Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


72 SEASONS

Capítulo 10: O Incidente da Catedral Secreta I

Ai, ai Cacete, digo, Meu Senhor…

Rag acordou de sua soneca forçada não mais cercado por árvores, mas pelo metal que constituía cada canto do Corredor Sagrado. Apesar de há muito seus olhos carecerem de um verde vivo, nunca ficou tão feliz por estar rodeado deste preto metálico. O odor áspero chegava a ser reconfortante.

Alisou a cabeça, em seguida conferindo a presença de todos os membros de seu corpo. O Disco de Selos ainda intacto, mesmo após tanta pressão dos cipós. Seus ossos estarem — aparentemente — inteiros também era um grande milagre.

"Aquilo era algum tipo de Domínio… Já ouvi falar de vampiros com esse tipo de habilidade, mas foi a primeira vez que vi, ou melhor, que enfrentei uma."

Tinha várias dúvidas, a maioria sem tempo para ganharem respostas, mas ao menos uma delas foi respondida quando olhou ao redor.

Mi-Minha cabeça… Despejada num dos cantos escuros estava o pobre cachorro abandonado em forma de freira. Pelo jeito ela não fazia parte da ilusão do Transformado, a ausência de aura a confirmar mais uma vez que era uma humana normal. Como exatamente ela veio parar aqui que era a questão, e para descobrir, Rag estendeu uma mão amiga.

— Você está bem?

Huh…? Onde eu…! O-O Vampiro!!

— Calma! Já passou! Eu derrotei ele! — Ela vasculhou os arredores, frenética, o corpo recolhido quase em posição fetal. "Ela não se lembra do que aconteceu há pouco?"

Seria uma vantagem, improvável que ela se sentisse confortável em conversar com alguém que lhe deu um tiro.

— Eu sei que deve estar confusa, mas está segura agora. Antes de prosseguir, eu gostaria de saber como veio parar aqui, consegue se lembrar?

Demorou um pouco para que parasse de ofegar, e mesmo quando o fez ainda hesitava. A única coisa que a fez se abrir para o rapaz deve ter sido a falta de outras opções.

— E-Eu... Era para eu encontrar alguém aqui, me disseram para esperar, mas quando me dei conta eu...

"Esperar? Isso não faz sentido."

O Corredor Sagrado, em situações normais, era acessível somente àqueles que subir na hierarquia, sendo que, acima de Arcebispos, os cargos eram ocupados somente por homens. Nenhum tipo de limpeza, mensageiros ou serviço de entrega era permitido dentro do Corredor, então a mera presença da garota no local era algo estranho, ainda mais desacompanhada.

Alguém tê-la chamado ali era uma violação grave das regras, exceto se fosse o pedido de uma pessoa muito específica…

— Quem que lhe chamou até aqui? — perguntou Rag.

Ela pensou por um tempo, vasculhando a bagunça de sua mente em busca de qualquer coisa que pudesse ajudar, nem que fosse apenas um nome.

— Quando e-eu perguntei, disseram que o "Senhor Vloid" requisitava minha ajuda...

"Vloid, é o mesmo nome que o Transformado disse, então..."

Até os Patriarcas, a segunda maior posição na hierarquia da igreja, eram proibidos de levar alguém para o Corredor. A única exceção era quem estava logo acima, a entidade de poder máximo.

"Esse deve ser o nome do novo Papa! Mas por que ele chamaria essa mulher para o Corredor...?"

Ao refletir por um segundo, viu que nem fazia sentido. Provavelmente ela estava sendo guiada pelo Corredor para chegar até o final, e considerando que ainda estava viva e sem ferimentos aparentes, Vloid a queria viva. Quando questionada sobre, respondeu:

— Me disseram que o Senhor Vloid precisava da minha ajuda, especificamente, da minha Maldição.

— Você é uma Amaldiçoada!?

Ela havia dito durante a batalha com a Árvore gigante que não era! Havia sido um julgamento errado! Bem, tudo acabou em felicidades no final, então poderia poupá-la do fato de ter tentado matá-la.

Como tudo nesta vida, isto respondia e criava muitas dúvidas. Felizmente, fosse por medo ou pura vontade de ajudar, ela logo complementou:

— Nã-Não é nenhum tipo de habilidade poderosa, ela serve mais para suporte... Eu consigo melhorar o poder e a eficiência de quem eu beber o sangue, mas eu fico incapaz de me alimentar por três dias quando uso. Eu já sou acostumada com jejum, então não é muito difícil de superar.

