Volume 1
Capítulo 4: Ritmo Incontrolável
Laerte avança rápido; Tansai grita, liberando um direto de direita ao puxar o braço esquerdo para trás, sendo interrompido por uma pancada que amassa sua cara. Seus pés arrastam pelo chão, sangue vai para o ar. Mesmo com uma base firme no chão — como uma árvore — o rapaz é jogado para trás.
Ele cambaleia uma vez, se recuperando em pouco tempo. Vermelho é cuspido para a terra.
Laerte recua o braço estendido, voltando a se mexer levemente para recriar o ritmo. A plateia explode, fazendo mais barulho do que quando a batalha havia começado.
— Uaaau!! — Gaojung bate a mão na mesa várias vezes. — Eu mal consegui ver! Que velocidade!!
— E acertou como um contragolpe! — diz Malena. — Se é essa a velocidade de um balanço normal… qual é a velocidade dos jabs dele?!
Tansai olha enfurecido para o oponente, afastando as pernas para retomar a postura que foi quebrada.
— Exatos cinco segundos — fala Laerte. — Aguentou mais do que eu esperava nessa forma, ainda bem que coloquei alguns segundos a mais na estimativa por segurança.
— Seu maldito pretensioso! Vou tirar esse ânimo da sua cara!
— Ah… — Seu olhar fica entreaberto, em contraste ao foco que tinha no ataque de antes. — Então já quer começar a “usar”?
Ele aponta o punho direito no rumo do adversário.
— Certo. Venha com tudo, me mostre a sua aura, responderei à altura.
Veias ressaltam na testa do Tansai, seus dentes cerrados ficam à mostra, ele investe. Ao pousar com um pé à frente, libera uma estocada com o braço direito; seus dedos rasgam o ar, chamando a atenção do Laerte por notar um brilho amarelado por volta do membro.
Uma perna desliza para trás, retirando-o da trajetória da estocada com uma inclinação, deixando-o ver de perto a potência do ataque.
Tansai sorri por enxergar a expressão de surpresa do oponente com aquele golpe, vendo o braço esquerdo dele ficar borrado até sua vista ser jogada para o alto, ficando de frente para os holofotes no teto. Um contragolpe?
“Hã?”
Laerte recua o braço após o êxito do acerto, um gancho que ofuscou o caminho desde baixo de branco. O acertado desce o rosto, estupefato; ele arrasta uma perna para trás, lançando com a demais um chute médio que rasga o ar até ser refletido para cima num esbarrão, um feito do punho direito do Laerte, que usa o espaço criado para balançar o corpo por baixo da perna e reivindicar um maldito acerto por elas.
Costas batem sobre o chão, mãos seguram os testículos. Tansai roda de um lado para outro se contorcendo de dor; Laerte o olha surpreso, não indo atacá-lo apesar da oportunidade à frente. O rapaz no solo abre os olhos que estavam cerrados pela dor, erguendo-se de uma vez do chão. Ele encara Laerte, não esboçando nenhuma ação que mostre a dor que está sentindo, como se nada tivesse acontecido.
— Argh! Quando batem ali dá pra sentir na alma…! — O narrador está com a expressão apertada, ficando preso a ela por mais algum tempo. — Esse foi um dano sério! Será que Tansai ainda está em condições de se defender?!
— Um direto do Laerte não é brincadeira — ressalta Malena —, se ele não tivesse focado aura para se proteger naquela área, a luta já teria acabado!
— Pela velocidade nos movimentos do Tansai, dá para ver claramente o quanto ele melhorou desde o último circuito amador! Mas! Tudo está sendo esmagado! dilacerado! destruído! A diferença entre os dois é muito grande, como compensar isso?!
Na arena, Tansai fica de lado, afastando a perna direita para frente, mantendo o braço correspondente alinhado junto enquanto o esquerdo fica erguido com o punho próximo da testa. Laerte estala o pescoço para cada lado enquanto dá saltos pequenos.
— Por que não colocou aura no ataque? — indaga o caído, pálido de dor.
— Você… quer morrer?
— O que disse?!
— Esqueceu a medida da minha aura? — Ele aperta a luva da mão direita, apontando-a para o adversário. — Se eu te acertar com ela por qualquer ponto vital que seja, você morre.
