Tokyo Ravens Japonesa

Tradução: Nie

Revisão: Math


Volume 5

Capítulo 3.1: Conferência das Seis Pessoas

PARTE 1

Um edifício cobria o horizonte e o sol afundava gradualmente no lado oposto.

Em um canto de Shinjuku Kabukicho, um pequeno beco fora selado com magia para que nenhum pedestre normal passasse por ele. O sol laranja tingia a cena ao redor, fazendo passar a sensação equivocada de que estivesse desacelerando o tempo.

O breve período em que o dia e a noite mudavam, Omagatoki.

“... Comecem.”

Um homem silenciosamente ouviu o breve comando que vinha de seu fone de ouvido. Uma van grande estava parada no beco e o homem estava sentado no assento da van, esticando os pés pelo corredor estreito.

Esse homem poderia ser descrito com uma palavra, que era inauspicioso.

Ele era jovem, com cerca de vinte anos de idade. Seu corpo era magro e exalava um ar orgulhoso como se tivesse sido esculpido com uma faca. Ele tinha uma cabeça de cabelos curtos tingidos de prata, e suas orelhas eram perfuradas com muitos brincos.

Um casaco de pele era complementado por jeans, e óculos de sol cujas lentes eram revestidas com película prateada obscureciam a expressão em seu rosto. Seu sorriso descontroladamente arrogante e zombeteiro parecia ter sido esculpido em seus lábios como uma marca, e a cicatriz em X na testa fazia os espectadores tremerem ainda mais.

Ele era um exorcista independente – Kagami Reiji dos Doze Generais Divinos.

Kagami cruzou os braços, sentando-se no banco e se concentrando em ouvir a mensagem que vinha de seu fone. Um olhar penetrante saia dos olhos por baixo dos óculos de sol, passando pela janela do carro e olhando atentamente para o prédio que enfrentava.

Usando sua habilidade de espírito-vidente, Kagami via a aura de pelo menos várias pessoas entrarem no terceiro andar, no quarto andar e no quinto andar. Essas pessoas possuíam uma aura estranha e anormalmente forte. As pessoas no prédio que notaram que havia ameaças invadindo – também possuíam fortes auras – apressadamente contra-atacaram.

Energia mágica se espalhou, formando magias uma após a outra, ataque e contra-ataque.

Uma batalha mágica.

Havia um grupo de praticantes lutando no prédio em frente a ele.

Não muito tempo depois, o som de vidro quebrando, de coisas caindo no chão, gritos, rugidos furiosos, e o som de encantamentos sendo recitados chegaram até fora do prédio. Os oponentes estavam resistindo obstinadamente, e os relatórios que chegavam ao seu fone ficaram cada vez mais agitados.

Mas...

“... Nós não conseguimos nada.” Kagami murmurou, bufando com o nariz.

“Uh... Reiji? Não vamos? Se não formos logo, a ação terminará.” Uma voz trepidante soou, educadamente perguntando a Kagami.

Além de Kagami, havia também uma outra pessoa na van. Aquela pessoa sentara-se no banco em frente a Kagami, olhando para o prédio sem piscar, o rosto quase colado na janela do carro.

Aquela pessoa era um jovem magro e esbelto, o cabelo comprido amarrado atrás do pescoço, com uma aparência delicada que pareceria uma linda garota a princípio. No entanto, ele soltou um ar infantil de seu corpo, parecendo um garoto simples e fraco.

O jovem sentou-se desconfortavelmente no banco estreito, as mãos segurando um pacote fino no peito. Era uma bolsa de espadas usada para segurar uma katana.

“Hey, Reiji.” Ele virou a cabeça para olhar para Kagami, continuando a gritar. “Você não vai? Então eu deveria ir sozinho?”

Sua voz era aguda, seu tom como uma criança implorando a seus pais que o deixassem sair e brincar. Embora ele tivesse pedido pacientemente, Kagami não lhe dera atenção. Quando ele impiedosamente insistiu novamente, Kagami silenciosamente dobrou a perna estendida, então chutou com força o assento do jovem por trás com um estrondo.

O jovem recuou de susto, momentaneamente desanimado e olhando através do banco para Kagami com um olhar que parecia entediado.

O interior da van afundou em silêncio novamente. O barulho vindo de fora da van – do prédio que se tornara um campo de batalha – ficou ainda mais claro. O jovem voltou a olhar para fora da janela.

