Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


72 SEASONS

Capítulo 3: O Corredor Sagrado

— Quem é o novo Papa?

Eu não tenho essa resposta.

O quê!? Deu um passo para trás. O demônio com o qual falava era a habilidade do 9° Selo, um que, em teoria, deveria ser capaz de lhe responder qualquer pergunta, exceto aquelas relacionadas com datas de morte.

— Como não? Por que não consegue me dizer!?

Uma poderosa habilidade me impede de visualizar o indivíduo que deseja. Se for suficiente, a localização atual da figura do Papa está nos arredores da Torre, onde está sendo construído um santuário.

— Santuário? De que tipo?

Um santuário para um ritual de sacrifício. Rag já ia perguntar o tipo, mas a criatura acabou por ler sua mente e completou: Será um ritual que fará uso das vidas de todas as pessoas no Oeste e no Norte.

— TO-TODAS!? Oeste e Norte… É mais de 2 milhões de pessoas!

Correto. Pouco mais de 5 milhões, para ser exato.

— Caralho! Digo… Meu Deus!

Rag poderia reclamar, mas dizer que o demônio era inútil era o mesmo que reclamar com o level design de um jogo quando o personagem não consegue ir para o segundo andar de um lugar por ser barrado por uma "força invisível", em outras palavras, um ato inútil que não mudaria sua situação atual.

Sem mais opções ou tempo para perder, teve que apressar o passo antes que alguém aparecesse para investigar o fato de um relâmpago ter caído dentro do templo. Felizmente, seu objetivo estava logo adiante.

 

***

 

O Grande Templo do Vigia não aceita visitantes, sendo reservado somente para membros da Igreja e relacionados. Poucos são os que sabem que, caso um tipo específico de sinal de mão seja realizado no altar, uma escadaria em espiral irá se revelar em um dos confessionários nas paredes laterais. Descendo esta, torna-se possível alcançar um enorme portão que só pode ser aberto ao girar uma enorme válvula de metal, tarefa que exigiria cerca de dez homens.

No momento, havia somente um guarda vigiando o local, este que apenas aguardava pelos que assumiriam após a troca de turnos.

Bocejou, encarando a parede vazia por tanto tempo que não notou a aproximação de Rag. Um golpe certeiro bastou para um nocaute sem problemas.

Sem tempo para perder, colocou o próximo passo em ação.

— 50° Selo… — Uma grande chama surgiu na palma de sua mão. — QUEIME!!   

A última fala era desnecessária, mas estava em seu sangue de membro de uma igreja medieval gritar isso sempre que usava fogo para absolutamente qualquer coisa. A grande chama se converteu no equivalente do espirro de um vulcão, o portão sendo derretido em instantes diante de seus olhos.

Como o 9° havia sido utilizado, tecnicamente este uso lhe concederia uma punição, mas utilizou um Selo aleatório logo antes de descer a escada para evitar uma punição em má hora. Por sorte, foi atingido pelo efeito de invisibilidade do 1° Selo, então estava intacto no momento — ignorando o raio de antes.

Dito isto, restava outro uso de habilidade antes de uma nova penalidade o atingir. Com o caminho agora livre, fez uma breve pergunta para a voz maníaca em sua cabeça.

— É possível me levar para a Torre usando o 33° Selo?

Não. Como eu já disse várias vezes, você só pode ir para lugares que já esteve. Aliás, eu sinto uma energia muito estranha neste lugar. Acho que não vai ser possível usar a mesma tática que usou com os carecas de antes em seja lá o que estiver aqui dentro.

Refletiu por breves segundos, sendo mais do que o suficiente. Nesta altura, já não existia motivos para hesitar. Se a única opção era lutar com os inimigos desconhecidos adiante, que assim fosse, mas falar também era apenas a parte fácil do serviço.

— Então é isto, não temos tempo a perder... — Posou como um falso herói decidido. — Chegarei até o final independente do preço!

Deu um passo à frente, entrando no Corredor Sagrado pela primeira vez. O ambiente que só devia ser acessado por aqueles que faziam a transição de Arcebispo para qualquer outro cargo acima — Cardeal, Patriarca ou Papa —, mas Rag nem estava tão longe disso, então talvez fosse perdoado. Será que já podia ser considerado um Cardeal só de pisar aqui?

Numa transição brusca, as paredes de tijolos de pedra foram substituídas por metal. Até onde sabia, a cor negra era devido um corante usado na tentativa de imitar as paredes imaculáveis da Torre, longe de ser indestrutível como o material original.

Cada passo ecoava na vastidão, afirmando a solidão de Rag no ambiente.

"Isso realmente vai me levar até a Torre Divina?"

