Volume 2
CONCERTO DE PRETO E BRANCO - TERCEIRO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 1)
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O PRIMEIRO ANDAR DE AINCRAD ERA UM ANDAR DE "QUALQUER COISA VALE", sem um tema específico. O terreno era rico e variado, com campos, florestas, terras desoladas e cânions, sem mencionar as inúmeras pequenas cidades e vilarejos fora da cidade principal. Isso criava uma atmosfera acolhedora para novos players, mas agora que o jogo era mortal, poucas pessoas estavam com disposição para apreciar o cenário.
O segundo andar, no entanto, tinha um design muito claro e unificado. A terra era coberta por campos verdes de pastagem e montanhas de topo plano em camadas, e os mobs eram todos do tipo animal. Em homenagem ao esforço de vencer o primeiro andar, a natureza selvagem do segundo não era muito difícil, o que, combinado com o estilo visual, dava um tema relaxante e pastoral. A maioria dos players o chamava de andar das vacas, por razões óbvias.
O próximo era o terceiro andar, que ainda não havíamos conquistado.
Enquanto subia a escada em espiral da câmara do boss do segundo andar para a cidade do terceiro andar, cerrei o punho e murmurei.
— De certa forma, é aqui que SAO realmente começa...
Era mais um lembrete para mim mesmo, mas minha companheira ouviu e perguntou.
— Sério? Por quê?
Cocei a cabeça e expliquei.
— Bem... o terceiro andar é onde os mobs humanos aparecem pela primeira vez. Os kobolds e taurus dos andares abaixo eram semi-humanos, então podiam usar habilidades simples com espadas, mas ainda eram mobs, certo? Bem, alguns dos inimigos à frente são indistinguíveis de outros jogadores. Honestamente, você não conseguiria diferenciá-los sem um cursor de cor. Assim como os NPCs, eles podem falar e usar habilidades avançadas com espadas. Ou seja… — Olhei por cima do ombro e fixei o olhar em Asuna, a espadachim. — É aqui que o verdadeiro Sword Art Online começa. Li várias entrevistas e artigos em revistas sobre Akihiko Kayaba, o homem que nos prendeu aqui. Ele disse que o termo «Sword Art» se refere à luz e ao som do choque de habilidades com espadas — um concerto de vida e morte.
— Oh…
A frase que me deu arrepios de excitação há um ano não teve qualquer efeito perceptível em Asuna. Continuamos subindo as escadas em um ritmo moderado. Seu próximo comentário me pegou de surpresa.
— Isso significa que ele já estava planejando esse crime quando deu essa entrevista?
— Umm... bem, acho que sim.
Naquele dia fatídico, há cinco semanas, Kayaba convocou todos os jogadores de SAO para a praça central da Cidade dos Inícios e anunciou: — Eu criei o NerveGear e SAO precisamente para construir este mundo e observá-lo. Agora alcancei esse objetivo.
Se essas palavras fossem verdadeiras, então desde a primeira linha que Kayaba desenhou em um diagrama do NerveGear, ele estava imaginando esse terrível crime como seu objetivo final. Todas as suas declarações que entusiasmaram minha mente jovem (bem, apenas um ano mais jovem) agora tinham um terrível duplo sentido.
Asuna murmurou suavemente.
— Um concerto... de vida e morte. Me pergunto se ele realmente quis dizer isso para se referir à arte da espada entre jogadores e inimigos humanóides.
— Quê...? O que você quer dizer?
Era a minha vez de ficar confuso. Eu havia subido escadas em espiral idênticas para o próximo andar quase uma dúzia de vezes entre o beta e o lançamento completo, então era familiar o suficiente para que eu pudesse continuar subindo de costas. A única coisa que diferia entre os andares era o estilo das gravuras nas paredes escurecidas. Um olhar mais atento sempre revelava algum tipo de dica temática sobre o conteúdo do próximo andar, mas eu estava concentrado nas palavras de Asuna no momento.
Com um rosto sério, ela sussurrou.
— Talvez eu esteja pensando demais... mas um concerto não é uma performance em que instrumentos formam um par para tocar um contra o outro. Isso seria um dueto.
— Então, o que exatamente é um concerto?
— A definição muda dependendo da era, mas, em sua forma mais básica, é uma orquestra atuando como acompanhamento de fundo para um solista ou um pequeno grupo de músicos independentes. Então não é um contra um, mas um contra muitos, ou poucos contra muitos.
