Volume 1
Capítulo 11: Intenções Ocultas
Mesmo após os vários minutos desde a luta do Traçal e Omnislai, a plateia segue agitada, repleta de murmúrios. Um sentimento compartilhado pelos que estão assistindo o torneio pela transmissão, não há um que ouse trocar de canal.
No salão VIP, os figurões papeiam de um canto para outro enquanto carregam taças de vinho.
— Hahaha! Eu disse que seria um bom confronto — diz Romanto, o homem barbudo, referindo as palavras para o idoso sentado perto. — Apesar de que no fim o esperado se concretizou.
— Os garotos de hoje em dia estão transbordando de potencial, hein? Aquela projeção de soco do Omnislai é uma técnica de altíssimo nível. — Ele toma uma golada do vinho, seu tom fica mais sério. — Será que ele não seria uma boa “aquisição” para lá? Com tanto potencial deve conseguir se adaptar antes que o pior aconteça.
— Não, não. Isso não iria funcionar, senhor Ico…
— Hum? Por quê?
Romanto alisa a barba, passando alguns segundos para organizar uma resposta em sua cabeça:
— Porque ele é do mundo da “luz” em todos os sentidos. Não existe nada que o puxe para baixo, como se estivesse destinado a ter glórias apenas deste lado.
— Ah… É uma opinião interessante. Bem, mesmo se isso for verdade, ele ainda estará sujeito as casualidades do tempo. Não dá para saber o que vai acontecer no amanhã ou depois de amanhã.
— Concordo.
Em outra parte do edifício, Holliver está rindo no trono com uma prancheta na mão.
— Ótimo! Hahaha! — Ele devolve a prancheta com os papéis para ele. — Foi uma sorte grande aqueles dois terem caído contra logo na segunda luta, isso subiu a quantidade de espectadores a outro patamar. Já imagino os ataques da mídia mais tarde, aquelas baratas insuportáveis… Mas está tudo bem, não vão conseguir me derrubar.
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Uma mão bate algumas vezes na porta, o som soa por todo o quarto.
— Pode entrar — fala Kimai, que está alongando os braços, suando por todo o tempo que investiu no aquecimento. Ele está vestido com um short preto, havendo os desenhos de chamas vermelhas pela roupa.
Laerte entra no lugar, surpreendendo-o.
— Oh! Aí está você!
— Yo. — Ele dá uma mordida no chocolate que carrega.
— Pensei tinha se perdido na busca pelo lanche.
— Foi mal. — Laerte joga um pacote para Kimai. — Pegue, vai te fazer ganhar a luta.
— O cacete que vai! Quem comeria isso além de você antes de ir para o ringue?!
— Hahaha… Eai? Acha que ganha?
— Naturalmente, não se preocupe.
— Entendo. É o mínimo considerando que ninguém vai se lembrar dessa batalha, você é muito azarado.
— Droga, por que falou?! Eu estava tentando não pensar nisso!
— Hahaha! Mas não tem jeito, ficou na luta depois daquela do Traçal e Omni, vai ser totalmente ofuscado. — Uma flecha de decepção atravessa o peito do Kimai. — Nem seus fãs vão se lembrar do seu desempenho. — Mais uma flecha o acerta, fazendo-o perecer em um cenário desolado.
— Tudo bem. — O rapaz dá um sorriso, saindo daquele aspecto frustrado. — Por causa deles o meu sangue está fervendo, isso é o suficiente para mim.
— Boa resposta. Não vou atrapalhar mais seu foco, estou saindo. Não perca, Kimai.
— Laerte.
— O que foi?
— Apenas me aguarde! Vou derrubá-lo na próxima fase!
— Humpf! Ha… Certo, estarei no aguardo.
A porta bate.
“Agora que penso nisso…”, considera Kimai. “É de boa visitar os outros lutadores?”
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Faíscas vermelhas jorram de uma das entradas da arena, surgindo por lá um rapaz. Sua altura é de 1,77 m de altura, seu cabelo tem longas mechas marrons.
— (...) levando os oponentes ao cansaço extremo para então abatê-los com suas “presas”!! — começa Gaojung. — Só pode ser ele!! POKER, O TORTURADOR!!!
Faíscas azuis jorram da outra passagem.
