Todas essas Protagonistas Perdedoras! Japonesa

Tradução: NiquelDBM, Okuma

Revisão: NiquelDBM


Volume 1

Capítulo 1: A derrota de Anna Yanami, a amiga de infância profissional.

— Você foi muito bem, Maninho. Deve ter sido difícil. Eu sei que você deu o seu melhor. Então, a Kurumi aqui vai te mimar um pouco!

…Impossível não se emocionar ao ver as falas da irmã mais nova, que também é uma personagem principal da história.

Estou tremendo com a generosidade da Kurumizinha. Ela sempre dá um jeito de mimar o protagonista. Foram 20 páginas seguidas da Kurumi mimando o irmão mais velho, então estou satisfeito por agora.

Eu olhei apaixonado para a Kurumi na capa.

Ah, eu quero ser mimado também. Eu quero um travesseiro de colo dessas coxas macias.

— Você não pode fazer isso, Sosuke! Você não pode perder ainda mais tempo!

Os gritos da mesa ao lado acabaram com minha fantasia. Acho que um casal está discutindo sobre alguma  coisa.

Nossa, é por isso que odeio os normies… Eles deveriam aprender com a Kurumi Kashitani, que também é chamada de Anjinho Bondoso.

Bem, eu deveria voltar para apreciar as ilustrações enquanto saboreio minha coca-cola com sabor de melão.

— Huh!?

Eu rapidamente me sentei depois de tentar caminhar até o refil de bebidas.

Merda, o casal da outra mesa é da minha escola. E são da minha turma!

A pessoa que está gritando é a Anna Yanami. Ela é uma garota fofa e gentil que é popular na sala de aula.

O cara sentado à frente é o Sosuke Hakamada. Ele também é um cara atraente.

Os dois sempre andam juntos. Hmm, então ele realmente estão ficando, hein?

Mas por que eles discutiriam aqui? Tentei escutar, disfarçadamente, enquanto continuava olhando para a novel.

— A Karen vai para a Inglaterra se você não for atrás dela agora. É isso que você quer?!

— Mas a Karen me disse adeus. Ela estava chorando-

— Isso não mostra ainda mais que ela quer que você vá atrás dela?!

… Do que esses dois estão falando? A conversa deles pareceu atingir o clímax.

A Karen, que foi citada na conversa, é a garota que foi transferida para cá, certo? Acho que o nome dela é Karen Himemiya.

Quando ela se apresentou no primeiro dia de aula, ela discutiu com o Hakamada. Algo como:

"— Ah, você é o safado daquele dia!"

A propósito, ela já vai se transferir de novo? Para a Inglaterra? Por que isso do nada?

— Como você sabe disso?

— Eu apenas sei! E porque eu… te amo…

Yanami abaixou a cabeça e mordeu os lábios.

— Anna, eu-

— Sim, tudo bem.

Yanami ergueu a cabeça com determinação. Então ela se levantou e jogou as chaves da bicicleta na mesa.

— Vá, a Karen está esperando por você!

— …Tem certeza?

— A Karen é uma garota legal. Não vou aceitar que ela não seja feliz.

— Obrigado, vou contar a ela sobre o que sinto.

— Boa sorte. Vou estar aqui para te ouvir caso leve um fora.

— …Sinto muito, Anna.

O Hakamada saiu correndo depois de dizer isso. Ele nem olhou para a Yanami.

A Yanami permaneceu imóvel por um tempo. Depois disso, ela se sentou, fraca, e murmurou.

— …Não se desculpe, idiota.

Pensando bem, em que cena eu tô agora? Mesmo que eu não tenha nada a ver com o mundo normie, isso com certeza é o evento de rejeição. Eu deveria apenas fingir que não vi nada.

Eu pareço bem suspeito espiando por cima da novel.

Huh?! N-Não me diga que ela vai fazer algo assim!

Anna Yanami, a garota que acabou de levar um fora, está estendendo a mão para o copo na mesa.

É o copo do Sosuke Hakamada, o cara que acabou de dar um fora nela.

Para! Por favor, não faça algo tão patético!

Meus anseios desesperados não foram ouvidos.

Yanami está segurando o copo nas mãos enquanto coloca o canudo na boca, hesitante.

…Ahh, ela realmente fez isso.

Naquele instante, os olhos dela focaram em um ponto totalmente específico, como se estivesse sendo sugada para esse lugar.

Ah, sim, para onde ela tá olhando? É para mim!

Merda, nossos olhos se encontraram!

Eu só espero que ela não tenha me notado...

Ah, o rosto da Yanami ficou vermelho. Então, pff! Ela cuspiu todo o café e engasgou como louca.

…É por isso que odeio as 3D.

Bem, vou apenas fingir que não vi nada. Assobiei para disfarçar, e eu nem sabia fazer isso. Olhei o cardápio como quem não quer nada.

Meu disfarce foi em vão, já que a Yanami se sentou na minha frente.

Fala sério, por que você só não me deixa relaxar em paz?

— Você é o Nukumizu, da minha turma, né?

— Uh, sim, e eu não vi nada, Yanami. Num vi nadinha, belê?

Uwah, eu acabei de me entregar dizendo isso dessa forma.

Yanami ficou completamente vermelha de novo, até as orelhas.

Ela me encarou.

— P-Por favor, não conta nada pra ninguém!

— Ah, eu não vi nada. Tudo bem.

— I-Isso aí! Cê não viu nada, né, Nukumizu?!

Yanami desviou o olhar sem jeito enquanto se levantava.

Ela faz parecer como se eu tivesse olhado para eles de propósito. Eles estavam gritando no restaurante, pô.

Cara, tanto faz.

Suspirei.

Fingi que nada aconteceu enquanto caminhava até o refil de bebidas. Uma bebida gelada deve acalmar minha mente.

Voltei para minha mesa com um copo de Coca-Cola sabor melão.

Calma aí, a Yanami ainda tá de pé ao lado da mesa. Parece que ela está contando o dinheiro que tem dentro da carteira.  Não me diga que ela está com pouco dinheiro...

…Não tem outro jeito. Tenho que proteger meu tempo de relaxar depois da escola.

Contei até 10 em meu coração antes de falar algo, só para garantir.

— Então, você tá sem dinheiro?

— Eh?

Yanami surtou, enquanto concordava chorando.

Peguei a conta dela. Nossa, quanto esses dois comeram?

Cara, aquele mané do Hakamada pediu um bife. E a Yanami não fica pra trás, não. Ela pediu um combo de hambúrguer, uma sobremesa, uma salada e uma sopa.

Tô chocado em como eles fazem isso sabendo que não têm tanto dinheiro.

— Tudo bem, eu posso pagar para você. Aí você me devolve na segunda-feira, beleza?

Poxa, eu ia comprar um monte de light novels.

No entanto, não tenho um coração de gelo para deixar minha colega de classe na mão logo após ela levar um fora.

— Eh, sério? Mesmo que eu tenha desejado tudo de mal para você na minha mente até agora a pouco?

Tudo bem. Por favor, vá para casa.

…Ei, pera aí! Por que ela tá se sentando de novo?

— Uh, por que você tá se sentado?

— Brigadinha, viu. Acho que pensei em você da forma errada durante todo esse tempo, Nukumizu. Desculpa.

Parece que ela vem pensando tudo de ruim sobre mim até agora, então. Além disso, estou começando a me arrepender de ter ajudado essa garota, mas isso permanecerá em segredo.

— Então, por que você se sentou de novo?

Eu repeti, só para ter certeza.

Mesmo assim, Yanami bateu palmas e olhou para longe.

— O Sosuke é meu amigo de infância.

Vai me contar historinha, agora, é?

— Quando a gente era mais novo, o Sosuke fez um anel de flores e pôs no meu dedo. Ele disse que, um dia, a gente iria casar… Casar…

Lágrimas começaram a cair dos olhos dela.

— Ei! Você está bem, Yanami?!

O que há de errado com ela, afinal? As pessoas ao nosso redor estavam nos encarando.

Corri para o refil e peguei um copo de chá qualquer.

— Toma, é melhor beber isso e se acalmar um pouco.

— Obrigada. Isso… tem um gosto tão bom.

— Que bom que gostou. É um chá de rosas.

O rótulo fala um pouco sobre o chá, acho que ele…

— Acho que ele faz bem para a pele.

— Faz bem para a pele, hein…

Yanami riu, sem forças.

— Eu já não tenho ninguém para mostrar a minha pele…

Não diga isso, que drama desnecessário. Por favor, só bebe isso logo e vai pra casa.

Enquanto eu pensava no que dizer para ela ir para casa…

— Desculpem pela demora. Aqui estão suas batatas fritas grandes!

— Eh?

A garçonete colocou um prato de batatas fritas bem na minha frente. E eu acho que essa garota maluca colocou isso na minha conta, também.

— Ei, o que é isso aí?

— Sabe, a Karen é minha amiga querida. Porém, todavia, entretanto! Ela só foi transferida para cá em maio, né?! E os 12 anos que passei com o Sosuke? Não contam mais?!

Fungando, Yanami limpou o nariz com a toalha e imediatamente começou a comer as batatas fritas.

— Vou reformular a pergunta. Yanami,  foi você quem pediu essas batatas fritas?

— Mesmo que o Sosuke tenha dito que iríamos nos casar. Isso não é cruel? Que mentiroso.

Cê não tá sendo muito cruel comigo também?

Mas quero que isso termine de um jeito feliz para ela. Então, suprimi minha vontade de suspirar e cruzei as pernas.

— Só pra saber, quando foi que ele disse isso?

— Acho que foi um pouco antes do fundamental. Nós tínhamos cerca de 4 ou 5 anos.

Então nem conta, né, parceira?

— Isso também conta como traição, né? Ele mudou de alvo só porque uma garota com peitos maiores apareceu.

Mudou de alvo? Eh, o Hakamada seria capaz de trair alguém mesmo tendo aquela personalidade?

Na verdade, a Karen Himemiya é bem bonita, mesmo.

A Yanami é tão bonita quanto ela. Porém, ela não tem o brilho para ser a protagonista de alguma novel ou anime. Afinal, isso é decidido pela genética.

Assim que comecei a sentir um pouco de pena da Yanami, perguntei a ela com um tom preocupado.

— Yanami, você estava namorando com o Hakamada?

— Eh? N-Nossaaaa, realmente parecia isso? Desde pequenos as pessoas diziam que nós dois combinamos. Bem, é assim que nos veem hoje em dia, também. Ehehe.

Yanami cobriu o rosto, totalmente corada de vergonha.

Ei, pera aí, então quer dizer que…?

— Vocês dois nem namoravam? Então não é traição, certo?

O rosto dela se contorceu rapidamente depois de ouvir o que eu disse.

— Eh?! M-Mas nós iríamos ficar juntos um dia. As coisas teriam ido muito bem se aquela vaca do peitão não tivesse aparecido!

Mas ela não era sua amiga querida?

— Além disso, ainda não acabou completamente. Será que o Sosuke vai mudar de ideia durante o clímax da história?

— …Não, já tá tudo acabado.

Não li todas essas comédias românticas à toa, sabe? Essa garota já perdeu.