— Um... contra muitos…
Repeti e me contive antes de perguntar se isso poderia significar um jogador contra um grupo de mobs.
Quase nunca era o caso de um único jogador enfrentar um grande grupo de inimigos — digamos, dez ou mais. Sem feitiços mágicos que pudessem atacar uma área grande de uma vez, e as habilidades com espada mais próximas apenas aumentando um pouco o alcance da arma, estar cercado por mobs em SAO significava: Morte certa.
Essa lei inviolável se refletia no design do jogo, então quase todos os mobs eram solitários ou em grupos de no máximo três ou quatro. Contanto que não corresse intencionalmente para chamar a atenção ou ativasse armadilhas de alarme, um único jogador nunca encontraria uma grande massa de inimigos. Mesmo que isso acontecesse, ninguém seria tolo o suficiente para ficar e lutar.
— Neste caso, não há batalha neste mundo que realmente corresponda a um concerto real. Se for o caso, poderia se referir a uma batalha contra o boss... mas, nesse caso, o boss seria o solista, e os jogadores, o acompanhamento.
Eu disse com um sorriso irônico. Asuna abriu a boca para responder, mas a fechou. Após uma breve pausa, ela sorriu levemente.
— Acho que sim. Estou apenas pensando demais. Só que, Kirito...
— Sim? O quê?
— Deixa pra lá, tarde demais.
Assim que ela disse essas palavras, a parte de trás da minha cabeça bateu contra a espessa porta de pedra no topo das escadas.
Nguh! Grunhi pateticamente e perdi o equilíbrio, com as mãos balançando freneticamente. Certifiquei-me de cair para trás, percebendo que ainda seria melhor do que cair para frente diretamente sobre Asuna.
Mas, naquele breve instante, a porta de pedra que deveria ter apoiado minhas costas já havia se aberto, e caí gritando através do portal para aterrissar diretamente de bunda sobre as pedras pavimentadas cobertas de musgo — o momento histórico do primeiro passo no novo e inexplorado andar.
🗡メ
O terceiro andar de Aincrad.
Seu tema de design era "floresta", mas esta era uma floresta em uma escala diferente das matas ao redor de «Horunka» no primeiro andar ou da área sul do segundo andar. Mesmo a menor árvore aqui tinha um tronco de pelo menos um metro de diâmetro e se elevava a quase trinta metros no ar. Essas árvores vastas e antigas se estendiam até onde a vista alcançava, e os raios dourados de luz que penetravam através de seus intermináveis galhos e folhas criavam uma visão mágica.
— Uau!
Asuna maravilhou-se, passando direto por mim enquanto eu me contorcia e segurava meu cóccix. Girei meio de lado no chão para admirar a vista. Ela parou adiante e girou na estreita faixa de luz, absorvendo o panorama da floresta densa e infinita.
— Incrível... Só essa vista valeu todo o esforço para chegar aqui!
O capuz de sua capa de lã familiar estava puxado para trás, de modo que o brilho da luz refletindo em seu longo cabelo castanho capturou meu olhar. Com seu porte esbelto e beleza elegante, Asuna parecia mais uma dríade brincalhona da floresta do que uma jogadora humana.
— Sim. Realmente valeu a pena.
Murmurei e me levantei. Endireitei meu casaco de couro e me espreguicei. Até o ar parecia mais doce e úmido aqui, cheio de ricos fitocidas... Eu podia imaginar.
Olhei para trás e vi que tínhamos acabado de sair de uma estrutura de pedra antiga construída nas raízes de uma árvore particularmente enorme, com a boca da escada escancarada e negra. Em vinte minutos, os outros jogadores da linha de frente estariam terminando suas tarefas e saindo por essa saída.
— E agora.
Murmurei, abrindo minha janela e começando a enviar uma mensagem instantânea para Argo, A Rata. Informei à negociante de informações que ela deveria informar ao público que o segundo andar havia sido conquistado, e o portão de teleporte para o terceiro andar estaria aberto dentro de uma hora. Ela estivera presente na câmara do boss, mas desapareceu antes que a luta terminasse, então isso era apenas para garantir.
A tarefa que me foi atribuída por Lind, líder do grupo de ataque, estava completa. Fechei a janela e olhei mais uma vez ao redor da floresta.
