Volume 4
Capítulo 250: Sequestrada novamente
Ao ouvir essa voz, o homem mascarado virou o corpo para trás, e se deparou com um menino de cabelo preto que parecia ter em torno de quinze anos.
Baijian olhou para o homem mascarado de cima para baixo, e falou:
“Você não é humano…”
O homem mascarado ficou ainda mais surpreso. Ele deu um passo para trás, e puxou o celular do bolso. Quando planejava chamar alguém de fora, de repente, seu dedo parou no lugar, ele não conseguia mais movê-lo, e o celular lentamente flutuou fora de sua mão.
Baijian pegou o celular e falou:
“Me diz, o que você é?”
O homem mascarado bufou friamente, botou a outra mão no outro bolso, e puxou um dispositivo que parecia um detonador. Ele apertou o botão e disse:
“Não queria fazer isso, mas já que chegou a esse ponto…”
No segundo seguinte, o dispositivo flutuou da mão do homem, e caiu na mão de Baijian. Olhando para o dispositivo por um momento, ele comentou:
“O detonador das bombas que você colocou por todo o prédio? Você é bem precavido, mas é uma pena, já desarmei todas as bombas do prédio.”
O homem mascarado sempre suspeitou que tudo podia ser um plano, e ele tomou as medidas necessárias. Se a família Ye invadisse o prédio, ele explodiria tudo para que a família Ye, não só não conseguisse descobrir quem estava por trás disso, como também para lhes causar algum dano e matar os objetos de interesse deles: Ye Tian e sua filha.
Baijian guardou o detonador no bolso, e se aproximou do homem em um único segundo. Antes que o homem pudesse reagir, ele arrancou suas grossas roupas, e por baixo, um corpo estranho apareceu.
Por baixo da roupa havia um corpo todo costurado, parecia uma trouxa de retalhos de tanta linha.
Baijian analisou o corpo por um momento e falou:
“Você é algum tipo de marionete? Que bizarro.”
Baijian então se aproximou, e começou a observar de perto o corpo do “homem”, que não conseguia se mexer direito por causa da força imposta por ele.
Ele então puxou do seu bolso um par de óculos, e colocou no rosto. Observando de perto a textura da pele da marionete, Baijian falou:
“É feito com partes de várias pessoas diferentes…”
Enquanto analisava, o “homem” continuou tentando se debater o máximo possível, e não conseguia se mover quase nada. De repente, a marionete falou:
“Quem é você?”
Baijian ignorou completamente a marionete, e se virando para Ye Tian, disse:
“Eu examinei todo o lugar, e não achei nenhum indício de quem está por trás disso tudo.”
“Eles estão sendo especialmente cautelosos hoje. Como previram que talvez tudo fosse um plano para resgatar sua filha, eles limparam todo o lugar, não tem nem mesmo um fio de cabelo deles aqui.”
“Todos os homens aqui são apenas peões.”
“Os computadores foram todos limpos, não tem como conseguir nada deles.”
“E agora, até mesmo o cara que esteve cuidando de você por todo esse tempo, que obviamente sempre foi um humano normal, agora é apenas uma marionete. A menos que eu capture o verdadeiro corpo desse cara, será bem difícil descobrir qualquer coisa.”
“Estou um pouco surpreso com o quão cautelosos eles estão sendo, talvez a identidade deles não seja simples…”
Baijian então se lembrou da menina que tinha encontrado depois que ela entrou na terra. Desde então, Ye Hong lhe disse que várias outras situações parecidas aconteceram.
Aparentemente, um grande número de pessoas de fora entrou na terra, e tudo isso mais ou menos na mesma época da tal empresa que supostamente criou Origins.
‘Tudo isso não é coincidência.’
Baijian não tinha pistas o suficiente para saber o que estava acontecendo, embora já tivesse várias especulações. O fato da menina que Baijian encontrou ser da mesma idade que ele poderia significar que fosse algum tipo de teste, essa é uma de suas especulações, e a que está mais próxima da verdade.
***
Vendo que a situação não estava boa, o homem mascarado decidiu usar seu último plano, e ligou para Ye Qinyan, que atualmente atende pelo nome de Wei Qinyan, filha de Ye Tian.
“Qin’er, aposto que está surpresa com meu convite.”
Do outro lado da linha, Ye Qinyan respondeu com um sorriso:
“Que isso, tio, está tudo bem. O que houve? Você disse que está experimentando um produto novo, e queria minha opinião. Trouxe-me aqui, mas não te vejo em lugar nenhum.”
O homem respondeu com a voz ligeiramente entristecida:
“Desculpa, eu estou meio enrolado aqui no meu trabalho. Depois de mandar meus subordinados te buscarem, descobri uns problemas, e estou resolvendo aqui. Me espera um pouco, daqui a mais ou menos uma hora eu chego.”