A batalha mágica no prédio ainda continuava, mas parecia decidida. A julgar pelas reações, o grupo de pessoas no prédio que originalmente vinha resistindo firmemente estava claramente tendo cada vez mais dificuldade em encarar o desafio.

Pouco tempo depois, a porta do lado do motorista da van se abriu.

Um jovem vestindo um terno entrou na van. Sentou-se no banco do motorista, fechou a porta e voltou seu olhar para o espelho que refletia Kagami.

“Acabou. Não tivemos baixas, e ninguém do outro lado foi morto, mas...” O jovem relatou com um tom calmo, um sorriso irônico nos lábios. “Nós especialmente incomodamos um oficial independente, fazendo-o vir aqui, mas acabou sendo um desperdício. O incidente desta vez não tem nada a ver com D.”

O jovem relatando sobre a situação atual para Kagami se chamava Hirata Atsune. Ele era afiliado ao Departamento de Investigação de Crimes Mágicos da Divisão de Segurança Pública da Agência Onmyou – os Investigadores Mágicos.

No mês anterior, um membro do Sindicato dos Chifres Gêmeos provocou ataques terroristas com Desastres Espirituais em vários locais da cidade. Os Investigadores Mágicos haviam recebido informações sobre os restos daquele grupo há dois dias, e Hirata, responsável pela investigação do Sindicato dos Chifres Gêmeos, conduzira imediatamente uma investigação secreta, confirmando a autenticidade da inteligência, encontrando o esconderijo dessas pessoas, e planejando esse ataque.

Durante o plano, desta vez, eles se preocuparam mais com um certo Onmyouji que havia se mostrado relacionado a todo o incidente dos ataques terroristas anteriores – e que acabaram aparecendo no final da sequência de eventos conhecidos na comunidade mágica. como a Grande Repurificação Hinamatsuri.

Um misterioso Onmyouji que os Investigadores Mágicos chamavam de D.

A existência do Onmyouji D já havia sido confirmada há muito tempo, mas sua verdadeira identidade sempre fora um mistério. Embora eles tivessem recebido informações muitas vezes que ele se chamava Ashiya Doman, infelizmente a verdade por trás dessa informação não pôde ser verificada. Tudo o que eles sabiam como verdadeiro era que D era de fato um Onmyouji com um poder bastante forte e que ele era frequentemente próximo do Sindicato dos Chifres Gêmeos.

Os Investigadores Mágicos viam D como um indivíduo de alto risco, e o localizavam e investigavam há muitos anos. Como D tinha sido excepcionalmente ativo recentemente, os Investigadores Mágicos solicitaram especialmente a assistência de um Exorcista Independente do Bureau de Exorcismo como salvaguarda contra uma intervenção de D ao ataque. O Bureau de Exorcismo concordou com este pedido, enviando Kagami para se juntar à operação de ataque.

No final, D não interveio na operação. Os Investigadores Mágicos tinham julgado originalmente que a probabilidade não era alta, mas não estava fora de suas expectativas.

“Desculpe por incomodar você e o ter feito vir aqui, mas graças à sua ajuda, a operação foi bem sucedida. Deixe-me expressar sincera gratidão em nome dos Investigadores Mágicos.”

Hirata agradeceu Kagami, sua voz séria e seu olhar não deixando o espelho retrovisor.

Sua aparência honesta e sincera não era como um Onmyouji, mais como um padre ou pastor. No entanto, os olhos refletidos no espelho retrovisor eram afiados, mostrando uma vontade firme. Um fio vermelho de cabelo estava misturado em sua franja arrumada, extremamente atraente.

No entanto, Kagami parecia não prestar atenção a Hirata. Ele ficou em silêncio, nenhuma mudança na expressão visível em seu rosto. Os dois ficaram calados, mas o jovem que carregava a sacola de espadas olhou timidamente entre os dois.

Um leve sorriso irônico apareceu no rosto de Hirata novamente.

“Chefe Amami tinha algo para me dizer. Ele esperava que você também viesse vê-lo.”

Kagami finalmente estalou sua língua ao ouvir essas palavras.

Quando ele entrou pela primeira vez na Agência Onmyou, Kagami fizera parte dos Investigadores Mágicos por um tempo, então o Chefe dos Investigadores Mágicos, Amami Daizen, contava como seu antigo chefe.

Kagami dobrou seu corpo, levantando-se do assento.

“Estou saindo, se você não tem mais nada.”

“Por favor, deixe-me levá-lo até lá.”

“Eu não preciso disso.”

