Volume 2
Capítulo 161: Homens do Gelo Submerso. Retorno ao Lar
Duang Zen estava no Navio Espiritual de seu tio, enquanto retornava para casa após alguns anos fora para se treinar...
Ser chamado por seu pai, muito antes do combinado, não era uma boa notícia.
— Zen, você está muito quieto. Aconteceu algo? — seu tio comentou, controlando seu Qi para fazer a aeronave voar a toda velocidade, deixando para trás o deserto de areia vermelha como sangue que estavam sobrevoando no momento.
As dunas vistas de cima naquela velocidade se assemelhavam as ondas do oceano. Um oceano vermelho.
— Não aconteceu nada... — respondeu o jovem de pele azul, lisa. Procurou no fundo a mente algo que tirasse a sensação incômoda de querer mandar seu tio parar a viajem.
— Eu só estou lembrando de uma pessoa que não vejo faz alguns meses. — encontrou a solução com relativa facilidade.
— Um amigo? — seu tio o encarou pelo canto do olho.
— Não. — balançou a cabeça, esboçando um sorriso que falhou em esconder o brilho de ganância que surgiu em seus olhos. — Era uma garota estranha. Encontrei ela...
Aconteceu alguns meses atrás — e foi como se o destino houvesse agido.
Duang Zen acabara de retornar junto com um de seus servos após um período de cultivo isolado, depois de completar uma missão.
Os dois estavam ainda na Classe Prata Preta, então Duang Zen não viu necessidade de andar com muitos servos, afinal de contas, os Homens do Gelo Submerso não era uma raça que pudesse ser facilmente ofendida.
Só de estarem com uma base fora do Vale da Proteção — em um lugar especialmente perigoso — eles já eram superiores às raças que não conseguiam deixar esse lugar.
Ao chegar na seita, logo a dupla se deparou com uma das inúmeras lutas que ocorriam naquele lugar — não era nada demais. Pelo menos deveria ser assim. Só que não foi.
A única coisa de chamativa que havia naquela luta era uma bela garota de cabelos verdejantes e vistosos, além de olhos tão serenos e brilhantes quanto jade polida.
Sua figura fisgou a atenção de Duang Zen quase imediatamente.
— Oh, para chamar sua atenção, então ela deve ter sido uma beleza arrebatadora. – um sorriso sugestivo surgiu na face de seu tio, que Duang Zen não custou a responder com o mesmo ato.
Mas ele balançou a cabeça.
— Ela era uma beleza, mas não tinha o charme que as mulheres mais velhas têm. Acho que ela era bem jovem para conseguir me atrair só com sua aparência. Mas... não sei, tio. Acho que ela era diferente.
Seu tio suprimiu uma gargalhada.
— E por que o sobrimho não foi atrás da moça? Desde quando que nossa família é feita de homens covardes ao ponto de não irem falar com uma mulher quando gostam dela?
Duang Zen deu de ombros.
— Eu até tentei, tio. Mas depois que ela completou uma das missões, a mulher simplesmente desapareceu da seita. Faz 5 meses que procuro por ela e não encontro nem mesmo um sinal nas paredes da seita.
— Bem, beleza não salva vidas. Ela pode ter morrido ao se deparar com uma existência assustadora e poderosa demais ao sair da seita. Você deveria esquecer essa garota e procurar uma mulher que realmente seja digna da sua posição como príncipe da nossa raça.
No silêncio que se seguiu, Duang Zen sorriu com o canto dos lábios.
Sentiu que aquela garota definitivamente não havia morrido. Pelo contrário — de alguma forma supôs que ela estava completamente bem e que eles iriam se encontrar em um futuro muito próximo.
— Acho que o tio pode estar enganado...
— Hmm?
— Qin Xa não era apenas mais uma garota bonita. Ela conseguiu usar uma técnica de cultivo durante a luta para absorver um ataque inimigo. Alguém com esse talento pode realmente ser indigna desse jovem mestre?