Ainda parecia um caminho conveniente demais. Uma linha reta direto para seu objetivo principal, o sonho de qualquer protagonista de história que sofre com fillers e arcos secundários sem importância. Com certeza ajudaria a chegar ao destino antes da Maldição lhe acometer em 20 dias.

Era fato que encontraria alguém. Por mais que não soubesse se outras pessoas tinham acesso ao local, a intuição afirmava constantemente.

"O que o príncipe Vast foi fazer naquele lugar? E por que o Selo não conseguiu me responder sobre o Papa?"

Eram vagas suas lembranças sobre o príncipe de Von Legurn, e o mesmo deveria valer para o contrário. Se bem se lembrava, Vast tinha grande apreço por sua casa, além de ter sido lá onde ganhou sua Maldição, então somente algo que valesse o preço de sua vida seria suficiente para fazê-lo partir.

"Será que ele ainda insiste naquela empregada?" Deu um curto sorriso, distraído.

Se não recordava com precisão de Vast, o total oposto acontecia para a mulher cujo nome foi marcado à brasa em seu cérebro, Emilia. Era a única cuidadora do local na época que visitou, e provavelmente continuava assim. A aura da mulher espantava qualquer pessoa com o mínimo de senso de perigo — Vast provavelmente estava cego de amor, o que devia lhe garantir alguma imunidade.

Tinha convicção, a aura de Emília era semelhante àquela que sentiu quando os Cardeais viraram Descendentes — apesar de muito pior. E para que virassem vampiros, de uma categoria tão alta ainda por cima, o sangue que usaram só poderia ser...

Não! Se recusou a terminar o pensamento. A Ghost tinha seus podres e coisas com as quais Rag não concordava; que tinha noção mesmo antes de fazer parte dela, mas ainda era o caminho mais rápido para que atingisse seu objetivo.

"Só preciso alcançar a posição de Papa, se eu conseguir isso..."

Cerrou os punhos e focou o caminho, capaz de ver uma luz que, apesar de distante, existia no fim da escuridão até então infinita.

Pretende mesmo ir contra tudo que aparecer?

— Não tem outro jeito. O lugar parece bem vazio, mas é melhor apertar o passo antes que...

Olha só o que nós temos aqui!

Porra… digo, caramba. Não podia ser em pior momento — ou em melhor, a depender de como se encarava tamanha sincronia.

Nascidos do absoluto vazio espacial — era a única explicação já que era um corredor retilíneo —, um total de três vampiros surgiram à frente, a aura os revelava como da classe Vagante, destinados a atormentar a carne nova no local como qualquer inimigo inicial.

— Já mandaram outro? Até que foi bem rápido, normalmente demora pelo menos uma década para aparecer outro.

Todos deram uma boa lambida nos beiços, ansiosos por uma lambida.

— Muito bem — um dos vampiros iniciou —, você tem duas opções, rapaz! Se quiser continuar no caminho do corredor, então vai ter que se juntar a nós, caso contrário sua jornada vai acabar aqui mesmo!

Hum? Ele arqueou uma das sobrancelhas.

— O que quer dizer com isto? Desde quando vocês estão aqui?

Todos os três deram uma risada que ficou um pouco mal encaixada na situação. Logo que recuperaram a compostura, o mesmo vampiro de antes, dotado de uma voz que se ouviria em um personagem que grita muito, respondeu:

— Desde que o mundo é mundo; você ganhou consciência… Enfim, desde que esse corredor foi construído! Você realmente acha que é só passar por aqui e vai ganhar uma promoção no serviço? Nunca estranhou o fato de que um novo Papa só surge a cada século mesmo que um ou dois testes ocorram a cada dez anos?

— Tanto tempo assim… — Analisou as paredes metálicas, capaz de ver marcas secas dos que vieram antes de si. — O que vocês querem exatamente?

Todos riram em conjunto, um bando de hienas.

— É bem simples! Você vira um vampiro, nós te levamos até o fim desse caminho e talvez o chefe considere colocar você como Papa daqui uns dois ou três séculos.

— E se eu não aceitar?

— A gente cai de boca em você.

— Eu humildemente recuso, agora queimem…

Os vampiros viram um sol surgir repentinamente quando o 50° Selo foi ativado, e de tal forma a caminhada começou.

 

***

 

Fora do Corredor Sagrado, as coisas continuam acontecendo. Ninguém dentro do Corredor sabe o que se passa do lado de fora, mas o contrário não se aplica. Ciente do intruso no local, a figura trajando um grande manto preto subiu calmamente a escadaria de pedra, em direção ao quarto mais alto da torre mais alta.

Um ou outro lampião em seus últimos suspiros iluminava o caminho, mas nunca que algo como escuridão seria capaz de parar alguém cujos olhos amarelos já eram verdadeiros faróis.

