabalho.”

Ele pegou a mão tímida de Norah e notou que ela — que era apenas um pouco maior que a mão de Holo — estava tremendo um pouco. Logo, ela se acalmou e agarrou a mão de Lawrence levemente. Embora sua mão fosse pequena, sua aspereza incontestavelmente a marcava como uma pastora.

“Vou contar com você até Ruvinheigen!”

“Muito obrigado,” disse Norah.

Seu sorriso era como grama macia de verão.

 

Lawrence assumiu que só seria capaz de ir tão rápido quanto as ovelhas pudessem andar, mas estava enganado.

As ovelhas eram enganosamente rápidas, e quando estavam escalando montanhas a carroça era facilmente deixada para trás.

Seu beeeé era tão pastoral como o de costume, e o rebanho era como um fio branco que deslizava rapidamente por sobre a terra.

Norah, é claro, acompanha sem dificuldade. No momento, as ovelhas lideravam o caminho, seguidas por Norah, que por sua vez era seguida pela carroça de Lawrence.

“Enek!” Norah chamou, e como um raio de chamas negras, o cão de pelo escuro veio disparado até sua mestra, saltando no ar, incapaz de esperar pela sua próxima ordem. Mal o sino do cajado de Norah tocou e Enek correu para o grupo de ovelhas.

Lawrence não sabia muito sobre pastores, mas poderia dizer que o controle de Norah sobre o cão pastor era claramente excelente. A harmonia que ela tinha com Enek não foi ganha em um único dia.

Mas Enek não parece ser um cão jovem. Norah não poderia ter mais do que dezessete ou dezoito anos, por isso, talvez seus pais tenham sido pastores e o cão pastor fosse a sua herança.

Sua curiosidade de mercador era óbvia.

“Então, Norah, você...”

“Sim?”

“Você é uma pastora há muito tempo?”

Depois de ouvir a pergunta de Lawrence, Norah fez o sino dar uma longa badalada, então diminuiu o passo e se aproximou do lado direito da carroça.

Holo cochilava ao longo do lado esquerdo da carroça.

“Apenas por quatro anos até agora.”

Uma vez que a profissão exigia apenas que memorizasse os hinos, danças e frases para abençoar os viajantes que solicitassem, não era raro encontrar jovens pastores com dez anos de experiência.

Mesmo sem um cajado adequado ou cão pastor, você poderia guiar um rebanho com um pedaço de madeira morta e ainda ser um bom pastor.

“Então, o seu cão pastor — er, Enek, quero dizer — você o treinou?”

“Não, eu o encontrei.”

Era uma resposta incomum. Um cão pastor competente era uma posse valorizada — era impensável que um pastor deixaria o seu escapar.

Lawrence só podia pensar em um cenário. O seu antigo mestre deve ter se aposentado, deixando o cão para outro.

“Me tornei uma pastora depois que o encontrei.”

“E antes disso?” Lawrence perguntou sem pensar.

“Eu ajudava em um asilo de indigentes ligado a uma abadia e em troca eles me deixavam viver lá.”

Não era educado bisbilhotar o passado de alguém, mas Norah respondeu suavemente, aparentemente não estava magoada. Como ela era uma das raras pastoras, talvez estivesse acostumada com tais perguntas.

Se ela uma vez viveu em um asilo de pobres, isso sugeria que ela não tinha nem pais nem herança, mas agora ela era uma bela pastora — parece que os deuses ainda abençoam alguns com sorte.

“Quando eu estava no asilo, pensei que nunca poderia deixar aquele trabalho. Foi uma boa sorte eu ter encontrado Enek.”

“O resultado da oração diária, certeza.”

“Sim, não paro de pensar que devo agradecer a Deus por nosso encontro.”

O sino tocou novamente e Enek voltou veloz para seu lado.

Enquanto o som seco das pegadas de Enek chegavam aos ouvidos de Lawrence, Holo mexeu, se inclinando levemente contra a lateral da carroça. Parecia verdade, certamente, que ela poderia detectar a aproximação de um lobo mesmo durante o sono.