Ele falou bruscamente, indo até a porta e abrindo-a. Hirata finalmente disse as palavras ‘Obrigado pelo seu trabalho’, mas Kagami nem olhou para ele, saindo da van.

O jovem carregando a sacola de espadas apressadamente seguiu-o, olhando para Hirata, mas deixando a área com Kagami sem dizer nada no final.

A porta se fechou sozinha.

“...”

Hirata calmamente estendeu a mão para o espelho retrovisor, ajustando o ângulo e observando as costas de Kagami no espelho enquanto ele saia.

Ele ficou em silêncio, pensando, seu olhar permanecendo atento ao espelho.

 

 

Kagami caminhava pela noite de Kabukicho.

Os pedestres que passavam por ele não ousavam se aproximar, mantendo-se o mais longe possível. Mesmo que eles não soubessem que ele era um praticante, eles ainda poderiam sentir o ar não auspicioso que ele carregava. Mesmo se estivessem interessados, sentiam medo só de olhar para ele.

O jovem que estava na mesma van que Kagami seguia atrás dele. Havia cerca de cinco ou seis passos de distância entre os dois.

Quando os dois ficavam assim, podia-se ver que o jovem era ainda mais alto que Kagami. Como seu tipo de corpo era esbelto, ele parecia um caule de bambu, e na verdade ele tinha 1,9m de altura, com um corpo bastante magro.

Mas seus ombros caíam e suas costas estavam curvadas, então sua presença era muito menos forte do que Kagami que andava na frente dele. Além disso, comparado a Kagami que estava vestido de forma atraente, ele só usava jeans e uma camisa simples. Ele cuidadosamente segurava a bolsa de espada o tempo todo.

Ele olhou para as costas de Kagami como se estivesse fazendo isso para mostrar sua irritação, reclamando: “... Ei, Reiji. Como as coisas se tornaram diferentes do que foi dito no começo?” Seu tom parecia infeliz. “Eu não tive a oportunidade de fazer nada em muito tempo... Você não precisa de mim para esse tipo de situação...”

“...”

“Realmente, eu estava feliz por nada. Reiji, você mudou muito desde que você conseguiu essa cicatriz em X.”

“...”

“Ahh, que estupidez, estou tão desapontado.”

“...”

O jovem tagarelava, reclamando continuamente. Embora ele baixasse a voz, não era tão baixo que não chegasse aos ouvidos de Kagami, mas Kagami não tinha nenhuma intenção de se virar.

Assim, o jovem reclamou cada vez mais vigorosamente, criticando abertamente o comportamento de Kagami, dizendo coisas como ‘Reiji é tão frio’, ‘Reiji é tão mau’, se deixando levar pela insatisfação que normalmente lhe provocava. A expressão em seu rosto tornara-se cada vez mais confiante.

“Além disso, você é muito arrogante...”

“... Shaver.”

 

 

Ao ouvir repentinamente seu próprio nome, o jovem Shaver parou às pressas. Olhando para frente, ele viu que Kagami, que andava à sua frente, também havia parado e se virado, olhando para trás.

Kagami enfiou a mão direita no bolso, curvando o dedo indicador para chamar Shaver. O rosto de Shaver se iluminou, como um filhote sendo chamado para o lado de seu dono, e se apressou...

E fora atingido.

Kagami casualmente balançou o punho. Shaver segurou a cabeça, tremendo no chão em uma genuflexão e incapaz de sequer gritar. Kagami retirou a mão direita, colocando-a no bolso, depois levantou o pé direito, chutando a cabeça de Shaver com a sola de suas botas e mandando-o voar para longe.

Os pedestres que passavam ficaram chocados, olhando para os dois. Shaver – ainda segurando firmemente a bolsa de espadas – soltou gritos lamentosos e tristes, caindo sobre o cimento.

“Is... Isso é demais! O que você está fazendo, Reiji!”

“... Sama.”

“O quê? O que você está dizendo? Ah! Não... Não! Por... Por favor, não me chute! Deixe-me ir, Reiji. Por... Por favor, não me chute, eu estou te implorando, Reiji-sama!”

Shaver implorou amargamente e chorando, e Kagami finalmente parou, silenciosamente se virando e se afastando. Shaver gemeu baixinho, mas finalmente se levantou enquanto sentia o nariz, perseguindo Kagami.

Os pedestres observaram o par sair, atordoados. Nenhum deles notou que, quando Shaver fora atingido, seu corpo – seu contorno – imediatamente se distorceu e a interferência passara por seu corpo. Claro, ninguém lá provavelmente sabia que era um fenômeno chamado lag.