Comparada com outras, realmente era bem mais leve, mas ainda era uma Maldição, o que significava o tempo limite de 20 dias.

— Há quanto tempo você está fora do ponto de início?

— Eu fui amaldiçoada em uma das Igrejas da cidade, mas não sei há quanto tempo estou aqui...

Se era assim, não tinha razão para ela demorar nem mais um segundo.

— Escute, se você voltar pelo Corredor, vai chegar num acampamento cheio de pessoas. Procure um homem chamado Russisch e diga que Rag Forge que enviou você. Se disser isso e explicar sua situação, tenho certeza de que ele vai te ajudar a voltar para casa antes da Maldição fazer efeito.

— Ma-Mas e o senhor!? O Corredor deve estar cheio de vampiros!

Se levantou e, com um sorriso de canto, respondeu confiante:

— Não se preocupe, eu sou mais esperto que eles.

Dado que nem se conheciam direito, não reclamaria dela nem pensar em impedi-lo. Além do mais, alguém que ousava enfrentar um caminho repleto de vampiros já era alguém incapaz de ser salvo por terceiros. Rag, pelo menos, carecia de indícios de ter caído em insanidade.

— Você vai ficar bem, tenho certeza disso. Agora vá, eu vou cuidar do resto.

Ela concordou com um aceno de cabeça, indo imediatamente para a porta que havia se revelado após o desvanecer da floresta. De repente, Rag a chamou:

Ah! Antes de ir! Você por acaso não teria… papel e caneta com você?

Por enorme conveniência ela tinha. Forneceu uma caneta com tinta pela metade e um pequeno bloco de notas sem muito questionamento.

Rag, por sua vez, aguardou até que a mulher desaparecesse de vista. Quando esta o fez, ele ainda aguardou alguns segundos, aproveitando a paz para recuperar o fôlego e, só então, mirar a outra porta, oposta àquela usada pela freira.

"Uma Maldição de suporte... Se ela só funciona quando bebe o sangue do outro, então..."

Provavelmente o Papa pretendia transformá-la em vampira no processo. Isto é, considerando apenas a possibilidade do Papa ser um vampiro. Talvez fosse um Amaldiçoado, mas soava bom demais para ser verdade, considerar o pior cenário era o mais sensato a se fazer.

"Sim, se ele realmente é um vampiro, então…"

Começou suas primeiras anotações de imediato. Um inimigo vampírico seria até melhor do que um Amaldiçoado, já que costumam ser menos planejados do que os humanos. No pior dos casos, poderia dar um jeito de expô-lo à luz do sol por tempo suficiente para causar a morte. No melhor dos casos, finalizaria a luta antes mesmo dela começar usando um tiro à longa distância com as balas de Vitamina D.

Se pôs a andar enquanto anotava tudo que passou até o momento junto das informações que reuniu. Passar pela porta apenas lhe revelou mais do mesmo Corredor Sagrado de sempre, uma saída ainda fora de vista, mas não inexistente.

"Vloid… Vloid… Urgh! Eu sinto que já ouvi esse nome, mas não consigo me lembrar onde! Por quê!? É quase como se alguma coisa estivesse me impedindo de lembrar… Hum? Espera, será que…"

Por mais que não gostasse de tê-la ecoando em sua cabeça, a voz do pequeno demônio trouxe palavras crucias.

Aliás, eu sinto uma energia muito estranha neste lugar. Acho que não vai ser possível usar a mesma tática que usou com os Bispos em seja lá o que estiver aqui dentro.

"Ele disse isso bem quando entramos no Corredor. Será que é realmente… Não!"

Pensou de início, soava ridículo demais. Para que isto fosse possível, ou o próprio Corredor seria fruto da habilidade de alguém — como a floresta do Transformado —, ou uma habilidade foi aplicada sobre toda a sua área. Em quesito de comparação, a floresta anterior seria um grão de arroz, enquanto o Corredor em comprimento seria equivalente a uma serpente bem gorda.

Cobrir uma área tão extensa e por tanto tempo, para realizar algo assim só seria possível se fosse…

"Um vampiro extremamente… inteligente."