— Vou te contar uma coisa, mas é segredo, belê? Eu já tomei banho com o Sosuke uma vez.

— Sim. E isso foi quando vocês tinham 5 anos, certo?

Do jeito que tá indo, quem vai tomar banho juntos são aqueles dois, então vai se preparando mentalmente, garota.

— Mas… Mas! Até nossas famílias já aprovaram nosso casamento! Bem, moralmente falando, um casamento é apenas a junção de duas famílias, né?!

Ela ignorou tudo e continuou.

As lágrimas voltaram a cair dos olhos dela.

— Ei, o que foi agora?!

— … O casamento… ser a esposa dele… o vestido de noiva que deveria ter sido usado por mim… agora vai ficar tudo para aquela garota dos peitões!

Acho que ela imaginou sua rival apaixonada usando um vestido de noiva. Ahh, caramba, eu não sabia que garotas rejeitadas tinham emoções tão instáveis.

— …Eu sei. Tudo poderia ter sido diferente se eu tivesse tido coragem e me declarado bem antes.

— V-Você tem razão. Quer mais chá? Eu recomendo o de menta.

— Fala sério, isso tem gosto de pasta de dente…

Acho que ela se acalmou depois de chorar um pouco. Ela enxugou as lágrimas e sorriu.

— Desculpe por fazer tanta bagunça.

— Está tudo bem.

Não é bem por isso que você deveria se desculpar comigo…

— Por mim está tudo bem. Ficarei feliz desde que o Sosuke esteja feliz também. Posso me contentar apenas ao ficar do lado dele como melhor amiga.

— Entendi…

Mas, por que parece que ela ainda não aceitou isso?

Yanami continuou comendo as batatas fritas. Estendi a mão para pegar algumas e olhei para ela.

Acabei de me lembrar de algo. Existe uma frase que as pessoas usam para descrever pessoas iguais a ela…

Sim, isso mesmo. Anna Yanami… você é uma Protagonista Perdedora.

 

 

Já se passaram 3 dias desde que aquilo aconteceu. Hoje é segunda-feira e estou na escola.

Fechei a torneira enquanto limpava a água da boca.

Algumas pessoas dizem que a água da torneira tem um gosto ruim nas cidades grandes, enquanto outras acham que, hoje em dia, ela tem um gosto melhor.

No entanto, essas pessoas não sabem, mas a água da torneira tem um gosto diferente para cada prédio.

E eu, Kazuhiko Nukumizu, aluno da classe 1C da Escola de Ensino Médio Tsuwabuki, sou a pessoa que sabe disso.

— Sim, tem que ser esta torneira de manhã…

Escolhi a torneira em frente à biblioteca do novo prédio da escola no intervalo da terceira aula.

É a mais distante da caixa d'água do telhado, o que significa que tem menos cloro. Decidi vir beber água aqui para não encher tanto meu estômago para a hora do almoço.

Hora de voltar para a sala de aula.

Terminei de beber água e comecei a voltar enquanto calculava o tempo e a distância restantes.

Se eu voltar muito cedo, não vou saber como lidar com algumas coisas, tipo alguém sentado no meu canto.

Caminhei vagarosamente pelo corredor enquanto me lembrava do que aconteceu na semana passada.

Anna Yanami. Como ela é uma garota muito linda da nossa turma, ela causou um alvoroço entre os meninos durante o início das aulas. Aceitei que não iria interagir com ela de forma alguma, então nunca prestei atenção nela.

Porém, naquele dia, acabei ficando junto dela até que ela desabafasse tudo o que estava sentindo. Já faz muito tempo que não falo tanto com uma garota.

Ela alternava entre sorriso e lágrimas. Fiquei atraído e preocupado ao mesmo tempo.

Bem, no final, estamos em níveis bem diferentes. Esta pequena história vai acabar assim que ela me devolver o dinheiro. Acho que isso conta como uma pequena memória, pelo menos.

Entrei na sala de aula depois de verificar meu relógio. 30 segundos até o sinal tocar, perfeito.

…Tck! Droga! Tem alguém sentado na minha cadeira.

A pessoa que estava sentada é a Lemon Yakishio, do Clube de Atletismo. Ela é uma garota que pratica esportes e tem a pele bronzeada.

Eu ouvia falar dela desde o fundamental. Ela é brilhante, adorável e popular. Um grupo de pessoas está sempre junto dela. Bom, acho que ela não vai sair dali até o sinal tocar.

Dei a volta e passei pelo meu lugar. Caminhei até a lixeira para jogar um papel, que já deixei guardado para disfarçar em momentos como esse.

O sinal tocou na hora certa.

Acho que agora a Yakishio vai voltar para o lugar dela, certo? Bem, eu deveria voltar também.

— …?

Uma sensação de estranheza me fez parar. Por que ninguém voltou para as cadeiras?

Não me diga que...

Olhei para o quadro-negro instantaneamente.

"Quarta aula: História Mundial. A professora chegará 10 minutos atrasada. Por favor, estudem sozinhos até ela chegar."

Eu calculei mal. Agora eu entendi. Todo mundo já sabia que teria um intervalo de 10 minutos. Bem, o que devo fazer?

Limpei o suor da testa e fui ver o quadro de avisos.

…Eh, o festival nacional de esportes é esse mês. Acho que o Clube de Tirco com Arco entrou no festival durante 3 anos seguidos. Eles são incríveis.

Esvaziei minha mente e li a programação do festival.

"Cerimônia de abertura: 22 de julho. Vôlei feminino: 22 a 25 de julho. Caiaque: 28 a 31 de julho."

— Vem, nós três podemos almoçar juntos!

Uma voz fina e doce distraiu minha atenção.

Era a voz da Karen Himemiya.

Eu olhei por reflexo. Ela está conversando alegremente com a Yanami e com o Hakamada.

Uma aparência tão brilhante e uma personalidade alegre… Uma beleza genuína nesta escala não deveria existir.

Além disso, a comissão de frente dela é realmente bem grande…

Yanami também respondeu com um sorriso refrescante.

…Tô preocupado com a Yanami por causa do que aconteceu, mas parece que ela está bastante enérgica. Esses dramas devem ser comuns entre os normies.

— Estou bem. Não quero interromper vocês dois.

Yanami disse isso brincando.

— Você não precisa se importar com isso. Somos amigas, sabe?

— Verdade. Você nunca se importou com esse tipo de coisa…

— Você também, Hakamada. Por favor, tenha consideração pelos sentimentos da Karen.

Yanami falou educadamente com o Hakamada.

— Ei, Anna.

— O que foi, Karen-

A Karen Himemiya de repente abraçou a Yanami com força.

— Ei, o que foi?

— Obrigada. Você é minha melhor amiga, Anna.

Essa garota te chama de “vaca do peitão”  pelas costas, sabia?

— Nossa, Karen. Tem pessoas vendo.

Yanami disse enquanto dava um tapinha no ombro de Karen Himemiya.

Bem, pelo menos parece que a Yanami não está mais triste. Que bom.

…Mas, meu alívio passou no mesmo instante em que olhou mais para baixo.

As pernas da Yanami estavam tremendo enquanto Karen Himemiya a abraçava novamente. Os dedos dela estavam ficando pálidos com a força do abraço.

Eita! Essa garota não vai desistir, mesmo.

— Bem, vamos almoçar no pátio-

— Ahh…

O rosto de Yanami está ficando cada vez mais pálido.

Himemiya estava prestes a matar ela enquanto sorria.

Decidi ir até aqueles três para tentar fazer algo. Não consegui fazer parado.

— Ei, Yanami.

— Eh?

Os três olharam para mim com os rostos chocados.

É disso que estou falando. Era sobre esse tipo de tratamento que eu estava falando antes. Sinto muito por um personagem secundário como eu estar falando com vocês.

Fiquei muito chateado, mas mantive a calma exterior e disse o que estava preparando.

— Yanami, você é a ajudante hoje, certo? A professora Amanatsu quer que você ajude na sala de impressão.

— Eh… ah… entendo. Obrigada, já estou indo.

Yanami escapou da Himemiya com o rosto cheio de alívio.

Mas, quando ela estava prestes a sair da sala, ela parece lembrar de algo e para na porta.

Ela vira para mim e fala algo.

— Ei, Nukumizu, você pode me ajudar também?


 


Nem sei por que a Yanami e eu estamos andando juntos no corredor. O que devo dizer?

Olhei de canto para ela.

Anna Yanami. O cabelo dela é muito lindo. No geral, ela é uma pessoa cheia do tal “encanto feminino”.

Os cílios dela são perfeitos. As bochechas delas deixam qualquer um com vontade de apertar. Ela é um pacote completo com tudo que os garotos gostam.

…Essa garota é realmente o sonho de qualquer um. Por que o Sosuke Hakamada deu um fora nela? E eles ainda são amigos de infância. O que há de ruim nela?

Bem, mesmo que a Karen Himemiya pareça mais fofa e tenha peitos maiores…

— Hm? Tem algo no meu rosto?

Yanami inclinou a cabeça e olhou para mim.

— Eh? Ah, não é nada.

…Merda, eu estava encarando ela.

Ela percebeu que eu estava um pouco tenso. Então, ela naturalmente diminuiu nossa distância e sussurrou para mim.

— Nukumizu, você me ajudou porque você sabe que estou com problemas?

— Bem, acho que sim. Você parecia desesperada naquela hora.

— Muito obrigada, viu. Eu tava me segurando pra não dar um tapa naqueles peitões dela.

Ela consegue dizer essas coisas com uma cara séria…

— Bem, para onde vamos agora? Você mentiu quando disse aquilo de ajudar a professora, né?

— A professora Amanatsu disse para estudarmos sozinhos porque ela esqueceu de imprimir o material, certo? Então, vamos ajudar ela com isso, já que estamos aqui.

Konami Amanatsu, ela é a professora responsável pela nossa sala, e também dá aula de Estudos Sociais.

Mesmo sendo uma professora com diploma, ela é muito desatenta e preguiçosa. Ela bagunça a agenda, esquece o material didático e entra na sala de aula errada de vez em quando.

Tenho 100% de certeza que ela disse para estudarmos sozinhos porque se esqueceu de imprimir o material.

Eu sabia. Assim que abrimos a porta da sala de impressão, lá estava a pessoa que procurávamos.

— Nossa, o que aconteceu?!

O chão e as mesas estavam cheios de papéis.

Assim como esperávamos, lá estava a professora Amanatsu, que parece ter perdido em uma luta contra a impressora. Ela é uma professora baixinha e bem fofa, e ficaria bem até num uniforme escolar. Pera aí, eu realmente devo falar dela assim?

— Ei, Yanami. Por que você veio aqui? Você deveria estar na aula- uwaah!

Amanatsu pisou nos papéis e escorregou. As anotações estão voando pela sala.

Esqueci de falar antes, mas ela também é bem desajeitada. Ela faz as pessoas se preocuparem com ela.

— Eu pensei em vir te ajudar, professora.

— Ah, obrigada. Bem, me ajuda a imprimir essas listas aqui, então… Tá tudo espalhado, qual que é pra imprimir, mesmo?