Shaver rapidamente acompanhou Kagami, andando atrás dele novamente. A distância entre os dois estava ainda mais próxima do que antes. Shaver olhava choroso para Kagami, resmungando ressentido.

“... Ei, Reiji... sama? Você poderia ter esquecido que você usa um monte de anéis tão duros quanto pedras em suas mãos? Honestamente, esses anéis são armas, eles são como soqueiras. Se você batesse em outra pessoa com isso, ela poderia ter morrido.”

“Você não pode morrer de qualquer maneira.”

“Não, não, não! Esse não é o problema! Estou te avisando, não faça aleatoriamente ataques mortais!”

“Não haveria problema se você obedientemente calasse a boca e não dissesse nada estúpido.”

Reiji falou com extrema frieza. Shaver franziu a testa, olhando indignado para suas costas.

Então, como se tivesse um lampejo de epifania, Shaver perguntou: “Será que você está realmente muito aborrecido porque aquela pessoa D não apareceu?” Ele obviamente não tinha aprendido uma lição ao ser espancado agora.

Como sempre, Kagami não respondeu imediatamente, mas não o ignorou.

“Hmph...” Ele riu friamente. “Eu já sabia que essa pessoa não apareceria. Embora eu não tenha certeza do que o motiva, pelo menos o lugar agora não tem esse tipo de atmosfera.”

“Atmosfera?”

“... Minha intuição me diz. Por exemplo, da última vez... Depois de lidar com os Nue, várias pessoas que deveriam ser iscas interessantes se reuniram.” Kagami falou friamente, como se estivesse falando sozinho, em vez de explicar para Shaver. “De qualquer forma... Mesmo que essa pessoa aparecesse, seria apenas uma briga... Mas é melhor para mim se ele se esconder nos bastidores por enquanto.”

“Por quê?”

“Os cães são comidos depois que as lebres acabam – isso é plausível. Além disso, o oponente é um animal selvagem, não uma lebre, então não havia escolha a não ser soltar o colarinho deste cão louco.”

“... Eu não entendi nada, o que exatamente você está dizendo?”

“Eu estou falando de você.”

“Eu?”

Shaver perguntou de volta, com os olhos arregalados. Kagami olhou por cima do ombro, para Shaver – o Shikigami que ele usava – e mostrou um sorriso.

Pelo fato de Kagami ter recebido permissão para convocar Shaver, ficara evidente quão seriamente os Investigadores Mágicos – junto com os superiores da Agência Onmyou que aceitaram o pedido dos Investigadores Mágicos – viram a existência de D. Assim, eles haviam especialmente retirado a proibição – embora tivessem acrescentado limitações – e permitiram que ele usasse o Shikigami como um método de se opor ao D.

O fator mais importante para tal mudança fora que durante o término do ataque terrorista com Desastres Espirituais no mês anterior, Kagami e o exorcista independente Kogure Zenjirou cruzaram com D. Os dois Generais Divinos tinham verificado a existência de D em primeira mão, e eles expressaram que a força do oponente não era algo para se desprezar. Isso forçou a Agência Onmyou a tomar contramedidas urgentes e definitivas, e, embora compreendessem os riscos, só podiam permitir que Kagami usasse Shaver como último recurso.

“... Então, nós não precisamos colocar todo o nosso esforço em caçar essas bestas selvagens. Pelo contrário, devemos aproveitar esta oportunidade para aumentar nosso poder de barganha.”

“Poder de barganha?”

“Aumentando as cartas em nossas mãos... Certo, eu ainda deveria retaliar apropriadamente aquele professor bastardo.” Ele falou baixinho, matando sob os óculos escuros a intenção assassina tão afiada quanto uma lâmina.

Quando Kagami e Kogure viram D, havia também outro General Divino presente. Essa pessoa era um ex-Investigador Mágico – portanto, um antigo colega de Kagami – um Onmyouji chamado Ohtomo Jin. Na época, Ohtomo havia colocado uma maldição nele para limitar as ações de Kagami.

Depois disso, Kagami fez uma investigação completa, verificando que a maldição que Ohtomo colocara era apenas magia de segunda classe – também conhecida como blefe.

Kagami tinha notado desde o início que a maldição de Ohtomo provavelmente era um absurdo, mas Kagami sabia muito bem que tipo de pessoa era Ohtomo, então ele não podia afirmar que a maldição era 100% um blefe. Assim, mesmo que acreditasse que 99% eram inofensivos, ele só poderia recuar.