— Ridículo…! Como se eu fosse aceitar essa baboseira! Acha que esse corpo é feito de papel?! Lute a sério comigo!
— Idiota. Se quer tanto morrer, vá pular de uma ponte. Eu não luto para virar um assassino. E veja…
Quando Tansai se dar conta, o oponente está com o punho no seu peitoral; um susto o toma, fazendo-o recuar com um pulo.
— Falou tudo aquilo — continua Laerte —, e não conseguiu sequer acompanhar minha aproximação. Você não está lutando da forma certa contra mim.
— O q-que quer d-dizer com isso? — Ele nota que está com a pose quebrada, voltando a aplicá-la com pressa. “Como ele se aproximou tão facilmente?!”
— Você está atacando, isso é uma falha enorme. Ao invés disso, tem que ficar na defesa, sendo um “daqueles” que espera a “chance milagrosa” enquanto aguenta meus golpes.
— Que absurdo é esse que está saindo da sua bo-
— Estou indo. Você que decide o que faz. — Laerte surge na frente do adversário, forçando-o a levantar a guarda. “Nada bom… preciso que se esforce mais.”
Ele encaixa a mão direita entre a guarda, impedindo que feche, atacando pela brecha com a esquerda, jogando a cara do Tansai para cima, tornando-a em um borrão. Sangue se espalha pelo ar.
O acertado tenta revidar com um chute médio, levando uma rajada de luz no plexo solar e no meio das sobrancelhas. Ele se sente esburacado pela força dos impactos, como se tivesse sido atravessado por balas de espingarda, ficando congelado por um instante, voltando a agir com um soco reto que é imediatamente contra-atacado por um jab na sua face — a nova, contorcida.
Tansai quase cai para trás, erguendo-se com força o suficiente para quase o derrubar na direção oposta; seu olhar irritado se direciona ao adversário. Seu olho direito está vermelho, o cabelo está desordenado ao ponto de ser impossível uma comparação com a forma penteada de antes da luta.
Ele corre, encurtando a distância entre os dois, lançando — após firmar a mesma base do início da luta — um soco com todo do seu torço; é desviado pelo antebraço do Laerte, e, empurrado, abrindo a guarda dele igual à porta de um armário, por onde é mandado um cruzado de direita que bagunça mais o rosto do oponente, amassando-o.
Tansai cambaleia.
— Você é resistente — fala Laerte —, isso explica como passou pelos testes. Seu uso de aura na defesa é bom, mas já perdeu o controle excepcional desde alguns socos, também é um problema não conseguir acompanhar a minha velocidade. Entende o que isso quer dizer?
— Cale a boca!! — Tansai solta um chute alto que é evitado com o mover do pescoço do adversário para fora da trajetória; Laerte emenda um gancho por baixo da articulação da perna, fazendo o oponente ser estremecido pela dor.
Um chute é lançado pela esquerda, parado no acertar de um contragolpe na barriga. Um soco giratório é disparado desde a pose de base firme, parado pelo contato de um gancho sobre seu pulso, que quebra. Uma mão é posta ao lado com dedos enfileirados e enrijecidos, subindo desde bem baixo como um sabre, acontecendo de todos serem quebrados no abaixar de um queixo, evitando que o pescoço fosse pego.
A cada pancada que leva, Tansai vai mais para trás com uma expressão ensanguentada, seus olhos vão de um lado ao outro em um mundo confuso de formas puxadas, escassas de nitidez. Apesar disso, ele continua mandando ataques apurados mesmo que signifique tomar um contragolpe por qualquer movimento que faça, sendo martelado na direção do muro pelos punhos do Laerte.
“Se mova! Se mova! Eu não quero mais passar por aquilo! Se mova!”
Ele se recorda de quando foi derrotado no circuito amador, onde ficou estirado pelo ringue sem qualquer vida no olhar, tendo sangrado tanto pelo nariz que boa parte do rosto ficou manchada.
“Se mova!”
Laerte ergueu o cinturão daquela competição, sendo aclamado por todos como o campeão. Tansai o via de longe, escondido na multidão, frustrado pela falha.
“Se mova!”