As sobrancelhas do mais velho se uniram, tentando compreender como que seu sobrinho ignorante poderia falar uma coisa dessas.
Absorver uma técnica marcial usando uma técnica de cultivo?
Os meridianos dessa pessoa explodiriam e ela morreria ao fazer uma coisa dessas. Como que seu sobrinho acreditou nisso?
Mas ele não poderia dizer isso... afinal, seu sobrinho precisava aprender e desbravar o mundo sozinho e usando sua própria força. Uma hora ele iria aprender que uma ação como essa era impossível de acontecer.
— O tio realmente não sabe porquê o pai me chamou?
— Não. Estive em cultivo isolado por alguns anos. Mas eu soube que o patriarca se encontrou com o Lorde Sombra dos Gigantes alguns meses atrás...
A expressão risonha de Duang Zen sumiu quando ele ouviu a alcunha daquele ser...
Sua pele que já era de cor azul pareceu se tornar muito mais pálida. Certamente ele não tinha boas impressões de tal ser.
Sua mente se agitou tentando encontrar uma resposta para que seu pai — aquele monstro — se encontrasse com o Lorde Sombra dos Gigantes.
Seu tio, porém, pouco se importou com a reação do sobrinho.
— Com sorte o patriarca pode ter algum presente para o jovem mestre.
— E com azar? — ouvindo isso, a expressão do homem se tornou um pouco maldosa e cheia de uma diversão sombria.
— Com azar... um homem de verdade não se importa com esse tipo de coisa. Quando seu pai falar você verá o motivo dele chamá-lo. Poderia ser diferente?
...
A estrela amarela no pico do céu, no ponto mais alto e que deixava o mundo mais quente, iluminou completamente o vasto e escuro oceano abaixo, que nesse momento — desde muitos séculos — estava sendo arrasado por uma tempestade de neve e granizo.
O sol lutava para cair sobre o mar, e a tempestade eterna resistia para congelá-lo para sempre. Nenhum conseguia ganhar, e nenhum conseguia perder.
Por onde os olhos de Duang Zen vagavam ele só conseguia enxergar água — e blocos de gelo tão enormes e solitários, que sobre aquele mar eles mais se pareciam com grandes montanhas, onde as ondas insistiam em bater repetidamente.
O menor entre eles deveria ter uns 10 quilômetros de altura e mais de 50 de tamanho.
Era sua casa, mas sabia que se não fosse pela escolta de seu tio, que controlava o Navio Espiritual com maestria, sequer poderia voltar para o lugar onde nasceu... Até porque, o frio extremo e a localização eram os menores dos perigos que rondavam o local.
E quando se tratava de perigo, nada ali poderia se comparar com o horror que com certeza já tinha noção da sua presença. Seu pai.
"Besteira. Meu pai é meu pai. Se eu acho ele a pior criatura daqui, então o que vaga pelas águas já não deve ser tão horrível..."
Sabia que não deveria fazer, mas a curiosidade o fez caminhar até a borda do navio voador, que o protegia das pedras de gelo da tempestade. E de muitas outras "coisas".
Duang Zen olhou para o oceano abaixo, num desafio tolo, ficando pálido no mesmo segundo. Seu coração quase parou.
Viu, contra sua vontade, algo rastejar dentro da água. Apenas um vislumbre daquela coisa abalou sua alma e o fez ficar tonto, dando passos trêmulos para trás.
A imagem insistia em permanecer na sua mente...
Era preto, mais escuro que a noite mais sombria, repleto de pontos luminosos que se não fossem olhos, certamente seriam bocas famintas — esperando para devorar o que quer que ousasse encostar um dedo naquela água.
Cumprido e longo como uma enguia, só que com barbatanas que lembravam espadas.
Duang Zen encostou-se no mastro do navio, suando frio, e olhou para seu tio. Viu sua imagem ser subjugada pela figura tenebrosa de olhos amarelos, cheios de loucura e escamas negras, duras. Mais ameaçadoras que as da criatura mais medonha que já viu.
— Tio... por que não disse que havia uma coisa dessas abaixo?
