Volume 1
Prólogo I
No meio do Oceano Pacífico, uma nova nação se desenvolveu: Elysium. Apesar de tão jovem, em pouco tempo alcançou o título de país de primeiro mundo.
Composto por seis regiões, nomeadas — assim como o país — por elementos inspirados pelo submundo da mitologia grega, Elysium contava com uma população que se originava de todos os cantos do mundo.
Embora o país não fosse muito extenso em área, suas regiões se destacavam uma das outras; tanto pelo desenvolvimento econômico e social, quanto pela personalidade e estilo de vida de seus habitantes.
Regiões como Perséfone, Minos e Radamanthys, que eram predominantemente urbanas, se diferenciavam em qualidade de vida dos habitantes, segurança e tecnologia.
Regiões suburbanas como Aiacos e Pandora eram ainda mais diferentes entre si: Aiacos sendo uma área cheia de pontos de preservação da natureza e parques, enquanto Pandora era uma região de montanhas e belas casas, teatros e uma arquitetura única, em monumentos artísticos.
No interior do país estava a região de Nyx, a menor e menos populosa região, contando apenas com duas cidades, uma grande área rural e um desenvolvimento tecnológico não muito presente na vida da população.
A cidade de Hypnos era uma cidadezinha interiorana localizada em Nyx. Conhecida por ser tranquila e pacata, ficava distante da capital, Perséfone, e possuía áreas de cultivo de frutas e vegetais como a principal fonte de renda da população.
Próximo a uma das muitas áreas de cultivo, um rapaz caminhava solitário pela estrada de terra. O jovem observava a região, com os olhos pesados e passos acelerados; seus cabelos negros bagunçavam-se com o vento frio da noite. Por algum motivo, isso fazia seus lábios se curvarem em um sorriso.
O garoto tirou do bolso de sua calça um celular, verificou a tela de bloqueio e viu que era 1:45 AM. Após um bocejo seguido de uma careta, guardou novamente o telefone e continuou a caminhar com passos cada vez mais apressados.
Ele claramente não combinava com o cenário ao seu redor. As roupas de grife que usava não foram feitas para andar na terra, e mesmo sua postura em muito se diferenciava da dos moradores daquela região.
O adolescente refletia sobre sua situação atual quando, ao longe, ouviu gritos de desespero.
Os passos apressados logo se transformaram em uma corrida veloz até a fonte desses gritos. Com uma velocidade espantosa, o rapaz chegou a uma área afastada em uma fazenda: lá encontrou uma casa na árvore.
— Uma zona espiritual tão fraca que deixa o som escapar? — comentou o jovem, seus olhos fitavam a névoa escura a sua frente. — Tanto faz…
Sem vacilar, adentrou aquele ambiente sombrio. A única mudança perceptível foi a queda na temperatura, fazendo-o sorrir novamente.
Observou o local e constatou que, com exceção da queda de temperatura e da fraca neblina escura que flutuava por ali, não havia nada de anormal. Claro, considerando o cenário, o garoto sabia que para pessoas comuns, ver quatro seres demoníacos — que muito se pareciam com cães — latindo para uma casa de madeira no topo de uma grande árvore não era normal.
— Não vejo sangue em lugar algum; parece que não houve vítimas ainda. — Soltando um breve suspiro, o rapaz relaxou um pouco os ombros.
As criaturas mudaram rapidamente seu foco da casa na árvore para o jovem de pé atrás delas. Os olhares sanguinários percorriam todo o corpo do garoto.
As presas estavam encharcadas com a saliva que escorria, e suas garras pontudas arranhavam o chão em antecipação. Aqueles monstros já haviam decidido seu novo alvo.
— Vamos acabar logo com isso — vocalizou enquanto corria em direção aos monstros.
As monstruosidades avançaram em resposta. Uma das feras saltou em linha reta, tentando morder o pescoço do rapaz. Um segundo vinha logo atrás, visando o braço esquerdo.
Os dois restantes demoraram um pouco mais, mas também atacaram, cada um buscando uma perna.
A força que aqueles seres usaram para se impulsionar deixou marcas profundas no chão. Com tamanha velocidade e força, não havia dúvidas de que a intenção deles era matar rapidamente.