“Eu o conheci depois que o asilo perdeu suas terras para um mercador desonesto,” disse Norah.

Amargurava Lawrence ouvir falar dos malfeitos de um colega mercador, mas o fato era que tais coisas eram comuns.

“Quando o encontrei, ele estava em um triste estado, coberto de feridas,” continuou Norah.

“De lobos?”

Holo pareceu se mover. Talvez só estivesse fingindo dormir.

“Não, acho que foram salteadores ou mercenários... Não havia lobos na área. Ele estava vagando na base de uma colina com este cajado em sua boca.”

“Entendo.”

Enek latiu com prazer ao ter a cabeça acariciada.

Sem dúvida, o cachorro não foi o único vagando meio morto ao pé da colina. A maioria dos que eram expulsos de um asilo de indigentes provavelmente teriam morrido de fome. O vínculo entre a garota e o cão — eles passaram por grandes dificuldades juntos — não era algo superficial.

E a vida de um pastor era solitária e ruim. Enek era certamente um companheiro bem-vindo.

Certamente melhor que os bens que Lawrence transportava. Cavalos também não conversavam muito.

“Ainda assim, esta é a primeira vez que vi um pastor oferecer os seus serviços como escolta.”

“Hm?”

“Normalmente eles recusam esse tipo de pedido, imagina se oferecer para esse trabalho,” disse ele com uma risada. Norah parecia frustrada e olhou às pressas para o chão.

“Um...,” ela começou.

“O que foi?”

“Eu só... queria falar com alguém...”

Aparentemente, o jeito que ela segurava seu cajado — que era mais alto que ela — era uma espécie de hábito.

Mesmo assim, Lawrence certamente a entendia.

Tirando os habitantes da cidade, aqueles que não se viam atingidos pela solidão eram poucos.

“Embora haja uma outra coisa,” a garota continuou. Seu comportamento se animou quando olhou para cima. “Eu gostaria de me tornar uma costureira.”

“Ah, então é do contrato de um membro de guilda que você precisa.”

Norah novamente parecia embaraçada com as palavras de Lawrence. Não sendo uma mercadora, parecia que ela não estava acostumada a uma conversa franca sobre dinheiro.

“Eles são caros em quase todos os lugares. Apesar de não ser necessariamente assim em uma cidade nova.”

“Sério? Isso é verdade?” seus lindos olhos castanhos se iluminaram com sincera antecipação que era totalmente encantadora.

Era o maior desejo da maioria que vive viajando se estabelecer em uma cidade. Tal vida era difícil, mesmo para um homem adulto, de modo que a pastora deve ter sentido uma dificuldade ainda maior.

“Às vezes as taxas de membros de uma guilda são gratuitas, em cidades recém fundadas.”

“Gr-gratuitas...,” sussurrou Norah com um semblante que traia sua descrença.

Após dias suportando as brincadeiras de Holo, ver um rosto tão inocente amoleceu o coração de Lawrence.

“Se encontrarmos quaisquer outros comerciantes na estrada, você deve perguntar se eles sabem de alguma nova cidade na área. Se souberem, provavelmente ficariam felizes em te dizer.”

Norah assentiu, seu rosto alegre, como se tivesse sido informada do paradeiro de algum grande tesouro.

Se essas notícias a deixavam tão feliz, claramente valia a pena informa-la.

E havia algo na garota que o fazia querer ajudá-la — algo claramente transmitida na forma que como trabalhava tão duro com braços tão finos.

Ele se viu desejando que a loba nas proximidades — que poderia fazer um velho mercador astuto de tolo com uma única palavra — pudesse se inspirar um pouco no comportamento da pastora.

Ela seria mais agradável dessa forma, ele pensou consigo mesmo após um momento de hesitação.

“Menos cidades foram fundadas recentemente, sendo assim, você faz bem em guardar dinheiro progressivamente, enquanto ora por sorte, claro,” disse Lawrence.

“Sim. Deus pode ficar irritado se depender demais dele.”

Ele pensou que a garota estava séria, por isso seu tom de brincadeira o pegou de surpresa.