Os 10 minutos que ela escreveu no quadro já haviam se passado há muito tempo.

— Fiquei muito tempo preparando o material. Espero que fique tudo certo.

Na verdade, a professora Amanatsu sempre faz anotações detalhadas. Eu olhei para o conteúdo sem querer.

— Professora, essas lições aí não estão erradas? Nós vamos iniciar a história chinesa…

— Ei, ei, você deveria prestar atenção apenas nos materiais da sua turma. E o tema das aulas do 2º ano em julho é sobre o Império Bizantino. Vou ensinar tudo sobre as partes fofas desta história.

— Professora, você está indo para a sala de aula do 1C agora.

Além disso, estou na sua turma.

— Ehhh?!

Bamm. As anotações, que a professora Amanatsu demorou uma eternidade para recolher, caíram no chão novamente.

— Tudo bem. Ainda faltam 40 minutos. Eu consigo arrumar tudo antes disso! Por favor, aguardem!

A aula vai acabar.

Amanatsu saiu correndo da sala de impressão depois de tropeçar.

…A tempestade passou. Ficamos chocados olhando para a porta por um momento.

— De qualquer forma, vamos limpar essa sala.

— Você tem razão. A professora Amanatsu sempre foi assim.

Começamos a arrumar a sala silenciosamente.

Parece tudo muito estranho. Estar sozinho com uma garota… devo dizer alguma coisa?

… Na verdade, tem sim algo que eu deva falar.

Cocei a garganta e falei com ela.

— Ei, sobre o dinheiro que te emprestei na sexta-feira...

— Ah, sim. Não tô com minha carteira agora. Você pode ir até as escadas de emergência do prédio antigo durante o almoço?

— Eh? Ah, posso, eu acho.

Talvez a Yanami não queira que as pessoas saibam que ela tem algo a resolver com um cara insignificante como eu, certo?Ainda mais quando ela levou um fora agora…

Um pouco desanimado, organizei as anotações e entreguei para a Yanami.

— …Nukumizu, cê também percebeu, né? Aqueles dois estão namorando.

Yanami falou enquanto reorganizava as anotações.

Ela disse isso de forma calma.

Percebi os olhos tristes da Yanami. Ela estava recolhendo as anotações de forma tão cabisbaixa…

— Bem, deu pra ver… Ah, você já pegou tudo?

— Você também ouviu ela me convidando pra almoçar com eles, né?! Alguém realmente faria uma coisa dessas?!

Ela está apertando as anotações cada vez mais.

— …Eles estão tirando uma comigo, né?! Ou eles estão apenas se exibindo?!

Yanami finalmente rasgou todas as anotações.

— Não, bem… Eu estava no mesmo grupo que o Hakamada durante um projeto em grupo. Ele parece ser gente boa, viu? Ele não faria algo assim.

— Você tem razão. O Sosuke não é um cara assim, certo?

— Sim...

— O Sosuke é tão perfeito quanto um anjo. Achei que tava olhando para a foto de um anjo ontem à noite quando fui ver nossas fotos de quando éramos pequenos. Ele é tão perfeito que faz inveja. Eheheh.

Yanami fechou os olhos, encantada, enquanto iniciava uma viagem pelas próprias memórias.

Depois de um longo tempo, pude ver fogo e faíscas negras saindo dos olhos dela.

— …Agora entendi tudo. Resumindo, é a Karen. O Sosuke é um anjo, e a Karen é uma kapeta.

— Eh?

— Ela quer que eu desista de me aproximar do homem dela.

— Ei, acho que cê tá imaginando coisa…

— Mesmo que eu a trate como uma amiga querida, ela vai continuar seduzindo o Sosuke com aquele corpão avantajado dela...

Já faz um tempo que eu penso nisso, mas vocês duas realmente são amigas?

— Aqueles sacos de gordura que ela tem estão cheios de coisas pegajosas e do mal. Nukumizu, você também acha isso, né?

Não me pergunta isso. Pra mim, eles estão cheios de sonhos e esperança… Meu Deus, professora, pode voltar logo?

A porta foi aberta no momento em que orei.

— Glória a Deus, professora!

— Glória a Bizâncio!

Amanatsu voltou feliz. Tive um mau pressentimento com isso.

— O que há de errado, professora?

— Bem, agora que parei pra pensar, eu não preparei nada para a aula do primeiro ano, então estava planejando só ficar sentada a aula inteira.

Como você pode dizer isso com um sorriso no rosto? Essa pessoa deveria ser um membro importante da nossa sociedade, não é?

— No entanto, percebi que ainda posso falar sobre os pontos legais de Bizâncio para aqueles pirralhos do primeiro ano. Então, vamos voltar para a sala de aula.

— Professora, por favor, leve suas aulas a sério.

Por que eu tava querendo que ela voltasse, mesmo?

— Bom, eu fiz um bom trabalho planejando as aulas do segundo ano, certo?

— É só usar o livro durante as aulas. Aposto que até alguém como você consegui isso.

— Uh, mas está tudo bem se eu não quiser fazer assim?

— Não importa se você quer ou não, você meio que deve fazer isso.

O incentivo parece ter impressionado a professora.

Amanatsu cerrou os pequenos punhos com força.

— Eu entendi. Vou tentar, mesmo que tenha esquecido o livro.

— Não, por favor, traga o livro.

— Você é tão legal, jovem, mas por favor volte para sua sala, pois a sua aula já deve ter começado.

— Eu sou da sua sala.

…Professora, eu já posso voltar, por favor? Tô cansado disso.

 

 

No intervalo do almoço daquele dia, eu me sentei nas escadas de emergência como tínhamos prometido.

Eu não sabia que nossa escola tinha um lugar assim. Eu observei ao redor um pouco surpreso.

Esse lugar é bem escondido. Praticamente ninguém vem até aqui. Já fazem 4 meses desde que eu entrei nessa escola. Sinceramente, eu já cansei de ficar bebendo água de torneira escondido. Esse é um ótimo lugar para ficar durante os intervalos.

Eu nem sei quando a Yanami vai aparecer. Bem, eu já vou comendo meu pão enquanto espero.

— Ah, aí está você, Nukumizu.

Yanami desceu das escadas acima. Eu olhei para cima involuntariamente, e um par de coxas brancas e macias tomou a minha visão. Eu rapidamente desviei o olhar.

— Ah, não, não foi de propósito!

Yanami não se importou muito com a minha atitude. Ela se sentou do meu lado.

— Me ajuda.

Essa foi a primeira coisa que ela falou depois de se sentar.

— A Karen falou que ela quer que nós três fôssemos cantar karaokê depois da escola.

...Ah, karaokê, o jogo de cantar amado pelos normies, e você quer minha ajuda? Que contradição.

— Huh, e por que você simplesmente não vai?

Depois de ouvir minha resposta razoável, Yanami agarrou a cabeça com as duas mãos, fazendo uma cara de desespero.

— Cê tá me dizendo para não ir e depois ouvir aqueles dois falando como foi a noite!? Você realmente quer tanto assim que eu morra!?

Por que eu pensaria em algo assim?

— Eu não sei, já que eu nunca fui para um karaokê.

— Ah.

A cara da Yanami escureceu.

 — Ei... Desculpa. Eu não sabia que você nunca foi em um karaokê. ...Desculpa, mesmo. Como eu posso te compensar por isso?

Espera, não se desculpe tanto assim. Ei, por favor pare. Eu realmente vou chorar aqui.

— Por favor, não se importe com isso. Bem, sobre o dinheiro que eu te emprestei antes...

— Mesmo que aqueles dois digam que nada vai mudar entre nós três...

O quê? A Yanami abriu a tampa do seu almoço. Ela está planejando almoçar aqui?

— Ah, de qualquer forma, não se force tanto. Bem, sobre o dinheiro…

— Eu recebi a mensagem de que eles começaram a namorar, à meia-noite, no dia que você me emprestou o dinheiro.

Ela continua espetando o ovo cozido com os pauzinhos.

— ...O que aqueles dois estavam fazendo antes de me enviar a mensagem?

— Ei, não pense muito sobre isso. Você só recebeu a mensagem um pouco tarde. Só isso.

— Naquela noite, eu recebi uma mensagem da irmã do Sosuke. Ela disse que não conseguia entrar em contato com ele, e perguntou se eu sabia onde ele estava.

— Uh…

Socorro.

Só consigo me concentrar no pão de curry nas minhas mãos.

— Eles não estavam fazendo algo que dificultasse o contato com outras pessoas, certo?

O ovo cozido sofreu várias perfurações e, eventualmente, se desfez em pedaços.

— E-Eu aposto que o telefone dele ficou sem bateria. Isso acontece sempre.

— Hmm, talvez. Eu tenho que confiar neles… mesmo que eu não saiba no que exatamente devo confiar.

Eu ainda não entendo o que está acontecendo.

Yanami finalmente levantou a cabeça.

— Desculpa, eu estava falando sem parar.

— Ah, tudo bem. Eu posso ouvir se você só quiser alguém para conversar.

— Obrigada, Nukumizu. É que eu não posso contar isso para meus amigos ou conhecidos, então estou feliz.

Então eu não sou nem seu conhecido?

— O intervalo do almoço está acabando. Vamos comer.

Yanami me mostrou um sorriso exausto depois de ouvir minha sugestão.

Tudo que temos para falar sobre são apenas aquele casal meloso e o almoço à nossa frente, já que não somos nem conhecidos.

— …Você tem razão. Nós devíamos comer.

Começamos a comer em silêncio.

Eu terminei o pão de curry rapidamente e olhei para a Yanami em segredo. Por que estou almoçando ao lado de uma garota?

Aposto que levar um fora e dar um fora é algo bem comum nos círculos sociais mais elevados como o dela.

Do jeito que ela é tão bonita, aposto que já deu fora em vários caras. A única coisa que aconteceu agora é que foi ela quem levou um fora.

Isso é algo que não dá para evitar. Muitas coisas assim ainda vão acontecer com ela. Menos comigo, pelo menos.

— Ei, Yanami.

Não consegui evitar de falar, e até eu fiquei surpreso com isso. Além disso, não tenho tanta certeza do que falar.

— Bem, você é bem popular entre os garotos. Eu aposto que os garotos da escola gostam mais de você do que da Himemiya.

Yanami me olhou com olhos incrédulos. É assim que estou me sentindo. Eu aposto que é assim que as pessoas na TV se sentem quando alguém chama seu nome.

— Ei, cê tá tentando me confortar?

— Ah, b-bem, desculpe. Eu disse algo estranho. Esqueça isso.

Uwah, o que eu fiz? Esqueci que sou um personagem secundário?

Eu consigo ouvir risadinhas suaves enquanto estou me afundando em arrependimento.

Quando vi a Yanami sorrindo, virei o rosto envergonhado. Isso foi por reflexo.

— Obrigada, parece que eu ainda estava com uma impressão um pouco errada sobre você, Nukumizu.

Ela colocou o ovo cozido na boca depois de dizer isso.

…Ainda com isso? Afinal, o que você pensa de mim?

— Bem, está quase na hora de me devolver o dinheiro. Aqui está a conta do restaurante.