A distância foi coberta em um instante, e nenhum humano comum seria capaz de desviar naquele momento.
Mas o garoto não era um humano comum.
Ele desviou de cada um dos ataques, com movimentos simples e tranquilos, passando pelos quatro sem nenhum esforço.
— Um rank D… Eu realmente não precisava estar aqui… — disse o rapaz, olhando para as criaturas por cima do ombro.
“Isso tudo é uma perda de tempo. Aquela mulher demônio me paga”, pensou ele.
Se seu semblante com as sobrancelhas franzidas não fosse um sinal claro o suficiente, o aperto em seus punhos com certeza era. O jovem estava realmente irritado.
Um dos monstros avançou sozinho contra o garoto. Em um salto imponente, a criatura mirava novamente o pescoço de seu alvo, com a boca aberta exibindo seus dentes dilacerantes. O ser estava determinado em matá-lo com um único golpe.
O jovem respondeu com um soco reto de direita. Seu punho acertou diretamente na boca, alcançando até a garganta da criatura.
Antes que o monstro conseguisse fechar a mandíbula e esmagar o braço dele, uma luz vermelha brilhante pôde ser vista surgir do interior da criatura. O brilho se intensificou e rapidamente envolveu o corpo da besta em chamas escaldantes.
Uma poderosa explosão de chamas irrompeu do corpo do ser demoníaco, o consumindo rapidamente pelas labaredas incandescentes.
A monstruosidade se desfez em cinzas, e de seu interior um pequeno cristal vermelho — do tamanho de uma azeitona — caiu no chão.
— Eu estava certo, esses Oniros são simples ranks D — o adolescente murmurou ao ver o tamanho da pedra cor de sangue.
Para aqueles como o rapaz, enfrentar esses seres conhecidos como Oniros era algo comum.
Este país, Elysium, sempre foi assolado pelos ataques dessas misteriosas criaturas espirituais; os Oniros se esbaldavam se alimentando, tanto dos sentimentos negativos das pessoas quanto de sua carne.
Por esse motivo — nos bastidores — Elysium contava com duas grandes organizações de magos para proteger sua população: os Guardiões Espirituais, subordinados à misteriosa família Anemesis; e a World Order of Magic (WOM).
E esse jovem era integrante de uma dessas duas organizações.
Brendan Luster é o único herdeiro da família Luster, uma das três famílias de Guardiões Espirituais.
Os Guardiões Espirituais são a mais antiga e influente organização de magos em Elysium, estando presentes desde o nascimento do país. Os magos que carregam esse título, bem como as famílias subordinadas a eles, são considerados da mais alta nobreza.
Claro, no caso da família Luster há algumas controvérsias.
Mas independente de tudo isso, um Guardião Espiritual, ainda mais um herdeiro, não deveria precisar perder seu tempo com Oniros de ranks tão baixos.
— Reclamar agora não mudará nada, então… Bom, vamos acabar logo com isso. — Brendan percebeu que os Oniros recuaram alguns passos. — Olha, até que para seres tão fracos, vocês têm algum senso de perigo.
Em um instante, os pés do Luster cobriram a distância até o Oniros mais distante dos três.
Seu braço esquerdo se iluminou com linhas brancas e, em um movimento rápido, o garoto esmagou o crânio da criatura no solo com um soco poderoso.
O grito de dor do Oniros desapareceu junto às suas cinzas misturadas à poeira que se desprendeu do solo com o ataque.
Enquanto o cristal vermelho da criatura caía ao chão, o outro Oniros — que estava mais próximo — avançou contra Brendan.
Da estranha cauda do Oniros, três tentáculos foram liberados em direção ao rapaz. A arma grotesca se debatia sem um padrão definido enquanto se aproximava de Brendan.
“Talvez eu tenha os subestimado; mesmo com um rank baixo como esse, eles são capazes de usar uma habilidade ofensiva tão destrutiva”, Brendan refletiu enquanto desviava com cautela dos ataques.
O Luster estava tão concentrado em desviar dos golpes que não percebeu o outro Oniros preparando seu próprio ataque.
O segundo monstro disparou uma onda de choque de sua boca.
A técnica acertou a lateral esquerda de Brendan, fazendo com que ele fosse atingido pelos ataques do Oniros dos tentáculos.
