Soul Eye Brasileira

Autor(a): ReaderBecameWriter

Revisão: Delongas


Volume 4

Capítulo 257: Lealdade conquistada

Raven olhou fixamente para o menino que parecia não ter mais que dezesseis anos na sua frente. Suas palavras anteriores o deixaram tão atordoado que ele nem sabia o que dizer.

Aprovado? Na Blank? O que isso significa?

Todos em volta eram poderosos cultivadores de Sistema de Energia, havia mais de trezentos deles, e por isso todos ouviram tudo facilmente. Ao ouvir ele falar tanto sobre o homem sentado na cadeira, todos pensaram que o menino tinha pesquisado a vida desse homem em específico por trás das cortinas, ou feito um acordo com ele, para vir aqui fazer um show.

A pergunta que ficava na cabeça de todos, no entanto, era: O que é a Blank?

Não é difícil de entender que é alguma espécie de organização, e se esse menino, que é o discípulo daquele homem poderoso, estava recrutando, isso significa que todos ali presentes eram “candidatos”?

O arrogante da situação era o fato de que a opinião deles nunca foi perguntada, ele parecia forçar essa decisão em todos os presentes.

‘Vocês não têm escolha a não ser esperar o meu julgamento se são ou não dignos de entrar na Blank.’

Embora todos entendessem suas atuais situações, muitos ficaram extremamente revoltados. Alguns eram leais as suas organizações e outros por orgulho. A parte que não ficou revoltada foram as pessoas que ainda queriam observar a situação para entender melhor o que estava acontecendo, e os que não acharam ruim se juntar a uma organização que tem um homem tão poderoso por trás.

Só que, mesmo os revoltados, não fizeram nada, nem falaram nada, e simplesmente permaneceram em silêncio. Todos são pessoas inteligentes, e queriam avaliar melhor a situação antes de fazer qualquer coisa.

Quanto ao homem sentado na cadeira, que já tinha a etiqueta de traidor na cabeça de todos os seus ‘companheiros’, ele se acalmou e perguntou lentamente:

“O que é a Blank?”

O menino deu um pequeno sorriso, mostrando pela primeira vez emoções em seu rosto até agora indiferente, e disse:

“É a organização que criei para cumprir meus objetivos.”

Todos ficaram em silêncio. O menino então se levantou, olhou para todos os presentes e disse:

“Vocês não têm escolha sobre isso. Ou vocês entram na Blank com a minha aprovação, ou eu vou aleijar o cultivo de todos os presentes.”

Ao ouvir os planos do menino para eles, uma mulher não conseguiu mais ficar calada e gritou:

“Por que devíamos ouvir você? Se todos corrermos agora, quantos você conseguirá pegar?”

O menino nem piscou ao ouvir isso. De repente, todos os presentes sentiram uma pressão em suas mentes, e seus corpos começaram a tremer e suar frio.

“Vocês não podem fugir de mim, desistam.”

O menino disse com absoluta indiferença, e se sentou em sua cadeira. Mesmo assim, a mulher que tinha gritado antes, disse com os dentes cerrados:

“É muito mais fraco do que seu mestre. Se fosse ele, não sentiríamos apenas medo, nós simplesmente ficaríamos congelados.”

Ao ouvir isso, o menino sorriu um pouco e falou:

“Quer me comparar ao meu mestre? Engraçado. Bom, mesmo que seja mais fraco que o meu mestre, vocês conseguem manipular a energia natural armazenada em seus corpos? Não. Vocês conseguem mover seus corpos direito? Não. Só isso é mais que suficiente para eu assassinar todos os presentes em poucos minutos, não acha?”

A mulher ficou em silêncio ao ouvir isso. Desde que a pressão caiu sobre sua mente, ela esteve tentando mover a energia natural em seu corpo, mas não conseguiu. Ela tentou fugir, mas também não conseguiu, suas pernas estavam tremendo demais para sequer dar um único passo.