— Ah, sim, obrigada por me ajudar naquele dia-

Yanami travou de repente depois de pegar a conta.

— O que foi?

— Hã, por que o preço aumentou?

— Yanami, você pediu uma pizza de melão depois, certo? Aquela com cobertura de sorvete.

— Sim.

— Além disso, também teve o udon de salada de shabu de porco no final.

— É porque comer salada não engorda.

— Até que é legal essa confiança que você tem na salada, sabia?

Parece que ela aceitou a realidade. Finalmente, vou poder receber meu dinheiro de volta.

Depois que a Yanami olhou entre minhas mãos e a conta, ela balançou a cabeça como se tivesse decidido algo.

— …Vamos falar hipoteticamente. Se você não se importar, posso te pagar de outra forma?

— Outra forma?

O que será?

O rosto de Yanami começou a ficar vermelho lentamente. O frango em seus pauzinhostambém caiu.

— E-Eu não sou muito experiente com isso, então não sei se vou conseguir te satisfazer. Bem, isso é tudo que me resta, já que não tenho dinheiro. O Sosuke ficou bem feliz da outra vez que fiz isso com ele...

— O quê?!

Pera aí, o que ela tá dizendo?

A Yanami parece realmente envergonhada enquanto observa o frango pegajoso e escorregadio em seus pauzinhos. Espera, ela está abaixando a cabeça de vergonha, e o frango está pegajoso, gorduroso e úmido…

Hã? Hã? Hãã? Não me diga… ela vai fazer isso!? Não estamos avançando muito rápido aqui?

Eu sacudi a cabeça violentamente.

— Não, não, não! Isso não tá certo, né?! Estamos na escola.

— Embora eu não seja boa na cozinha, fazer um almoço parece ser mais tranquilo.

— …Hã? Almoço?

— Sim, isso. Por que?

Seus olhos estavam claros como cristal. Ela inclinou a cabeça em confusão.

— Ah, nada! Nada! Nada! Ah, sim, um almoço...

…Droga, no que eu estava pensando? Voltei ao normal e olhei para o preço na conta.

— Ei, eu não acho que um único almoço possa…

Meu dinheirinho que usei para pagar a sua conta já tá me fazendo falta, viu?

— Bem, você pode colocar um preço a cada almoço que eu fizer. Eu vou continuar fazendo para você até que eu tenha pago todo o dinheiro de volta.

Uma garota fazendo o almoço para mim. Nunca pensei que isso iria acontecer comigo, principalmente quando eu e ela nem namoramos.

Além disso, vou economizar o dinheiro que usava para comprar o almoço, então posso dizer que vou recuperar o que perdi.

Mas, como posso dizer? …Isso é complicado.

Eu tenho que evitar ser visto pelas outras pessoas, e ainda colocar um preço na comida dela.

— Bem, ainda acho que é-

— Combinado! Eu estarei te esperando aqui a partir de amanhã.

Yanami mostrou um sorriso aliviado. Ao ver ela toda felizinha comendo seu frango frito, não consegui dizer não para ela.

— …É, estou ansioso por isso.

 

 

Quando o sinal do fim do intervalo para o almoço tocou, me sentei, cansado.

Por que cobrar uma pessoa que me deve é tão cansativo?

…E, no final de tudo, ela nem me devolveu o dinheiro.

Bem, a Yanami parece estar me pegando o que deve com o almoço que ela prepara todos os dias. Ou seja, vou poder aproveitar a comida dela por alguns dias, certo?

A história tá avançando rápido demais. Meu cérebro não suporta.

Estamos em meados de julho agora. Eu deveria apenas esvaziar meu cérebro pelo resto do semestre.

Vou apenas me imaginar sumindo de todos.

…Pronto ninguém mais irá falar comigo hoje. Eu sei disso pois é o jujutsu do infini-

— E-Ei, você é o Nukumizu, certo?

Alguém ultrapassou minha barreira de forma bem simples.

Uma garota, que parecia desesperada, veio até mim.

— E-Eu sou do primeiro a-ano, e estou no Clube de Literatura.

Ela tossiu duas vezes depois de falar isso.

O que há com essa garota estranha? Eu nunca vi algo assim.

— Huh? Quem é você? De onde cê veio?

— U-Uh, eu sou a Komari! D-Do Clube de Literatura! Chika Komari!

Essa garota se chama Komari, e ela estava apertando a ponta da saia do uniforme de verão, que era um pouco grande demais.

Ela olhou para mim com os olhos lacrimejando.

— E-Ei, eu quero te falar algo s-sobre o Clube de Literatura!

— Pra mim? O Clube de Literatura? Por que?

— É-É porque você, Nukumizu, está no Clube de Literatura, c-certo!?

— Eh?

— Eh?

Silêncio.

Calma lá. Eu visitei o Clube de Literatura uma vez durante a primeira semana de aula.

As pessoas do clube me pediram para assinar o nome em um papel, “apenas para ficar de lembrança”. Vai me dizer que aquilo era o formulário de registro?

— Ah, acho que aconteceu algo assim…

Chika Komari começou a teclar loucamente no telefone, depois de suspirar de alívio.

Depois de vários toques na tela, ela colocou o telefone na minha frente.

— Fomos notificados pelo Conselho Estudantil porque há um membro inativo. Afinal, já temos poucas pessoas.

Com esse “membro inativo”, ela estava se referindo a mim. Os dedos de Komari começaram a tocar rapidamente na tela de novo.

— Enfim, nos visite hoje depois da aula.

— Ah, pode deixar. Eu vou estar lá.

Agora que lembrei. Tirando o presidente, todos os membros do Clube de Literatura são meninas. Na época, não entrei para o clube pois achei que não iria conseguir ficar num lugar assim.

Pensei nisso enquanto observava Komari ir embora. Eu não quero ir para lá.

…Afinal, olha o tipo de pessoa que eles mandam para representar o clube...

 

 

Por favor, me deixa ir para casa.

Depois da aula, vim para um canto esquecido do prédio oeste que ninguém visita.

— …É aqui que fica a sala do clube.

Olhei para a porta da sala do clube enquanto pensava se realmente valia a pena. Honestamente, eu não quero entrar de jeito nenhum.

No entanto, desisti depois de ouvir que esse clube não tem membros suficientes. Afinal, eu sei como as coisas são difíceis para a minoria.

Após uma respiração profunda, eu tomei coragem e girei a maçaneta.

— Hã? Tá trancada?

Eles me chamam pra cá, e deixam a porta trancada. Bem, isso significa que eu já posso ir para casa, certo?

Justo quando suspirei aliviado e me preparei para sair, uma tela de celular bloqueou minha visão.

— Sai da frente. Eu vou abrir a porta.

Chika Komari estava ali. Ela me empurrou para o lado e abriu a porta.

Ei, eu acho que você deveria me falar isso, em vez de digitar.

Eu a segui e entrei na sala.

Komari simplesmente se sentou em uma cadeira e me ignorou enquanto começava a ler seu livro.

Eu me sentei em uma cadeira dobrável que estava um pouco afastada dela e olhei para a sala do Clube de Literatura. Há uma estante que vai até o teto aqui. Estava cheia de livros.

Eu não percebi isso na primeira vez que vim aqui, pois estava muito nervoso.

Além de todos os tipos de livros antigos com capa dura, há livros com lombadas brancas. Isso é um pouco surpreendente. Também há muitas light novels.

— Ei, Komari, os livros aqui-

— Ah, b-bem…

Ela rapidamente pegou o celular.

...Eu tô começando a me sentir mal por ela.

— Não, tudo bem. Pode continuar lendo.

A atmosfera aqui realmente está bem tensa. Eu estava tão entediado que peguei aleatoriamente um romance de um autor chamado Osamu Dazai, na estante.

Esse é tão famoso que até eu já li. Pensando bem, Dazai era bem popular com as mulheres, né? Tsc, joga esse cara no rio de novo. Eu abri o livro por tédio.

...Ah, tem umas ilustrações diferentes. Ué, que cena é essa?

Mesmo que eu não tenha certeza, eu acho que as ilustrações que estão ali são de “Hora do doce castigo” e “A vara de Takuya alcançou a flor ainda não desabrochada de Haruta” Hã?! O Dazai escreveu isso aó mesmo?!

Alguém pegou o livro da minha mão antes que eu pudesse ver mais.

Foi a Komari. Ela estava segurando ele contra o peito com uma cara pálida.

— N-Não! Meninos não podem ver isso!

— Mas esse não é um livro do Dazai?

— S-Sim! Então, n-não pode!

Que? Eu não entendi nada.

— Ah, vocês já ficaram tão próximos!

Uma menina de óculos e cabelo longo, preso em dois coques, entrou na sala enquanto falava. Ela é realmente bem linda, e parece ser mais velha que eu.

— Oh, acho que me enganei.

Ela acariciou a cabeça da Komari enquanto sorria para mim.

— Nukumizu, certo? Já faz um bom tempo.

A expressão gentil dela me fez sorrir também. Ótimo, finalmente tem uma pessoa normal aqui.

— Ah, desculpa por ter sido um membro inativo durante todo esse tempo.

— Já é uma grande ajuda você vir aqui. Você ainda lembra de mim? Eu sou a vice-presidente clube. Koto Tsukinoki, estou no terceiro ano.

— Ah, claro que eu lembro.

Eu não lembro.

Tsukinoki viu o livro nas mãos da Komari e acenou com a cabeça.

— Ah, eu esqueci de dizer. Meninos não podem ler os livros do Dazai e nem os do Mishima, que estão na estante.

— Você tem certeza que eles são escritos pelo Yukio Mishima e pelo Osamu Dazai?

Depois que eu disse isso, imediatamente os óculos dela brilharam de uma maneira estranha.

Ela agarrou os meus ombros com as mãos enquanto eu tentava recuar.

— ...Ei, Dazai fica na frente. Osamu Dazai e Yukio Mishima. Não troque essa ordem. Isso é importante.

O olhar dela é assustador. Depois que eu concordei enquanto tremia, ela voltou ao seu sorriso normal.

— Fico feliz que você entendeu. Bem, sente-se. Eu vou fazer chá para nós.

Ei, o que tem de errado com esse clube? Ninguém é normal aqui.

Eu senti um pavor enquanto olhava para o chaveiro na minha mochila depois de me sentar.

Parece que a Komari deu um tapinha no meu ombro. Quando levantei a cabeça, vi a tela do celular dela.

— Ela está errada. Mishima fica na frente, e Dazai atrás.

Quem liga? Não me envolve nisso.

— Nukumizu, o que você gosta de ler?

Tsukinoki me deu um copo de chá enquanto perguntava.

— Bem, apenas light novel, basicamente.

— Ah, entendi. Nós temos várias light novels aqui. Você pode pegar elas emprestadas quando quiser.

Isso é ótimo. Eu não preciso nem dizer de quem é a culpa, mas os meus planos de comprar light novel esse mês foram frustrados.

— Ah, pensando bem, onde estão os outros membros do clube?

— Primeiramente, tem o presidente do clube. Ele é o aluno do terceiro ano que explicou as coisas para você em abril.

Eu acho que eu lembro dele. Ele era um cara gentil, alto e bonito.