Eu queria ficar parado e aproveitar a sensação de satisfação por ter alcançado o terceiro andar, mas o tempo era essencial. Como qualquer outro novo andar, havia compras a serem feitas, missões a serem realizadas e níveis a serem alcançados. Mas antes de qualquer coisa, eu tinha que confirmar algo com minha companheira temporária.
Preparei-me para a tarefa, me aproximei de Asuna enquanto ela continuava a absorver o cenário e tossi educadamente.
— Hum, odeio interromper sua diversão...
— O que é?
Ela se virou para mim, um raro sorriso no rosto. Direcionei seu olhar para o norte com a ponta do meu dedo indicador. Um caminho de pedra que se afastava da estrutura atrás de nós se dividia em uma bifurcação a cerca de vinte metros à frente.
— Se virarmos à direita ali, vamos para a cidade principal. O lado esquerdo nos leva pela floresta por um tempo, e eventualmente à próxima cidade.
— Entendo.
— Normalmente, deveríamos ir para a cidade e ativar o portal, mas eu preferiria deixar isso para as equipes de Lind e Kibaou, já que eles estarão vindo logo atrás de nós.
— Ok, claro.
— Parte disso é porque eu não quero a atenção, mas a outra parte é que há uma quest que podemos realizar se seguirmos pelo caminho da esquerda. Percebo que ambos os motivos são meus próprios raciocínios pessoais, então...
O sorriso em seu rosto começou a desaparecer. Na verdade, havia um olhar ameaçador se formando em seus olhos. Finalmente me dei conta de que, se escolhesse minhas palavras mal aqui, estaria ganhando para mim a total e poderosa ira de um dos maus humores de Asuna — só não sabia as regras de como evitar isso.
— E?
Ela perguntou, com a voz fria.
— Hum... bem... precisamos reabastecer suprimentos, então, se você quisesse ir direto para a cidade principal, suponho que teríamos que desfazer nosso grupo aqui... Mas, claro, se você quiser se juntar a mim na realização dessa missão na floresta, eu não tentaria convencê-la a reconsiderar...
— Se você está me perguntando se eu não quero desfazer o grupo, então não, não tenho problema com isso. Somos ambos jogadores solo, a menos que eu esteja muito enganada?
— S-Sim, senhora.
— Mas essa missão de que você está falando é melhor ser cuidada primeiro, eu presumo? Nesse caso, eu me juntarei a você — odeio ser ineficiente. Claro, se você preferir me expulsar do grupo para poder colher os benefícios sozinho, suponho que não posso impedi-lo.
— N-Não, não quero ser egoísta de forma alguma. Além disso, será mais eficiente para nós como grupo.
— Então vamos indo. Não precisarei reabastecer e reparar por um tempo ainda.
— Ótimo.
Ela se virou nos calcanhares e seguiu pelo caminho, suas botas fazendo barulho nas pedras. Apressei-me a segui-la, internamente decidindo que havia acabado de escapar por pouco, embora eu não soubesse exatamente do quê estava escapando.
Se soubesse que isso aconteceria, teria conversado mais com as meninas da minha classe.
Lamentei em silêncio e, depois, ri em negação. Se estivesse interpretando um estudante do ensino médio com esse tipo de persona, não estaria aqui para entrar na versão oficial de SAO e fazer login cinco segundos após os servidores ficarem online. Nunca teria caminhado por essa floresta fantástica com essa espadachim temperamental em primeiro lugar.
Era uma conjectura inútil. Falando nisso... No mês em que fiquei preso neste castelo, estive focado na sobrevivência, em me fortalecer de qualquer maneira que pudesse encontrar. Alguma vez parei para me arrepender da minha decisão de entrar em Sword Art Online?
Arrependimento seria a escolha normal. Qualquer um que não se arrependesse de ficar preso aqui era insano. Mas não importava o quanto eu voltasse no meu registro de eventos emocionais, apesar da presença de terror ou saudade de casa, não havia registros de "arrependimento".
Então, ou eu era insano, ou as circunstâncias nunca me deram tempo suficiente para sequer considerar me arrepender da minha escolha. Se fosse o último caso, então a espadachim caminhando à minha frente fazia parte dessas circunstâncias. Passei tanto tempo atendendo aos seus caprichos e necessidades que talvez arrependimento e outras emoções negativas simplesmente não encontrassem espaço na minha mente...
Não, nem pense em agradecê-la! Ela te repreendeu dez vezes mais do que mostrou qualquer gratidão!
Acelerei o passo para ficar ao lado da minha parceira casual.
