Soul Eye Brasileira

Autor(a): ReaderBecameWriter

Revisão: Delongas


Volume 4

Capítulo 256: Entrevista

“Eu sabia que por causa dos cultivadores, muitos pontos da história foram manipulados, mas não sabia que era nesse nível. Uma família inteira influenciando uma nação?”

Natasha assentiu lentamente com a cabeça:

“Isso na verdade só aconteceu uma vez. Embora as grandes famílias se envolvam frequentemente em praticamente todos os países do mundo, eles nunca controlaram um país diretamente assim antes.”

“Naquela época, por causa da mudança, o Japão aparentemente ficou com medo, já que as onze famílias sempre permaneceram em solo chinês.”

“Quando uma grande família de repente se muda para o seu quintal, é normal ficar com medo. No começo, a Família Su não tinha nenhum interesse real no Japão, mas como o Japão continuou os hostilizando, isso mudou. O líder daquela época tinha um temperamento ruim, e por isso, no meio da briga entre esses dois, o Japão acabou caindo na mão da Família Su por algum motivo que ninguém sabe até hoje.”

“Afinal, o Japão é um Império, como que a família Su conseguiu controle de um Império? Ninguém nunca soube.”

“Bom, no final aconteceu como os livros de história descrevem. As duas bombas explodiram a cidade, mataram dezenas de milhares, e o Japão foi colocado de joelhos perante os Estados Unidos.”

“E, claro, a parte mais importante, o motivo de eu estar contando tudo disso: as duas bases da Família Su foram as únicas coisas intactas deixadas pelas bombas.”

Embora Sasha tenha entendido tudo, ela perguntou algo de repente:

“Mas isso não deixou um mal gosto na boca da Família Su não? Não parece o modo com que as arrogantes onze famílias geralmente agem. O fato de terem permanecidos ilesos é uma coisa, mas no final, o Japão, o país que eles estavam usando, se rendeu aos Estados Unidos. Isso com certeza deveria ter ferido o orgulho de uma família tão poderosa.”

Natasha de repente riu ao ouvir isso e falou:

“Você entende bem as onze famílias, Sasha, fico feliz.”

“Claro que isso não foi o fim, mas não temos muito tempo pra isso, a história é longa. Depois eu termino de te contar.”

Mesmo enquanto falava com Sasha, Natasha manteve o tempo inteiro o olho no seu relógio, e nos arredores. Ela sabia que, a qualquer momento, o míssil iria aparecer no céu e explodir o lugar todo.

“Tia, sobre o que vocês estavam falando antes então... Pelo que deduzi, vocês estavam falando de uma formação que impede o voo, certo?”

Natasha assentiu com a cabeça enquanto respondia com uma expressão tensa:

“Ah é, nós fugimos um pouco do assunto, né? Dentre as formações, além da formação de proteção, existem algumas outras que são úteis. Uma delas é uma formação que nunca foi necessária antes, mas que é conhecida por ser uma das mais mortíferas: Selo do Céu.”

“É uma formação que, quando colocada em uma área, sela completamente o céu daquela área. Cultivadores de Centralização de Energia não podem voar dentro da área de efeito dessa formação.”

“Ela quase nunca foi usada, já que nunca houve cultivadores de Centralização de Energia antes, mas essa formação é bem conhecida por causa de sua importância. Por séculos, as onze famílias tentaram criar cultivadores de Centralização de Energia, e nunca conseguiram. Como cada um dos onze legados tem essa mesma formação, a informação sobre ela foi muito difundida.”

“É meio que um aviso das doze famílias: ‘Se outras organizações criarem um cultivador de Centralização de Energia, fiquem sabendo que nós temos formas de lidar com eles’... Algo nesse sentido. Para um cultivador de Centralização de Energia, é bem mortal não poder voar, já que um dos seus maiores poderes é justamente esse.”

“Embora isso por si só não dá uma vantagem absoluta sobre cultivadores nesse nível, com essa formação , as doze famílias tem formas de lidar com esses tipos de cultivadores, entende? Mesmo que a diferença de poder seja muito grande, táticas de guerrilha são muito efetivas, mesmo contra cultivadores de Centralização de Energia como eu.”

Nesse momento, Sasha também olhou seu relógio, e faltava menos de um minuto para o míssil explodir tudo. Com o fim do assunto, todos mantiveram o silêncio e se concentraram ao máximo para analisar a situação. O plano era usar o momento quando os inimigos entrassem em pânico com a súbita explosão do míssil para fugir.