Simplificando, Kagami tinha sido derrotado. Eles apostaram suas vidas e realizaram um truque envolvendo vida e morte. Como Ohtomo tinha conseguido o melhor dele, Kagami naturalmente se recusou a deixá-lo descansar e obedientemente admitir a derrota. Além disso...

“... Não deveria ser apenas D quem quer provar essa isca...” Ele pensou nas pessoas de antes – os alunos da Academia Onmyou que Ohtomo havia tentado proteger.

Tsuchimikado Natsume.

Tsuchimikado Harutora.

Ato Touji.

Não só os dois primeiros nasceram da famosa família Tsuchimikado, mas o sucessor da família, Tsuchimikado Natsume, era a reencarnação do grande Onmyouji Tsuchimikado Yakou, o ancestral da magia moderna e o culpado pela calamidade de Desastres Espirituais. Na verdade, os fanáticos por Yakou eram suspeitos de terem tentado encontrá-lo e contatá-lo diretamente duas ou três vezes.

A outra pessoa, Ato Touji, era um espírito vivo com um demônio alojado em seu corpo, e esse demônio era muito possivelmente o descendente que o principal suspeito Dairenji Shidou usara como recipiente durante o ataque terrorista com Desastre Espiritual na Grande Purificação Hinamatsuri. O demônio estava selado agora, e a pessoa que havia feito o selo era outro Tsuchimikado, o pai de Tsuchimikado Harutora.

O mais interessante de tudo é que ele ouviu que até a Prodígio dos Doze Generais Divinos havia entrado na Academia Onmyou para estudar. O nome dela era Dairenji Suzuka, a filha de Dairenji Shidou que fez Ato Touji se tornar um espírito vivo. Quanto mais ele pensava, mais ele sentia que o destino era bastante inconstante.

Depois de perguntar, ele tinha aprendido que a Prodígio entrar na Academia Onmyou era a vontade dos superiores da Agência Onmyou como punição pelo incidente que ela causou ao ano anterior.

Com isso, surgiu uma nova questão. A Prodígio, Dairenji Suzuka, tinha se especializado originalmente em pesquisar Onmyoudou Imperial, e o estilo Imperial foi fundado por Tsuchimikado Yakou, o sistema de magia fundacional do Onmyoudou moderno. Até mesmo o incidente que ela causou foi baseado nessa pesquisa – em outras palavras, fora um incidente relacionado a Yakou.

Já que havia tal conexão, por que os superiores decidiram que ela entrasse na Academia Onmyou onde Natsume, supostamente a reencarnação de Yakou, estava? Dizia-se que era um castigo simples, mas na verdade era para provocar o próximo incidente – preparando o palco para deixá-la pesquisar mais.

“... Mas, para ser honesto, Dairenji Shidou também pertencia aos fanáticos do Sindicato dos Chifres Gêmeos que adoravam Yakou.”

Dairenji Shidou fora quem provocou o primeiro ataque terrorista com Desastres Espirituais, fazendo com que os fanáticos por Yakou fossem notórios culpados na comunidade mágica. Por que a Agência Onmyou deixaria a filha de tal homem pesquisar Onmyoudou Imperial? Mesmo que ela não fosse autorizada a ficar na linha de frente e tivesse que fazer pesquisas nos bastidores por ser menor de idade, ainda era difícil entender por que ela tinha permissão para realizar pesquisas relacionadas a Tsuchimikado Yakou.

“... É muito suspeito.”

Agora, essas pessoas tinham um fardo que nem eles conheciam. Era como se as pessoas esperassem que elas produzissem algum tipo de mudança ao esbarrarem umas nas outras. Mais importante ainda, Ohtomo – um ex-General Divino – tinha se tornado professor depois de se demitir do trabalho da Agência Onmyou.

Academia Onmyou.

Agora, aquele lugar se tornara o lugar mais interessante para Kagami. Ele acreditava que isso também era verdade para D e para a Agência Onmyou. Qualquer pessoa da indústria que estivesse bem informada e que tivesse bom senso definitivamente trataria a Academia Onmyou como um objeto de grande interesse.

“...”

Kagami continuou a ponderar. O cérebro astuto por trás de sua expressão orgulhosa estava fazendo várias suposições e continuando a investigar.

Shaver, que há muito tinha sido ignorado, olhou para o mestre de lado e disse em voz baixa: “... Reiji parece muito feliz.”