Quando chegou no fim das escadas, encontrou uma simples porta de madeira. Abri-la resultou na fraca luz de velas o revelando, um cheiro agridoce de incenso com perfume alcançando seu nariz e gemidos leves a invadir seus ouvidos.

Um quarto sem janelas, a ventilação realizada por um único duto de ar numa das paredes. Uma cama enorme ocupava praticamente o quarto inteiro, esta cheia de mulheres nuas. Impossível dizer se estavam conscientes ou não, umas respiravam pesadamente, outras sequer se mexiam.

Analisou a cena em busca de uma pessoa em específico, chamando ao encontrá-la:

— Será que pode parar por um segundo e me receber de forma apropriada? Chegar até aqui já foi um grande desafio, entende?

Se direcionou a uma das duas mulheres debaixo da fronha. Os gemidos de prazer continuaram por alguns segundos, até serem interrompidos por um tec difícil de saber a origem. Nisto, a moça que sobrou se revelou.

— É uma raridade te ver fora do seu território. Quer algum outro favor, por acaso?

— Assunto rápido. Apenas vim até aqui garantir que ainda estamos de bem um com o outro. Depois que Eduardo foi morto por um Amaldiçoado as coisas ficaram um pouco mais tensas, e, desde a última vez que te vi para cá, ouvi de um dos últimos subordinados dele que a última pessoa com quem ele havia conversado foi você, Carmilla.

Ela se revelou por completo, as partes mais íntimas escondidas por um feixe de luz cuja origem era um mistério absoluto, ainda mais considerando que era um quarto fechado.

Ué~... Contanto que continue me trazendo belas moças, eu não vou ter nada para reclamar com você.

— Entendo, é um alívio ouvir isto. Houve um pequeno imprevisto no Corredor Sagrado, então eu peço que apenas mantenha os efeitos combinados no local que eu mesmo resolvo o resto.

Ele fez uma breve reverência e se virou, pronto para sair tão rápido quanto entrou.

— Ora! Foi realmente bem rápido. Não quer ficar mais um pouco? Eu não me importo de dividir algumas dessas aqui com você. — Passou o olhar ao redor. — Se bem que eu acho que elas já eram...

Cutucou uma das que estava debruçada na beirada da cama, o toque de seu dedos finos na pele flácida da moça em nada resultando. O mesmo valia para a que se remexia debaixo da fronha consigo um segundo atrás.

— Essas aqui duram tão pouco… Você bem que podia me trazer algumas virgens, eu sei que você tá sempre cheio delas. Não é justo ficar com a diversão toda para você!!

Emburrada, bateu as pernas na cama como uma criança mimada. Enquanto isso, as moças ainda vivas rastejavam da cama e dos cantos desta para se aglomerarem nos cantos do quarto como filhotes de pardais assustados, incapazes de fazer algo acerca dos dois gaviões que invadiram o ninho após matarem os pais.

O homem suspirou ante a birra, mas trocando o tom de voz para algo mais respeitoso antes de começar a falar.

— Por mais que eu queira lhe providenciar o melhor, infelizmente eu não posso, preciso do maior número possível de virgens para que meu plano tenha eficiência máxima.

Hum As virgens são especiais por conta de pureza ou algo assim?

— Não exatamente, eu encontrei uns livros antigos e vi que elas eram usadas em rituais com esta premissa, mas nada confirmado, apenas especulações da antiga sociedade humana. Mesmo se esta parte for mentira, ainda vão ser vidas sacrificadas, então no final vai dar certo de qualquer forma. Apenas tenho que tomar cuidado com Amaldiçoados, já que ainda estou estudando os possíveis efeitos que o uso deles pode ter no…

— Tá, tá, já cansei. Vou manter os efeitos no Corredor Sagrado, então me poupe dos seus projetos estranhos. Pode me trazer outras das que estão na fila lá fora? Umas mais novas, de preferência.

— Creio que vi cinco delas na entrada do local, vou mandá-las entrar.

Um yeh~ bastante contente foi ouvido, a mulher incansável pronta para o próximo round de uma sequência já incontável.

A figura enfim conseguiu sair, a expressão de alívio, mas quebrada pelas últimas palavras de Carmilla antes que ele desaparecesse na escuridão.

— Espero que se mantenha no bom caminho, Senhor Papa.

Ao fechar da porta, o ambiente foi novamente dominado pelo cheiro de perfume e incenso. As moças ainda conscientes de imediato enfraqueceram, capazes apenas de ver o par de olhos esmeralda cerrar em suas direções.

— E então… qual de vocês quer ser a próxima?

 

 

 

                                                                                                    

50° Selo: Piromancia

33° Selo: Causa amor ou ódio / Rito de consagração / Transportar de um reino à outro

 


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