Com base na minha experiência no beta, eu sabia que, nos trinta minutos ou mais entre a derrota do boss do andar anterior e a ativação do portão de teleporte, a taxa de aparição de mobs era drasticamente reduzida.
Suspeitava que fosse um presente para aqueles campeões cansados, para garantir que não fossem derrotados por mobs antes de alcançar o portão da cidade principal do próximo andar. Infelizmente, esse efeito só estava ativo ao redor da cidade.
Depois de cinco minutos caminhando pela floresta, senti uma mudança no ar ao redor, mesmo antes da minha habilidade de «Searching» se ativar. A bela floresta de conto de fadas parecia ficar mais dura e ameaçadora a cada passo.
— Escute, Asuna. Os inimigos aqui não são mais fortes do que os do segundo andar. São principalmente animais e plantas também, então não usarão habilidades com espadas contra nós. — Expliquei. Ela assentiu silenciosamente. — Mas há um padrão que todos os mobs aqui seguem: eles vão tentar nos atrair para dentro da floresta e para longe do caminho durante a batalha. Se você avançar toda vez que eles abrirem uma brecha, vai se perder completamente quando a luta terminar.
— Não podemos simplesmente abrir o mapa e ver os lugares por onde já passamos?
— A questão é…
Acenei com a mão direita para abrir o menu, virei para o mapa e ativei o modo visível para mostrá-lo à Asuna.
— Oh... Está tudo escuro.
Ela comentou. De fato, enquanto normalmente a maior parte do mapa estaria sombreada com pequenos modelos 3D claros dos lugares onde já estivemos, a tela do mapa atual estava escura e nebulosa, como se estivesse coberta por névoa. Mesmo apertando os olhos, não era possível distinguir a localização do caminho.
— Esta área tem um nome: a «Forest of Wavering Mists». O mapa é difícil de ler e, ocasionalmente, você entra em uma névoa tão densa que mal consegue ver qualquer coisa. Então, a regra de ouro aqui é: não saia do caminho ou do seu grupo. Tenha isso em mente o tempo todo.
— Entendido. Então, por que você não me dá uma demonstração?
— Hã?
— Tem algo nos observando ali atrás.
Eu me virei lentamente. Fora do caminho, bem na borda da floresta, havia — não, crescia — uma árvore fina e ressecada. Seu tronco amarelo pálido tinha apenas meio metro de diâmetro e dois metros de altura, muito menor do que os espécimes gigantes ao redor. Mas luzes pálidas brilhavam em dois pequenos buracos na casca, e os galhos estendidos para os lados se agitavam como garras delgadas.
A árvore seca e eu nos encaramos por vários segundos. Eventualmente, ela puxou uma raiz rangente do chão e deu um passo à frente. Em seguida, a raiz esquerda saiu do chão para outro passo, e a árvore começou a andar em minha direção. Os passos trôpegos logo se transformaram em uma corrida em alta velocidade. Um terceiro buraco abriu-se abaixo dos outros dois, e a árvore soltou um uivo estridente.
Molooo!
A Muda de Ente tinha várias habilidades especiais, uma das quais era que, quando ficava completamente imóvel, não ativava minha habilidade de «Searching». Eu estava tão absorto na explicação que devo ter passado direto por ela.
Fique mais atento! Aconselhei-me, alcançando meu ombro para puxar minha amada «Anneal Blade» +6 na bainha.
🗡メ
Três minutos depois, eu já tinha cortado ambos os galhos em forma de braços, e Asuna tinha penetrado o buraco da boca do Ente com sua «Wind Fleuret» +5. O Ente gemeu tristemente e explodiu em fragmentos poligonais.
Demos um soquinho para comemorar e guardamos nossas espadas. Apesar do meu aviso, eu tinha caído na inversão enganosa da frente e de trás da árvore e andei cinco metros para dentro da floresta. Isso não era um grande problema agora, mas quando as névoas estivessem presentes, até mesmo uma distância de dez metros poderia ser desastrosa.
Enquanto caminhava pelo antigo caminho de pedra, Asuna disse.
— Eu me sinto um pouco... culpada por isso.
— Ah, é?
— Bom, aquele mob árvore era uma muda, certo? Não é muito ecológico cortá-lo assim.
— Talvez, mas você não diria isso se visse o Ente Ancião em que ele se transformaria. Você diria que temos que derrubar esse cara agora enquanto temos a chance!