— Um dos Quatros!! Apelidado no circuito amador de “Rei do Chão”, sua mera existência causa pesadelos aos oponentes mais ofensivos!! KIMAI, A SERPENTE IMORTAL!!!
Ele surge na arena usando um capuz branco com chamas de tons semelhantes desenhadas nas bordas do tecido. A peça é jogada para o corredor escuro antes que a grade fechasse, expondo o semblante animado do rapaz.
Os buracos nas paredes da arena foram consertados, a terra foi organizada; não parece que sequer havia acontecido uma batalha ali mais cedo.
— Sei que todos estão abalados pela luta anterior — diz Malena —, mas nesta noite ainda haverão muitas batalhas interessantes, como essa em que poderemos ver o quanto Kimai melhorou.
— Será que ele está à altura da dificuldade do torneio?! Ou será que foi deixado para trás?!
— O oponente dele é alguém que usa um estilo defensivo, Poker é perfeito para testá-lo- não, até para retirá-lo da competição já na primeira fase!
— O juiz parece ter terminado os preparativos, o momento de começar está perto.
Os dois jovens expiram, ajustando o ritmo das suas respirações. Eles se entreolham; Kimai se inclina um pouco à frente.
“Como sou sortudo”, considera Poker. “É justamente contra ele que meu estilo é mais eficiente, também foi um dos possíveis oponentes que mais estudei. Não creio que vai ser fácil, mas estou confiante… confiante de que posso contê-lo, Kimai!”
O apito soa, dando a liberdade para o ruivo investir.
“E lá vem ele!” Poker toma a postura padrão do boxe, adaptando-a em um formato mais inclinando para trás. “Vou começar a ‘gerar’ os danos para colher mais tarde!”
Poker lança um jab.
“Tem a mesma velocidade dos jabs do Laerte no ano passado!” Kimai tem um vislumbre rápido do ataque. “Você melhorou muito, consigo sentir o quanto se esforçou… Porém, tenho que pedir desculpas! Afinal, eu…”
O pulso de Poker é pego no meio da ofensiva, o que o surpreende ao ponto de fazê-lo arregalar os olhos; Kimai pressiona a área pega, dobrando-a ao ponto de quebrar.
“...já superei essa velocidade há muito tempo.”
A dor é excruciante, fazendo o rapaz recuar um passo enquanto fecha a cara, o que sela seu destino. Quando percebe, Kimai está atrás dele, fechando os braços por sua cintura como um laço. As articulações das pernas e costas se dobram para trás, os pés de Poker deixam o chão, sentindo que acaba de entrar num mundo de vendavais através da velocidade em que é puxado. Kimai abandona um rastro vermelho no trajeto, rangendo os dentes pelo esforço.
“As impressões que aqueles dois criaram vão tirar as atenções de mim e provavelmente de todas as outras lutas na primeira fase. Então como posso mudar isso?, esse pensamento estava me incomodando, mas já cheguei a uma solução!”
A parte de trás da cabeça de Poker bate no chão, chacoalhando seus olhos de cima para baixo pela força em que seu cérebro acerta o crânio. Poeira levanta à volta. O público e os narradores ficam pasmos.
O apito soa, anunciando o vencedor. Kimai se ergue; o oponente fica paralisado numa pose desconfortável, inconsciente.
“Que é acabar tudo no início com a glória de um Suplex!” Ele levanta o punho, recebendo um banho de enaltecimento das arquibancadas. “Poker, não tinha como fazermos uma grande luta, ao menos com o seu sacrifício rápido pude resolver o dilema que me atormentava. Valeu.”
[3° Luta (1°F) - Poker vs Kimai
Duração - 16 s
Vencedor - Kimai
“‘Fala sério, um lutador de agarrões conseguiu bater o meu recorde recém estabelecido?’ Foi difícil de engolir… Aquele suplex foi impressionante, já prova o quão perigoso ele é nessa competição. Interessante”, palavras do Laerte em uma entrevista.]
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Kimai anda pelo corredor de observação dos lutadores com um sorriso estampado no rosto.
— Seu maldito, qual é a dessa expressão? — fala alguém que surge no caminho.
— Ah! Holpos!
— Quem mais achou que seria? hã!? — Essa rapaz tem 1,83 m de altura, é branco e careca, tendo um corpo robusto quase na mesma proporção do Traçal, vestido com calças e uma camisa sem mangas que expõe os ombros.