A derrota o fez treinar com mais afinco, desde praticar movimentos até o chão ficar encharcado de suor, até a correr e levantar pesos notáveis, tão pesados que o fazia cerrar os dentes enquanto os levantava bravejando.
Pés deslizam pela terra, formando contornos de poeira à volta. A mão esquerda vai à frente enquanto a direita é recuada, preparando a propulsão de um soco; Tansai ruge, espalhando o sangue no rosto para o ar. À frente está Laerte, projetando um cruzado de esquerda com o seu olhar afiado fitando o do adversário.
— SE MOVA!!! — O ataque de cada um é liberado, rasgando o ar até se chocarem com um estrondo. Os dedos do Tansai quebram pelo golpe do oponente ter sido na parte baixa dos seus dedos, não conseguindo impedir a continuidade da ofensiva que colide contra o seu rosto; a mandíbula é destruída.
Ele é repelido para trás, ficando com os pés além do chão, sendo acompanhado pela arrancada do Laerte, que está preparando para mandar um cruzado de direita. As costas do Tansai batem na parede, o ataque do adversário se aproxima devastando o ar como nenhum golpe anterior, fazendo os narradores e a plateia ficarem pasmos.
Um estrondo soa, o punho acerta a parede ao lado do rosto do adversário a dando rachaduras extensas e um buraco do tamanho da cabeça do derrotado. O público fica em silêncio com o feito. Um apito soa.
Tansai escorrega pelo muro, sua consciência se foi desde antes do golpe, estando com a boca aberta e os olhos para o alto em uma assolação total.
— …E ESTÁ FEITO!!! — grita Gaojung, acompanhado pelo ânimo colossal da torcida. — Laerte mostra para o que veio! Prova que mesmo sem uma yrai ainda é um dos melhores da nova geração! Vencendo sem levar nenhum ataque!
O ganhador olha para Tansai não com arrogância ou decepção, mas com brandeza, esboçando um sorriso leve de ânimo.
— Apesar de não ter me feito usar tudo o que tinha — fala Laerte —, não fique triste. Foi interessante.
Ele se vira, levantando os braços para empolgar mais as arquibancadas.
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Em uma sala VIP, o rosto do Traçal se contorce pelo sorriso excessivamente largo, suas íris não existem mais, os olhos se resumem a branco. Ele está de pé, com os músculos do corpo enrijecidos, quase explodindo de tanto vigor.
— Chamando todas as atenções para você! Está realmente se divertindo, hein, Laerte?! Não fique se achando só porque ficou um pouco mais forte, seu desgraçado! Hahahaha!
A maioria dos outros lutadores vão caminhar nos corredores pelo fim da luta, ficando pensativos sobre o combate, principalmente pela demonstração de poder do Laerte.
Os irmãos Jay e Ury olham para baixo com os olhos rodeados de sombras, não expondo nenhum pouco do ar humorado de antes.
— Não esperava menos — comenta Ury. — Não abaixe a guarda se cair contra ele, Jay. Isso seria fatal.
— Claro. Contra aqueles dois teremos que usar o veneno sem qualquer hesitação.
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Laerte se despede da torcida, desaparecendo no escuro de uma das entradas. Uma equipe de socorro está tratando Tansai, que já está consciente, estando mais aparente os efeitos das pancadas que levou, como os inchamentos e partes que se tornaram roxas.
“Porcaria…” pensa. “Como vou encarar o pessoal da academia depois de uma derrota tão miserável?...”
— ...As senhoras e senhores presentes — diz Gaojung —, por favor não esqueçam de demonstrar respeito a toda a determinação desse incrível lutador! Que mesmo passando sérias dificuldades, foi até o final sem desistir!
As palmas começam por um grupo pequeno, se alastrando por toda a arena. Os olhos do Tansai se abrem um pouco mais com os sons, estando surpreso pelo tratamento.
“Idiotas… Qual o sentido de fazerem isso para o perdedor?...”
Lágrimas deslizam, sumindo na terra.
[1° Luta (1°F) - Laerte vs Tansai
Duração - 1 m 47 s
Vencedor - Laerte
“Cada soco tinha uma precisão cirúrgica, cada movimento tinha um propósito. Ele simplesmente não podia ser parado”, comentário por Malena.]