Algumas pessoas até mesmo simplesmente se ajoelharam, já que a pressão era grande demais.

O menino manteve a pressão sobre todos os presentes, menos em Raven, que estava observando tudo em completo choque.

‘Até esse menino é tão poderoso? O que será essa pressão poderosa que nos impede de até mesmo pensar direito? Parece impossível de se defender disso.’

Raven então olhou para o menino profundamente e se abaixou em um joelho. Com a mão no peito, e a cabeça abaixada, ele disse:

“Raven se apresenta perante o Jovem Mestre e jura sua completa lealdade até o fim de minha vida.”

O menino assentiu lentamente em direção a Raven, e disse:

“Você fez a escolha certa.”

Quando o menino viu que Raven planejava falar alguma coisa, ele o parou com uma mão e disse:

“Não precisa se preocupar em ser mal interpretado por mim. Eu sei o motivo de você jurar lealdade a mim, e eu sei que não é do tipo de quebrar suas palavras. Não precisa falar mais nada.”

Ao ouvir isso, Raven lentamente assentiu com a cabeça e se moveu para ficar atrás de Baijian.

O motivo da lealdade de Raven não tem nada a ver com medo de ser aleijado, ou por medo de sua vida acabar ali se desobedecê-lo. Sua lealdade era sincera.

Raven, quando era pequeno, vivia numa cidade pobre da França com sua mãe. Suas memórias de infância eram difusas, mas havia uma coisa que ele sabia: sua mãe o odiava tremendamente, ela nunca quis que ele nascesse, e por serem pobres, ela tentou matá-lo já que não tinha mais dinheiro para dar comida a ele.

O motivo do seu ódio em direção ao seu próprio filho é o seu pai, que aparentemente a enganou, e fugiu com seu dinheiro. Deixando a ela apenas uma pequena casa velha, e uma barriga com um filho.

No começo, ela cuidou dele direitinho, embora se ressentisse por dentro. Os anos foram passando, o estresse dela, e a visão de um futuro sem esperanças a deixaram louca. Ela parou de nutrir qualquer sentimento por seu filho, e na verdade começou a odiá-lo.

Raven se lembrava das tentativas dela de matá-lo algumas vezes, nunca conseguindo. Um dia, Raven, já entendendo tudo, se defendeu de sua mãe quando ela tentou matá-lo. Ele não sabia se naquele dia ela conseguiria, mas o medo de morrer o fez finalmente se revoltar contra sua mãe a quem ele tanto temia.

Ele usou um cinzeiro para bater na cabeça dela várias e várias vezes, e fugiu de casa. Ele pensou que ela havia morrido, tanto é que nunca voltou para aquela casa depois disso.

Três anos depois, no entanto, o menino Raven, agora com doze anos, foi a um hospital a trabalho. Sem a mãe, ele precisou trabalhar para sobreviver sozinho. Ele fazia trabalhos pequenos como limpar ruas ou casas, consertar coisas, ou fazer compras.

Naquele dia, ele ia entregar um buquê de flores com frutas para uma pessoa no hospital, e sem querer encontrou sua mãe deitada numa cama de hospital. Quando a viu, é como se um fardo enorme tivesse saído de seu corpo. Ele chorou, e chorou, e chorou... Ele simplesmente estava feliz por ela estar viva, feliz por não ser o assassino de sua mãe.

Ele não entendia como ela podia estar viva, nem por que estava no hospital, mas desde então ele foi todo dia ao hospital visitá-la. Meses depois, ele descobriu que a pessoa que a mantinha viva era o pai dela, que supostamente devia estar morto.

Os dois se encontraram, e ele passou a cuidar de Raven. Por anos, no entanto, Raven se manteve calado sobre o que tinha feito com a própria mãe. Os anos passaram, e finalmente seu avô morreu, deixando pra trás uma pequena fortuna para ele viver e cuidar de sua mãe.

No final, por uma reviravolta do destino, ele se tornou um cultivador aos quinze anos, se juntou a muitas pequenas organizações, até finalmente acabar na Ratatosk. Ele sempre esteve cuidando de sua mãe, e era como o menino tinha dito.