...Pera, por que a Tsukinoki está tomando chá tão calmamente? Ela não vai falar o resto dos membros?

— É, um dia quente pede por um copo de chá quente!

— Bem, e os outros membros?

— É só isso.

Ela bateu o copo na mesa depois de dizer isso. Por algum motivo, ela parecia estar satisfeita.

— Nosso clube acabou chamando a atenção do Conselho Estudantil recentemente. Então, você deveria relaxar aqui no clube por um tempo. O chá é grátis.

Eu olhei para as light novels na estante. Bem, até que não parece tão ruim.

— Tudo bem.

Tsukinoki sorriu e se levantou na mesma hora.

— Bem, eu já vou indo. Komari, mostra melhor o nosso clube para ele, por favor.

— Hã!?

Komari de repente faz um som estranho ao olhar de trás de seu livro.

— O Shintaro esqueceu que ele estava de plantão hoje e ficou preso na sala de aula. Eu preciso ajudar ele.

Você tem um namorado? Então todo mundo realmente tá envolvido em relacionamentos no ensino médio.

— Romance é uma matéria opcional no fundamental, mas é obrigatória no ensino médio.” Eu acho que alguém disse isso antes. De qualquer forma, eu obviamente falhei nisso.

— Ah, e também, você absolutamente não deve tocar nas obras do Dazai e do Mishima na estante. Isso é importante, então eu vou dizer duas vezes.

Tsukinoki deu tchauzinho e foi embora.

Depois de suspirar aliviada, Komari empurrou o celular na minha cara.

— Mishima na frente, Dazai atrás! Não erre!

Eu acho que temos uma menina que falhou na matéria obrigatória por aqui.

— Eu sei, tá bom? Então, você pode me falar mais sobre esse clube?

— E-Ehhh...

Komari fez uma cara claramente incomodada.

— Não tem o que fazer, não é? A vice-presidente foi se encontrar com o namorado dela.

— E-E-Ele não é o namorado dela! O S-Shintaro é o presidente! Shintaro Tamaki! E-Eles são amigos de i-infância!

Qual é a da agressividade repentina?

Komari queria falar algo, mas ela resmungou baixinho enquanto mexia no celular.

— A-A bateria acabou!

Depois disso, ela começou a procurar algo na mochila desesperadamente. Ei, essa é a minha mochila. Por favor, se acalme.

Toc toc. Alguém bateu na porta. Quem é, em um momento como esse?

— Licença. ...Eu sou a Shikiya, do Conselho Estudantil. Vocês estão livres agora?

— Hum, agora é um pouco-

Meus olhos estão grudados na pessoa que entrou.

Seu cabelo branco e sedoso estava enrolado com uma linda decoração de flores. Ela tinha um elástico de cabelo no pulso. Suas unhas estavam pintadas com cores vibrantes. Ela estava vestindo um uniforme largo, com uma saia curta.

A maquiagem dela parece bem natural à primeira vista, mas ela tinha cílios longos.

A propósito, os olhos dela totalmente pálidos são assustadores.

Ela é... uma gyaru, certo?

Uma pessoa que não tem nada a ver comigo apareceu bem na nossa frente.

Shikiya olhou ao redor da sala do clube antes de se aproximar de mim.

Eu engoli em seco, nervoso.

Mesmo que eu não saiba qual o motivo dela estar aqui, ela ainda é uma gyaru. Eu aposto que ela vai me dar uma bronca. Honestamente, eu mal consigo controlar as minhas emoções.

— Você é... o Nukumizu, do Clube de Literatura, certo?

Espera, por que ela é tão educada? Você não é uma gyaru?

— Ah… Sim, eu sou o Nukumizu.

Minhas emoções também se acalmaram. Isso definitivamente não é porque eu estou desapontado, entendeu?

— Me desculpa. ...Eu tenho que investigar as atividades do Clube de Literatura. O que... vocês fazem… no clube…?

Eu não sei se ela estava cansada, mas ela se encostou na parede, quase sem vida. Ela tá bem?

— Bom, eu não sei ao certo o que nós fazemos.

— Hã? ...Você é mesmo... um membro… do clube...?

Seus olhos pálidos estão me observando de cima a baixo. Droga, acho que eu sou o motivo do clube estar prestes a ser desfeito.

Eu procuro ajuda da Komari. Eu não tenho certeza se é por ela estar com medo da Shikiya, mas ela está segurando firmemente seu celular enquanto seu corpo treme no canto da sala. Nossa, essa garota é uma inútil.

— Ahh,  o Clube de Literatura é focado em ler livros...

— Só... ler?

Shikiya inclinou a cabeça. Hã, isso já não é o suficiente?

— Não tem… nenhuma… atividade de clube?

Shikiya se aproximou de mim com o corpo balançando lentamente. Essa garota está realmente me assustando. Ela é algum tipo de zumbi?

— Ei, ah, a gente também escreve algumas coisas, às vezes!

— Escrever, né...? Bem… então não é só… ler?

Shikiya olhou para o teto por um tempo. Ela escreveu alguma coisa no caderno dela sem nem olhar para ele.

— Entendi… Obrigada.

Ela fechou seu caderno, virou, e saiu da sala.

Isso está realmente me assustando.

Eu me virei, e a Komari está cutucando a tela apagada de seu celular como se estivesse possuída.

Ei, isso aí também é assustador.

Eu peguei meu carregador do chão cheio de coisas e dei para a Komari.

— Ah, m-me empresta isso, p-por favor!

Komari tomou o carregador de mim.

Eu percebi algo enquanto ela conectava o cabo em seu celular, com as mãos tremendo.

Eu sou uma pessoa bem normal.

 

 

Naquela noite, editei a lista no meu caderno na mesa do meu quarto. Vou poder mudar algumas coisas na lista de light novels para comprar, agora que sei que tem mais no Clube de Literatura. Ah, sim, e também tem aquilo com a Yanami.

Me apoiei na cadeira, enquanto calculava o dinheiro que ela ainda precisava pagar. E também calculei o tanto que eu gastava com almoço antes disso acontecer.

Então, já que vai ser assim, posso juntar o dinheiro que gastava no almoço. Vou usar ele para comprar uma novel que ainda não revelei qual era.

— Primeiramente, eu vou comprar a “Você Realmente Ama a Sua Irmãzinha, que é Muito Boa no Combate Corpo a Corpo?”, já que vi o anime e me apaixonei.

Calma, também tenho que comprar a “A Minha Veterana do Peito Pequeno”. Deixei até um lugar na estante para colocar a novel e o mangá.

Enquanto editava a lista, uma mão branca e pequena segurou a minha.

— Como você pôde esquecer de comprar “Você é a Rainha das Trevas”? Um personagem que eu gosto simplesmente foi morto no volume 5. Você deveria comprar a coleção completa para mim.

— Kaju, por que você tá no meu quarto?

— Eu estou aqui a maior parte do tempo. Você apenas me ignora, Maninho.

A pessoa que diz essas coisas perigosas é minha irmã mais nova, Kaju. Ela é dois anos mais nova que eu. Se for para descrever como irmã mais nova de uma história, ela seria do tipo fofa.

Além disso, acho que ela entrou recentemente no conselho estudantil da escola dela. Por que nossas diferenças são tão grandes apesar de compartilharmos o mesmo sangue?

— Mas eu tô querendo mais é “A Minha Veterana do Peito Pequeno”.

— Esse aí é um pouco interessante, mas é muito obsceno, então não. Isso vai causar danos ao seu cérebro, Maninho.

— Como você sabe tanto assim?

— Um amigo me emprestou. É totalmente obsceno.

Que incrível. Peça emprestado para o seu maninho, também.

Quando estou prestes a falar, minha boca é tampada com um biscoito. Tem um gosto bom. Depois disso, um copo de chá gelado também é colocado na minha boca. Eu sou um paciente de hospital?

— Eu posso beber sozinho.

— Maninho, você já fez amigos na escola?

Kaju  de repente se inclinou para a frente.

— Ah, ainda não.

— Isso me preocupa muito. Você já está no ensino médio, Maninho. Eu só entendo não ter amigos durante o fundamental, mas agora é inadmissível.

E desde quando a minha irmã mais nova é assim?

— E hoje? Com quantas pessoas você conversou além da professora?

Uh, com quantas pessoas eu conversei? A Yanami, a Komari, a vice-presidente Tsukinoki e a Shikiya, do conselho estudantil.

— 4, eu acho.

— …4?

Os olhos da Kaju se arregalaram de surpresa. Sim, quando seu Maninho está usando o verdadeiro poder, coisas triviais como essa são-

— Maninho, não é vergonhoso não ter amigos.

— Você não confia no meu potencial, então.

— Não acredito que você vai mentir para mim, Maninho. Isso me deixa muito chateada.

— Eh? Eu não tô mentindo.

Eu realmente sou tão pouco confiável?

— Além disso, eu me sinto um pouco mal, já que você tem que mentir sobre algo assim.

A Kaju começou a chorar enquanto continuava a colocar biscoitos na minha boca.

— Eu já falei que posso comer sozinho.

— Por favor, apenas relaxe, Maninho. A Kaju aqui irá conseguir um amigo para você. Eu prometo.

A Kaju enxugou as lágrimas e abraçou minha cabeça com força. Tá calor.

Kaju Nukumizu, essa garota é uma tarada por irmãos, ou apenas está preocupada comigo?

De qualquer forma, ela realmente se preocupa comigo. No entanto, é realmente tão ruim assim não ter amigos? Eu não sinto incômodo com isso.

Bem, pequenas coisas, como ninguém me contar sobre um professor ter faltado, ou ser acidentalmente ignorado pelas pessoas, acontecem às vezes.

Suspirei com os problemas que viriam, enquanto tomava um gole de chá gelado

 

Dívida restante de hoje: 3.617 ienes

 

 

Durante o intervalo de almoço do dia seguinte, fui até a escada de emergência para pegar meu almoço, como combinado. Isto foi o que a Yanami disse, porém…

— Tu num acha que cê tá me maltratando, não?!

Opa, parceira, repete isso aí.

— Quem?

— Você, cara. Eu implorei para você me ajudar ontem, não foi? Nunca fui tão agredida psicologicamente igual fui naquele karaokê ontem.

Além disso, por que a Yanami tá sentada do meu lado na escada? Sendo bem sincero, eu só quero relaxar sozinho.

— O que você queria que eu fizesse?

— As meninas são criaturas que exigem cuidado. Você deveria considerar meus sentimentos e o que eu estava sentindo enquanto aqueles dois faziam dueto pra cantar Frozen.

“Frozen”... o que é isso?

— Aquela música do “livre estou, livre estou”...

Eu não acho que exista uma música assim.

— E ainda cantaram aquela que a Anna e o príncipe estão cantando juntos… Foi um inferno ouvir eles dois cantando essa juntos ontem.

Ah, é aquele filme. Se não me engano, o príncipe…

— Ele fala algo como “Quer casar comigo?”, certo?

— É! E a Anna diz “sim”, depois! Que ódio!

Yanami disse isso enquanto colocava as mãos em volta da cabeça. Acho que eu apenas terminei de piorar tudo.