Se Holo não estivesse dormindo por trás dele, teria convidado Norah para se sentar no banco da carroça.

No momento em que o pensamento passou por sua mente, Holo se mexeu; Lawrence falou apressadamente. “Uh, er, assim, estritamente falando do ponto de vista de um mercador, você pode ganhar mais dinheiro escoltando gente como eu do que cuidando de ovelhas. Certamente, disputas territoriais são difíceis.”

“...Elas são,” disse Norah com um sorriso amargo depois de uma pequena pausa. “Os lugares mais seguros já têm pastores os ocupando.”

“Então, tudo o que resta são campos dominados por lobos.”

“Sim.”

“Lobos certamente podem ser problemáticos — ow!”

Lawrence sentiu uma dor súbita na sua nádega e levantou involuntariamente do assento. Norah olhou para ele, intrigada, e ele forçou um sorriso antes de se sentar de novo.

O sono da Holo era evidentemente um fingimento. Ela o beliscou com força.

“Tenho certeza que os lobos estão apenas à procura de comida, mas às vezes eles matam humanos no processo... Um lugar mais seguro seria bom,” disse Norah.

“Bem, os lobos são criaturas manhosas e traiçoeiras,” disse Lawrence, parcialmente descontar o beliscão de Holo.

“Se eu falar mal deles, eles podem ouvir, então não direi.”

A maneira humilde de Norah era muito charmosa, mas a resposta de Lawrence, “De fato”, era principalmente direcionada para a loba ao atrás dele.

“Ainda assim,” ele continuou, “se você tem habilidade suficiente para defender o seu rebanho mesmo através de campos infestados de lobos, seus serviços não deveriam ter grande demanda e seu rebanho enorme?”

“Não, não, é só pela graça de Deus que eu permaneço segura... e eu sou grata por conseguir pelo menos algum trabalho. Um enorme rebanho, eu simplesmente não poderia...”

Talvez ela estivesse apenas sendo modesta, mas parecia que havia algo mais por trás do triste sorriso dela. Lawrence não poderia pensar em muitas possibilidades. Ela estava insatisfeita com seu patrão?

Embora ele saiba que não era apropriado, a natureza inquisitiva de Lawrence ganhou voz novamente. “Bem, creio que o seu chefe é capaz de notar sua habilidade,” disse. “Talvez seja hora de uma mudança.”

Pastores, afinal, eram comerciantes também. Era natural que devessem buscar condições mais favoráveis.

“Ah, eu não poderia!” engasgou Norah, pega de surpresa.

Também não parecia que ela estava negando por ter medo de ser ouvida. Ela foi sincera.

“Minhas desculpas. Sinto muito. Como um mercador, estou sempre pensando em ganhos e perdas.”

“N-não, está tudo bem,” disse Norah, como se surpresa com sua própria ousadia. “...Um,” ela começou.

“Sim?”

“Eu, eu estava me perguntando... as pessoas mudam seus empregadores... com frequência?”

Era uma pergunta estranha.

“Bem, sim, eu acho que é normal estiver insatisfeito com os termos do emprego.”

“Entendo...”

Quando ela falava assim, soava como se estivesse de alguma forma insatisfeita.

No entanto, o choque total da Norah com a sugestão de mudar esses termos implicava que ela achava a ideia ultrajante. Se fosse esse o caso, era possível deduzir a identidade de seu empregador.

Ela não tinha parentes, logo, encontrar alguém que confiasse suas ovelhas para ela era difícil. Mesmo o pastor mais vigoroso poderia perder duas ovelhas de cada dez que recebesse — e esta era uma perda aceitável. Seria normal alguém se preocupar a capacidade de uma garota aparentemente frágil trazer de volta até metade do rebanho.

Levando isso em conta, quem contratou Norah tinha que ser alguém motivado por caridade ao invés de interesse próprio.

Em outras palavras...

“Se você não se importa que eu pergunte, o seu empregador por acaso é a Igreja?”