— Não fale assim. Já ouço o suficiente disso com o Kibaou.
Ela advertiu. Voltamos ao caminho e compartilhamos um breve suspiro de alívio. O ângulo da luz dourada acima já estava mudando, mas tínhamos bastante tempo até o anoitecer.
— Então, deve estar por aqui...
— O que está? Ah, aquela tarefa que você disse que queria resolver.
— Sim. Estamos apenas iniciando uma missão... mas a localização inicial do NPC é um pouco aleatória. Como está sua audição, Asuna?
Eu a olhei e vi que a espadachim estava se afastando, cobrindo suas orelhas fofas e rosadas com as mãos.
— É isso que te interessa, Kirito? Você tem fetiches por orelhas?
— N-N-Não! Eu estava falando sobre sua audição, não sobre o formato das suas orelhas...
— Estou brincando. Além disso, essa situação não tem nada a ver com nossa audição. Estamos ouvindo com nossos cérebros, não com nossos tímpanos.
— Ah, boa observação. Bem, vamos tentar encontrar. Se ao menos um de nós tivesse a habilidade de «Listen».
Endireitei minhas costas e coloquei as palmas das mãos atrás das orelhas, sabendo que provavelmente era inútil. Asuna seguiu meu exemplo.
— Então, que som estamos procurando? Não me diga que é uma única folha caindo.
— Não se preocupe, não é um som natural. Estamos tentando encontrar o clangor de espadas.
Asuna pareceu surpresa por um momento, depois assentiu em compreensão.
Ficamos no meio do caminho, com as costas pressionadas uma contra a outra, concentrando-nos em todas as direções com quatro ouvidos. Eu geralmente ignorava, mas havia realmente muitos ruídos atmosféricos no jogo. O assobio do vento e o farfalhar das folhas, pequenos animais correndo e pássaros cantando — eu eliminei cada um desses sons da minha mente, procurando pelo clangor áspero e artificial de metal contra metal.
…...!
Asuna e eu nos movemos juntos. Eu me virei para a direita, e Asuna para a esquerda... para o sudoeste. Havia um som fraco, mas distinto, de lâminas se chocando vindo daquela direção.
— Vamos.
Eu disse, avançando. Asuna puxou meu casaco por trás.
— É seguro entrar na floresta?
— Não se preocupe, desde que iniciemos a missão com segurança, poderemos retornar ao caminho.
— E se não conseguirmos?
— Não é um problema — eu tenho um conjunto de acampamento. Vamos!
Enquanto eu caminhava apressadamente para dentro da floresta, ouvi um cético — Acampamento? — que rapidamente se transformou em passos.
🗡メ
Longe do caminho de pedra, o chão era macio e coberto de musgo, com uma suavidade perceptível, mas não desconfortável para caminhar. Eu me movia entre os troncos para a esquerda e para a direita, seguindo a fonte do som. Encontrar qualquer mob aqui interromperia nossa busca, então eu evitava qualquer cursor que aparecesse no meu alcance do «Searching». A última coisa que eu queria ver era outro Ente, e felizmente não encontramos nenhum.
Menos de cinco minutos de corrida depois, o clangor de metal estava muito mais alto do que antes, acompanhado por gritos e berros. Dois cursores de NPC apareceram diretamente à frente, seguidos pelos flashes das espadas colidindo, visíveis através dos galhos.
Mais um tronco de árvore enorme, e estaríamos no campo de batalha. Parei antes de contornarmos a árvore e segurei Asuna com um braço estendido, fazendo um gesto de silêncio com o dedo indicador. Nos inclinamos ao redor do tronco para espiar ao mesmo tempo.
Duas silhuetas estavam trancadas em um combate feroz no meio de uma grande clareira.
Um deles era um homem alto vestindo uma armadura brilhante de ouro e verde. Mesmo à primeira vista, era claro que sua espada longa e broquel eram equipamentos de alto nível. Seu cabelo loiro platinado estava preso atrás, e seu rosto era o de um galã escandinavo em um filme de Hollywood.
O outro combatente se destacava em contraste, com uma armadura preta e roxa. O sabre curvado e o pequeno escudo de pipa eram escuros, mas igualmente poderosos. O cabelo da lutadora era curto e roxo enfumaçado, que, combinado com a pele bronzeada, era incrivelmente belo. Lábios vermelhos e uma curva no peitoral deixavam claro que o lutador sombrio era uma mulher.