— Aquela mulherzinha tá fazendo isso de propósito! Ela é a bruxa do gelo!

— Bem, é assim que um casal se comporta em encontros no começo… De qualquer forma, e o almoço?

Fui direto ao ponto. Claro, não vou negar que estou um pouco animado pelo almoço da Yanami. Um almoço feito por uma colega de classe. Uma menina. Tudo feito à mão.

— …Tudo bem, pode comer.

Ela me entregou um papel dobrado em formato de marmita. Estava escrito “Coxas de Frango: 98 ienes”... Ela só dobrou o papel pra ficar nesse formato, certo? Eu vi isso uma vez na casa da minha avó.

— Posso perguntar o que é isso?

— Eu fiz meu próprio almoço junto com o seu pela manhã, Nukumizu.

— E por que tá me dando ele assim?

— Quando peguei duas caixas de marmita, minha mãe disse: “Tenho certeza que o Sosuke vai amar!”...

…Para, você vai me fazer chorar. Não fica falando “minha mãe” assim.

Eu rapidamente me calei e abri a marmita. O que estava dentro era um sanduíche em um saco plástico.

— Isso é da loja de conveniência, certo?

— Você ao menos ouviu o que eu disse? Acabei de explicar que não posso preparar almoço para duas pessoas.

Então isso nem é um almoço feito à mão, né? Bem, a caixa da marmita é feita à mão...

— Nukumizu, quanto isso vale?

— Uns 268 ienes.

— Que mixaria.

Sim, é isso que tá na etiqueta de preço, garota.

Depois disso, a Yanami me deu um pedaço de rolinho de ovo de seu próprio almoço.

— …Bem, 300 ienes.

Depois que Yanami ouviu isso, ela tentou me dar um pedaço de frango frito. Eu imediatamente tirei minha marmita de perto dela.

— Esqueça isso. Nós dois deveríamos manter alguma distância, certo? Você é popular, né, Yanami?

Eu não acho que um personagem secundário como eu possa andar com alguém como ela.

Coloquei o rolinho de ovo dentro da boca. Embora esteja um pouco queimado, tem um gosto surpreendentemente bom. O rolinho de ovo feito pela Yanami é do grupo doce.

— …Todo mundo fica com pena de mim quando eu tô na sala.

Yanami abriu seu rolinho de ovo com indiferença.

— O Sosuke sempre andava comigo antes da Karen ser transferida para cá, certo?

Então, as pessoas começaram a pensar “Eita, a Yanami levou um fora, né?”.

— Bem, não sei o que devo dizer.

Eu queria dizer algo, mas um pedaço de frango frito apareceu na minha marmita.

— Quanto custa agora?

— …350 ienes.

Essa garota... Me preocupar com ela é idiotice.

— Pensando bem, Nukumizu, pra onde você foi depois da aula? Eu vi que você não foi para os armários de sapatos.

— Você tava me espionando?

— Não, é que dá pena ver você saindo sozinho todos os dias.

…Hein? Você realmente precisa me espancar com as palavras sempre que fala algo?

Bom, eu gostava de fazer parte do Clube de Ir Pra Casa.

Mastiguei o sanduíche com um olhar um pouco cansado.

— Estou no Clube de Literatura agora. Eles querem que eu fique indo lá por um tempo.

— Oh, eu não sabia que estava interessado nisso, Nukumizu.

Yanami está mastigando a salsicha em formato de polvo.

— Bem, eu deveria visitar e aprender algo por lá também. Eu posso ir com você?

— Pode, sim. Yanami, você tem interesse nesse tipo de coisa?

— Sim, eu sempre gostei de flores.

— …Esse aí é o Clube de Jardinagem. Eu tô no Clube de Literatura.

Finalmente entendi o porquê dela ter levado um fora e se tornado uma perdedora.

As bochechas dela estavam cheias de arroz.

 

 

Essa foi a última aula do dia.

Eu realmente quero sair da sala de aula o mais rápido possível. Porém, aqui vai uma sugestão do  “observador”  da turma.

— Neste momento, devo optar por esperar. A escola fica cheia de perigos depois do fim das aulas.

Bem, vamos começar pela porta da sala. A maioria fica na porta esperando os outros amigos guardando o material. Eles não vão sair da frente, principalmente para um personagem secundário como eu.

…Bom, quando você encara um personagem secundário, o personagem secundário o encara de volta. Eles não querem isso.

Observei o movimento, enquanto lentamente arrumava as coisas na minha mesa.

As pessoas que ficam na porta estão saindo.

No entanto, não baixe a guarda ainda. As pessoas que ficavam na porta, agora estão nos armários de sapatos. Ali ficam as pessoas que estão esperando pelos amigos, e as que não querem se despedir.

O pior cenário possível seria eles começarem a conversar na frente do meu armário.

Já é julho, então usar desculpas como “Ops, esqueci de trocar os sapatos”  não funcionam mais.

…Espere, acho que não posso ir ainda. Eu tenho que aparecer no Clube de Literatura.

De repente, um cara veio direto até mim depois de entrar na sala de aula.

— Ei, Nukumizu, ouvi dizer que você entrou no Clube de Literatura.

— Uh…

O cara que está falando comigo é o Mitsuki Ayano, do 1D. Estudamos juntos no fundamental. Ele é meu amigo… não, acho que não. A gente se fala vez ou outra, até porque já estudamos juntos.

Além disso, estamos na mesma escola, agora. Mesmo assim, as notas desse cara são muito melhores que as minhas e, pra finalizar, ele usa óculos.

— Ah, sim, eu entrei no Clube de Literatura.

— Ouvi a professora dizendo que eles têm toda a coleção do Kobo Abe. Posso pegar emprestado lá?

Ah, tem esse tipo de livro por lá? Eu só olhei as light novels...

— Eu acho que sim. Vou perguntar para a Tsukinoki.

— Muito obrigado.

Ayano sorriu inocentemente enquanto dava um tapinha no meu ombro e saía da sala.

Na mesma hora, uma garota do corpo bronzeado apareceu na minha frente.

A garota é a Lemon Yakishio. Ela colocou as mãos bronzeadas e saudáveis sobre a mesa.

— Por favor, espere, Mitsuki!

Yakishio se inclinou na direção de Ayano. Ela tinha um cheiro doce misturado com o do desodorante.

…Ela tá perto demais.

— Não tenho nada para fazer no clube hoje. Quer sair para comer alguma coisa?

— Desculpe, tenho cursinho hoje.

Ayano gentilmente juntou as mãos e pediu desculpas.

— Heh, estamos no primeiro ano ainda, né? Você fica burrinho se estudar demais, viu?

— Você é quem deveria se preocupar em estudar mais, ou vai repetir um ano, sabe?

…Esses normies. Será que dá pra vocês dois irem flertar longe de mim?

— Ayano, vamos nos atrasar para o cursinho se não formos agora!

Uma garota magra e baixinha apareceu de repente ao lado da porta da sala.

Hmm, acho que ela é a garota que ficava andando com o Ayano no fundamental. Ela era bem legal, e tem boas notas também. Ela era bem popular naquela época. Eu não sabia que estávamos na mesma escola de ensino médio.

— Tudo bem, estou indo, Chihaya. Até a próxima, Lemon.

— Eh... ok, tchau.

Yakishio não escondeu sua decepção. Ela acenou com a mão, totalmente desanimada.

Eu quero fugir. Agora. Urgente. Tô sentindo que vou me meter no meio disso se não for embora agora.

No entanto, a Yakishio me impediu de pegar minha mochila.

— Ei, licença…Yakishio…? …Essa é… a minha mochila.

— Ei, Nukumizu. Você e o Ayano são amigos? Mesmo que vocês dois estejam em níveis tão diferentes…

Yakishio piscou. Seus cílios são muito longos. Ela olhou para mim com um olhar inexplicável.

A melhor atleta do Clube de Atletismo, Lemon Yakishio. Ela é uma estrela na escola.

Cabelo curto, corpo esguio sob o uniforme, pele bronzeada… Fiquei hipnotizado por um momento.

No segundo seguinte, mantive a calma e respondi.

— Uh... nós não somos amigos. A gente conversava um pouco no fundamental.

Os olhos da Yakishio brilharam de repente.

— Vocês estudaram juntos no fundamental?! Então você conhece aquela garota, né?!

Yakishio de repente se inclinou para mim, entusiasmada. Estou um pouco assustado com ela.

— Uh, acho que o nome dela é Asakumo. Ela é muito inteligente, igual ao Ayano.

— Tendi… O Mitsuki sempre gostou de garotas inteligentes, afinal…

Hein? Yakishio, quer dizer que você…

— Bom, eles estão no grupinho dos mais inteligentes da escola, então é normal eles se falarem, né? Eu vejo eles sendo bons amigos…

— Sim! Eles são só amigos, certo!?

Yakishio mostrou um sorriso brilhante.

Bom, eu não sei o que eles vão fazer depois do cursinho, viu.

— Uh, eu quero pegar minha mochila.

— Ah, desculpe, Nukumizu. Tudo bem, vou correr para me animar.

Yakishio imediatamente começou a se alongar depois disso. Suas pernas bronzeadas são realmente atraentes.

Ela estava com uma expressão animada enquanto eu a observava sair da sala.

Eu me levantei com minha mochila.

Acho que todos os tipos de histórias de amor estão acontecendo ao meu redor. Como eu nunca reparei nisso?

…Ah, que chato. Não posso simplesmente viver meus dias em paz?

— Já terminou a conversa, Sr. Popular?

Ah, certo, ainda tem essa outra coisa chata: a Yanami. Ela estava atrás de mim, com a mochila no ombro.

— Eh, Yanami, o que posso fazer por você?

Primeiro a Yakishio, depois a Yanami. Não acredito que todas as garotas populares da escola estão fazendo fila para falar comigo. O que elas querem? O que a Yanami quer? Se for pra me pedir dinheiro de novo…

Estou desconfiado, mas a Yanami sorriu.

— Você tá indo pro clube, certo? Você não prometeu me levar junto?

Essa garota… Ela tava falando sério? …Anna Yanami e o Clube de Literatura: Duas coisas que, pra mim, não se misturam de forma alguma. Mas, se ela quer ir, tudo bem.

Balancei a cabeça silenciosamente.

 

 

Lembrei a Yanami de algo, ainda no corredor.

— Tem certeza, Yanami? Bom, como devo dizer… Esses clubes insignificantes e pequenos são realmente adequados para você?

Será mesmo que eu deveria levar uma normie pra lá?

— Tá tudo bem. Eu já fui de um clube assim uma vez. Sabe, que a gente fica fazendo coisas com laços e acessórios.

— Esse aí é o Clube de Artesanato. Nós estamos indo ao Clube de Literatura.

Sim, me preocupar com essa garota é idiotice.

Abri a porta da sala do clube.

— Ah, olá.

— Olá, Nukumizu.

A Tsukinoki estava lendo algo, e falou enquanto levantava a franja.

— Humph…

Komari levantou a cabeça com um olhar irritado, mas congelou ao ver uma garota desconhecida.

— Uh, ela está aqui para visitar o clube.