A expressão de Norah era tão atordoada que Lawrence estava feliz que por tê-la visto. “Como você —”

“Isso é segredo de um mercador,” disse Lawrence com uma risada. Holo pisou no seu pé levemente. “Não fique arrogante,” ela parecia estar dizendo.

“Er, bem...sim. Eu recebo meu rebanho de um padre da Igreja, mas...”

“Se é a Igreja, não deve ter problemas com o seu trabalho. Você encontrou um bom empregador.”

Seu patrão era provavelmente um sacerdote ligado ao asilo que ela tinha mencionado anteriormente. Conexões pessoais eram mais úteis do que sorte ou força.

“Sim, fui verdadeiramente abençoada,” respondeu Norah com um sorriso.

Mas para Lawrence, cuja subsistência era simplesmente discernir a verdade entre bajulação e mentiras, o sorriso de Norah era obviamente falso.

Enquanto Norah virava de lado para trabalhar com Enek, Lawrence olhou para Holo, que esteve fingindo dormir. Holo devolveu seu olhar, então ela fungou e se virou, fechando os olhos.

Se tivesse falado, ela provavelmente teria dito algo como: “Eu não sinto nenhuma simpatia.”

“Eles me confiaram este rebanho,” disse Norah “e eles me ajudam em muitas outras maneiras.”

Ela falou como que para lembrar do fato — era lamentável de ver.

A razão para a expressão abatida de Norah era clara. A Igreja não a estava empregando. Eles estavam observando ela.

É claro que, num primeiro momento, provavelmente parecia ser caridade que eles confiaram a ela um rebanho — que é precisamente o motivo dela nunca ter pensado em mudar de empregadores.

Os pastores eram muitas vezes considerados vagamente hereges. Eles resistiam a constantes acusações de serem “mãos do diabo,” portanto estava longe de ser estranho que a sempre suspeita Igreja viria a duvidar de uma mulher falsamente acusada que assumiu tal trabalho — ainda mais se ela destacava. Era apenas mais uma evidência de magia pagã.

Mesmo a pessoa mais densa acabaria notando tais suspeitas.

Ao mesmo tempo, o salário de um pastor não era alto. Ela trabalhava duro para receber pouco — certamente não teria o suficiente para poupar nada. Lawrence imaginou que esta era a razão pela qual ofereceu seus serviços como escolta.

Mas o senso de mercador de Lawrence dizia a ele para não se envolver demais na questão.

Sua curiosidade estava saciada. Prosseguir ainda mais o faria responsável por futuros desenvolvimentos.

“Entendo,” ele falou. “Eu ouso dizer que você não precisa se preocupar em encontrar um empregador diferente.”

“Você acha?” perguntou Norah.

“Sim — com a insistência da Igreja em uma pobreza honrada, seu salário será sempre um pouco baixo, mas desde que Deus não nos abandone, a Igreja sempre existirá. Você não vai ter que procurar por trabalho. Contanto que tenha trabalho, você vai ter o que comer. Isso não é algo para se agradecer?”

Tendo despertado suas preocupações e sugerido mudar de empregadores, Lawrence sabia que a dura realidade era que ninguém contrataria uma pastora que tinha chamado a atenção da Igreja. Ele não faria com que suas ações roubassem o sustento de uma garota solitária.

Em todo caso, Lawrence não estava mentindo e Norah parecia aceitar isso. Ela assentiu várias vezes, lentamente. “Suponho que sim,” ela concordou.

Era verdade que ter um trabalho — qualquer trabalho — era bom, mas esperança também era importante. Lawrence limpou a garganta e falou tão animado quanto pôde.

“De qualquer forma, tenho muitos conhecidos em Ruvinheigen, por isso vamos perguntar depois se tem qualquer mercador precisando de proteção contra lobos. Afinal, Deus nunca disse nada sobre ter um bom trabalho secundário, hein?”

“Sério? Oh, obrigado!”

O rosto de Norah se iluminou tão alegremente que Lawrence não pôde deixar ser um pouco afetado.

Nessas horas, ele era incapaz de convocar seu desprezo habitual por Weiz, o cambista mulherengo da cidade portuária de Pazzio.