— Haah!
O homem loiro soltou um rugido feroz e desceu com sua espada.
— Shaa!
A mulher de cabelo roxo rebateu com seu sabre. Um clangor feroz ecoou pela clareira, e o efeito de luz piscante iluminou a floresta profunda por um instante.
— Esses são... realmente NPCs...?
Murmurou Asuna abaixo de mim, sua voz cheia de admiração. Eu entendi como ela se sentia. Seus movimentos precisos e expressões realistas eram tão vívidos que era difícil vê-los como avatares sem alma sob o controle do sistema do jogo. Mas...
— Tecnicamente, eles são classificados como mobs. Olhe para as orelhas deles.
— Huh...? Oh! Elas são pontudas. Isso significa que...
— O homem é um elfo da floresta. A mulher é uma elfa negra. Olhe acima de suas cabeças.
Os olhos de Asuna subiram um pouco. Ela murmurou surpresa novamente.
Ambos os guerreiros tinham um ponto de exclamação dourado acima de suas cabeças. Essa era a prova de que eram NPCs iniciadores de missões. Normalmente, aproximar-se e começar uma conversa abriria automaticamente um registro de missões. Mas neste caso...
— O que significa que ambos têm marcas de missão e estão lutando um contra o outro...?
— É simples — você só pode aceitar uma. Preciso que você faça uma escolha muito importante aqui, Asuna.
Eu disse. Ela tirou os olhos dos elfos e olhou para mim.
— Uma escolha?
— Sim. A missão que eles nos darão não é uma missão única, nem mesmo uma série de missões. É a primeira grande missão de campanha do jogo. Ela dura por vários andares e não termina até chegarmos ao nono.
— N—
Nono?! Ela ia gritar, mas fechou a boca a tempo. Seus olhos castanho-avermelhados estavam arregalados de choque. Secretamente aproveitando sua surpresa, acrescentei outra bomba.
— E se você errar no meio do caminho, não há segundas chances. Não é possível mudar para o lado oposto também. A escolha que você fizer aqui vai durar até o nono andar de Aincrad.
— Desculpe... Você não poderia ter me dito isso antes...? — Seu rosto passou de raiva para indecisão. — Espera, lado oposto? Isso significa que esses dois elfos...?
— Exatamente. Temos que escolher um para salvar e um para lutar. Qual será: preto ou branco?
Asuna me deu um olhar avaliativo e ardente.
— Isso não é uma escolha real, é? Talvez se fosse um jogo normal, mas não agora. Temos que seguir a mesma rota que você seguiu na beta. Na verdade... Tenho certeza de que posso adivinhar exatamente qual você escolheu.
Agora foi minha vez de ficar desconfortável. Seu olhar frio perfurou meu rosto, e ela falou com absoluta convicção.
— Você escolheu a elfa negra, não escolheu?
— S-Sim, escolhi... m-mas não porque ela era uma mulher. Porque ela era do lado negro.
Mas eu sabia que essa desculpa não colaria. Asuna ficou de pé e se virou com um bufar.
— Bem, tudo bem. Eu nunca tomaria o lado de um homem para derrubar uma mulher, de qualquer maneira. Vamos ajudar a elfa negra e derrotar o elfo da floresta. Concorda?
Ela se apressou para sair do nosso esconderijo, mas eu a segurei pela gola do capuz.
— E-E-Espera, espera. Uma coisa importante primeiro!
— O quê?
— Bem, hum... Só para você saber, mesmo que ajudemos o lado negro, não há como derrotarmos o elfo da floresta.
— O quê?!
Seus olhos se arregalaram. Coloquei uma mão em seu ombro delicado para acalmá-la.
— Como você pode perceber pelo equipamento robusto, ambos são mobs de elite. Você não encontra Cavaleiros Sagrados Élficos da Floresta ou Guardas Reais Elfos Negros até o sétimo andar. Não importa o quanto estejamos em vantagem, acabamos de chegar ao terceiro andar. Não podemos vencer.
— Então... o que fazemos? Quero dizer... se morrermos nesta luta...
— Não se preocupe, não há morte se perdermos. Quando estivermos com metade de nosso HP, o lutador que estivermos ajudando usará seu ataque secreto para vencer. Só temos que manter o foco na defesa. Não entre em pânico quando ele começar a cortar nosso HP, apenas mantenha a calma e espere a elfa fazer sua parte. Perder o controle e correr por aí é a pior coisa que pode acontecer aqui — nunca se sabe quando você pode atrair um mob próximo por acidente.