E o tempo passou, cada segundo era angustiante para os que esperavam, mas logo o tempo veio, o tempo passou, e nada do míssil.

Nesse momento, Natasha e Bliss já tinham começado a entrar em pânico. Onde estava o míssil? Aconteceu alguma coisa? Se o míssil não cair, as já pequenas chances deles sobreviverem desaparecerão.

Quando se passaram cinco minutos do horário prometido, eles já estavam em completo desespero, sabendo que iam morrer. Foi nesse momento que, no horizonte, uma enorme massa de terra de repente apareceu sobrevoando o céu.

Natasha e os outros estavam olhando nessa direção, e conseguiram pegar a visão. No segundo seguinte, porém, a massa de terra brilhou e desapareceu.

“Aquela era a fortaleza? Os tais escudos que a escondem falharam por um segundo? Por que ela apareceu e desapareceu? O que foi aquele brilho?”

Bliss, que estava ansioso demais para pensar direito, começou a falar o que estava na sua cabeça, que também eram perguntas presentes na cabeça dos outros.

Dois minutos depois, algo estranho aconteceu. Os cultivadores das doze famílias que estavam no epicentro da explosão começaram a ir embora. Natasha e os outros viram isso acontecer em choque. Alguns até mesmo olharam para eles antes de irem embora sem fazer nada.

Natasha também observou que os cultivadores que estavam fazendo o cerco lentamente recuaram. Confusa, Natasha deu voz a suas dúvidas:

“O míssil não apareceu, a fortaleza apareceu por um segundo no meio do ar antes de desaparecer e os cultivadores das doze famílias recuaram sem lidar conosco... O que está acontecendo aqui?”

O resto ficou em silêncio se fazendo as mesmas perguntas. De repente, o celular de Natasha começou a vibrar, e a voz de um homem soou:

“Natasha, vá até o ponto do impacto do míssil investigar o que aconteceu. Nossos equipamentos foram todos destruídos, preciso saber o que aconteceu lá.”

Natasha rapidamente respondeu:

“Mas e se eles tiverem recuado por saberem sobre o míssil?”

Kartis respondeu com uma voz firme:

“O míssil já era pra ter caído, não vai cair mais. Não se preocupe, e vá fazer seu trabalho. Você não é a líder da divisão de espionagem?”

Natasha apertou os dentes, fez um som de concordância, e desligou a chamada.

***

Alguns minutos passaram desde que os cultivadores das doze famílias foram embora, e a tensão no ar era tangível. De repente, o celular do homem mascarado tocou, e ele atendeu:

“Está chegando? Vou deixar a situação aqui para você.”

Ele então desligou e dirigiu sua atenção para todos os presentes:

“Em breve, meu discípulo vai chegar dentro de um helicóptero. Escutem aos arranjos dele. Se ele mandar vocês pularem, vocês pulam, entenderam?”

Sem escutar a resposta, o homem mascarado pulou no céu e desapareceu no ar. Todos ficaram em silêncio, e ninguém teve qualquer ideia de sair dali. A força daquele homem era grande o suficiente para matar mais de vinte cultivadores de Centralização de Energia sem qualquer dificuldade, ninguém queria apostar pra saber o quão mais forte ele era.

Alguns minutos depois, um helicóptero sobrevoou o céu. O helicóptero circulou um pouco, e lentamente desceu em um lugar plano. De dentro do helicóptero, um menino saiu lentamente.

Ele tinha cabelos pretos curtos, um corpo magro, mas que exalava poder, olhos azuis profundos, e uma expressão completamente indiferente. Tudo sob seu olhar parecia insignificante. Ele olhou para todos os presentes, e disse:

“Façam fila, vou entrevistá-los.”

Todos ficaram confusos, mas eles viram, incrivelmente, o motorista saindo do helicóptero com uma mesa e duas cadeiras. Se sentando em uma das cadeiras, o menino apontou para alguém aleatoriamente e disse:

“Sente-se.”

Ninguém fez fila, já que a situação era estranha demais, mas o homem apontado pelo menino rapidamente se aproximou e se sentou na cadeira se sentindo desconfortável.

“Nome?”

O homem começou a suar frio ao ouvir as palavras do menino, e hesitou. Os olhos do menino brilharam, e ele disse em voz alta:

“Se vocês demorarem tanto pra responder, isso vai demorar demais. Quando eu perguntar, respondam rapidamente. E não se atrevam a mentir, eu saberei na hora se alguém mentir.”