O rapaz grunhiu de dor a cada chicotada sofrida. Os golpes dos tentáculos eram quase aleatórios e imprecisos.
Embora a aleatoriedade dificultasse o bloqueio, a falta de precisão também impedia que algum ponto vital fosse atingido.
O garoto rapidamente respondeu. Ele segurou um dos tentáculos com sua mão esquerda e, plantando os pés no chão, fez seu braço se iluminar novamente.
Em seguida, usou o tentáculo para arremessar o Oniros contra o outro mais distante.
As criaturas se chocaram violentamente e caíram juntas no chão. A força do arremesso foi capaz de desnortear momentaneamente os Oniros, os deixando atordoados e vulneráveis.
“A dor causada pelos tentáculos e pela onda de choque ainda incomoda, mas os golpes não foram grandes coisas; não foram capazes sequer de rasgar minhas roupas… Bom, são ranks D por um motivo”, pensou o jovem enquanto analisava o estado de suas roupas após o ataque das criaturas.
— Eu genuinamente não precisaria subir o nível contra vocês — disse Brendan em um tom de superioridade.
Após uma breve olhada na direção da casa na árvore, ele continuou:
— Mas eu realmente quero ir dormir logo e quanto menos dor de cabeça, melhor.
Ele caminhava calmamente até os dois Oniros que, por sua vez, liberaram seus tentáculos em uma tentativa de intimidar o herdeiro da família Luster.
Ao perceberem que não conseguiriam intimidar o humano à sua frente, os Oniros reuniam mana do ambiente em suas bocas; suas bochechas inflavam com o conteúdo se juntando.
O poder crescia rapidamente e o ar era sugado para a posição das criaturas.
Brendan parou em seu caminho quando os Oniros dispararam as ondas de choque com uma intensidade muito maior que a que o garoto tinha recebido anteriormente.
O jovem Luster logo percebeu que aquela era a última tentativa daqueles seres em derrotá-lo.
Uma grande nuvem de poeira se levantava do solo com o impacto do ataque. Devido à obstrução causada pela nuvem — sendo uma noite sem lua e em um ambiente infestado pela neblina escura proveniente da zona espiritual —, a figura do adolescente não podia ser vista.
A nuvem de poeira começava a se dissipar, enquanto uma luz vermelha flamejante brilhava de seu interior.
A luz se intensificava e, abruptamente, dissipou completamente a nuvem, revelando Brendan de pé, acima de um círculo mágico de cor vermelho-fogo no chão.
— Não que vocês me entendam, mas a única razão que me fez ser atingido da primeira vez foi o fator surpresa — disse Brendan.
Enquanto linhas brancas brilhantes se apagavam de seus braços e pernas, ele continuou:
— Uma simples técnica de fortificação é o suficiente para resistir aos seus ataques.
Os Oniros se lançaram contra Brendan, talvez em uma tentativa ainda mais desesperada ou por causa da falta de racionalidade das criaturas. Seja como for, o Luster entoava um cântico:
— Oh, grandiosa Bastet, que o brilho do sol ilumine o meu caminho para a vitória. — Terminou o cântico, e o brilho flamejante misturou-se ao calor das chamas que dançavam ao seu redor.
De sua boca, Brendan cuspiu pequenas esferas de fogo em suas mãos. Ele as arremessou enquanto pronunciava o nome daquela técnica: — Perseguição de Presas Felinas!
As esferas incandescentes se chocaram com o corpo das criaturas.
— Queime! — ordenou Brendan.
Ao proferir a ordem, as esferas explodiram em chamas que rapidamente consumiram o corpo dos dois Oniros.
A carne das monstruosidades crepitava com o calor escaldante, enquanto a pele derretia rapidamente.
Os gritos de dor e sofrimento eram melancólicos e tristes.
Os dois cristais espirituais dos Oniros caíam ao chão enquanto a névoa escura começava a se dissipar. Naquele instante, o Luster sabia que tudo já tinha acabado.
— Agora só falta verificar se está tudo bem com o pessoal na casa na árvore — dizia Brendan, guardando os quatro cristais no bolso da calça.
Após certificar-se de que a zona espiritual havia se dissipado, o garoto subiu as escadas até a casa na árvore.