Depois de dizer isso, ele sorriu. O medo, a ansiedade, a fraqueza e a tristeza de antes não eram mais visíveis no sorriso. Era como se alguém pudesse vislumbrar uma escuridão profunda e sem fim debaixo de sua bonita aparência. Esse era o tipo de sorriso que ele revelou.

Shaver era o Shikigami de Kagami, e Kagami usava esse Shikigami como um escravo. No entanto, ninguém forçava Shaver. Ele mesmo tomara essa decisão, concordando em se tornar o Shikigami de Kagami.

Ele tinha visto que tipo de homem Kagami era e decidiu que só ele era adequado para ser seu mestre.

Enquanto caminhavam, os olhos de Shaver de repente se arregalaram e ele rapidamente se virou, olhando para um prédio ao longe do outro lado da rua como um cachorro ouvindo um som extraordinariamente alto que os humanos não podiam ouvir.

O corpo de Kagami também estremeceu, diminuindo o passo e reagindo. Ele olhou na mesma direção que seu Shikigami, estreitando os olhos aguçados debaixo dos óculos escuros.

“... Um Desastre Espiritual... Parece que é um Fase bem alto.”

Ele não podia ver a imagem completa porque o prédio o bloqueava, mas ele ainda podia ver a aura distorcida no chão à distância, sinais de que estava prestes a se transformar em miasma.

Havia um Desastre Espiritual acontecendo à distância. Parecia que já havia se desenvolvido em um Fase 2. Sua localização também era bastante complicada, bem em cima de um fluxo de aura. Depois de mais noventa minutos – ou talvez nem precisaria de tanto tempo – o Desastre Espiritual logo entraria em Fase 3.

“Está aqui de novo... esse mundo caótico”.

Desde o ataque terrorista com Desastres Espirituais no mês anterior, o fluxo de aura dentro de Tóquio fora perturbado, e a taxa de ocorrências de Desastres Espirituais havia acelerado. Atualmente, um Desastre Espiritual de Fase 2 não era mais incomum, e até um Fase 3 – Desastres Espirituais móveis – surgiam um após o outro.

Enquanto Kagami olhava friamente para o Desastre Espiritual ao longe, a reação de Shaver era completamente diferente da dele.

“Reiji.”

Seus ombros magros ergueram-se animadamente, e os olhos que olhavam para seu mestre mostravam expectativa e ansiedade. No entanto, Kagami apenas bufou, não se importando com ele.

“Quem se importa com um Desastre Espiritual, a Agência ainda não deu ordens.”

O tempo de trabalho já havia terminado há muito tempo e, hoje, ele até havia ajudado os Investigadores Mágicos. Ele já havia relatado antes de sair e tinha saído diretamente do trabalho depois que o incidente fora resolvido. Mesmo que o Desastre Espiritual tivesse acontecido mais perto, ele não tinha obrigação de ir purificá-lo.

“Vamos lá.” Kagami falou friamente e estava prestes a se afastar quando...

“... Reiji.” Shaver gritou para ele novamente, algo em sua voz parecia soar um pouco errado. As pernas de Kagami endureceram e ele rapidamente checou a aparência de seu Shikigami, notando que Shaver estava parado com a cabeça abaixada, os ombros tremendo constantemente. Os braços que seguravam a bolsa de espadas estavam constantemente estremecendo, a atmosfera claramente diferente de antes.

Ele murmurou com uma expressão vazia: “... Por que as coisas são diferentes do que você disse no começo? Não foi você quem me chamou para vir? Mas por que, por que eu tenho que sofrer? Eu não quero isso. Eu fico com você porque você precisa de mim. Se você não precisa de mim... Por que você me chama?” Seu espasmo se estendia a todo o corpo como se estivesse suprimindo desesperadamente os músculos que tentavam se mover sozinhos. Sua expressão vazia e rígida parecia a de um viciado em drogas.

Ele lentamente levantou a cabeça.

“... Não pode ser assim, certo, Reiji? Eu sou seu Shikigami... Você é meu mestre...”

Os olhos do Shikigami olhavam diretamente para Kagami, seu olhar preenchido com uma estranha sensação de fome. Kagami encarou o olhar de seu Shikigami de frente, como quando ele tinha enfrentado Ohtomo, soltando uma risada fria do fundo do seu coração como se ele estivesse brincando com a morte.

“... Isso é verdade.” Ele olhou para Shaver, respondendo prontamente, um sorriso selvagem e bestial emergindo em seus lábios.

“Tudo bem, vamos embora. Faz muito tempo desde que eu testei seu fio.”



Comentários