Mas Norah não era uma garota da cidade, nem era uma artesã ou uma vendedora. Ela tinha um frescor único. Parte disso era um sério comportamento que herdou das freiras no asilo, que tinha uma forma ligeiramente negativa de pensar, como se estivesse tentando reprimir seus sentimentos.

Norah parecia ter tomado essa tendência desagradável e a substituído com outra coisa.

Não precisava ser um mulherengo para perceber isso. Lawrence estava disposto a apostar que Enek, que até agora abanava o rabo para Norah, era um macho.

“No fim das contas, se estabelecer em uma cidade é o sonho de todos os que vivem por meio de viagens.”

Estas palavras ainda eram verdadeiras.

Norah assentiu e levantou seu cajado ao alto.

Seu sino soou e Enek correu, voltando para as ovelhas ordenadas ao longo da estrada.

Eles começaram a falar de comida para viagem, se exaltando com as possibilidades.

Se esticando através da planície, a estrada adiante era aberta e fácil.

 

As noites dos pastores chegam mais cedo. Eles decidem onde acampar bem antes do sol se pôr e já estão enrolados e dormindo no momento em que o disco vermelho está baixo no céu e os camponeses estão a caminho de casa. Eles, então, se levantam quando o sol já se pôs e as estradas estão livres de trânsito e passam a noite com os seus cães, vigiando o rebanho.

Quando a aurora começa a aparecer, os pastores dormem em turnos alternados com seus cães. Há pouco tempo para dormir na vida de um pastor — uma razão pela qual a profissão era tão difícil. A vida de um mercador, que pode contar com uma boa noite de sono, é fácil em comparação.

“Trabalho duro,” Lawrence murmurou para ninguém em particular enquanto estava deitado na carroça, segurando um pedaço de carne seca na boca. Ainda não estava frio o suficiente para se preocupar em fazer uma fogueira.

Ele olhou com frequência para Norah, enrolada como uma pedra ao lado da estrada. Ele a ofereceu a carroça, mas ela recusou, dizendo que isso era como ela sempre dormia, antes de se deitar no escasso acolchoamento proporcionado pela grama.

Quando ele desviou os olhos dela, seus olhos pousaram em Holo, que estava a sua direita. Finalmente livre dos olhos curiosos dos seres humanos, ela pôs sua cauda para fora e começou a escovar.

Ela nunca se cansa disso, pensou Lawrence enquanto olhava para Holo ocupada escovando sua cauda, seu perfil era a própria imagem da seriedade. De repente, ela falou, em voz baixa.

“Cuidar diariamente da própria cauda é importante.”

Por um momento Lawrence não entendeu, mas depois se lembrou do que tinha acabado de dizer há pouco tempo para si mesmo; ela estava apenas respondendo. Ele riu silenciosamente e Holo o olhou, com uma pergunta em seu olhar.

“Oh, você falava daquela criança?” ela disse.

“O nome dela é Norah Arendt,” explicou Lawrence, se divertindo com a forma sarcástica de Holo usar a palavra criança para se referir à garota.

Holo olhou para Norah além de Lawrence e então de volta. Assim que Lawrence abriu a boca, ela pegou a carne que ele ia comer. Lawrence estava calado em surpresa por um momento. Quando ele voltou a si e tentou pegar a carne de volta, ele recebeu um olhar tão maligno de Holo que retrocedeu sua mão.

Não era necessariamente por causa de sua provocação, mas ela estava claramente de mau humor.

Ela tinha saído de onde estava para sentar perto de Lawrence enquanto escovava sua cauda, então, presumivelmente, o objeto de sua ira não era ele.

A fonte de seu mau humor era óbvia.

“Olha, eu certamente te perguntei,” disse Lawrence.

Soou como uma desculpa. Holo fungou irritada.

“Hmph. Não posso nem escovar minha cauda em paz.”

“Por que não faz isso no fundo da carroça?”

“Hmph. Se eu fizer isso lá...”