Seu tio, ainda coberto por um véu de escuridão, olhos e escamas, respondeu com uma voz arrastada, molhada, cheia de rouquidão, lhe causando desconforto a cada palavra pronunciada:
— Você sabe bem que não deve encarar o oceano levianamente... considere essa sua punição por esquecer dos perigos que rondam nossa casa...
Duang Zen cambaleou para dentro do navio. E seu tio voltou a focar apenas no navio voador, cujo casco feito de madeira escura era observado pela criatura abaixo...
Os inúmeros pontos de luz que faziam parte do corpo daquele horror convergiram para um único local, que deveria ser sua cabeça.
TUUUUMMMM!
Abriu sua boca, tão grande que se mostrou dezenas de vezes maior que o Navio Espiritual, estourou de dentro do oceano para fora, num ataque que certamente iria engolir a construção!
O tio, porém, encarou isso com desprezo.
Seu Qi penetrou na estrutura do navio, fazendo sua velocidade aumentar de uma forma tão arrebatadora que quando a criatura abissal abocanhou, somente uma imagem posterior foi engolida.
As luzes amarelas se dispersaram... e a criatura afundou no oceano negro. Esperou. Junto de outras.
...
Dias depois, a água congelante e pesada inundou o Navio Espiritual completamente quando o mesmo submergiu naquele oceano escuro.
Duang Zen não foi afetado por isso porque ao lado do seu pescoço, suas guelras que se fechavam ao ar livre, agora se abriram e pela primeira vez em meses ele respirou de verdade.
O navio seguiu uma das inúmeras correntezas que havia naquele lugar, encontrando mais Homens do Gelo Submerso, e Bestas Ferozes que atacaram o navio para destruí-lo!
Mas o tio contornou as Bestas Ferozes e ignorou seus irmãos de clã. Eles estavam em casa, qualquer perigo ali era treinamento — e quem entrasse naquela água era responsável pela própria vida.
Duang Zen não deixou o interior do navio com medo de que sua mente se fragmentasse ao ver algumas das coisas na água.
Horas depois, o Navio Espiritual deu de cara com a boca de uma caverna cuja única palavra que poderia descrevê-la era "abismal".
Tão escuro era seu interior que fazia parecer que a negritude da água era clara diante de si. Tomando cuidado com o que olhava, Duang Zen encarou o abismo.
Mesmo não vendo, sabia que nas paredes daquele lugar havia uma variedade imensurável de Bestas Ferozes, lutando eternamente para serem os reis de suas áreas.
Um dia era ele quem deveria enfrentar aquelas coisas. Com sorte.
O navio adentrou a escuridão em silêncio, perdendo de vista até a ponta de seus dedos. Luz alguma poderia entrar naquela caverna.
Sem saber quanto tempo se passou ou quantas vezes o navio mudou de curso, Duang Zen recebeu diretamente na cara uma explosão de luz que quase o deixou cego!
Apareceu dentro de uma bolha repleta de construções feitas com gelo e joias semelhantes, um ambiente gelado ao extremo e sem nenhum lugar quente como a superfície.
Palácios e cavernas se mostravam nas montanhas que cobriam suas vistas. Pérolas brilhantes serviam como fonte de iluminação no topo de todas as inúmeras construções, que fervilhava com movimento dos mortais.
Nas passarelas, postes também tinham essas joias.
Se a Seita dos Céus das Oito Cores possuía um território gigantesco, essa bolha no fundo do oceano era 10 vezes maior que ela. Se não fosse ainda maior.
Um sorriso de escárnio surgiu na face de Duang Zen. Alguns diriam que sua raça não era superior por morar em uma bolha. O que aconteceria se a bolha estourasse e os horrores marinhos chegassem aqui?
A resposta era: Nada.
Foi sua família que construiu esse lugar e subjulgou o ambiente ao redor. Para seu orgulho... e sua infelicidade.
Tão rápido quanto surgiu, seu sorriso desapareceu, imaginando o assunto que seu pai queria tratar.
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