Ele vivia numa contradição entre querer ou não querer que ela acordasse. Por um lado, ela tentou matá-lo, por outro lado, ela era sua mãe. Por mais que ela o odiasse, foi a mulher que deu vida a ele, e isso é mais que suficiente para perdoá-la.

Afinal, agora, ela era só uma mulher frágil deitada numa cama de hospital. Ela não tinha mais como matá-lo, nem machucá-lo, ele já era um homem adulto.

Por causa de sua história, Raven sempre teve problemas para confiar nas pessoas. Como ele pode confiar em alguém, se a pessoa que ele devia mais confiar o traiu? Sua própria mãe, a única pessoa que ele podia depender no mundo naquela época, o tentou matar...

Ele teve muitas namoradas, muitos amigos, mas nunca conseguiu confiar verdadeiramente em nenhum deles.

Esse era Raven, um homem sem nada, sem princípios, sem sonhos, sem objetivos. Só vivendo uma vida sem valor. No fundo, ele sempre odiou a si mesmo. Aquele dia o assombrava até hoje.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11...

É o número de vezes que ele martelou a cabeça da própria mãe com um cinzeiro. Onze vezes. Os sons do cinzeiro batendo na cabeça dela o acordava de madrugada até hoje.

‘Eu não precisava bater tanto nela. Se eu quisesse simplesmente me proteger, a primeira vez era mais que suficiente. Depois do primeiro golpe, todo o resto foi por pura raiva e ódio.’

Ele sempre pensou assim, se odiando o tempo inteiro, impedindo-o de confiar nos outros, e cortando qualquer felicidade no seu futuro. Viver uma vida sem ter qualquer esperança de felicidade sempre o manteve em cheque.

‘Se estou vivo, vou viver.’

Eram as palavras que o mantinham vivo, ele havia ouvido de algum filme.

Finalmente, hoje chegou. Ele encontrou um menino estranho. O menino parecia poder ver dentro de sua alma, enxergar cada centímetro dele. Seus sentimentos, seus medos, seus arrependimentos... Raven se sentia nu perante o menino, sem poder esconder nada.

No começo, ele sentiu um medo que nunca sentiu antes. Mesmo quando estava em situações de vida ou morte, ele se sentia ansioso, mas nunca com medo. Embora prezasse por sua vida, ele sempre se colocava na borda da lâmina, acreditando que de alguma forma sairia vivo. Sempre com o pensamento de ‘Vou sobreviver, mas se não conseguir, tudo bem também’.

Um homem sem medo da morte sentia tanto medo de saberem sobre si...

Mas tudo mudou quando encontrou os olhos do menino. É normal as pessoas mostrarem expressões de desgosto ou raiva quando não gostam de algo, ou mostrar expressões de felicidade quando gostam de algo.

Quando o menino olhou em seus olhos, no entanto, não havia qualquer sentimento. Ele não sentia desgosto ao falar sobre seu passado, ou apreciação. Ele não odiava, nem gostava. Ele o julgou de forma imparcial, com olhos puros e objetivos. Seus olhos pareciam dizer ‘Quem é você?’.

A sinceridade desse olhar moveu Raven tão tremendamente que todo o seu medo se foi, e ele finalmente conseguiu encontrar os olhos do menino sem medo. Ele não sentia vergonha de seu passado, ou de quem era, só tinha um sentimento:

‘Esse sou eu, com todos os meus defeitos e qualidades.’

Naquele momento, Raven sabia, que venerava esse menino do fundo do seu coração. Ele sentia que esse menino era especial, alguém capaz de fazer qualquer coisa.

O sentimento se tornou cada vez maior, até ele finalmente perceber o que tinha que fazer.

‘Eu vou segui-lo. Quero entendê-lo. Quero ver o que ele vê com aqueles olhos, e saber o que ele fará. Que decisões ele vai tomar?’



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