“Se você fizer isso lá, o quê?” Lawrence pressionou Holo que ficou subitamente em silencio, que zombou dele, a carne ainda estava entre os seus dentes. Evidentemente ela não queria discutir o assunto.

Lawrence queria saber o que ela ia dizer, mas se pressionasse mais, ela ficaria verdadeiramente irritada.

Ele desviou o olhar de Holo, cujo humor de cavalo ferido a fazia difícil demais para se lidar, e levou um frasco de couro cheio de água aos lábios.

Lawrence tinha acabado de parar de pensar nela, e enquanto o sol se punha, ele considerou fazer uma fogueira quando Holo disparou para ele. “Você certamente parecia gostar da sua pequena conversa com ela,” ela disse.

“Hm? Com Norah?”

Holo ainda tinha a carne roubada em sua boca quando enquanto olhava para sua cauda — mas a orgulhosa cauda obviamente não era o que estava em sua mente.

“Ela queria conversar. Eu não tinha razão para recusar, tinha?”

Aparentemente, a indulgência da sábia loba não era tão grande a ponto de perdoar uma conversa agradável com uma pastora odiada.

Holo fingiu dormir o tempo todo. Norah tinha olhado para Holo e parecia ter vontade de chamar a garota — que no fim das contas parecia ser mais ou menos da mesma idade — para conversar, mas parou depois de perguntar de seu nome. Caso Holo quisesse falar com Norah, houveram diversas oportunidades.

“Além disso, faz tempo que não converso com uma garota normal,” disse Lawrence brincando quando olhava de volta para Holo — e hesitou com o que viu.

A expressão de Holo tinha mudado completamente.

Mas não era nada como as lágrimas de ciúme que ele esperava ver.

Ela olhou para ele com nada além de piedade.

“Você nem sequer notou que ela odeia falar com você?”

“Huh...?” disse Lawrence, lançando um olhar na direção de Norah, mas parou a si mesmo depois de um momento. Como um mercador, ele não podia continuar caindo no mesmo truque duas vezes.

Fingindo que não tinha olhado para trás, ele se acalmou e lembrou das palavras de um menestrel que uma vez tinha ouvido.

“Bem, se ela se apaixonasse por mim à primeira vista, ela perderia a diversão de se apaixonar ao longo de semanas e meses, eh?” ele falou.

Lawrence não foi convencido por esta afirmação quando a ouviu pela primeira vez, mas dizer isso agora o dava um pouco de convicção. Talvez realmente fosse mais divertido se apaixonar gradualmente, ao invés de uma vez.

Mas aparentemente, isso foi demais para Holo.

Sua boca se abriu em choque, e o pedaço de carne caiu no chão.

“Tenho um pouco de talento, eh?” disse Lawrence.

Ele disse isso para obter um riso de Holo, mas ele também estava meio sério.

Assim que ela ouviu isso, a onda que atingiu Holo se tornou um tsunami em seu caminho de volta, e ela explodiu em risos.

“Mmph... bu-ha-ha-ha! Oh, oh, isso é bom demais! Oh! Ha-ha ha-ha!” Holo se contorcia, apertando seu estômago enquanto ria, tentando ocasionalmente abafar o riso apenas para disparar em gargalhadas novamente. Eventualmente, seu rosto ficou vermelho e ela se arremessou em direção a pilha de armaduras na carroça, sua dolorosa risada continuava.

Lawrence a acompanhou no início, mas quando ele viu mais da reação de Holo, sua expressão escureceu.

Sua cauda, mais macia do que o normal, graças a sua escovação recente, batia contra a carroça, quase como se implorando por ajuda.

“Ok, já riu demais.”

Já não era mais engraçado.

“...Ah deuses,” Lawrence murmurou, tomando outro gole do frasco de água, como que para lavar tanto a irritação por ser ridicularizado, bem como o constrangimento que agora sentia por citar um menestrel dentre todas as possibilidades.

“Haah.Whew.Oh...oh ok. Isso foi divertido.”

“Já acabou?” perguntou Lawrence com um suspiro, olhando para o sol que agora afundava no horizonte. Ele não tinha muita vontade de olhar para Holo, seja mal compreendido ou não.