— Hahaha! Que bom que você não foi eliminado!
— Eu nem lutei ainda!!
— Hahaha!
— Essa sua gargalhada é irritante pra caramba! Se achando tanto…! Está querendo brigar? hã!?
— Relaxa, não é isso. Como eu não estaria feliz depois de uma vitória daquela?! Hahaha! Todo mundo ficou espantado, eram ótimas expressões!
— Tch! Quando for minha vez irei mostrar algo mais incrível!
— Certo, certo. Foi bom ter te encontrado mesmo que seja apenas na primeira fase. — Ele bate de leve nas costas do Holpos, em seguida continua a andar pelo corredor. — Não espere uma visita minha quando estiver na maca do hospital! Ha ha ha!
“Esse desgraçado realmente pensa que vou perder!” Seus dentes ficam à mostra, a cabeça brilha pela reflexão da luz. Ele também segue seu rumo. “Fica se achando só porque está entre o Top 10 na classificação do circuito amador… Vou mostrar a todos que eu sou muito mais incrível! Aguardem ansiosos pelo meu combate!!”
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Em outra parte do edifício, Laerte se abaixa para pegar algumas latas de refrigerante em uma máquina, carregando todas por entre seu braço direito.
— Ora, o senhor Laerte — diz Jay, que acaba de chegar.
— Hum… Lembrei, você é um dos irmãos.
— Eh!? Tinha esquecido de mim?!
— Desculpe, haha! É que seu irmão marcou mais minha memória, não querendo ofender.
— “Mas já ofendendo.” — Ele suspira. — Campeão, sua dieta é bem ruim, hein?
— Relaxa, daqui para o próximo final de semana eu queimo tudo de mal nesse corpo. Meu metabolismo funciona de um jeito diferente.
— Mesmo que diga isso… — A lata que acaba de comprar cai, sendo pega em um instante por vulto do seu braço dele, surgindo com o lacre aberto.
— Tem dedos bons, não consegui ver uso da aura quando tirou o selo.
— Não é nada de mais, qualquer um com o treino certo pode fazer isso.
— Hm…
Laerte joga outra lata para o ar, tendo o feito de uma forma que a faz ficar reta para cima. O objeto começa a despencar, neste instante o punho dele se torna um borrão indo e voltando duas vezes.
— Desse jeito serve?
A lata está na mão livre dele, possuindo dois buracos à volta do lacre.
— Quanta precisão, campeão!
— Vamos, não me chame disso. Até senhor soa melhor.
— Hahaha!
— Ei… É meio abrupto, mas farei uma pergunta: você acha que seu irmão vai ganhar?
— Ah… realmente abrupto, porém não inesperado. Sim, naturalmente aquele oponente não é nada.
— Não é dele que estou falando. — Laerte derrama o refrigerante por sua boca, fazendo um barulho depois pela sensação de queimação na garganta.
— Não entendi.
— Estou perguntando se considera que ele vai ganhar o torneio.
Jay fica congelado, qualquer ânimo em seu sorriso se foi.
— Senhor Laerte… não seja ridículo. Quem vai ganhar este torneio, sou eu!
A lata é arremessada no lixo, deslizando pela boca até finalmente ir para dentro.
— Entendo, parece que não preciso me preocupar com algo como fraternidade atrapalhando seu desempenho. Talvez você seja mais forte do que aparenta, Jay.
— Sou grato pelo elogio, mas não deveria se preocupar tanto com alguém que mal conhece.
— Foi só um capricho meu. Além disso, essa conversa também teve o propósito de confirmar algo que me incomodava. — Um estalo soa com o abrir de uma lata. Ele aponta para Jay com a mão que segura o refrigerante. — Vocês, irmãos, estão escondendo algo, não é?
— Laerte… pare.
— Algo grande, que pode virar o destino do torneio.
— Você… está procurando morrer?
— Hum?
— Se continuar fuçando onde não deve… — Parte de seus olhos surgem com o abrir das pálpebras, os dedos das suas mãos ficam com um formato de foice, mantendo os dedões livres. O boxeador vê vapor roxo emergir delas. — ...serei obrigado a rasgar sua garganta. Se está procurando uma luta, conseguiu! Vou te matar!