Volume 1
Capítulo 32: Desenfreado
Jay vê o mundo rodar em alta velocidade, se estabilizando ao bater as costas no chão com as pernas para o alto, emitindo um baque que alcança a plateia. Enquanto imerso no estouro de terra, sua visão se estabiliza.
O pugilista gira, rompendo o ar na projeção de um soco; seus olhos dourados se fixam por completo no oponente.
Ao firmar as mãos no solo, o estrangeiro vira-se no chão, evitando o punho. Notando uma chance nisto, usa a rotação como impulso para um chute de direita, que é barrado pela guarda lateral do Laerte, mas conseguindo fazer seus pés escorregarem para trás. Dois vãos são marcados pela terra.
— UAH!!! Jay ainda está na luta!! — grita Gaojung. O rapaz se levanta com um pulo, voltando a encarar o rival. — Mesmo após aquele impacto nas pernas, ainda segue inteiro!! Quanta resistência! Ou seria, até certo ponto, fingimento?!
— Apenas o quanto ele pode aguentar?... — fala Malena. — Aquele balanço teria quebrado as pernas de qualquer pessoa!
No andar VIP, Shinsai ri por um instante, em um volume baixo, mas que alcança o restante do grupo. Cada fica nervoso pela situação inesperada.
— A-algum problema, Sr. Shinsai? — pergunta Omnislai.
— Não é nada de mais. Só é empolgante um momento igual esse: em que se visualiza claramente alguém batendo nas “portas”...
— Hã?...
— ...gritando: “Abra! Me deixe entrar!”, esse é Jay agora. Ele está pedindo para ser um “mestre” antes da hora, e está conseguindo. Esse nível de dispersão em curto tempo é impressionante.
Os rapazes tiram seus olhos do telão, afetados por um estranho desconforto. Shinsai continua falando:
— Holliver é realmente desprezível, forçando frutos a amadurecerem antes do devido tempo, usando as carcaças dos que falharam para amortecer a queda. Que todos vocês estejam preparados… a próxima década será um inferno competitivo, inflamado pelo Torneio da Corte. Esse é o verdadeiro propósito dessa competição.
De volta a arena, Laerte balança levemente o corpo para esquerda e direita por estar fechado no estilo peek-a-boo, pensando:
“É a primeira vez… que soco tanto alguém sem surtir efeito. As pernas dele não estão sequer tremendo com aquele impacto? Minha ideia de como abalá-lo não parece ter sido a certa. Independente do quanto eu esteja estressado atualmente, devo te elogiar, Jay… Apesar da instabilidade causada pelas drogas, você está conseguindo alternar entre o relaxamento que dispersa o poder dos impactos e a firmeza para atacar com as mãos, tudo precisamente, sem nenhum erro.”
O chão explode, ambos investem para um embate, o público é pego de surpresa.
“É uma destreza inacreditável.” Ele o atinge com um soco lateral, desfigurando-o com o amasso do rosto. “Entretanto, não me importa como usa esse lixo! Vou ganhar! Nem que tenha que pisar sobre seus ossos para causar algum dano!!
Os dois abrem as pernas para expandir suas bases; Jay leva novamente uma pancada na face. Joelhos viram, a estocada dele sobe na direção da garganta inimiga, defletida na batida do ombro.
Laerte está inclinado para trás com o braço direito dobrado no estômago e o esquerdo quase no pescoço, tendo assumido a postura do shoulder roll, a defesa absoluta.
Uma rajada de branco sobe num trajeto curvado até se chocar contra Jay, envergando sua postura para o lado, e, mal tendo conectado um acerto, manda outro, que o acerta na mandíbula. As íris do Jay estremecem, a luz dos holofotes é cegante.
“Se eu vender a yrai não precisarei mais me preocupar com dinheiro por décadas!!”, continua Laerte. “Poderei parar de alugar as máquinas e as comprar em definitivo! A liberdade está a um passo, Jay! Não deixarei que me atrapalhe!”
Um jab toca o peitoral do estrangeiro, em seguida uma chuva de ataques é desferido contra ele. Sua imagem é coberta de buracos com estouros de branco, um bombardeamento que lhe faz cuspir sangue. A dispersão chega ao limite.
“Ah…! Sinto o cheiro!” A adrenalina do Laerte vai a um novo patamar, um sorriso largo cresce em seu semblante. “Ela está perto! A vitória… está perto!!”