“Mm. Este era um grande trunfo que você escondia.”

Com o canto do olho, Lawrence viu Holo aninha no topo da pilha de armadura, seu rosto fatigado com o riso voltado em sua direção.

Era como se ela estava exausta depois de correr com tudo.

“Bem, contanto que esteja feliz agora.”

Não importa o quanto ela odiasse pastores, o mau humor de Holo era um pouco desagradável demais, Lawrence pensou. Era difícil imaginar que ela estava realmente com ciúmes da conversa que tivera com a menina, nem era verdade que ela não teve absolutamente nenhuma oportunidade de pentear sua cauda.

Por um momento ele se perguntou se era simplesmente timidez, mas então se lembrou do seu primeiro encontro com ela e decidiu que era totalmente impossível.

“Hm? Feliz?”

As orelhas de lobo do indivíduo em questão — que se descobriram quando ela caiu na risada — agora se mexiam curiosamente quando ela olhou para ele com os olhos borrados de lágrimas, como se ele tivesse dito algo muito estranho.

“Você estava de mau humor mais cedo — porque não pôde pentear a sua cauda, você disse.”

Ela pareceu se lembrar de algo.

“Oh, verdade,” disse ela, seu rosto calmo.

Ela se levantou da carga, em seguida desceu de volta, enxugando as lágrimas dos cantos dos olhos.

Olhando para ela agora, Lawrence pensou que não se importava nem um pouco se ela teve oportunidade suficiente para pentear sua cauda ou não. Teria isto sido apenas uma desculpa para desabafar sua irritação sobre algo totalmente diferente?

“Não pude evitar,” ela disse.

A ponta de sua cauda bateu levemente contra o chão da carroça.

“De qualquer forma, sua carta na manga me fez rir tanto que me deixou tonta,” disse Holo, rindo com a lembrança. Ela então olhou para fora da carroça. “Me pergunto, a criança não está com frio?”

Sua observação trouxe Lawrence de volta ao presente. O sol já tinha se posto pela metade, e o céu era um azul escuro. Era melhor fazer uma fogueira.

Ele tinha ouvido falar que pastores geralmente não faziam fogueiras, no entanto, era porque eles tinham que vigiar e perseguir suas ovelhas, não por qualquer resistência especial ao frio.

Lawrence meditou sobre isso enquanto ele olhava para Norah, enrolada almofada insignificante da grama.

Ele sentiu um movimento repentino perto de sua boca, se virou e encontrou Holo empurrando um pedaço de carne em sua direção.

“Aqui, seu pagamento por seus serviços como bobo da corte.”

“Apenas um pedaço de carne para uma gargalhada daquelas?”

“Oh, você não quer?” provocou Holo entretida. Apesar de seu embaraço, Lawrence decidiu aceitar a oferenda.

...mas seus dentes morderam o ar. Holo tinha puxado a mão para trás no último momento.

A loba sábia riu; Lawrence percebeu que ir contra ela era uma missão de tolo. Se ela decidiu ser tão infantil, só poderia ignorá-la.

Se ele não fizesse uma fogueira em breve, todos estariam jantando no frio. Lawrence se moveu para sair da carroça, mas Holo o agarrou pela manga da camisa e se aproximou.

O coração de Lawrence acelerou.

Seus cílios ainda tinham vestígios de lágrimas, os quais pegavam a luz vermelha do sol poente.

“Eu de fato acho que, de tempos em tempos, um pouco de carne crua seria bom — o que acha?”

Com o triste berro das ovelhas ecoando pelo ar do crepúsculo, as palavras de Holo — falando através de suas presas sempre afiadas — não poderiam ter sido inteiramente uma brincadeira.

Afinal, ela era uma loba.

Lawrence afagou a cabeça de Holo como se a repreendesse por fazer uma piada de mau gosto, em seguida, pulou para fora da carroça.

Os lábios de Holo se enrolaram em um breve rosnado, mas ela logo sorriu levemente e passou para Lawrence o feixe de palha, carvão e lenha.



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