O homem sentado à mesa quase gritou ao escutar essas palavras:

“Meu nome é Raven.”

O menino assentiu lentamente com a cabeça, e depois de alguns segundos, disse:

“1,76m. 73 kg. Cultivador de Sistema de Energia de Estágio Intermediário. Teme o forte, maltrata o fraco. Tem medo de ficar sozinho, embora não confie facilmente nas pessoas. Não pode amar ninguém, embora não tenha problema em dizer as palavras ‘Eu te amo’, quando diz, sabe que é mentira, mas quer acreditar que é verdade. Quando menor, algum evento envolvendo sua mãe lhe deixou um trauma muito forte... Ela tentou te matar? Você se defendeu, e ela acabou morta... Não, ela está em coma.”

“Embora você pague as contas do hospital pontualmente com o dinheiro que ganha trabalhando pra Ratatosk, bem no fundo pensa todo dia que queria que ela morresse logo, ao mesmo tempo em que espera encontrar forças um dia para perdoá-la.”

“Seu maior medo é que um dia ela acorde, e tente te matar novamente. Com suas habilidades atuais, você não hesitará em matá-la, e embora no fundo espere que esse dia aconteça, você sente medo de que isso vá mudar o atual você... Você tem medo de mudanças.”

“Seu trabalho na Ratatosk é puramente negócio. Embora sempre aposte sua vida nas operações da organização, não pensaria duas vezes em virar as costas para os tais ‘companheiros’ que você passou anos junto se conseguir melhores condições.”

À medida que ouvia as palavras do menino, o coração de Rave se tornou caótico. Cada palavra fazia com que mais suor frio escorresse de seu corpo. Ele se sentia completamente nu. O menino parecia saber coisas que ele sabe, coisas que nem ele sabe, e coisas que ele se recusa até hoje a admitir.

Seja seu passado, ou sua personalidade, ele parecia saber tudo. O menino parecia saber mais sobre ele do que ele mesmo. Esse sentimento era simplesmente muito aterrorizante.

Todas as pessoas têm coisas que escondem dentro de seu coração, coisas que nunca diriam a ninguém. Isso é algo normal, as pessoas sempre escondem o seu íntimo de outras pessoas, até mesmo de pessoas íntimas como família.

Não importa o quão íntimo duas pessoas se tornem, sempre haverá essa intimidade que não será dita. O medo de ficar nu é só uma das formas que esse medo de intimidade se personifica.

As pessoas temem a intimidade excessiva.

Então quando alguém sabe mais sobre você do que você mesmo, elas se sentem desconfortáveis, com medo. Então, ao ver esse menino dizer tanto sobre ele, sobre seus pensamentos, sentimentos e até mesmo sobre seu passado, um medo enorme se instalou em seu coração.

Era um sentimento aterrorizante, algo instintivo. Só de estar na frente dele, o homem se sentia aterrorizado. Ao término das palavras do menino, o homem tentou se levantar para fugir, mas suas pernas tremiam tanto que ele nem conseguiu sair da cadeira.

Ele começou a socar suas pernas, tentando parar a tremedeira, mas não parava. Depois de alguns segundos, vendo que o menino tinha ficado em silêncio, o homem lentamente levantou seu olhar, e então seus olhos se encontraram.

Os olhos do menino estavam olhando diretamente em seus olhos, sem nem um pingo de hesitação, sem nem mesmo um pingo de sentimento. Ele simplesmente olhou como se estivesse observando toda a sua existência de forma imparcial, sem demonstrar nenhum sentimento.

Ele não estava zombando do homem, nem mesmo sentindo pena dele. Desse olhar, o homem não sentia nem desgosto, nem pena. Era como se o menino estivesse julgando o homem com um olhar puramente objetivo, sem botar seus próprios sentimentos na balança, sem ser influenciado por coisas externas, usando parâmetros objetivos para julgá-lo.

Esse olhar, por algum motivo, acalmou completamente o homem. Ele não sentia mais medo, e seu coração começou a se encher com um sentimento estranho. Por causa desse sentimento, ele não ficou com medo, e olhou diretamente nos olhos do menino.

Depois de alguns segundos, o menino finalmente desviou o olhar e disse:

“Você foi aprovado, parabéns por se juntar à Blank.”



Comentários