O silêncio engole tudo, restando apenas um mundo de absoluta escuridão; o embate final está próximo. Um braço viaja rápido à frente, batendo no fígado do boxeador, torcendo aquela área numa espiral horrenda. A expressão animada do Laerte muda para uma de dor.
Sangue escorre do ferimento próximo da clavícula, deslizando pelo seu peitoral. A adrenalina desce, toda a dor do veneno aparece.
“Não perca o foco! Isso não é nada!” diz para si. “Mantenha o sangramento selado com a pressão dos músculos e aura!”
Ambos os lutadores se movem, iniciando uma sequência de trocas em alta velocidade. Pela distância curta, o pugilista opta em prosseguir com o shoulder roll, desviando as estocadas e socos enquanto Jay recebe todos os impactos, contando com a dispersão para sobreviver.
O sorriso recém formado do adversário chama a atenção do Laerte, o causando confusão; a silhueta do seu corpo treme em cores distintas, como espectros se soltando, algo que o congela — o veneno chega ao ápice do efeito. Jay está no meio de uma movimentação à frente quando acontece a paralisia no pugilista, o que limita suas opções, mas não o faz hesitar. Ele segura os ombros do Laerte e desfere uma joelhada nos testículos, achatando-os. O público solta um “uh” em uníssono.
Apesar da sua mente está devastada numa miríade de sensações negativas, o boxeador faz um balanço lateral com todo o seu ímpeto, forçando o adversário a recuar com um salto. Ofegante, Laerte impede uma queda para o lado, forçando o corpo a ficar levantado, não colocando nenhuma mão no lugar atingido mesmo que a dor esteja afetando cada molécula do seu ser, pois manter a postura feita é mais importante.
No salão VIP, o grupo dos lutadores está fazendo caretas pelo “compartilhamento”, sim, o sentimento natural que se espalha pelos outros ao verem alguém ser golpeado “ali”.
“Isso pode ser decisivo”, considera Shinsai. “Coração, cérebro, pulmões… os órgãos possuem a proteção dos ossos, carne e pele, uma armadura confiável. Mas, ‘e se ficassem expostos’? Seriam naturalmente um alvo visado, que estaria ao lado de um nocaute imediato… Esses são os testículos.”
Jay avança, chutando alto com a perna esquerda, que é paralisada ao colidir num soco cruzado. Vapor os rodeia. No abaixar da perna, os lutadores começam novamente uma troca de ataques, estando Laerte em clara desvantagem pela dor, sua velocidade cai drasticamente.
Sangue se espalha por todos os lados, os braços do boxeador estão sendo cortados pelos embates, ferimentos que não parecem terem sido feito por mãos vazias, mas por facas. Se torna difícil esquivar até da projeção mais simples. Além dos cortes, torções são causadas ocasionalmente pelo seu peitoral e barriga, focando suas energias em parar os que visam seus pontos vitais, como as veias do pescoço.
No passar dos segundos, os narradores, a plateia e qualquer outro assistindo ficam mais atentos, vendo com clareza o destino do combate.
“Argh! Esse… veneno!” Laerte enfim desiste de atacar, focando sua energia em fechar a guarda sobre à frente do corpo e cabeça. “Se não fosse por ele…!”
Com um soco no ponto de acupuntura da barriga, a defesa do pugilista abre mostrando sua expressão desacreditada. O dano congela Laerte outra vez; o destino ri da sua cara, empilhando catástrofes para selar seu futuro.
Jay expira, em seguida, inspira profundamente, levantando o semblante irritado enquanto grita; freia a perna direita virada, que impulsiona a saída do braço como uma lança. As pontas dos dedos rasgam o pescoço do adversário, não profundamente, pois Laerte gira a cabeça para que não seja assim. Pavor percorre o estrangeiro com a falha, notando o olhar afiado do oponente fitando-o.
“Ele fingiu estar paralisado?!...” Seu cabelo é agarrado por trás, Laerte o atinge no centro da cara com a direita, gerando um estrondo.
Poeira cobre os pés do Jay, havendo as sombras dos buracos em que estão. Sua face é acertada mais uma vez, o crânio é partido em milhares de pedaços; é o que Laerte imagina ao se ver socando outra pessoa com a mesma força.
O boxeador é afetado pelo veneno, o que afrouxa seu aperto, dando a oportunidade para o oponente escapar para trás com o equilíbrio falho, mal conseguindo se manter de pé.