A mulher fez um som de confirmação, e o homem de repente falou:
“Desculpa, Qin’er, quero te pedir um favor. Tentei ligar pros meus subordinados aí, mas nenhum deles está atendendo o celular. Um amigo meu, que está no quarto ao lado, está tendo problemas com a televisão dele, você pode ajudá-lo?”
Ligeiramente surpresa, a mulher pensou um pouco e falou:
“Claro, mas por que ele precisa da minha ajuda? Eu não sou muito boa com eletrônicos.”
O homem fez um suspiro exagerado, tentando demonstrar que o que ia falar era algo triste, e falou:
“É que meu amigo, recentemente, se envolveu em um acidente, e ele perdeu um dos braços, as duas pernas, e todos os dedos do braço restante. Por causa disso, ele precisa ter alguém sempre cuidando, mas estranhamente, não consigo contatar a pessoa que cuida dele.”
Qinyan assentiu lentamente com a cabeça de forma estranha e falou:
“O que devo fazer então?’
O homem respondeu rapidamente:
“Tem um controle em cima da mesa do seu quarto, certo? Ele é o controle da televisão do seu quarto, e como a televisão do quarto ao lado é do mesmo tipo, ele também funciona para ela. Tente mirar para a parede do quarto à esquerda do seu, e aperte o botão de ligar, talvez o sinal passe pela parede e chegue na televisão do outro lado.”
Qinyan pegou o controle em cima da mesa, e tentou apertar, mas seu dedo estranhamente parou no meio do ar. Mesmo que ela não tenha apertado o botão, como pensou que tinha apertado, ela falou:
“Eu apertei, mas não sei se funcionou. Vou no quarto ao lado para ver.”
O homem entrou em pânico, e usou palavras incoerentes para tentar pará-la, mas a mulher já tinha tirado o celular do ouvido e se movido para fora do quarto. Ele tentou gritar, mas a mulher ainda sim não ouviu.
A coisa que ele mais pensava nesse momento era:
‘Por que que a bomba não explodiu quando ela apertou o botão?’
O homem estava completamente em pânico, e ouvindo o som de uma porta abrindo, ele sabia que não podia fazer mais nada e apenas esperou pra escutar os próximos desenvolvimentos. Momentos depois, ele ouviu um grito:
“PAI!!”
***
Aquele dia mudou minha vida para sempre.
Eu tinha uma vida feliz, meus pais sempre foram gentis comigo, nunca tive uma briga séria com nenhum deles, nunca tivemos problemas financeiros, sempre fui saudável… Embora meu pai passasse bastante tempo trabalhando, sempre que estava em casa, ele gastava todo o seu tempo dando atenção a mim e a minha mãe.
Éramos uma família feliz, mas aquele dia veio, e como uma criança de sete anos, não tinha nada que eu podia fazer.
Para outras pessoas, eu era apenas uma criança de sete anos, mas naquela época, eu já entendia muitas coisas que uma criança da minha idade normalmente não entenderia.
Meu pai era alguém importante.
Por que eu sabia disso? Se você visse todo dia ele voltando com vários seguranças para uma mansão perfeitamente protegida, a maioria das pessoas chegaria a essa conclusão.
Mas eu era uma criança, como que uma criança poderia chegar a essa conclusão? Para uma criança, tudo que ela vê é o seu mundo, e para ela, não existe nada fora disso.
Eu era diferente.
Eu sabia que era diferente das outras crianças. Minha família era rica e poderosa, disso eu sabia.
Um dia, eu perguntei isso a meu pai, e ele me contou um pouco sobre sua origem e o grande poder que a família Ye tinha.
É por isso que quando fui sequestrada, eu não entrei em pânico. Já vi situações como essa em filmes diversas vezes. A filha de um importante político é sequestrada para que o político se sujeite às vontades dos sequestradores.
E finalmente chegou o dia, eu fui sequestrada, e tudo mudou. Naquele dia, minha mãe tentou me proteger, mas não conseguiu. Na hora, eu tinha acabado de ser derrubada, e estava prestes a desmaiar, mas no momento que minha mente estava se esvaindo, eu pude ver minha mãe sendo empalada por algo parecido com uma espada.
Aquela imagem é minha fonte de pesadelos até hoje.
Quando acordei, me encontrei em um lugar parecido com uma delegacia de polícia, e uma policial bonita apareceu e me explicou tudo que aconteceu.
Embora eu fosse uma criança, por algum motivo, os policiais estavam me tratando como uma adulta ao me contarem tudo de forma “sincera”.
Na hora, eu fiquei feliz. Afinal, nessas situações, as crianças geralmente não recebem muitas explicações, e simplesmente são levadas por aí como se fosse um fardo, uma bagagem.
Eu queria saber o que tinha acontecido, então obviamente fiquei feliz, a única felicidade em meio a toda essa situação triste e desesperadora. Mas quando me contaram o que ia acontecer comigo, eu finalmente percebi.