— Com licença. Eu sou Yanami, estou na mesma classe que o Nukumizu.

— Ora, seja bem-vinda. Sente-se aqui. Vou fazer um chá para nós.

Tsukinoki arrumou os óculos e me cutucou ao passar por mim.

— Muito bem, Nukumizu. Não acredito que você trouxe uma garota tão fofa para cá.

— Ah?

— Não me diga que ela é sua namorada?

Uwah, o que ela está falando?

— Ah, não, ela não é-

— Eh, você entendeu errado. Somos apenas colegas de classe.

Yanami não reagiu. Ela não ficou envergonhada ou irritada. Ela estava normal, enquanto olhava o clube. Foi como se alguém tivesse perguntado sobre o clima para ela.

Ela observou a sala do clube com curiosidade.

— Há muitos livros neste clube. O que vocês costumam fazer aqui?

— Eh?

…A Tsukinoki e a Komari estão olhando para mim com uma cara de “É sério isso?”.

Como se fosse predestinado para acabar com esse clima estranho, a porta da sala se abriu.

— Oh, que dia mais animado.

Um cara alto entrou na sala. Ele deve ser o presidente, Tamaki, certo?

De qualquer forma, estou salvo.

— Shintaro, você é um membro inativo, apesar de ser o presidente.

Tsukinoki fingiu franzir a testa e olhou para ele, mas não conseguiu esconder os lábios em beicinho.

— Desculpa, desculpa, tô meio ocupado com os estudos.

O Presidente apenas colocou a mão no ombro da Tsukinoki, casualmente.

— Você não estuda nada, certo?

— Estudo, sim. Ah, já faz um tempo, Nukumizu. E agora temos mais uma, também?

— Ah, prazer em te conhecer. Eu sou Yanami. Estou aqui para visitar.

— Tanquilo.

O Presidente mostrou um sorriso encantador ao se aproximar de nós.

Komari parece ter se decidido de algo, então ela correu no meio da gente.

— E-Ei, Presidente, o livro que você me e-emprestou antes é incrível!

— Você já terminou? Fico feliz em ouvir isso. A Koto despreza diretamente os livros de ficção científica.

Ele disse isso enquanto olhava de lado para a Tsukinoki. Ela parece ter revidado, pois também olhou de lado para ele.

— Eu não desprezo. Shintaro, você odeia os livros do Haruki, certo?

— Eita, eu não sabia que você também era fã do Haruki Murakami.

— Eu não sou. Você também não leu o livro da Rin Usami que lhe emprestei antes, certo?

— Claro que li. “Oshi, Moyu” é muito bom.

Hum, o que está acontecendo? Esses dois estão namorando, certo?

No momento em que estou observando os dois, Komari destemidamente interrompe a conversa.

— E-Ei! Eu também adoro os livros da Ine! Mesmo que eu... não... entenda bem... o conteúdo.

— Sério? Komari, você tem bom gosto.

O Presidente sorriu e fez carinho na cabeça de Komari.

— Ai!

Tsukinoki deu um tapa na mão do Presidente, na mesma hora.

— Ei, seu muleque, isso se encaixa como assédio, viu. Komari, posso te ajudar a explicar pra ele que você não gosta disso.

— E-Eu…!

Komari parecia estar pirando com sua voz alta, e até abaixou a cabeça.

— Eu não... odeio... isso...

Ela foi abaixando o tom de voz cada vez mais. Seu rosto estava vermelho como um tomate.

— Komari, você é muito fofa! Aprende com ela, Koto.

— Nossa, Komari, não deixa esse cara fazer o que quer. Ele é maluco.

O Presidente olhou para o relógio e surtou.

— Eu tenho que ir. É hora da reunião dos presidentes. Eu deveria me exibir e contar a eles que alguém visitou esse lugar.

— Eu vou com você. Você definitivamente vai cochilar no meio.

— Bem, Koto, cê fica responsável por me acordar, então.

— Quem vai te acordar? É melhor se ligar, se não te deixo dormindo lá até amanhã.

Os dois são tão melados juntos que quase fiquei com diabetes. Para que precisamos desse cara, mesmo?

— O-O Presidente… D-Disse que eu s-sou… fofa… heheh

Komari sorriu como uma idiota enquanto falava para si mesma. Desculpe arruinar sua felicidade, mas quero dizer que você estava apenas sendo usada.

Yanami deu um tapinha no meu ombro e aproximou seu rosto. Ela tava muito perto. Dava pra sentir o cheiro de algo bom.

— Esses são o presidente e a vice-presidente, certo? Eles namoram, né?

— Eu não sei, mas parece.

Komari nos ouviu com seus ouvidos aguçados e ergueu o telefone.

— Eles são próximos porque são amigos de infância! Eles não estão namorando!

Yanami de repente semicerrou os olhos.

— …Amigos de infância?

— Sim! Amigos de infância!

Komari digitou isso e saiu com raiva, ou não. Depois disso, ela colocou os fones de ouvido tocando músicas tão altas que a gente conseguia ouvir do outro lado da sala. Ela parece estar lendo algum livro no celular. Que garota doida.

Yanami moveu a cadeira dela para perto da minha.

— Ei, por que ela tá falando com a gente pelo telefone?

Eu também queria saber.

— Pensando bem, Nukumizu. O Presidente e a Vice são amigos de infância.

— Eh? Ah, acho que sim.

— …Como é que eu e o Sosuke somos tão diferentes deles, se nós somos amigos de infância, também?

Yanami cerrou os dentes e murmurou.

— Me escute, Yanami. Eles não fizeram nada de errado.

— Calma aí, isso significa que…

Yanami parece ter notado algo.

Ela levantou a cabeça e olhou para a Komari.

— …Talarica.

Ela murmurou baixinho.

Komari parece ter tremido de medo.

— N-Não, não, não! O Presidente não tá namorando com ela. Por que você tá dizendo isso?

— Ué, mas não é a verdade? Uma garota que se mete no meio do relacionamento de dois amigos de infância é uma talarica, raspa canela. Entende isso?

Ah, é tipo quando aparece um cara para atrapalhar um casal yuri. Se mata.

— Eu já entendi, mas você não deveria dizer essas coisas. a Komari tá bem aqui.

— Mas ela não consegue nos ouvir, já que tá escutando música, certo?

Não sei se ela sentiu nosso olhar, mas a Komari recuou com medo. O que isso significa?

— Não me diga que… Komari, você não tá ouvindo música nenhuma?

— Eh, mas ela tá de fone.

— Talvez ela não esteja tocando nada no fone, para nos ouvir.

— Mas ela não tinha colocado tão alto que a gente até conseguia ouvir?

— Mas não tô ouvindo nada agora. Será que…

O rosto da Komari estava coberto de suor enquanto ela lia.

Ela tirou os fones de ouvido e olhou para mim.

Depois disso, ela pegou algo do bolso.

— Nukumizu. A-Aqui está a... chave reserva da s-sala do clube.

— Ah, obrigado...?

— E-Eu vou embora!

Komari saiu correndo da sala enquanto tremia.

…A sala do clube, que era alegre e animada, agora estava em silêncio total. As pessoas que restaram lá eram quase ou totalmente irrelevantes.

Bem, o que devemos fazer agora? Mesmo que a Yanami esteja visitando, não sei nada sobre o clube.

— De qualquer forma, vou fazer um chá para nós. Você deveria escrever seu nome na lista.

— Obrigada. Ah, vou querer chá verde.

Yanami começou a folhear a lista depois de escrever o nome nela.

— Ei, muita gente visitou. Seu nome tá aqui, Nukumizu. Além disso, aquela garota deve ser a Komari, certo?

Acho que ela ficou entediada olhando a lista e começou a olhar para a estante.

Vai dar problema, então, por favor, não mexa nos livros do Dazai nem do Mishima.

— Vou colocar o chá aqui.

— Obrigada. Ei, Nukumizu.

Yanami tomou um gole de chá enquanto me perguntava com olhos puros.

— Então, o que a gente faz nesse clube?

 

 

Depois que cheguei em casa, comecei a rolar no sofá da sala e suspirei.

— Sou literalmente como um estudante normal do ensino médio agora.

Uma vez eu baixei o LINE para poder pegar um pacote de figurinhas de um personagem que eu gosto, e nunca mais entrei depois disso. Olhei, cansado, para a mensagem de boas-vindas que a Tsukinoki enviou.

Sim, agora estou no grupo do Clube de Literatura, no LINE.

Eu deveria tratar isso como o ápice da minha vida no ensino médio. Tudo o que tenho que fazer agora é viver meus dias com cuidado, tal qual um molusco.

Pensando bem, o Ayano me pediu alguns livros emprestados para ele. Muito bem, isso vai servir como minha primeira mensagem.

— “Um conhecido quer pegar emprestado uns livro do Kobo Abe. Pode?”… acho que assim já tá bom.

Finalmente consegui entender o porquê dos idosos falarem em voz alta aquilo que estão digitando no celular.

Será que vão mesmo me responder? Já ouvi por aí que algumas pessoas vão te deixar no vácuo. Caso isso aconteça, foi porque as pessoas te bloquearam. O que devo fazer se isso acontecer?

Opa, a Tsukinoki respondeu no momento em que a minha ansiedade chegou no máximo. Ah, graças a Deus. Parece que não me bloquearam.

— Mestre Tsukino: Claro, e não deixe a presa ir embora. Convença ele a entrar para o clube.

Ótimo, tenho permissão… Ei, será que dá pra fazer algo sobre o nome que ela colocou no usuário dela?

Minha irmã mais nova, Kaju, sentou na mesa na minha frente, enquanto eu rolava pelo sofá.

— Maninho, você é uma pessoa incrível.

Ela disse isso de repente.

— Ah, obrigado.

— Você obedecerá tudo que eu disser, com um sorriso no rosto. Você nunca dirá não.

— Eu não devia ter te agradecido.

Não devia, mesmo.

— Você irá, pacientemente, aceitar o meu egoísmo. Você nunca vai olhar para mim com desgosto.

— Ei, se você sabe que é egoísta, por que não tenta melhorar?

Kaju me ignorou e tossiu respeitosamente.

— Então, Maninho. A Kaju aqui está fazendo um almoço para você. Vou colocar uns bonequinhos feitos de comida, no meio.

Ela começou a dizer algo estranho.

— Explica melhor.

— Eu fico preocupada quando você fica aí olhando e sorrindo para a tela do seu celular igual um bocó, Maninho. Você nem tem amigos para conversar.

O que essa menina está dizendo…?

— Desculpa, pode explicar de novo?

— Se eu fizer um almoço super legal para você, Maninho, você vai conseguir fazer amigos. Vai ser uma oportunidade para puxar assunto com alguém. Você pode ir lá e conversar com as pessoas sobre mangás ou algum anime. Todo mundo gosta disso, certo?

— Por que só mangá ou anime?

— Ué, tu só sabe falar sobre isso, né?

Minha irmãzinha é muito indelicada. Bem, não que ela esteja errada.

— Bem, mesmo que você faça isso para mim, não vou ter para quem mostrar, de qualquer forma.