— O que há com essa situação?! — fala Malena, vendo do alto os lutadores fraquejando.
— Minha nossa! É o limite!! — diz Gaojung. — A luta será decidida no próximo minuto! Eles farão com que seja!!
— E o primeiro a se movimentar é… Laerte?!
O centro do peitoral do estrangeiro recebe um soco direto, fazendo seus braços ficarem estendidos à frente no repelimento, mas suas pernas resistem na terra.
“Dor… veneno… ardência…” Laerte queima em negro nas bordas do corpo, liberando ondulações da tinta à volta, sujando os arredores com as partículas agressivas. “Seja lá o que for, é fútil!”
As pernas do Laerte invertem a posição antes de saltar numa finta. Seu braço retorna, dando espaço de projeção para a direita, que esmaga o rosto do adversário, carregando-o junto da corrida sem propósito — sem fim.
“Se eu realmente me esforçar para ignorar e passar por cima de todas essas fraquezas, ainda poderei lutar com toda a capacidade! Se acha que pode me derrubar, quero ver tentar!!”
Laerte vocifera enquanto corre com avanços súbitos, jogando continuamente Jay à frente pelo caminho antes de prendê-lo com o punho. A terra explode nas arrancadas súbitas, deixando laços longos de poeira a partir dos combatentes. Jay é carregado pela arena de uma ponta a outra.
Percebendo que o muro está próximo, o pugilista cessa seu descontrole, deixando o rival cair de pé à frente. Os olhos do estrangeiro seguem com vida, mas sua condição demonstra o contrário: bastante sangue sai da sua boca que está deslocada pelo lado, manchando o chão de vermelho.
Ao dar um passo, Laerte sente o mundo desabar, com seus olhos joelhos ameaçando irem junto. Todos os cortes pelo seu corpo latejam em uma cor arroxeada, causando-lhe a sensação de estar perdendo sua existência em distorções.
Um pé vai atrás em busca de impulso, sendo enviado contra o rosto do boxeador, mandado ao alto com o impacto, cercando-o com o próprio sangue. As pernas do Laerte vão em sentidos contrários, firmando-o de pé em uma postura questionável com o centro de gravidade abaixado; apesar da expressão dolorida, com as íris branqueadas por dentro, ele põe o máximo de esforço em cancelar a inclinação para trás, voltando a encarar o adversário.
Ele solta um soco reto de esquerda, que é raspado nos bíceps por uma estocada da mão direita do Jay, cortando-o — ambos falham. Uma abertura surge com o embate, oportunidade que Jay não desperdiça, se derrubando mais à frente para agarrar a conexão do braço e ombro do oponente, virando-o no pousar da sua perna, jogando-o contra o chão sem haver nenhuma resistência, como se o rival não tivesse peso.
Laerte é jogado para sua fraqueza: o chão. O simples sentir da pele tocando a terra o faz estremecer, vendo o adversário se preparando para o finalizar para pegar seu braço ou o pescoço e fazer o juiz terminar o confronto. Com a flexão do braço no chão, o boxeador consegue subir a parte superior do corpo, liberando um soco desesperado nas pernas do Jay, juntando-as, refletindo-as para o lado, o que faz o lutador cair com a cabeça para o lado oposto em que está.
No chão, ouvindo apenas suas respirações pesadas, os dois começam a levantar numa velocidade que torna inacreditável seus desempenhos de mais cedo, parecendo tartarugas. O suor e sangue se misturam antes de cair na terra.
Na mente do Jay, o dá forças lembrar do tempo em que tinha a postura consertada pelo irmão, os cansativos dias repetitivos que terminavam com eles dormindo no chão do quarto escuro e de quando voltavam conversando independente do resultado dos torneios. Tudo isso o faz bravejar no empurrar dos braços que o ergue.
De pé — cientes da baderna de vozes nas arquibancadas — os dois trocam socos brutos, sem o menor refinamento, mas forte. Seus rostos viram uma vez, duas vezes, três vezes; o “romper de um fio” os separam de voltar ao solo, e se retornarem para lá, será definitivo.
O pé do boxeador gira, acelerando a projeção do punho esquerdo, que acerta a barriga do Jay, deixando-o no ar, flutuando com uma marca do impacto.
Suas costas e ombro se movimentam como manivelas; ao mandar um gancho de direita no queixo do adversário, levantando seu braço e a cabeça dele ao limite, Laerte o entrega uma visão da fênix no teto, e também, a experiência da derrota.