Eu ainda estava sequestrada.
O medo subiu no meu coração, eu quase entrei em pânico. A família do meu pai é rica e poderosa. Não existe nenhum real motivo para não me quererem. Se não me queriam, por que não me mataram? Ao invés disso, me botaram pra adoção?
Não fazia o menor sentido para mim, então eu tinha certeza que ainda estava sequestrada.
Alguns dias depois, eles me botaram numa mansão com um casal. Os dois pareciam ter em torno de quarenta anos, e estavam extremamente animados comigo.
Eles pareciam realmente gostar de mim.
Minha desconfiança me impediu de me aproximar deles por um longo tempo. Só anos depois eu descobri que na verdade eles não sabiam de nada, e eram pessoas que realmente queriam um filho.
O tempo passou, eu vivi numa casa que eu sabia que era totalmente vigiada. Não sabia até que ponto era vigiada, então eu tomava o máximo de cuidado com o que eu falava e com o que eu fazia.
Eu comecei a procurar câmeras pela casa sem chamar atenção, e depois de alguns dias, eu finalmente tinha descoberto todas as câmeras da casa.
Com isso, eu sabia quais eram os poucos pontos cegos da casa, e quando eu planejava fazer alguma coisa, ia para esses lugares.
Esses pontos cegos eram minhas oportunidades, então eu testava muitas coisas. Por exemplo, será que existe um grampeador no meu celular e no das pessoas que cuidavam de mim?
E no meu computador? Tinha algum software que vigiava minhas ações?
À medida que os anos passavam, eu ia descobrindo cada vez mais sobre minha situação, e tomando precauções sobre isso. Tudo, claro, com o objetivo final de, um dia, fugir das garras dessas pessoas, e ir até meu pai.
Essa situação era insustentável, e eu não sabia por quanto tempo iam me manter assim, eu precisava encontrá-lo o mais rápido possível.
Graças a minha boa memória, e meu alto intelecto, eu não só me lembro do meu pai, como também tinha pistas de como encontrá-lo, ou até mesmo, como mandar uma mensagem para ele.
É uma pena que essas pistas foram sumindo aos poucos, até finalmente desaparecerem por completo.
Meu maior problema para fugir mesmo era que eles tinham colocado alguma espécie de transmissor no meu corpo, se eu não tomasse cuidado, eles descobririam meu paradeiro.
Eu passei anos investigando esse transmissor pra saber suas capacidades. Por exemplo, o transmissor envia um sinal com a minha localização a cada dois minutos, e a velocidade de resposta deles é sempre rápida, geralmente em até dez minutos eles me encontram.
A única coisa que eu podia fazer sobre ele era me manter em um carro. O ferro do carro impede que o sinal transmissor no meu corpo chegue até eles.
Usando isso como base, vinte anos depois, finalmente, eu tinha bolado um plano para fugir. Eu botei o plano para funcionar, consegui fugir do alcance dos sequestradores, e conquistei a minha liberdade.
Era uma liberdade meio instável, já que se eu saísse do carro por muito tempo, poderiam acabar me descobrindo.
Eu nunca gostei muito de dirigir, mas mesmo assim, dirigi pelas ruas. O meu plano depois de fugir era muito vago. Afinal, o que eu podia fazer? Não sabia como contatar meu pai, e eu só podia ficar dentro de um carro, não tinha muito que o que eu podia fazer realmente.
Minha principal ideia era conseguir investigar a minha família, ir atrás de um meio de contatá-la. Quando estava sendo vigiada, nunca tive uma chance de fazer isso.
E a pior das situações aconteceu. O pneu do meu carro passou por cima de um caco de vidro e estourou.
Eu não tinha muita escolha agora, então parei o carro no acostamento. Eu tinha preparado uma coisa que nem sabia se funcionava, era um casaco que fiz de alumínio. Eu não tinha certeza se o alumínio tinha o mesmo efeito do ferro de impedir o sinal transmissor de chegar até os sequestradores, mas era meu único plano.
Fora isso, eu só podia voltar a cada alguns segundos para dentro do carro e torcer para o sinal não chegar até eles.
Um milagre aconteceu, o sinal não passou, e eu consegui trocar o pneu do carro. Por precaução, para não deixa nenhuma pista para trás, eu tive o cuidado de esconder o pneu furado em um beco.
Planejando, eu tive o trabalho de conseguir uma placa falsa de carro, mas não pude fazer nada sobre os pneus. Se esse pneu for descoberto na rua, tem chance de isso acabar chegando até eles, quero nem pensar numa situação dessas.
Claro, todas essas precauções eram desnecessárias, porque quando eu estava tirando o meu casaco de alumínio e voltando pro carro, uma van parou no acostamento na frente do beco, e de dentro, um grupo de homens saiu.
Eles me doparam, me jogaram dentro da van, e me levaram embora.
Que irônico, não? Fui sequestrada novamente.