— Maninho, mesmo que você não tenha amigos, você não almoça sozinho, né? Tem alguém, né?

— Uh, não, geralmente eu almoço sozinho, mesmo.

— Eh, sério?!

Kaju arregalou os olhos e cobriu a boca em descrença.

— Mas vai ficar tudo bem, você ainda sabe puxar assunto com as pessoas, né?

Seu maninho não vai ficar sozinho enquanto souber fazer isso.

— Maninho, eu vou com você até a sua escola. Vou implorar para que alguém vire seu amigo.

— Por favor, não. O que vão pensar de mim na escola se virem minha irmãzinha do fundamental fazendo algo assim por mim?

— Bem, então o almoço com bonequinhos é mesmo a única opção. Olha aqui um que eu fiz.

A Kaju pegou uma marmita feita. Ela tem uma pronta já agora?!

— Para o primeiro teste, eu fiz o avatar que você usa, Maninho.

Ei, espera, espera, espera, espera! Cê tá me assustando!

São personagens simples. Foram feitos com algas, então não sei se isso se encaixa no tal do “almoço com bonequinhos”.

— Eu escrevi todas as suas informações com gergelim preto, bem aqui. Assim, todos na turma saberão tudo que precisa sobre você.

Não acho que meus colegas estão interessados na minha altura, peso e muito menos em qual foi meu primeiro amor.

— Ei, por que tá dizendo aqui que o meu primeiro amor foi você, Kaju?

— Eh, é que, desde que eu me entendo por gente, você sempre disse que eu sou sua irmãzinha adorável.

Não, eu só estava te elogiando porque você é minha irmã mais nova.

— Enfim, eu não preciso que você faça almoço para mim. Já tem alguém fazendo isso.

— …Alguém está fazendo o seu almoço? Para você, Maninho? Eh?

Kaju congelou. Parece que o cérebro dela se recusou a aceitar isso.

— Ei, Kaju?

— Maninho! Você tá saindo com uma garota sem nem ter amigos? E eu nem te dei permissão para isso ainda!

— Não, eu não estou! Como eu iria namorar se eu nem consigo fazer amigos?!

— Sim, isso mesmo. Como você iria namorar se nem consegue fazer amigos?

Por que minha irmã mais nova sempre tem que me lembrar de que eu não tenho amigos?

— Bem que eu ouvi falar sobre essa tal de “Namorada I.A” recentemente… Mas almoço feito por I.A não enche nada, então você tem que se alimentar corretamente, viu?

— Quem você acha que eu sou? Eu como comida de verdade, então não se preocupa.

Afinal, é algo da loja de conveniência.

— Mas, normalmente, ninguém não faria um almoço para outra pessoa se eles não fossem amigos ou namorados, né?

— Eu paguei pelo almoço.

— Agora entendi. Essa pessoa está na classe trabalhadora.

Kaju começou a bater palmas.

— Vendinha de Almoço, não é? Eu ouvi meus amigos falando sobre isso.

— Por favor, escolha melhor os seus amigos.

Parece que comecei a imitar minha irmãzinha.

…Nós dois ainda passaremos por esse tipo de coisa em nossas vidas.

 

Dívida restante de hoje: 3.267 ienes

 

 

Hoje é quarta-feira. A Yanami cumpriu sua promessa e foi até a escada de emergência.  Parece que ela está realmente planejando me pagar tudo com almoço.

Ela colocou um lenço na escada antes de se sentar. Ela suspirou alto para mim, que não sou amigo nem namorado dela.

— Aqueles dois me convidaram hoje de novo. Perguntaram se eu queria ir estudar na casa da Karen depois da aula.

— Por que você simplesmente não diz que não quer ir?

Yanami ouviu minha opinião de personagem secundário e começou a reclamar ainda mais.

— Eles dois vão ficar sozinhos se eu não for!

— Desiste de uma vez. Eles já estão namorando.

Só estou aqui pelo almoço. Para de me dizer essas coisas que não quero saber.

— …Na verdade, eu acho que a Karen tá tentando me destruir. Aposto que ela percebeu que eu tô olhando pro Sosuke com olhos obscenos.

Yanami, por favor, escuta o que tu tá dizendo.

— Eu já disse para você parar de pensar esse tipo de coisa, não foi? Talvez eles só tenham vergonha de ficar sozinhos agora. É por isso que eles querem que você vá, Yanami.

— …Entendi o seu recado, Nukumizu. Então quer dizer que ela tá me usando de desculpa para levar o Sosuke pra casa dela.

Desde quando eu disse isso?

— Não, você tá pensando demais…

— E então, ela conseguiu convencer ele a ir para a casa dela.

Logo após isso, Yanami olhou para mim na mesma hora.

— “… A Anna disse que não pôde vir”.

…Ela mudou o tom de voz e falou isso.

— Hein?

Essa garota está falando coisas estranhas de novo.

— Tô encenando. Imagine a cena: a Karen e o Sosuke sozinhos em casa.

— Ah...

Você pode, por favor, parar de me arrastar pra esse tipo de coisa?

— Vamos de novo. “… A Anna disse que não pôde vir”. Vai, Nukumizu! Você vai fingir ser o Sosuke! Rápido!

— Uh... “Bem, somos apenas nós dois, sozinhos, então…".

Que tipo de diálogo é esse?!

— “...E se… E se eu te dissesse que, na verdade, eu não chamei ela… O que você faria?”.

A Yanami abaixou a cabeça e diminuiu a distância entre a gente.

Deixa eu lembrar… Como os protagonistas das comédias românticas iriam reagir em uma situação como essa?

— “E o que você faria se eu te dissesse que já sabia?”

— “Sosuke…”

— “Karen…”

Ficamos nos encarando em silêncio.

Yanami rapidamente se afastou e bateu as mãos nos joelhos.

— Só pode ser isso! Aquela vaca só quer o corpão do Sosuke para ela…

Boa parte disso aí foi sua imaginação.

— Esquece isso. E o almoço?

— …Nukumizu, agora não é hora para isso, né? Você não tem amigos?

Não se preocupa comigo.

Yanami tirou uma caixa de marmita de alumínio. Espera aí, por que só tem uma?

— Me ajuda a abrir a tampa…

Yanami me fez segurar a tampa enquanto enfiava os pauzinhos do outro lado para tentar abrir.

— Por que ela tá assim?

— Eu te disse ontem, não foi? Só posso usar uma caixa de marmita.

A gente finalmente conseguiu abrir.

Ela pegou o arroz com os pauzinhos e colocou um pouco na tampa.

Estava pesado. Se olhar bem, dá pra ver que o arroz estava grudado, tipo um bolo.

— Então, eu tive que colocar os dois em uma caixa só. Me ajuda as pegar os vegetais, agora.

Ela colocou umas coisas que, segundo ela, são vegetais fritos. Sinceramente, não dá vontade nenhuma de comer.

— Bem, obrigado pela comida.

— …Isso aí. Vamos comer.

Bem, como devo provar o bolo de arroz que a Yanami se esforçou tanto para fazer?

Fiquei com medo de não conseguir comer. Coloquei um molho por cima e engoli tudo de uma vez só.

— E aí, tá gostoso?

Eh, você viu o esforço que fiz pra poder comer, e mesmo assim pergunta isso?

— Yanami, você também fritou os vegetais, né?

— É claro. Fiz com muito carinho. E aí, quanto vale?

Ah, ainda bem que foi ela que fez. A família dela não come esse tipo coisa em casa, então.

Provei também uma batata frita que estava no meio dos vegetais.

— Uh, 400 ienes.

— Legal, é um bom preço.

Yanami mastigou o bolinho de arroz com um sorriso.

Acho que ela não percebeu. É um preço bem baixo para essa quantidade toda de comida.

— Acho que vou conseguir pagar tudo antes das férias de verão.

Beleza, tudo isso vai acabar depois que ela me pagar. Acho que o certo é enxergar isso como um evento de tempo limitado. Mas ela ainda tem que me pagar.

— Ei, você quer subir? Dá pra ver a escola toda de lá de cima.

Terminei de comer na hora em que ela disse isso.

Yanami se levantou depois de pegar sua caixa de marmita vazia. Bom, não tenho motivos para não ir.

Estamos em julho, não dava para ver uma única nuvem no céu.

O Clube de Atletismo está praticando lá em baixo.

— Ah, aquela é a Lemon, né?

Yanami se apoiou na grade e apontou para baixo.

Consigo ver de longe a pele bronzeada da Lemon Yakishio. Ela já estava correndo bem à frente dos outros.

— A Lemon é realmente muito rápida!

Ela almoça, toma banho, troca de roupa, treina... tudo isso em 50 minutos. Uma pessoa como eu não conseguiria fazer algo assim.

Eu não tô diminuindo ela, óbvio. Só estou relembrando a minha mediocridade perante os outros.

— Ela venceu a corrida dos 100 metros da cidade, ficou sabendo? Ela tem a medalha da prefeitura e tudo.

— Ei, você sabe muito sobre ela.

Eu simplesmente leio o quadro de avisos da escola.

— A Lemon é mesmo incrível.

Ela disse isso sem querer. Então, decidi não dizer o que eu pensei em dizer.

Os olhos da Yanami se encheram de lágrimas.

As lágrimas que ela deixava cair eram sopradas pelo vento.

A Yanami continuou com o rosto erguido e olhando para o céu.

Até um tempo atrás, eu nunca tinha trocado uma única palavra com ela, e agora estou aqui, a vendo chorar. Isso não parece muito real.

— Ei, Yanami. Você tá bem?

— Levei um fora.

Você só percebeu isso agora?

— E eu aposto que você tá pensando coisas tipo “só percebeu agora?”.

— Uh, como você sabe?

Você não tem permissão para ler a mente das pessoas.

— Ah, sei lá. Só agora caiu a ficha, sabe?

— Ficha?

— Percebi que levei um fora depois de ver a Lemon correndo.

As lágrimas em seus cílios estavam brilhando.

— Meu cérebro já aceitou que eu levei um fora, mas meu corpo ainda se recusar a crer nisso.

Yakishio chegou perto de uns caras na corrida. Daqui de cima, deu para ver que um cara alto já ultrapassou ela novamente.

— Uma dia, talvez, você entenda, Nukumizu. Quando você levar um fora de alguém, talvez.

— Talvez.

— Eu levei um fora, e nada mudou. Eu não mudei nem a mim mesma.

Yanami disse isso e esticou as costas.

— Tudo ao meu redor está seguindo em frente como sempre. E eu tenho que ir junto, mesmo que eu não queira.

Acho que é como a missão principal de um jogo.

— Não sei como é isso, já que nunca levei um fora.

— Oh, isso é o que um cara popular diria.

Yanami me respondeu com um sorriso.

Aposto que o protagonista de uma light novel faria o coração de uma garota palpitar com mais do que palavras engraçadas, mas esse é o máximo que eu consigo ir.

Para a protagonista perdedora, a vida continua a mesma. O Mundo vai continuar girando. E aquele casal irá continuar junto.

Nós dois ficamos ali, em silêncio. Aproveitamos a brisa e observamos os alunos correndo pelo campo.

 

Dívida restante de hoje: 2.867 ienes



Comentários