— Tudo bem.
— Bom. — Dei um tapinha em seu ombro e a soltei. — Então vamos pular na clareira na contagem de três. A missão começa automaticamente quando nos aproximarmos, então apenas fique ao meu lado.
Ela assentiu em compreensão, e me alinhei ao lado dela, contei até três e disse uma desculpa silenciosa. Havia uma coisa que eu não tinha contado à Asuna. Quando pulássemos para salvar a elfa negra — seu nome era «Kizmel» — ela usaria sua arte proibida para nos salvar do cavaleiro elfo da floresta, morrendo no processo. Se escolhêssemos a rota oposta e ajudássemos o elfo da floresta, ele faria o mesmo. Independentemente da escolha, ambos os elfos morreriam nesta clareira, e estaríamos envolvidos na guerra das duas raças. Esse era o início de uma longa, longa campanha... uma história épica.
— Dois, um, vai!
Saltamos para a clareira. Os elfos em combate nos olharam momentaneamente, depois saltaram para trás para manter distância entre eles. Cada uma das marcas de exclamação se transformou em uma interrogação para indicar uma missão em andamento.
— O que a humanidade está fazendo nesta floresta?
Exigiu o elfo masculino.
— Não interfiram! Saiam daqui!
Ordenou a elfa negra. Tínhamos a opção de sair, claro. Mas isso não fazia sentido estar aqui. Asuna e eu trocamos olhares, sacamos nossas espadas — e apontamos as lâminas para o peito chamativo do elfo da floresta.
Seus traços bonitos ficaram frios e furiosos. O cursor amarelo relacionado ao evento ganhou uma borda vermelha piscante, um aviso de que o alvo estava prestes a se tornar agressivo.
— Idiotas... Pelo crime de se aliarem a essa escória de elfa negra, seu sangue saciará a sede da minha espada.
— A—
— Isso mesmo, mas é você quem vai perecer, seu porco abusador de esposas!
Asuna retrucou, roubando minha frase de efeito e adicionando uma acusação duvidosa de abuso doméstico. O cursor do elfo da floresta mudou de amarelo pálido para um carmesim ameaçador. Antes que eu pudesse sequer notar a tonalidade sinistra de vermelho, o homem esboçou um sorriso bonito, mas arrogante.
— Que assim seja! Começarei com vocês, humanos.
— Lembre-se, apenas foque na defesa!
Eu gritei para Asuna, focando em sua espada longa.
Claro, só duraremos três minutos no máximo, acrescentei silenciosamente. Mas quando olhei para o rosto da minha parceira, senti uma sensação distinta de desconforto. Mesmo no curto período em que a conhecia, eu podia reconhecer a expressão que ela estava usando agora: aquela que dizia que ela estava absolutamente determinada a algo.
— Hum... foco... defesa?
— Eu sei, eu sei!
Ela rebateu, mas havia um brilho feroz na rapiera agarrada em sua mão direita.
🗡メ
Vinte minutos depois.
— Isso... não pode estar acontecendo...
Murmurou o elfo da floresta enquanto caía no chão.
— Isso... não pode estar acontecendo…
Repeti, piscando surpreso ao confirmar que sua barra de HP realmente mostrava zero. Em contraste, tanto a barra de HP de Asuna quanto a minha estavam na metade, prestes a entrar na zona amarela. Durante a beta, eu estava em um grupo de quatro, e tínhamos sido derrotados em apenas dois minutos.
— Bem. Ele não era tão forte, afinal.
Olhei para ver Asuna, com as costas retas apesar do cansaço óbvio. A alguns metros à esquerda dela estava a elfa negra, com seu sabre escuro e olhar fixo no inimigo caído.
Você deveria ter morrido, moça, ecoou uma frase misteriosa e sem fonte dentro da minha cabeça. «Kizmel», a cavaleira elfa negra, olhou para mim. Seus olhos de ônix pareciam estar cheios de choque, perplexidade e uma pergunta sem resposta sobre o que ela deveria fazer a seguir. Mas isso tinha que ser minha imaginação.
Rezei para que fosse minha imaginação.
CONTINUA NA PARTE 2 DIA 16/07
NOTAS/TRADUTOR
O volume conta com 10 partes(capítulos), serão postados diariamente. Agradeço por ler.
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