Ambas as mãos cerraram em punhos, o coração a atuar como a mais potente das bombas e enviando sangue o bastante para quase obrigar o corpo a correr em direção ao fim do túnel.

Refletiu um pouco mais sobre as palavras da freira — percebeu que havia esquecido de perguntar seu nome. Ela era uma Amaldiçoada com poder de amplificar outras habilidades, e depois de conectar alguns pontos em sua mente, finalmente encontrou o encaixe perfeito para este detalhe.

"O 9° Selo havia dito que um ritual enorme está sendo organizado em algum santuário construído recentemente."

Milhões de pessoas seriam sacrificadas no ato, mas o demônio do 9° Selo realizou o cálculo considerando a presença da habilidade da freira? Provavelmente não, ele era incapaz de prever o futuro. Em outras palavras, a capacidade de sacrifício dita por ele considerava somente o poder atual daquele que iria realizar o ritual.

"Se a garota fosse usada, o quanto de La Serva seria atingida?"

Se o Norte (localização atual) e o Oeste, a terra de Vast Los Filho, já eram alvos definidos, então a amplificação alcançaria La Serva por inteira! Quem sabe até ultrapassasse os limites do território!

Esqueça genocídio, ISTO SERIA UMA EXTINÇÃO EM MASSA!

Puta que O Cardeal inspirou fundo, bem devagar. Meu Senhor Quem quer que fosse, deveria ter chegado ao fundo do poço da própria sanidade e começado a cavar um buraco com as próprias mãos. Independente de seus motivos, não fazia sentido.

Fosse humano ou vampiro, do que adiantaria? Seus planos não deveriam ser de simplesmente dominar La Serva, visto que a vida de quem seriam seus súditos pouco importava. Se fosse um vampiro sedento por sangue, morreria de fome no longo prazo. Nada se encaixava! Na verdade, tentar entender os motivos por trás de uma ação destas já era loucura por si só.

"É melhor eu apertar o passo. Não importa quem seja, mesmo que a freira não vá mais ser usada, o Norte e o Oeste vão ser dizimados se esse ritual for realizado!"

Agora com passadas tão largas que quase fazia um espacate, cobriu uma certa distância até inevitavelmente se perder em pensamento outra vez.

"O quanto eu poderia me preparar? Talvez eu deva fazer planos aqui mesmo! Não, o fim do Corredor não está perto, e também não tenho noção de quanto tempo se passou desde que saí de casa. Mas, se eu estiver despreparado, eu…"

— RAG, ESTÁ OUVINDO!?

Teve um sobressalto devido aos gritos. Diante de si estava uma figura masculina mais ou menos de sua idade, usando uma batina branca isenta de detalhes.

Os olhos negros vagaram dos pés à cabeça de Rag enquanto uma das mãos ajeitava o cabelo lambido. Vistoria feita, ele perguntou:

— Espera, não me diz que essa é a sua roupa nova!

Olhou para baixo numa autoanálise. Sua batina preta com detalhes dourados e estrategicamente estampada com círculos mágicos era tão estranha assim? Rag arqueou uma sobrancelha, confuso.

— Qual o problema? Eu disse que arrumaria uma roupa nova, não? Foi uma ordem direta dos Cardeais.

— Isso eu sei, mas precisava virar um ritual ambulante?

Rag resmungou, inquieto, analisando os arredores.

Um corredor largo e de teto alto. Pilares brancos enfileirados sustentavam a estrutura de mármore através de densos arcos decorados com imagens de figuras sagradas. À direita, uma porta dupla de cobre encerado equivalente ao ambiente em tamanho. Sobressaia-se nela a figura de um grande olho com a Torre ao fundo.

— Eles chamaram apenas nós três? — perguntou Rag.

— Parece que sim. Ela já está lá dentro, eu que fiquei aqui para te esperar.

Fitou a enorme porta por um breve momento, vagando rapidamente para o Livro de Selos que sempre carregava consigo. Com o cerrar dos punhos, respondeu:

— Certo! Vamos imediatamente!

A porta se abriu, e o jovem Cardeal foi então arrastado para algum lugar… no tempo? Rag de alguma forma não percebeu a repentina mudança de ambiente, agora à mercê de seja lá o que lhe trouxe para o ambiente cruelmente familiar.

 

 

 


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